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V. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

2. P 2 – Paulo: Pai do Vítor

Contextualização - O Paulo (P2) tem 37 anos e é casado, possui uma formação académica de

nível superior (licenciatura) e trabalha por conta de outrem. Quanto às Oficinas de Pais, frequentou os dois primeiros níveis – GAE e COR – em 2012. A entrevista durou 49 minutos.

O Vítor é o único filho do casal e tem 10 anos de idade. Vive com os pai(s) e frequenta uma escola pública e com a ajuda de uma professora particular, complementa as atividades letivas. Em termos de terapias, o Vítor tem Terapia da Fala e Psicomotricidade. No que respeita à problemática da criança, esta é referenciada como tendo um défice intelectual ligeiro cujas implicações se traduzem nas dificuldades ao nível das aprendizagens, nomeadamente na aquisição da leitura e da escrita. Tendo em conta o preenchimento dos itens do Índice de Capacidade a criança obteve um score de 46,3 traduzindo-se num perfil denominado “normal” referente à sua funcionalidade.

Síntese e Elementos Significativos do Caso – Apesar da problemática do Vítor não ter um diagnóstico concreto, uma vez que é referenciado como tendo um défice intelectual, na opinião do Pai, “ao fim de 5/6 anos com ele…perdeu-se muito tempo” (momento do diagnóstico) até perceberem o que se passava com a criança. Visivelmente o Vítor (“foi sempre escrutinado como sendo uma criança normal”) não aparenta ter uma ‘deficiência’ dado que o problema se centra nas aprendizagens académicas e não em termos de funcionalidade (facto este, comprovado no score obtido no Índice de Capacidades). Para este Pai, o ‘diagnóstico’ não é algo importante, uma vez que o que realmente importa é que a criança “aprenda a ler e a escrever…e que seja autónomo”. Estas são as suas expectativas e o que ele espera que o filho alcance. O Pai fixou e fixa objetivos muito claros a serem cumpridos pelo filho, revelando um certo grau de pragmatismo pela educação do mesmo (“o caminho que ele tem que fazer até lá chegar tanto me dá, se é pela autoestrada se é pela estrada nacional...”).

O Paulo refere um aspeto que determina a maneira como este se envolve com a criança “… porque a partir dos 8/9 anos deixou de ser filho e passou a ser companheiro” demonstrando que o relacionamento Pai-filho é vivido com normalidade e num espirito de cumplicidade. O Vítor está sempre presente, é e quer ser envolvido na vida social do Pai (“com o Vítor é tudo normal…se formos jantar a casa de amigos, só de homens, o Vítor já está presente…e adora”). Esta vivência é possível dada a condição ‘normal’ da criança, dado que este é autónomo fisicamente. Face a esta condição, pai e

filho participam conjuntamente em tudo o que é atividade física (sendo as restantes áreas mais da competência da mãe) proporcionando momentos de grande satisfação para ambos. Contrariamente, a visão positiva é alterada quando se fala na esfera escolar do Vítor, dado que é neste âmbito que se manifestam as reais dificuldades da criança, levando a que este não goste de estar na escola, referindo até “que se pudesse não ia à escola”. Face às dificuldades e aos objetivos estabelecidos pelos pais e cujos problemas são discutidos, sempre entre os dois, “numa relação de 50%/50%” como “se de uma empresa se tratasse”, estes decidiram contratar uma professora particular para ajudar o Vítor a “maximizar as suas capacidades intelectuais”, o que mais uma vez demonstra o pragmatismo do Pai. Ainda no âmbito escolar, o Pai menciona como preocupação futura, a barreira dos 18 anos, uma vez que a “escola está desenhada para os meninos da norma”, sendo algo que está a ser trabalhado para que no futuro esta mesma barreira “seja destruída e ultrapassada” e para que o filho consiga um trabalho e viver sozinho.

Apesar da “normalidade” do Vítor, o Pai expressa alguns aspetos menos positivos face à experiência vivida, nomeadamente a questão financeira associada ao custo das terapias, às dificuldades institucionais, questões essas, traduzidas na afirmação “se alguém lhe disser que está muito contente por ter um filho com deficiência…para mim isso é mentira”.

Quanto ao projeto familiar este foi alterado, porque apesar de o Pai só querer 1 filho a mãe gostaria de mais, e após consenso, decidiram ficar-se pelo Vítor, ponderando no entanto, o apadrinhamento civil. Em relação à dinâmica conjugal, o Pai refere que “um filho muda sempre qualquer relação…para pior!”, no entanto sente que em 12 anos de casamento têm conseguido um bom relacionamento porque existe um “perfeito equilíbrio” que flui no mesmo sentido. No que respeita aos avós, estes “acham que a coisa vai desaparecer” mantendo uma esperança (pela via religiosa) de que ao longo do tempo o Vítor vai melhorar. Esta crença leva a que muitas vezes o comportamento da criança seja desculpabilizado, trazendo por vezes atritos entre o Pai e os pais/sogros deste, no entanto estão sempre presentes e auxiliam quando necessário.

Em termos da esfera social, é de referir que ambos os pais conseguem manter uma vida social activa, onde o Vítor não se torna um impedimento “nada gira à volta do Vítor, e tudo gira à volta do Vítor”, acompanhando-os ocasionalmente, demonstrando que existe vida para além da problemática da criança. Este facto é em larga medida possível atendendo à condição da criança e à rede de suporte social dos pais. Relativamente ao trabalho, o Pai decidiu minorar a importância deste aspeto porque “tudo o que mete carreira ou progressão de carreira, mete pouco tempo para a família” decidindo por isto colocar a família em primeiro plano em detrimento da carreira profissional.

menos paciência com outros”, e, em situações conflituosas dá-lhe argumentos para menosprezar determinadas ações dos outros (e.g. por futilidades) e mencionar-lhes que as trata “como trato o Vítor”.

As Oficinas de Pais foram descritas como sendo “muito interessantes” dado que existia uma grande variabilidade de pessoas e de casos o que lhe permitiu limpar “os vidros…para ver melhor o que está do outro lado da janela” perspetivando (“deu algum distanciamento para avaliar até a minha própria forma de atuar com o Vítor”) e objetivando a deficiência do filho. Desta forma afirma que ia encontrar motivação nos GAE e que “quando o dia estava a correr mal, bastava falar com as pessoas do GAE para perceber que…o dia tinha sido bastante bom”.

Das respostas obtidas nos instrumentos do projeto, a ajuda de que o Paulo necessita é distribuído homogeneamente entre o apoio logístico e emocional, onde a mulher surge como figura de apoio principal, recorrendo posteriormente aos pais/sogros e amigos para satisfazer essas mesmas necessidades. Em termos de alterações sentidas na competência parental percebida, o Paulo refere que conseguiu algum autocontrolo face a questões do filho que o tornavam ansioso bem como a diminuição dos receios em torno das questões educativas do Vítor, decorrentes das reuniões dos COR.