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O sistema interamericano de proteção aos direitos humanos e a visita “in loco” ao Presídio Central de Porto Alegre

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Academic year: 2021

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GRANDE DO SUL

THASSIELE LUDVIG

O SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS E A VISITA “IN LOCO” AO PRESÍDIO CENTRAL DE PORTO ALEGRE

Três Passos (RS) 2016

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THASSIELE LUDVIG

O SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS E A VISITA “IN LOCO” AO PRESÍDIO CENTRAL DE PORTO ALEGRE

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso - TC.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: MSc. Eliete Vanessa Schneider

Três Passos (RS) 2016

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Dedico este trabalho primeiramente a Deus, pela força, coragem e principalmente pela minha fé. E a todos que me incentivaram, me auxiliaram, durante toda minha caminhada acadêmica, pelo incentivo e apoio constantes, não medindo esforços para que eu alcançasse mais esta etapa em minha vida.

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AGRADECIMENTOS

À Deus por permitir que isso acontecesse, ao longo de minha vida, não somente na etapa acadêmica, mas em todos os momentos de minha vida, pela força e fé, com que me conduziu.

Aos meus pais Ademir e Ivanete, minha Irmã Franciele, pelo amor, apoio incondicional, incentivo nas horas de desânimo e cansaço, que apesar das dificuldades me fortaleceram, sendo de fundamental importância para que esta etapa se concretizasse.

A esta Universidade, corpo docente, direção e administradores, à minha professora orientadora, pela dedicação em seu pouco tempo, pelas correções e incentivos, e em seu nome agradeço ainda aos demais professores, por me proporcionar valiosos momentos de aprendizado, repassando o seu conhecimento com ética e dedicação.

Meus agradecimentos aos demais familiares, amigos, que entenderam minha ausência em diversos momentos, e a todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram com a minha formação, meu muito obrigada de coração.

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“A essência dos Direitos Humanos é o direito a ter direitos.”

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O presente trabalho trata do tema “O sistema interamericano de proteção aos direitos humanos e a visita “in loco” ao presídio central de Porto Alegre”, e logo em seu primeiro capítulo possui por principal objetivo estudar de forma aprofundada o Sistema Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos, desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos, os órgãos de proteção, as vistas “in loco” da Comissão, conceitos, origens e história, buscando trazer o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana como alavanca de proteção a esses direitos. Em seguida, faz-se uma análise acerca do sistema penitenciário brasileiro, buscando conhecer da realidade prisional, aplicação de pena privativa de liberdade, os problemas enfrentados pelos apenados com relação a superlotação existente, o déficit de vagas, falta de infraestrutura demonstrando a total violação aos direitos humanos, principalmente ao princípio da dignidade da pessoa humana consagrado na Constituição Federal de 1988. Analisa-se de forma crítica a função ressocializadora da pena, tendo em vista o retorno do indivíduo à sociedade, sem que esse retorne novamente ao crime, as condições insalubres e desumanas em que cumprem sua pena, causando aos presos uma dupla sanção. Por fim, aborda-se a decisão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos sobre a medida cautelar deferida relativa ao Presídio Central de Porto Alegre, onde há ausência de condições dignas no estabelecimento, violando os direitos humanos dos presos, que mesmo privados de sua liberdade são possuidores desses direitos.

Palavras-Chave: Sistema Interamericano. Direitos Humanos. Sistema Penitenciário. Ressocialização. Visita “in loco”.

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This work deals with the theme "The inter-American system of human rights protection and the visit "in loco" the central prison of Porto Alegre", and then in his first chapter has the main objective to study in depth the Inter-American System for the Protection of human rights since the Universal Declaration of human rights, protection of organs, the views "in loco" the Commission, concepts, origins and history, seeking to bring the constitutional principle of human dignity and protection leverages these rights. Then, it is an analysis of the Brazilian prison system, seeking to know the prison reality, enforcement of deprivation of liberty, the problems faced by inmates regarding the existing overcrowding, the deficit of jobs, lack of infrastructure demonstrating the complete violation human rights, especially the principle of dignity of the human person enshrined in the Federal Constitution of 1988. it analyzes critically the ressocializadora function of the penalty, in view of the return of the individual to society without this return back to crime, unhealthy and inhumane conditions in fulfilling his sentence, causing the prisoners a double penalty. Finally, it approaches the decision of the Inter-American Commission on Human Rights on the injunction granted on the Central Prison of Porto Alegre, where there is absence of proper conditions in the establishment, violating the human rights of prisoners, even deprived of their liberty are possessors of these rights.

