• Nenhum resultado encontrado

Qualquer que seja a disciplina que envolva estudos do espaço ou território, a noção de escala está no centro das pesquisas e determina seus objetivos (ALLAIN, 2000, p.13). A hierarquização dos fenômenos, os níveis de observação e de organização são completamente dependentes da escala de percepção.

A noção de paisagem como categoria espacial permite que se trabalhe com escalas que podem compreender desde a global até a mais localizada, conforme destacam Burel et Baudry (1999, p.44). A determinação da escala de trabalho a adotar vai depender diretamente dos fins a que se pretende chegar, pois, a maior ou menor importância de um elemento no conjunto da paisagem vai estar ligada à sua escala de observação. De acordo com Le Du (1995, p.30), a escolha da escala de trabalho depende, ainda, da natureza do espaço estudado, considerando-se aí os aspectos naturais e socioeconômicos. Nesse caso, a autora destaca a diferença de escalas de trabalho para um espaço

transformação na ocupação do solo pode consistir em uma conversão (passagem de floresta à cultura) ou em uma modificação (densidade de árvores de uma floresta). A utilização do solo está relacionada com a forma como o homem utiliza a terra (tipo de agricultura, de pastagem, de habitat). Uma transformação no uso do solo em um lugar pode consistir numa mudança de uso ou numa modificação na intensidade do uso (aumento da pressão por pastagem, supressão da fertilização orgânica ou mineral).

europeu – de paisagens muito complexas criadas ao longo dos séculos –, e a escala para se efetuar estudos na Floresta Amazônica, na Taiga siberiana ou no deserto australiano – de paisagens aparentemente homogêneas sobre grandes extensões.

A teledetecção contribui também para uma análise e descrição mais objetiva da paisagem, na medida em que as informações dos pixels permitem, para uma mesma imagem, criar uma assinatura espectral para cada tipo de uso, o que vai possibilitar uma interpretação instantânea da mesma.

A facilidade de se deslizar entre diversas escalas espaciais oferecidas pela teledetecção, cria uma amplitude muito maior de oportunidades de análises. O estabelecimento de uma escala única, certamente reduziria as possibilidades de explorar suas técnicas. Os deslizamentos entre diversas escalas permitem distinguir desde os elementos da paisagem até as unidades de paisagem, o que marca a passagem do estudo da ocupação do solo ao estudo da paisagem, mesmo se, de acord o com Le Du (1995, p.31), na prática a maioria dos trabalhos acaba se distanciando desse postulado, assimilando o estudo dos elementos àquele do conjunto .

Le Du (1995) faz uma profunda discussão e elabora uma série de reflexões a respeito da escala de observação, percepção e estudo da paisagem, que muda radicalmente segundo o ponto de vista, o ângulo e a distância que se estabelece. A autora destaca que a fotografia aérea, a imagem de satélite, assim como a carta topográfica, são apenas visualizações da paisagem, que permitem, por outro lado, representar diversas paisagens, inclusive aquelas jamais percorridas. A não redutibilidade desses documentos à paisagem está justamente na dificuldade de se reconstruir mentalmente a realidade paisagística a partir das informações representada em duas dimensões. Eles são na verdade, " informações filtradas possíveis de se decodificar a partir de uma certa base de conhecimento" (LE DU, 1995, p.18).

À medida que se modifica a escala de visualização da paisagem, as informações vão se tornando sensivelmente diferentes e, ao mesmo tempo, a forma de se analisá-la requer ajustes. Partindo-se de uma escala 1/ 50.000 até 1/ 500.000, percebe-se uma grande diferenciação nos tipos de elementos observados. A área ocupada por um centro urbano, um maciço florestal ou uma zona agrícola só pode ser vista em sua totalidade a partir de uma certa escala, cujos detalhes são, à priori, dispensáveis. No caso de imagens de satélite LANDSAT Thematic Mapper (TM) nas escalas 1/ 250.000 a 1/ 500.000, por exemplo, os elementos da paisagem são difíceis de serem discernidos individualmente, ainda que se possa dimensionar a natureza da paisagem (tipo do parcelar, sistema agrícola...). Em contrapartida, elas permitem observar os conjuntos de elementos que estruturam a paisagem (sub-unidades). Em escalas menores ainda (além de 1/ 500.000), os conjuntos paisagísticos de tamanhos reduzidos vão sendo dificultados de serem discernidos, passando-se a observar unidades mais gerais da paisagem, de escala regional (LE DU, 1995, p.27), momento este em que os detalhes perdem, por completo, a importância no conjunto.

