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Paleoambientes e ecossistemas pré-históricos do Nordeste

1. CAATINGA, OCUPAÇÃO HUMANA, PALEOAMBIENTES E MUDANÇAS

1.4. Estudos dos Paleoambientes: prova inconteste de um passado gigante

1.4.1. Paleoambientes e ecossistemas pré-históricos do Nordeste

A natureza química das rochas pré-cambrianas do Nordeste brasileiro não contribui para a preservação, durante muito tempo, de material orgânico, especialmente ossos, sejam eles humanos ou dos animais que aqui viveram há milhares de anos.

Nos afloramentos calcários da Serra da Capivara, pela natureza da rocha, foram escavados sítios paleoarqueológicos, a exemplo da Toca da Janela da Barra do Antonião, Toca do Serrote, Toca de Cima dos Pilão, dentre outros (GUERIN e FAURE, 2004: 231), que guardam testemunho de uma rica fauna do passado, servindo de testemunho que a região apresentou uma situação de temperatura bem mais úmida do que a atual.

Na Paraíba, como as pesquisas nesse campo são praticamente inexistentes, não existem dados significativos que comprovem, por exemplo, o contato direto do homem pré-histórico com a megafauna, capaz de nos fornecer informações precisas tanto sobre o paleoclima da região como o próprio modus vivendi do homem no período, o que existem são suposições sem nexos de curiosos sem a menor formação e conhecimento da temática, emitindo parecer através de um primeiro olhar em restos de fauna fósseis encontrados em lagoas pleistocênicas no interior do Estado (SUENE, 2006) e (PAPES, 2005).

Na Serra da Capivara como também na região de Central, estado da Bahia (CENTRAL 1985), o estudo da megafauna apontou indicações paleoecológicas que forneceram uma visão do meio ambiente do Pleistoceno Final e começo do Holoceno totalmente adverso do que é hoje, provando que o clima anterior ao Holoceno era diferente, daí a existência, também, de uma fauna adaptada aquela situação.

Desde o século XIX, os animais da megafauna vêm sendo descritos no Nordeste do Brasil, como é o caso da espécie-tipo Toxodon platensis, descrito por Darwin, no Quaternário recente da Patagonia (GUERIN e FAURE, 2004: 236).

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Algumas dessas espécies gigantes conseguiram se adaptar a uma nova situação climática no Holoceno e sobreviver, sofrendo adaptações e chegaram aos nossos dias.

A família dos Canídeos teve um importante representante na megafauna pleistocênica do Nordeste do Brasil. O grande Protocyon troglodytes apresentava o tamanho de um lobo grande e pesava em torno de 50 Kg, encontrado em jazidas pleistocênicas do Nordeste brasileiro. Outra família que teve os animais gigantes desaparecidos foi a dos cervídeos (Manzana Sp e Cervus Sp). Atualmente ainda se encontra nas áreas mais afastadas e preservadas de caatingas, especialmente nas áreas abrejadas, primo dessa família, são os veados mateiros.

A família dos felinos ainda subsiste em alguns rincões do Nordeste do Brasil e, especialmente na Paraíba, na região de São João do Tigre. São os “primos” diretos dos extinos Smilodon populator, da grande família dos Felídeos, que faziam parte de uma subfamília particular, os Machirodontes, mais conhecidos por Tigres-de-dentes-de- sabre. Atualmente esta família é completamente fóssil.

Enfim, o estudo da megafauna pleistocênica e suas inúmeras famílias servem de testemunho de importantes mudanças climáticas que ocorreram no final do Pleistoceno e início do Holoceno, acerca de 10.000 anos AP. A harmonia do ambiente em que eles viviam foi quebrada e teve início o processo de extinção, sobrevivendo, na região, os animais de pequeno porte, fáceis de se adaptarem a nova situação do ambiente.

Armando Laroche (1981), importante estudioso da Pré-História do Nordeste, tece severas críticas a classificação americana de Wormington em usar uma escala única para dividir a Pré-História da América, em cinco períodos: líticos, arcaico, formativo, clássico e post-clássico, afirmando que esta classificação não se enquadra de forma satisfatória ao desenvolvimento cultural pré-histórico do Nordeste do Brasil.

Outros pesquisadores norte-americanos acreditando que a antiguidade do homem das Américas tendeu a envelhecer ainda mais e sugerem outras divisões: o arqueolítico e o cenolítico.

