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P RAZO PARA D EPÓSITO DE M ATÉRIA B IOLÓGICA

No documento C URRICULAR NO A NAV (páginas 44-47)

4.1 D EPARTAMENTO DE P ATENTES E M ODELOS DE U TILIDADE

4.1.1.1. P RAZO PARA D EPÓSITO DE M ATÉRIA B IOLÓGICA

A segunda parte do trabalho teve como objectivo determinar qual o Prazo Para Depósito de Matéria Biológica inerente a um PPP. Uma vez que o nosso Código não regula, directamente, este problema, algumas considerações deverão ser feitas para melhor se compreender qual o prazo para entrega da matéria biológica e, até mesmo, que efeitos poderá ter para se poder reivindicar uma prioridade. Para tal, foi efectuado um estudo comparativo entre as legislações dos EUA, da Austrália e do Japão e, também, qual dessas concepções mais se aproxima do nosso ordenamento jurídico.

Nesta fase do trabalho, mais uma vez, a pesquisa realizada prendeu-se com a informação contida nos sites dos Institutos de cada país, pelo que apenas se demonstra aquela que considero pertinente para a compreensão da problemática em análise.

O CPI consagra no seu artigo 63º, sob a epígrafe “Invenções biotecnológicas”, qual o procedimento a adoptar quando se estiver perante um pedido de patente associado a uma invenção biotecnológica. Refere-se que caso não seja possível ao requerente descrever a matéria biológica, impedindo que um perito na especialidade possa realizar a invenção, pode haver lugar a um depósito dessa matéria (nº1 do artigo 63º) até à data de apresentação do pedido de patente, numa Autoridade Internacional de Depósito (de acordo com o previsto no Tratado de Budapeste)108; além disso, deve o pedido conter todas as informações quanto às características

da matéria, para que o perito especializado disponha de todos os meios capazes de poder reproduzir a invenção; e, por último, é necessário que o pedido mencione qual a instituição e o número de depósito atribuído (nº2 do artigo 63º).

107 MAIA, José Mota – Propriedade Industrial, Código da Propriedade Industrial Anotado – Almedina,

Vol. II, 2005, p.76

108 Tratado de Budapeste sobre o Reconhecimento Internacional do Depósito de Microrganismos para

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Depreende-se do exposto que nada é referido quanto ao depósito de matéria biológica aquando de um PPP. Após a análise do Tratado de Budapeste e da Directiva nº 98/44/CE109,

nomeadamente nos seus artigos 13º e 14º, verifica-se que, também aqui, nada é referido quanto ao PPP, ou que efeitos existirão no sentido de se poder reivindicar uma prioridade aquando de um depósito dessa matéria.

Sugere-se a análise em como os EUA, a Austrália e o Japão regulam esta questão. Os EUA consagram a possibilidade de se depositar a matéria biológica a todo o tempo, mesmo que estejamos perante um pedido provisório, apenas se exigindo que essa entrega seja feita antes da concessão da patente propriamente dita e isto inclui o depósito feito durante a pendência da patente, mesmo sendo um PPP.110 A entrega de uma declaração provando que o

depósito já estava devidamente referido aquando do pedido, permite ao requerente efectuar o depósito após a data de apresentação do pedido. Se estes requisitos forem cumpridos e reconhecidos, a entrega posterior da matéria, com um número de depósito independente do pedido de patente, não será considerada inválida.111

Contudo, muitas jurisdições estrangeiras exigem que o depósito deva ser feito antes data de reivindicação de uma prioridade, para que possa obter, com esse depósito, uma prioridade. Por exemplo, um requerente que efectua um depósito de matéria biológica depois de requerer um PPP nos EUA, mas antes de entregar um pedido de patente internacional, não pode reivindicar a prioridade do pedido apresentado nos EUA. Assim, para preservar o seu direito, perante um pedido internacional, o requerente deve efectuar o depósito de matéria biológica aquando do PPP nos EUA.112