Ainda sobre este respeito, a contribuição de Giblin (1978, p.81) merece destaque:

D'une part, un paysage vu sur le terrain à partir d'un point d'observation précis ne montre qu'une partie seulement du visible: le jeu des plans verticaux cache les portions de l'espace qui se trouvent derrière eux, ce sont les " espaces masqués" . D'autre part, l'analyse du " paysage type" sur la carte se fait en combinant des ensembles

spatiaux très différents qui s'entrecroisent. Or les ensemble que l'on

peut appréhender à grande échelle ne sont pas ceux que l'on peut conceptualiser à petite échelle [grifos do autor].

É interessante salientar que, para os estudos de paisagem, nem sempre as grandes escalas que oferecem maior precisão são as melhores. Le Du (1995, p.31) considera que os estudos de paisagem se acomodam vantajosamente na escala/ resolução oferecida pelos satélites LANDSAT TM, mais interessantes que no SPOT e nas fotos aéreas. Até mesmo as imagens NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration), que possuem resolução espacial de 1,1 X 1,1 km,

apresentam pontos interessantes de análise para estudos de grandes unidades de paisagem. Estas fornecem uma visão sintética do conjunto regional que pode servir de ponto de partida para estudos mais localizados.

Os produtos da teledetecção constituem documentos que oferecem a melhor síntese global da paisagem, seja pela visão de conjunto que eles proporcionam, seja pelos seus próprios princípios de registro de dados, que vai além daquele captado pelo olho humano. Além disso, eles permitem explorar uma visão vertical da paisagem, diferente daquela costumeira e cotidianamente percebida e vivida pelo observador. Mesmo assim, é preciso estar ciente de que uma imagem de satélite não é tudo, mas sim um importante instrumento para se adentrar nos estudos paisagísticos. Le Du (1995, p.21) contribui, nesse sentido, ressaltando que:

Le paradoxe de la télédétection est de visualiser un territoire tel qu’il n’est jamais vu, tout en le rendant plus lisible. Sur l’image satellite, on ne voit pas un paysage, même si on peut l’étudier plus facilement. L’utilisation de ces documents nécessite donc certaines précautions: ne pas assimiler l’outil (l’image) au sujet étudié (le paysage) et, ne pas considérer que toutes les informations extraites du document font automatiquement partie du paysage et réciproquement que toutes celles du paysage sont contenues dans le document.

Antrop (1985, p.125) destaca três noções fundamentais para se analisar imagens de satélite sistematicamente: a) o aspecto espacial, onde a noção de escala passa a ter menor significado que o de resolução espacial; b) o aspecto espectral, que registra informações além daquelas captadas pela visão humana, como a banda do infravermelho que traz informações adicionais sobre determinados elementos da superfície terrestre; c) o aspecto temporal, que cria a possibilidade de acompanhamento das rápidas mudanças operadas na paisagem. Destarte, a teledetecção é caracterizada como multi-escalar, multi-espectral e multi-temporal.

No que tange à identificação de modificações pontuais, as limitações impostas pela resolução espacial das imagens de satélite LANDSAT

TM (ou outros) são contornáveis pelos trabalhos in situ. É preciso lembrar também que, por mais que o sistema de técnicas de tratamentos de imagens de satélite ressalte determinados elementos da paisagem, estes são função da qualidade dos conhecimentos do pesquisador relativos à paisagem (TRICART, 1985, p.121) e aos princípios da teledetecção. Uma vez mais os trabalhos de terreno se colocam imprescindíveis.

Documentos relacionados