Na verdade, em inúmeros sítios arqueológicos já estudados no Nordeste do Brasil, encontrou-se uma gama muito grande e diferenciada de materiais líticos, o que

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levou Laroche a insinuar tratar-se de “mudanças econômicas que, por sua vez, provocaram alterações nos equipamentos líticos dos grupos humanos, que procuraram se adaptar às novas condições de vida, já que outros, diantes do sucedido, emigraram, tentando reencontrar em paragens diferentes, suas condições habituais de vida” (LAROCHE, 1981: 44). Duas importantes informações extraímos do exposto por Laroche: primeiro, aconteceram mudanças ambientais radicais em algumas áreas do Nordeste do Brasil em períodos anteriores provavelmente ao Holoceno; e, segundo, houve uma adaptação, quando não a fuga, de grupos humanos a essas novas mudanças com o fim do último glacial.

Em Bom Jardim, Agreste de Pernambuco, encontraram-se datações absolutas de 11.000 anos AP. para equipamentos líticos do grupo da tradição Itaparica, sendo caracterizado por pontas de flechas, caracterizando a existência, na região, de um povo caçador, provavelmente ligado a megafauna pleistocênica e de animais pequenos, além de ter desenvolvido, de forma paralela, as atividades de pescador e coletor. Nos sítios arqueológicos Lagoa da Casa e Pedra do Caboclo, ambos em Bom Jardim, encontraram-se artefatos de Pedra Lascada, não polidos, associados a ossos de megafauna, comprovando a antiguidade do homem na região, e o contato com esses animais extintos, inclusive os da família dos Prosbocídeos.

Em regiões agrestinas da Paraíba e Pernambuco, encontram-se, com certa frequência, tanques e lagoas pleistocênicas, havendo depósitos dos fósseis da fauna extinta, sendo encontrados em conglomerados sólidos material lítico e os ossos fossilizados de animais da megafauna. Estes materiais estão nas partes mais profundas dos tanques e lagoas. Nas camadas mais superficiais, encontram-se os subfósseis, sugerindo idade relativamente recente.

Em escavações na região de Angicos, no Sertão do Rio Grande do Norte, Laroche escavou em areias de depósitos aluvionários que estavam assentados sobre conglomerados fluviais provando mudanças geo-climáticas nas áreas semiáridas do Rio Grande do Norte e, pela aproximação, da Paraíba.

Em várias regiões dos Sertões nordestinos, já fora identificada a presença muito antiga dos grupos pré-históricos, mas devido as poucas pesquisas, os dados ainda são incipientes. Pelos achados líticos muito antigos nessas regiões semiáridas, acredita-se

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que estas áreas seriam de intensas disputas pelos grupos humanos cuja dieta alimentar retiravam totalmente no meio em que viviam.

Os dados sobre o semiárido nordestino em datas anteriores ao Holoceno ainda são poucos incertos, mas acredita-se que houve uma “considerável baixa de temperatura acompanhada de transgressões marítimas. O nível do mar há 11.000 anos B.P. estaria à cerca de 80 metros abaixo do atual” (LAROCHE, 1981: 46). Isso leva-nos a conjecturar que os grupos humanos desse período tinham acesso a mais alimentos e água, e devido as temperaturas mais amenas, viviam nos vales mais úmidos, expostos aos riscos constantes dos enormes predadores do final do Pleistoceno. A medida em que a temperatura se eleva, esses grupos mudam seus hábitos, procuram as meias encostas e os altos das serras onde conseguem mais alimentos e principalmente uma temperatura mais amena. Já existem indícios que grupos humanos buscavam os abrigos naturais no alto das serras para viverem temporariamente ou não, ou para práticas de rituais fúnebres.

Essa situação apresentada anteriormente deve ter contribuído para a existência, no Litoral, de uma plataforma marítima que avançaria centenas de metros onde hoje estão as praias, e no interior prevaleciam as extensas savanas e tabuleiros, servindo de pastagem para os grandes animais que ali viviam (herbíveros). Findas estas cadeias alimentares, diminuindo água e pastagem, levando a extinção gradativa os animais da megafauna que conviveram com o homem pré-histórico na região.