Keywords: Inter-American System. Human rights. Penitentiary system. Resocialization. Visit "in loco".

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INTRODUÇÃO ... 8

1 PRECEDENTES HISTÓRICOS DA INTERNACIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS ... 11

1.1 Sistema Global de Proteção dos Direitos Humanos...13

1.2 Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos ... 20

1.3 Princípio da dignidade da pessoa humana, consagrado como direito constitucional ... 26

2 SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO ... 33

2.1 Panorama atual do sistema penitenciário brasileiro ... 41

2.2 Visita “in loco” ao presídio central de Porto Alegre ... 46

CONCLUSÃO ... 56

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INTRODUÇÃO

Apesar de o Ordenamento Jurídico Pátrio ter inserido a proteção da pessoa humana, ainda nos deparamos com várias situações de descaso, tanto no que diz respeito a violência contra a mulher, criminalidades, corrupção, descaso na saúde e o esgotamento do sistema carcerário, situações desumanas que acabam por violar tantos direitos.

Com a aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, teve início um período de proteção aos direitos humanos, que veio para amenizar as consequências que a Segunda Guerra Mundial deixou na Humanidade, representando assim um momento histórico.

Assim, com o surgimento da internacionalização dos direitos humanos teve-se uma nova concepção de tratamento, reconhecendo a valorização da dignidade da pessoa humana, que ainda sendo fraca já é o início de uma melhora, apesar da insegurança transmitida pelos Estados que cumprem com repressão as afirmações dos tratados com relação às violações aos direitos humanos, faz com que essa valorização se enfraquece.

Iremos refletir também, a total divergência que há entre o nosso sistema penitenciário e o texto constitucional, sendo que esse é um assunto muito frequente nos noticiários sobre superlotação, rebeliões e fugas em presídios, seria talvez uma notória ineficiência do Estado no cumprimento de suas atribuições, enfatizando a recuperação e ressocialização do preso, que a cada dia se considera mais complicado com a tamanha violação aos direitos humanos.

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Primeiramente se teve o cuidado de enfatizar a questão dos direitos humanos, desde seus precedentes históricos. Após isso, cuidou-se do sistema penitenciário brasileiro, estudando sobre as penas privativas de liberdade, os estabelecimentos prisionais, condições insalubres, falta de assistência médica e condições mínimas de ressocialização.

Importante destacar, a superlotação com que encontramos os estabelecimentos penais brasileiros, que aumenta o índice de reincidência, sendo que, com o déficit de vagas a pena privativa de liberdade não conseguirá exercer sua função ressocializadora estando diante de um sistema penitenciário falho, considerado como uma “universidade do crime”, contribuindo para o crime organizado, fugas e facções.

Diante do exposto acima, se percebe a extrema necessidade de aprofundar a discussão sobre a proteção dos direitos humanos, principalmente no que se refere a aplicabilidade do princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, que deve também ser reconhecida dentro do sistema penitenciário.

Com a criação de órgãos de proteção aos Direitos Humanos, vamos analisar mais especificamente a Comissão Interamericana de Direitos Humanos a qual tem a função principal de promover a observância e a defesa dos direitos humanos. Cabendo ainda à Comissão estimular essa proteção e recomendar aos Estados que adotem medidas de prevenção.

Caberá ainda observar que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos o principal órgão da Organização dos Estados Americanos – OEA, no que diz respeito a supervisão dos direitos humanos, e é exatamente esta a preocupação do presente trabalho, que pretende verificar quais são as atribuições da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, no que se refere as visitas “in loco”, e o quanto essas visitas são importantes, comas recomendações e relatórios feitos pela Comissão, buscando uma maior valorização desses Direitos e para que estes sejam respeitados.

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Quanto a metodologia utilizada, buscou-se a pesquisa em livros, leis, revistas, artigos, reportagens e vídeos. O presente trabalho encontra-se dividido em dois capítulos: o primeiro trata-se da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, preceitos históricos, tratados e pactos internacionais de proteção aos direitos humanos, finalizando com o princípio da dignidade da pessoa humana. Já no segundo capítulo comenta acerca do sistema penitenciário brasileiro, situação atual, tratamento desumano aos detentos, superlotação, ressocialização e condições insalubres, finalizando o capítulo com a decisão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos frente às condições relatadas pelo Presídio Central.

