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2 A PAISAGEM PARA ALÉM DO QUE A NOSSA VISTA ALCANÇA

No documento E BOOK Estudos de Paisagem Ia (páginas 89-92)

IN THE COAST OF THE DENDÊ BAHIA, BRAZIL

2 A PAISAGEM PARA ALÉM DO QUE A NOSSA VISTA ALCANÇA

No debate geográfico, a paisagem como conceito chave vem sendo contextualizada desde os primórdios desta ciência. Na realidade a operacionalização de tal conceito, foi herdado da prática de descrição sobre os espaços até então desconhecidos pelos grandes viajantes, contextualizando as formas presentes no relevo, os biomas presentes no espaço geográfico e a ocupação humana sobre dado território, daí o seu conceito estar por muito tempo atrelado ao que abarcava a visão, e sua leitura partir diretamente da sua descrição e condicionantes naturais e culturais, como imperava nas leituras sobre o sítio e situação.

Na atualidade Cosgrove (1998) lembra que mais do que a leitura do que a vista alcança, o olhar para a paisagem é uma maneira de ver o mundo, um ato que se faz de forma individual e ao

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mesmo tempo entre diferentes grupos sociais, mesmo nos espaços racionalizados, numa forma de ver o mundo também por suas ideologias.

Besse (2006) contribui com sua análise, ao atrelar a essas visões de mundo o debate sobre a realidade e a representação, ampliando a operacionalidade de tal conceito com o que não é dado diretamente pela aparência, conectando o visível/ aparente ao não necessariamente visível/ o seu contexto:

Sem desprezar a existência e o papel das imagens e das percepções no processo eminentemente complexo da definição da paisagem, parece possível avançar na idéia de que a paisagem não se reduz a uma representação, a um mecanismo de projeção subjetiva e cultural. Dizer isso é adotar, de certo modo, o que se chama em filosofia uma posição “ realista” : é afirmar que há uma realidade além da representação (...). Note-se enfim que, nesta perspectiva, o conceito de paisagem não é unicamente uma vista, é antes um território ou um sítio. M esmo que este sítio ou este território sejam visíveis, seu ser não se reduz à sua visibilidade. O problema que se coloca neste último caso é o de conseguir aprender a relação entre a dimensão visível da paisagem e aquela que não é. Ler a paisagem é extrair formas de organização do espaço, extrair estruturas, formas, fluxos, tensões, direções e limites, centralidades e periferias. (Besse, 2006, p. 64)

Destaca-se em tal leitura, a grande dificuldade em operacionalizar conceito é o que não está dado em sua aparência, ou seja, no que a vista não abarca diretamente. A complexidade em tal debate se amplia no processo de produção do espaço (Lefebvre, 2000) ao relacionar a paisagem ao acúmulo de processos naturais e humanos, e neste último caso as suas intencionalidades. Há que se considerar também o planejamento sobre o espaço e a criação de novas materialidades, assim como da valorização de determinados atributos da totalidade do espaço, fragmentando- o, criando diferente percepções sobre um mesmo espaço, assim como, uma diversidade de usos e apropriações em seu cotidiano.

No caso dos espaços destinados a atividade turística em seu modelo massivo a paisagem e sua representação direciona-se a atração de indivíduos que as queiram visitar, daí a recriação de ambientes que muitas vezes pouco tem a ver com o contexto em que se insere ou mesmo dos discursos sobre tais espaços em t orno da aprazibilidade e de seus encantos, a exemplo do discurso edênico.

Esta visão está atrelada ao contexto social atual contextualizados por autores como Debord (1997) e M accannel, sobre diferente visões. Na visão do primeiro autor, as relações sociais se esfacelam sob a película da cenarização reproduzidas no espaço e na vida, tendo como pano de fundo um falseamento das relações sociais mediadas pelo fetiche de mercadoria (M arx, 2013),

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alienando os indivíduos e reduzindo o seu campo de ação por meio desse processo global de espetacularização, fato muito presente nos espaços de destinos que se postam como enclaves. Em M acCannel, o indivíduo que representa o modelo do homem moderno é a figura do turista, personagem havido por novas experiências (mediada ou não) direcionadas pelo consumo das paisagens que na modernidade são compostas por matizes de realidades cenarizadas e/ ou originais, promovendo um novo modo de vida aguçado pela curiosidade/ desejo em viver a totalidade do mundo presente em fragmentos de espaços naturais; preservados; e construídos artificialmente.

As leituras apresentadas refletem sobre o processo que se intensifica na atualidade, mesmo que de forma divergente no tocante a leitura positiva e negativa de tal processo. A discussão posta diz respeito ao processo de produção capitalista do espaço e das suas contradições, na forma do desenvolvimento desigual e combinado (Smith, 1988), que no caso dos espaços destinados ao turismo por intermédio do acesso às novas tecnologias, principalmente por parte das tecnologias informacionais e dos transportes, que subverteram a lógica entre proximidade e distância, decorrentes do processo de compressão espaço tempo (Harvey, 2007).

No que se refere a acessibilidade a informação, paisagens anteriormente distantes passam a ser divulgadas via sistemas informacionais84 de forma mais rápida, e mesmo manipuladas por meio

do discurso e recortes destes espaços, surgem aí uma diversidade de representações, como mapas temáticos, ilustrações, fotografias, novas formas de representação da paisagem assim como há um certo tempo cumpriam tal função os relatos de viagem e a iconografia.

Observa-se no presente Como apontado por Lipovetsky e Serroy (2015, p. 44) a produção de verdadeiras hiper-realidades baseadas nas “ (...) engenharias do estilo, dos sonhos, das narrativas” , estas no campo do turismo associadas ao marketing mesclam discursos e imagens que se voltam para a divulgação dos destinos turísticos a exemplo da leitura a ser apresentada sobre a Costa do Dendê.

84 Rodrigues (p. 1999, 27) apresent a essa discussão no t ocant e a relação ent re a at ividade do t urism o e as est rat égias de market ing para acessibilidade ao imaginário da sociedade: “ (...) a publicidade não é apenas um convit e à viagem, ela é igualment e um reflexo est ilizado da ment alidade colet iva. Ult rapassando o nível da ret órica pode-se ascender ao m odelo t opológico desse imaginário, t ransformando-o em realidade” .

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3 - PRIM EIRA INCURSÃO PELA COSTA DO DENDÊ UM A REFLEXÃO SOBRE

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