Concluindo, enquanto um depósito após a entrega do pedido de patente é válido nos EUA, o mesmo poderá não ser válido, ou suficiente, para o requerente poder garantir os seus direitos caso queira efectuar um pedido internacional de patente.113

Relativamente ao procedimento de depósito de matéria biológica vigente na Austrália, exige-se que seja efectuado de acordo com o Tratado de Budapeste, ou seja, deve ser feito numa Autoridade Internacional de Depósito, ao mesmo tempo, ou antes, da data de apresentação

109 Directiva nº 98/44/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 6 de Julho de 1998, relativa à

Protecção Jurídica das Invenções Biotecnológicas

110 HARNEY, J. Dennis; TIMOTHY B. Mcbride – Deposit of Biological Materials in Support of a U.S.

Patent Application. [em linha]. [S.l.]: [s.n], 2007. [consultado a 7 de Outubro de 2010]. Chapter 10.10 - Intellectual Property Management in Health and Agricultural Innovation: A Handbook of Best Practices, 2007. p.4. Disponível em http://www.iphandbook.org/handbook/chPDFs/ch10/ipHandbook- Ch%2010%2010%20Harney-McBride%20Biological%20Material%20Deposits.pdf

111HARNEY, J. Dennis; TIMOTHY B. Mcbride – Deposit of Biological Materials, cit. p.4 112HARNEY, J. Dennis; TIMOTHY B. Mcbride – Deposit of Biological Materials, cit. p.5 113HARNEY, J. Dennis; TIMOTHY B. Mcbride – Deposit of Biological Materials, cit. p.5

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completa do pedido de patente. Este depósito serve de apoio, por assim dizer, àqueles que pela complexidade da invenção, não consigam descrevê-la no requerimento do pedido de patente.114

Também o Japão actua de acordo com o estabelecido no Tratado de Budapeste, pelo que o depósito da matéria biológica deve ser feito antes, ou no momento, da apresentação do pedido de patente, podendo beneficiar da prioridade. No entanto, é necessário que faça referência ao número de depósito numa Autoridade Internacional de Depósito e, que refira, que o número de depósito existia aquando da entrega do primeiro pedido de patente, servindo o número de depósito de base para se estabelecer um direito de prioridade.115

Face às considerações supra mencionadas e às disposições do nosso CPI, sou de opinião que, perante um PPP se houver depósito de matéria biológica, deve este ser feito até à data de apresentação do pedido (alínea a), do nº 1 do artigo 63º). Por outro lado, aquando da sua conversão em pedido definitivo, a data que servirá como base para se reivindicar a prioridade, é aquela que constar no pedido provisório, ou seja, deve estar referido o número de depósito e a data em que foi depositado, como prova de que, realmente, o requerente tem direito à prioridade.

Caso o pedido provisório não seja convertido em pedido definitivo, pode o requerente perder o direito à matéria biológica entregue ou, então, utilizar dos direitos conferidos pelo nº4 do artigo 63º, ou seja, requerer que a matéria depositada fique limitada a um perito independente por um período de 20 anos.

Deste modo, ficarão salvaguardados os direitos do requerente aquando do depósito de matéria biológica num PPP.

O estudo do presente tema não foi exaustivo, pois pretendeu-se incidir a atenção nos aspectos que pareceram fulcrais tentando, igualmente, fazer uma análise de um maior número possível de legislações, visto que teve por base os Países referidos no site da OMPI.

114 IP AUSTRALIA - Australian Patents for Biological Inventions. [em linha]. [S.l.]: IP Austrália, 2005.

[consultado a 7 de Outubro de 2010]. p..3. Disponível em,

http://www.ipaustralia.gov.au/pdfs/patents/specific/biotech.pdf

115 JAPAN PATENT OFFICE - Part VII – Examination Guidelines for Inventions in Specific Fields,

Chapter 2, Biological Inventions. [em linha]. [S.l.]: JPO, Junho de 2010. [consultado a 8 de Outubro de 2010]. pp.35-36. Disponível em http://www.jpo.go.jp/cgi/linke.cgi?url=/tetuzuki_e/t_tokkyo_e/1312- 002_e.htm

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