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P RIMEIRAS A PROXIMAÇÕES AO C ONCEITO DE I NTERDISCIPLINARIDADE

O termo interdisciplinaridade surgiu ligado à finalidade de corrigir possíveis erros e à esterilidade acarretada por uma ciência excessivamente fragmentada e sem comunicação interdisciplinar. Assim, a crítica à compartimentação das matérias será igual à dirigida ao trabalho fragmentado no sistema de produção da sociedade capitalista; à separação entre trabalho intelectual e manual, entre a teoria e a prática; como também quanto à hierarquização e à ausência de comunicação democrática entre os diferentes cargos de trabalho em um estrutura

capitalista, enfim, entre humanismo e técnica. Enguita e Etges aponta-nos elementos para entender este movimento:

“... não podemos considerar a interdisciplinaridade separada do modo de produção em vigor, uma vez que este demanda produção de conhecimentos (filosofia e ciência) e de tecnologia. Nem mesmo os modos de produção podem ser desconsiderados. Em outras palavras, precisamos pensar a interdisciplinaridade a partir de uma totalidade histórica” (ENGUITA,1989, p.73).

Também Etges alerta-nos para que possamos perceber que, historicamente, o processo de fragmentação do conhecimento vem caminhando lado a lado com o processo de fragmentação do trabalho, especialmente no que diz respeito à divisão técnica do mesmo. Parece que a tecnologia já construída, se por um lado torna possível a dispensa do trabalho manual, por outro lado, põe a necessidade de superação do trabalho e do conhecimento fragmentado. Hoje, o trabalhador parcial super especializado está perdendo espaço para aquele capaz de projetar, executar e avaliar.

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A partir disso, ETGES (1993) aponta:

“... a interdisciplinaridade, enquanto princípio mediador entre as diferentes disciplinas, não poderá jamais ser elemento de redução a um denominador comum, mas elemento teórico metodológico da diferença e da criatividade. A interdisciplinaridade é o princípio da máxima exploração das potencialidades de cada ciência, da compreensão dos seus limites, mas, acima de tudo, é o princípio de diversidade e da criatividade” (p.21).

Para FAZENDA (1995, p.25), “a interdisciplinaridade é um projeto de parceria, e não pode conceber na atualidade um saber isolado, mas se faz necessário a sua integração, construindo um processo coletivo.” A contextualização do conhecimento é fundamental para se

ter um ensino que tenha uma incidência positiva na realidade científica e social, pois um conhecimento incapaz de interagir com o “todo” é um saber que direciona para a alienação que não leva em conta a pessoa humana e a dimensão da cidadania.

A interdisciplinaridade é uma reação ao conhecimento fragmentado, busca a ultrapassagem das fronteiras entre as diversas disciplinas, ao procurar a convergência entre as ciências humanas e sociais. Através do trabalho interdisciplinar, é possível caminhar para a

unidade do homem, da realidade do saber, contribuindo para a recuperação do sentido vivencial do ser e de cada homem consigo mesmo.

Fundamentalmente a interdisciplinaridade é um processo, é uma filosofia de trabalho na hora de enfrentar os problemas e questões que preocupam a sociedade. Embora não existam receitas prontas para a elaboração de um processo interdisciplinar, KLEIN aponta alguns passos

que facilitariam qualquer intervenção interdisciplinar:

“1. a) Definir o problema (interrogação, tópico, questão).

b) Determinar os conhecimentos necessários, inclusive as disciplinas representativas e com necessidade de consulta, bem como os modelos mais relevantes, tradições e bibliografia.

c) Desenvolver um marco integrador e as questões a serem pesquisadas. 2. a) Especificar os estudos ou pesquisas concretas que devem ser

empreendidos.

b)Reunir todos os conhecimentos atuais e buscar nova informação.

c)Resolver os conflitos entre as diferentes disciplinas implicadas, tratando

de trabalhar com um vocabulário comum e em equipe. 101 d)Construir e manter a comunicação através de técnicas integradoras

(encontros e intercâmbios, interações freqüentes etc).

3. a) Comparar todas as contribuições e avaliar sua adequação, relevância e adaptabilidade.

b) Integrar os dados obtidos individualmente para determinar um modelo coerente e relevante.

c) Ratificar ou não a solução ou resposta oferecida.

d) Decidir sobre o futuro da tarefa, bem como sobre a equipe de trabalho”(KLEIN, 1990, p. 188-189).

Entretanto, para que se concretize uma prática pedagógica interdisciplinar acredito ser necessário enfatizar as negociações entre as pessoas que compõem uma equipe de trabalho, uma vez que a interdisciplinaridade é uma categoria de ação na qual todo conhecimento é igualmente importante. O encontro disciplinar solicita proximidade – as pessoas devem se olhar, devem se afinar. Aos membros da equipe, cabe a missão de pensar, recriar e criar. Sabemos que a realidade é complexa e, neste sentido, Edgar Morin nos aponta:

“...a complexidade é um tecido de constituintes heterogêneos inseparavelmente associados: apresenta o paradoxo do uno e do múltiplo. Ao observar mais atentamente, a complexidade é efetivamente o tecido de acontecimentos, ações, interações, retrações, determinações, acasos que constituem o nosso mundo os fenômenos” (MORIN, 1994, p. 32).

Acredito que o genérico e o específico não são excludentes. Em face disso, temos que reconhecer que a interdisciplinaridade implica, na maioria das vezes, uma tensão entre os generalistas, o filósofo, o educador e os especialistas. Assim, o homem é uma unidade que só pode ser apreendido em uma abordagem sintetizadora e nunca mediante uma acumulação de visões parciais. De nada adianta, portanto, fazer a descomposição e a recomposição de aspectos, na medida em que esta soma não dará a totalidade humana. É preciso, assim, no âmbito dos esforços com vistas ao conhecimento da realidade humana, praticar, intencional e sistematicamente, uma dialética entre as partes fornecendo elementos para a construção de um sentido total, enquanto o conhecimento da totalidade elucidará o próprio sentido que as partes, autonomamente, poderiam elucidar.

Também encontramos em SIEBENEICHLER (1989, p.156) ressonância para o entendimento

de que:

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“Ela (a interdisciplinaridade) é, antes de tudo, uma perspectiva e uma exigência que se coloca no âmbito de um determinado tipo de processo. Ela tem basicamente a ver com a procura de um equilíbrio entre a análise fragmentada e a síntese simplificadora. Entre especialização e saber geral, entre o saber especializado do cientista, do expert e o saber do filósofo”.