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1 PRECEDENTES HISTÓRICOS DA INTERNACIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

No presente estudo, buscou-se trazer parte da história da internacionalização dos Direitos Humanos, fazendo-se um recorte dos momentos mais importantes ou marcantes neste processo.

O Direito Internacional dos Direitos Humanos, caracterizado como um direito de proteção desenvolveu-se a partir da Declaração Universal de 1948. A elaboração de pactos e tratados deu início a fase legislativa, que trouxe um caráter normativo aos direitos consagrados e através de Conferências Mundiais o caráter de avaliação e reafirmação de alguns princípios (CULLETON; BRAGATO; FAJARDO, 2009, p. 116). Flávia Piovesan, em sua obra, traz de forma sucinta o seguinte:

A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adotada em 10 de dezembro de 1948, pela aprovação unânime de 48 Estados, com 8 abstenções. A inexistência de qualquer questionamento ou reserva feita pelos Estados aos princípios da Declaração e a inexistência de qualquer voto contrário às suas disposições, conferem à Declaração Universal o significado de um código e plataforma comum de ação. A Declaração consolida a afirmação de uma ética universal, ao consagrar um consenso sobre valores de cunho universal a serem seguidos pelos Estados. (PIOVESAN, 1997, p. 155-156).

Rumo à construção de um Direito Internacional dos Direitos Humanos, observa-se que, embora os primeiros passos tenham sido dados após o fim da Primeira Guerra Mundial com o Surgimento da Liga das Nações e da Organização Internacional do Trabalho, foi com o fim da Segunda Guerra Mundial que ocorreu a consolidação do Direito Internacional dos Direitos Humanos como um novo ramo do Direito (PIOVESAN, 1997, p. 139).

Estes dois órgãos citados – a Liga das Nações Unidas e a Organização Internacional do Trabalho - foram de fundamental importância no processo de universalização dos Direitos Humanos, tendo em vista que ao proteger os direitos fundamentais em época de guerra, bem como garantir direitos mínimos nas relações de trabalho, colaboraram para o reconhecimento de que os Direitos Humanos necessitam de proteção, por promoverem a paz e a segurança internacionais, independentemente de cor, raça ou credo religioso.

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A Segunda Guerra Mundial vitimou mais de 55 milhões de seres humanos, diante da frustração em manter a paz e o com a adoção de um cruel tratamento quanto aos prisioneiros de guerra, o que resultou na dissolução da ordem internacional e dos direitos humanos até então construídos (LIMA JR.; GORENSTEIN; HIDAKA, [S.d.]).

Da tamanha desconsideração com os direitos humanos, na Era Hitler e do Nazismo, surge grande preocupação, pois, se houvesse uma responsabilização dos Estados, quanto ao controle destas violações em seu território, com a contribuição de um sistema de proteção internacional dos direitos humanos mais eficaz, sem dúvidas que as violações diminuiriam. Surge um impulso ao processo de universalização e o desenvolvimento do direito internacional dos direitos humanos, permitindo assim, a responsabilização do Estado quando houver falhas na proteção do cidadão (LIMA JR.; GORENSTEIN; HIDAKA, [S.d.]).

Além disso, passando a observar o período pós-guerra, nos deparamos com outro ponto relevante para a universalização dos direitos humanos, que foi a constituição e o funcionamento dos tribunais de Nuremberg e de Tóquio, os quais se destinaram a julgar os criminosos de guerra. Apesar das críticas, representaram um avanço, principalmente na preservação da paz destacando-se como pioneiros da Corte Penal Internacional (LIMA JR.; GORENSTEIN; HIDAKA, [S.d.]).

Flávia Piovesan (1997, p. 135.) disserta acerca do significado do Tribunal de Nuremberg:

O significado do Tribunal de Nuremberg para o processo de Internacionalização dos direitos humanos é duplo: não apenas consolida a ideia da necessária limitação da soberania nacional, como também reconhece que os indivíduos têm direitos protegidos pelo Direito Internacional.

Ao considerar a Alemanha culpada por ter violado o direito costumeiro internacional, o Tribunal de Nuremberg entrou para a história, por ser a primeira oportunidade em que um Estado foi julgado e condenado pelas violações a direitos ocorridas em seu território (LIMA JR.; GORENSTEIN; HIDAKA, [S.d.]).