José Nunes Cabral de Carvalho (Apud LAROCHE, 1981), acreditava que a megafauna no Nordeste do Brasil, especialmente na região semiárida, desapareceu entre o quinto e o sexto milênio a.C., devido a alterações climáticas de grande proporções na região: extinção das grandes áreas de pastagens e elevação drástica das temperaturas. As pesquisas realizadas em Bom Jardim, por Laroche, obtiveram essas conclusões.

Com o fim da megafauna, há também uma mudança de hábitos humanos. Segundo Laroche (1981: 46), os grupos humanos passam a utilizar instrumentos líticos diferentes e a usar mais a madeira além de passar a morar nas áreas de vales e em habitações a céu aberto, nos campos rasos, livres da temível megafauna. É um período

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em que esses homens deixam as áreas mais elevadas e os abrigos para buscarem as áreas próximas aos rios.

Laroche (1981) conseguiu acompanhar as fases de transformações do meio ambiente analisando as transformações sofridas nos instrumentos líticos, encontradas nas camadas estratigráficas dos sítios por ele escavado. Inicialmente eram pontas foliáceas finas (unifaces ou bifaces), compridas, penetrantes, médio e grande porte, típico do final do Pleistoceno e início do Holoceno, com o tempo, os materiais líticos foram sendo transformados em lesmas e raspadores, ferramentas espessas e grosseiras, pois não tinham mais serventia para as grandes caçadas dos animais da megafauna extintos. Essas novas peças serviam basicamente para raspar e cortar. Agora prevalecem as micropontas, pequenos projéteis, talvez para uso em zarabatana ou mesmo por pontas de ossos ou madeira, capazes de perfurararem pequenos animais, os que sobreviveram das transformações ambientais do começo do Holoceno. Aos poucos, talvez em contato com outros grupos humanos que chegaram na região, esses grupos de caçadores podem ter se adaptado a uma nova situação, transformando-se em horticultores, mas não deixando de lado os velhos hábitos da caça e da coleta. Espigas de milho em estágio semifóssil encontradas nos Sertões de Bom Jardim, em Pernambuco, podem atestar o exposto. Com isso, calcula-se que por volta de 2.800 a. C., esses grupos deram início ao uso da cerâmica. Resta saber se esses grupos horticultores/ceramistas pertenceriam ou não a mesma linhagem cultural dos grupos caçadores da megafauna.

Laroche (1981: 47) faz as indagações que muitos já fizeram e continuam a fazer sobre os prováveis motivos da extinção da megafauna nos Sertões do Nordeste: teriam desaparecido com o fim das grandes áreas de pastagens essenciais para manterem o metabolismo desses animais gigantes? Foram os caçadores os grande responsáveis pela extinção? É difícil responder a tais indagações. Particularmente acreditamos numa junção de fatores, como os expostos anteriormente.

O que se sabe é que entre o final do Pleistoceno e início do Holoceno, tivemos nos Sertões do Nordeste “um período de frio” (LAROCHE, 1981: 47), alternado-se com períodos muito quentes, com ecossistemas de pastagens favorecendo esses animais, poucas florestas, uma fauna herbívora de grande porte e caçadores-coletores que conviveram com eles.

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Com as elevações constantes das temperaturas atigindo a seu máximo por volta do quinto milênio a.C., houve uma alteração no bioma, fazendo sumir as pastagens, elevando as chuvas e temperaturas, entrando no que Armand Laroche chamou de Idade da Madeira, que durou até cerca de 2.500 anos AP., quando houve o processo de regressão das florestas costeiras e o surgimento do bioma que chamamos de tabuleiros, fazendo sobreviver apenas a fauna que temos atualmente. Laroche ainda aponta que entre o terceiro e o segundo milênio a.C. houve o que ele chama de Pequeno Pluvial, período em que deve ter ocorrido um frio seco, que teria provocado o reaparecimento dos tabuleiros, mas sem grandes alterações para os biomas, como aquelas que ocorreram no início do Holoceno. Em suma, nos últimos 2.000 anos, as alterações naturais são mínimas, mas têm se acentuado as ações antrópicas,

principalmente no pós-contato9.

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Antecessor ao Holoceno, inúmeros eventos se sucederam a tal ponto de modificar por completo o ambiente do que hoje é o Nordeste do Brasil. Mutzenberg (2007: 8) apresenta os principais ecentos paleoclimatológicos, em escala mundial: 1. o clímax do Último Máximo Glacial, por volta de 18.000 anos AP., 2. o aquecimento global por volta de 10.000 anos AP., que pós fim a última grande era glacial.

