• Nenhum resultado encontrado

A estrutura do sistema penitenciário é dividida em celas, diretoria, salas de aula, local para trabalho, pátio, muros altos e grades que separam cada lugar com segurança. Porém, as penitenciárias brasileiras são insalubres e superlotadas, ou seja, esquecidas. Lugares de tortura, caóticos onde milhares de condenados cumprem suas penas em locais desumanos que não tem as mínimas condições de ressocialização, para um retorno à sociedade (MATA, 2013).

O problema da infraestrutura dos estabelecimentos prisionais é precário o que prejudica muito a adequação ao sistema, causando desconforto aos detentos e a prestação de serviços dos profissionais, que precisam um conjunto de desempenho capaz e, principalmente, no que se refere ao déficit de vagas que não tem capacidade de suprir novas demandas (CRUZ; AMARAL, 2010, p. 2-5).

Já a saúde pública no sistema prisional é praticamente inexistente, o que é preocupante, pelas condições precárias e a circulação de pessoas, sem atendimento médico, além do uso de drogas e as relações sexuais sem a devida proteção, que são evidentes nos presídios agravando ainda mais a situação. Além disso, a proliferação de epidemias, pela má alimentação dos presos, imunidade reduzida,

aliados com a falta de higiene das celas, dentre outras situações maléficas que violam o artigo 5º inciso XLIX, da Constituição Federal de 1988, que assegura aos presos o respeito à integridade física e moral (CRUZ; AMARAL, 2010, p. 2-5).

A superlotação é um dos piores problemas envolvendo o sistema penal hoje, considerando o cárcere um verdadeiro depósito de humanos, onde detentos ficam empilhados, para dormir com falta de lugar no chão, tendo que alguns ficar sobre redes penduradas nas grades, e muitos dormindo perto de buraco de esgoto. As prisões estão abarrotadas, não fornecendo ao preso o mínimo de dignidade, dignidade essa prevista na nossa Constituição, como uma garantia, um direito do detento, com previsão legal (CRUZ; AMARAL, 2010, p. 2-5).

O direito à saúde está previsto na Lei de Execuções Penais (LEP), em seu artigo 40, inciso VII, o qual também está sendo violado, causando ao preso uma dupla punição, que além de cumprir sua pena, encontra um verdadeiro descaso com a saúde que tem de enfrentar no cárcere (ASSIS, 2007).

A situação é tão grave que no Estado do Espírito Santo, com a superlotação nos presídios, tiveram que apelar para contêineres, que serviram como cela, tratando o preso como um “lixo humano”, assim visto por uma boa parte da sociedade, que ainda acredita em reeducação do preso na situação em que se encontra os nossos presídios brasileiros, fechando os olhos para os seus direitos, afirmando que devem pagar pelo crime que cometeram, sofrendo pra aprender, mas será que dessa maneira o detento retornando à sociedade não vai voltar para a criminalidade (ARRUDA, 2011).

Ainda a respeito da superlotação, na data de 18 de fevereiro de 2016, saiu uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), sobre a autorização da reclusão a partir de decisões em segunda instância, gera polêmica, medo e temor do aumento da superlotação de presídios e insegurança jurídica. Especialistas apontam que tal decisão poderá aumentar a população carcerária do Brasil, e provoca questionamento entre juízes, advogados, promotores e autoridades penitenciárias, caso os réus com sentença provisória sejam recolhidos às cadeias, causando um verdadeiro colapso nos presídios (SCHAFFNER, 2016).

O último levantamento nacional de informações penitenciárias (Infopen) apontou que o Brasil tinha 607.731 presos em 2014, ante 376.669 vagas nos presídios. Ou seja, faltam mais de 231 mil vagas. Não há estimativa oficial do número de réus soltos com condenação em segunda instância, mas entre a população carcerária, 41% são

presos provisórios. Agora, esse índice tende a crescer

exponencialmente. (SCHAFFNER, 2016).

Para a presidente da Associação Nacional dos Defensores Públicos Federais Michelle Leite, “quem vai sentir na sua pele, mais uma vez, é o lado mais fraco, que será encarcerado em prisões superlotadas”. E ainda cabe ressaltar, a colocação do presidente da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul (Ajuris), Gilberto Schäfer, referente à decisão do Supremo, o qual diz o seguinte:

O próprio STF terá de estabelecer parâmetros para o cumprimento da decisão. Schäfer afirma que será necessário aguardar o acórdão do julgamento. Gostei da decisão porque fortalece os tribunais como instância de prova e de avaliação do fato, mas o Supremo terá de explicar em quais casos se poderá abrir exceção ou aceitar recursos especiais, por exemplo. (SCHAFFNER, 2016).

Para entendermos a decisão do Supremo é preciso observar que anteriormente (desde 2009) a prisão poderia ser cumprida a partir do trânsito em julgado, agora com a decisão do STF a prisão já pode começar a ser cumprida na segunda instância do julgamento, e é essa a preocupação de muitos especialistas, pois assim aumentaria a população carcerária e nossos presídios não suportariam atender a demanda, tendo em vista, que já há falta de vagas e superlotação excessiva (JOTA, 2016).

O entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) há sete anos, era que a execução da pena antes do julgamento, antes de passar por todos os recursos, violaria o princípio da não culpabilidade, que em caso de dúvida o acusado deverá ser absolvido, impedindo ainda, a antecipação de juízo condenatório, o qual exige análise criteriosa sobre a necessidade da prisão cautelar. Este princípio está previsto no artigo 5º, inciso LVII da Constituição Federal de 1988, afirmando que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória” (JOTA, 2016).

Para que se possa reduzir a criminalidade e, principalmente, a população carcerária, devemos tomar várias medidas de natureza legal, econômica e social. Ou seja, para que se possam discutir medidas capazes de melhorar as condições dos presídios há necessidade de que haja a redução da criminalidade e agilização da justiça. Em consequência desses dois fatos, ocorrerá a diminuição da população carcerária. E isto é de vital importância porque a possibilidade de recuperar um encarcerado nas atuais condições dos presídios brasileiros é muito baixa, já que esses presos praticamente não exercem qualquer atividade capaz de melhorar a sua formação, tornando, assim, quase impossível o seu retorno à sociedade devidamente recuperado. (BENEVIDES, [S.d.]).

Pode-se perceber que a pena de prisão deveria ser aplicada apenas para aqueles casos de alta periculosidade, casos em que os indivíduos possam causar maiores danos a sociedade, e para aqueles casos mais brandos e que não causam perigo, que é o caso de delitos com pouca gravidade, poderia ser aplicada a pena alternativa, que nada mais é do que uma sanção de natureza criminal, pois não seria justo encarcerar um indivíduo que cometeu um delito de menor potencial ofensivo, juntamente com aqueles que praticaram um delito mais severo, e ainda em um presídio superlotado e com as mínimas condições de ressocialização (BENEVIDES, [S.d.]).

Visando a redução de gastos pelo Estado e principalmente encontrar uma solução eficaz para o problema da superlotação em nossos presídios, que essa substituição de pena seria uma forma de tentar minimizar a grave situação que encontramos. A diminuição de gastos está ligada com as despesas que a pessoa privada de sua liberdade gera nos cofres públicos, pois não trabalha, não produz e muito menos evolui para o seu reingresso à sociedade (BENEVIDES, [S.d.]).

Com o passar dos anos através de declarações e até com base no Código Penal de 1890, tentou-se buscar melhoria na situação das prisões, mas infelizmente o sistema continua falho, mesmo com várias convenções, ONGs (Organizações não governamentais) e estatutos, que lutam pelos direitos dos detentos. Nesse sentido, Muakad (apud VASCONCELOS; QUEIROZ; CALIXTO, [S.d.]) afirma que:

As modificações introduzidas no sistema penitenciário são insuficientes para atender a sua verdadeira finalidade, qual seja,

recuperar os delinquentes para que, ao retornarem à sociedade, possam tornar-se cidadãos úteis e não um peso para ela, que talvez tenha sido a própria causadora de suas deficiências.

Não há necessidade de estudos e pesquisas para percebermos que os presídios brasileiros estão cada vez mais violando os direitos dos presos, elencados na Lei de Execução Penal (LEP), dentre eles o direito a dignidade, respeito e principalmente à intimidade, dentre outros, que muitas vezes não são revelados, expondo o detento ao ridículo (monografia) Cabe salientar o artigo 10 da Lei de Execução Penal, que diz: “A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade” (BRASIL, 1984).

A precariedade em que os detentos estão vivendo, situações de verdadeiro caos, causando ainda mais violência, os presos ao invés de serem reeducados são rotulados como criminosos, pois no cárcere aprendem cada dia vários tipos de delitos com seus companheiros de cela, principalmente pela falta de organização e uma assistência eficaz como traz o artigo de lei citado e que na realidade não é aplicado (GODOY, 2009, p. 16-17).

A Lei de Execução Penal nº 7.210/84 (LEP), visando a diminuição das violações dos condenados, proporcionando o mínimo de garantia de seus direitos, que veio a normatizar a jurisdicionalização da execução da pena que tem como objetivo tornar o princípio da legalidade assegurado aos detentos, buscando impedir um excesso ou ainda um desvio da execução que acabem por comprometer a dignidade e humanidade do próprio Direito Penal, pois este princípio domina o corpo do projeto (CARVALHO, 2003, p. 168-170).

São vários os fatores que contribuem para o grande descaso em nossas penitenciárias, mas não podemos apenas apontar a falta de assistência, organização, superlotação e a situação precária com que se encontram, pois como causas de reincidências na maioria dos casos envolvem os fatores pessoais, sociais e ainda políticos (GODOY, 2009, p. 17-18).

Com a criminalidade nos cercando diariamente, e junto dela o crescimento avassalador da população carcerária, a superlotação provoca sujeiras, odores, insetos, é dever de cada detento manter o local limpo, mas com a lotação se torna difícil. Outro aspecto preocupante causado pela superlotação são os motins e rebeliões, que denunciam a carência de infraestrutura para atender o grande número de vagas necessárias (GODOY, 2009, p. 38-40).

Seguindo na análise acerca das problemáticas e desafios enfrentados pelo detento, principalmente com relação à dignidade da pessoa humana, passa-se a tratar da visita “in loco”, realizada pelo Sistema Interamericano de proteção aos Direitos humanos ao Estado Brasileiro, através da Comissão Interamericana de Proteção aos Direitos Humanos, que, após denúncias de violação aos direitos humanos, dirigiu-se ao Presídio Central de Porto Alegre/RS.

Documentos relacionados