No pós início do Holoceno, por volta de 7.600 a 4.500 anos AP., tem-se início a chamada Idade Hipsitérmica, quando a temperatuta no planeta chegou a apresentar de 2 a 3 º mais elevada do que a atual. Até cerca de 1.000 anos AP., acredita-se ter havido uma forte oscilação na temperatura do período, chegando a existir um segundo ótimo Climático.

Entre os séculos XVI e XIX, a temperatura do planeta diminui entre 2 e 3º C, se comparada com a atual. Foi neste revés que as culturas humanas pré-históricas e históricas co continente brasileiro se desenvolveram. Nos últimos 100 anos temos um aumento gradativo da temperatura em todo o planeta, em pelo menos 2º C, talvez como conseqüência das ações antrópicas. As variações climáticas nos Sertões da Paraíba pode ter influenciado desde muito antes da chegada

dos colonizadores a fixação do homem na região, pois nas áreas tropicais a transição entre o Pleistoceno e o Holoceno não está completamente definida nem tampouco conhecida, mas deve ter tido uma certa reflectância na região, não impedindo que grupos humanos ali se fixassem desde tempos imemoriais. Assim, de fato estudos locais e regionais acerca do Paleoambiente nordestino, são poucos e pontuados: Serra da Capivara e entorno, algumas regiões dos Sertões da Bahia e de Pernambuco e recentemente no Seridó do Rio Grande do Norte. Na Paraíba, apenas alguns poucos levantamentos preliminares dos animais que viveram entre o final do Pleistoceno e início do Holoceno tem sido realizado.

Assevera Mutzenberg (2007: 11) que as características geoambientais do semiárido do Nordeste do Brasil, no final do Pleistoceno e início do Holoceno, por volta de 10.000 anos AP. até os nossos dias, “já estaria com as características de um clima semiárido continental com baixos índices pluviométricos”. De forma geral, os grupos humanos que aqui se estabeleceram e seus possíveis descendentes que foram contactados pelos colonizadores já estavam há milhares de anos adaptados ao rigor climático que reina na região.

Para Correa (2005), o período de transição entre o Pleistoceno e o Holoceno foi marcado por transformações substanciais na remobilização das coberturas vegetais. Gouveia (2005) e outros, ao anlisar isótopos de carbono, principalmente em área da Paraíba, a partir de amostras de solos, traça um perfil do que seria o Paleoambiente da região nordestina no final do Pleistoceno: 1. entre 15 e 9 mil anos AP, haveria o predomínio arbóreo da vegetação; 2. Entre 9 e 4-3 mil anos AP., predomínio de plantas arbustivas, devido a um clima mais seco; 3. a partir de 3 mil anos AP., retorno de uma vegetação arbórea em pontos localizados, talvez em áreas elevadas, leitos de rios e lagoas e vales.

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A Terra, ou a natureza propriamente dita (a atmosfera, hidrosfera e a litosfera) “tudo dá ao homem, desde os vegetais que utiliza na sua alimentação, as madeiras com que constrói, as plantas com que fabrica numerosos medicamentos” (MACEDO, 1974: 23). Nesse sentido, os primitivos povos do Brasil souberam extrair do meio ambiente as matérias-primas essenciais a sua sobrevivência, sem causar sérios impactos ambientais. Mas foi a cobiça humana e o sistema capitalista que levaram, desde o século XVI, a dizimação de nossos recursos naturais e de sua gente.

Cada sociedade desenvolveu um modo de vida específico, de acordo com suas necessidades e com o que o ambiente lhes oferecia. Só a título de exemplo, a vegetação varia imensamente numa região relativamente pequena, como a Paraíba, levando os grupos humanos que habitaram o território em épocas remotas a fazerem uso diferente desses nichos ecológicos. A vegetação é o espelho do clima e os seres vivos, em geral, têm na busca ao alimento a sua atividade primordial. Assim, o ser humano do passado passava parte significativa de seu dia em atividades de caça, pesca e coleta e, ao contrário, não vivia numa total ociosidade, principalmente naquelas áreas que consideramos de climas mais hostis, como as semiáridas.

Sempre foi motivo de grandes discussões entre os cientistas saber as relações homem/meio, especialmente entre povos ágrafos.

Tabus alimentares adaptativos têm levado especialmente antropólogos, a estudar o processo de sobrevivência biológica, bem como outros usos que os fazem do

Pesquisas no Maranhão em áreas lacustres, aponta que entre 15 e 9 mil anos AP., utilizando-se de isótopos de carbonos 12, 13 e 14, chegaram a conclusões que o clima nesse período estava mais úmido, expandindo-se o cerrado entre 9 e 3 mil anos AP. (MUTZENBERG, 2007: 12). Ribeiro Apud Mutzenberg ( 2007: 14) indica que “...há 8.000 anos houve mudanças significativas na

vegetação nestas áreas”, em outras palavras, nas regiões de Brejo de altitude, de Mata Atlântica e Caatinga, em termos de vegetação, pouco ou quase nada mudou durante o Holoceno, assim, as feições geoambientais que temos atualmente nos Sertões do Nordeste são praticamente as mesmas de milhares de anos, com poucas oscilações e mudanças significativas.

Foi Binford (1962) que propôs, via sua Teoria de Alcance Médio, a possibilidade de se buscar o funcionamento do passado através de observações no e do presente, especialmente através dos vestígios arqueológicos. Nessa linha de pensamento e, ligado ao material arqueológico, pode aparecer a chance em se conhecer os ambientes do passado e a dinâmica sócio-cultural- ambiental.

Nesse ínteri, o homem habitante dos Sertões desde a Pré-História vem passando por um longo processo de adaptabilidade ao meio, processo esse herdado por aqueles que conquistaram a região a partir do século XVI. O homem ao se deparar com transformações em seu ambiente, ou se adapta a essas novas transformações, ou migra, ou se extingui. Sem dúvida que os nossos índios seguiram o primeiro passo citado anteriormente.

Sem dúvida que o conhecimento do Paleoambientes traduz o modus vivendi do homem do passado e, dessa forma, possam a entendê-lo como vivem hoje.

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meio. Esses grupos aparecem como dependentes de três componentes do sistema ao qual está inserido: o inorgânico, o orgânico (vegetal e animal) e o geo-climático.

Os grupos humanos que habitaram os confins da Paraíba, encontravam-se extremamente adaptados ao ambiente hostil das caatingas. Claude Levi-Strauss (1976: 19) é contundente ao afirmar que o homem que vivia em sociedade tribal tinha do ambiente amplo conhecimento, estudando seu habitat, observando o elo da teia alimentar, para não quebrá-la, determinando seu equilíbrio. Nossos índios conheciam, a fundo, as espécies que lhes seriam ou não úteis, extraindo da mesma o essencial para seu desenvolvimento sustentado.

Cada grupo indígena tinha conhecimento específico do uso da fauna e flora, seja no campo medicinal ou alimentício. Um grupo sendo extinto, extinguia-se também tais conhecimentos (POSEY, 1983).

Os índios dos Sertões da Paraíba, com relação ao uso do ambiente, não eram nem poderiam ser diferentes dos índios do restante do Brasil. Geralmente, sabiam como tirar o máximo de proveito do solo, por mais hostil e estéril que este demonstrasse ser. Aziz Nacib Ab’Saber (2000: 33) fala que a adaptação dos grupos humanos nas Américas, desde a Pré-História, foi obrigatória e lenta. No caso dos colonizadores europeus ela foi forçada e rápida. A idéia de um índio nômade, no caso dos Tapuias dos Sertões da Paraíba, advém da forma como eles viviam. Os cronistas, a exemplo de Elias Herckmans (1985), falam em grandes aldeias, mas ao passo que eles, os índios, viviam errantes em busca de alimentos. Na verdade, o que esses grupos humanos faziam era tirar o máximo de proveito possível do ambiente, circulando por várias zonas ecológicas do seu imenso ecossistema das caatingas.

As zonas ecológicas, que Berta G. Ribeiro (1987: 18) chama de “ecozonas” são locais onde sabia-se existirem determinadas espécies ou áreas de matérias-primas específicas capazes de lhes fornecerem, em certas épocas do ano, alimentos ou recursos diversos que pudessem lhes servir e ajudá-los na sobrevivência. Não queremos, contudo, afirmar ser o índio um produto meramente do meio, mas que estava integrado ao meio, interagindo com ele.

Acreditamos, por exemplo, que os Tapuias bem como outros grupos indígenas do Brasil tinham amplo conhecimento do meio em que viviam, com experiência