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Após a Segunda Guerra Mundial, diversos fatores vieram a contribuir para o fortalecimento do processo de internacionalização dos direitos humanos, um deles, como sendo o mais importante foi a maciça expansão de organizações internacionais. Há que se mencionar também, como forma de consolidação da internacionalização dos direitos humanos, a criação da Carta das Nações Unidas de 1945, a partir do consenso de Estados promovendo o propósito e a finalidade das Nações Unidas (PIOVESAN, 1997, p. 150).

Flávia Piovesan (1997, p. 153) ressalta a visão de Thomas Buergenthal:

A Carta das Nações Unidas “internacionalizou” os direitos humanos. Ao aderir à Carta, que é um tratado multilateral, os Estados-partes reconhecem que os “Direitos Humanos”, a que ela faz menção, são objeto de legítima preocupação internacional e, nesta medida, não mais de sua exclusiva jurisdição doméstica [...]

Também relata Thomas Buergenthal que ao longo dos anos a Organização tem conseguido esclarecer a real obrigação dos Estados-membros, criando instituições com base na Carta da Organização das Nações Unidas (ONU), para assegurar o devido cumprimento dos Direitos Humanos pelos Estados, para deter as violações a esses direitos (PIOVESAN, 1997, p. 153).

Assim sendo, após o ápice de desconsideração da dignidade da pessoa humana que foi a Era Hitler, durante a Segunda Guerra Mundial, diversos foram os fatores que vieram a contribuir com o processo de internacionalização dos Direitos Humanos, pois aos poucos nasceu a consciência internacional quanto à necessidade de estabelecimento de valores e direitos mínimos a serem assegurados a todos os seres humanos. Nesse sentido, o presente estudo segue com a análise da criação de um Sistema Global de Proteção aos Direitos Humanos.

1.1 Sistema Global de Proteção dos Direitos Humanos

Pode-se afirmar que o processo de evolução das garantias dos direitos humanos, tiveram início no século XVIII, apenas com os acontecimentos da era Hitler e da Segunda Guerra Mundial. A partir daí surgiu a reconstrução dos direitos

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humanos, sendo estes colocados em pauta para que tivessem maior atenção e proteção no âmbito internacional, com a crença de que independente de raça e outras peculiaridades individuais, o ser humano num todo, é digno e merecedor de respeito (CULLETON; BRAGATO; FAJARDO, 2009, p. 108).

A formação do Sistema Global de Proteção teve como seu marco histórico a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a qual foi aprovada pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) no dia 10 de dezembro de 1948, obtendo 48 votos a favor, nenhum contra e 8 abstenções, as quais partiram da União Soviética, Ucrânia, Rússia Branca, Polônia, Tchecoslováquia, Iugoslávia, União Sul-Africana e da Arábia Saudita (CULLETON; BRAGATO; FAJARDO, 2009, p. 110).

A Declaração é formada por 30 artigos e um preâmbulo, estes são divididos em normas gerais que contêm os fundamentos filosóficos, ressaltando os ideais cristãos de dignidade da pessoa humana, fraternidade universal, a igualdade e a liberdade. Em seu preâmbulo, encontram-se as premissas de caráter universal, além disso, três grupos de direitos e liberdades individuais, primeiro aparecem os direitos individuais e civis que pretendem a proteção contra os possíveis excessos dos Estados, da pessoa individual e a sua liberdade, em segundo surgem os direitos políticos que afirmam o direito de todos quanto ao acesso aos cargos públicos, e em terceiro, o grupo dos direitos econômicos e sociais, onde está a previsão da Declaração acerca do direito ao trabalho, proteção ao desemprego, salário entre outros (CULLETON; BRAGATO; FAJARDO, 2009, p. 110-114).

Observando que sob a forma de resolução e não como um tratado a Declaração necessita de força legal, destacando os princípios do Direito Internacional. A Declaração e a Carta da ONU que tem caráter vinculante são inter-relacionados, tendo em vista que a Carta em seu artigo 55 sustenta que “as Nações Unidas devem promover o respeito e a observância universal dos direitos humanos e das liberdades fundamentais para todos”, enquanto no artigo 56 a previsão se remete “a obrigação dos Estados-membros de promover ações para alcançar os propósitos do artigo 55”, não determinando o alcance e a definição dos direitos, é o

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que conclui o preâmbulo da Declaração (CULLETON; BRAGATO; FAJARDO, 2009, p. 115):

(...)

Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla;

Considerando que os Estados-membros se comprometeram a promover, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos humanos e liberdades fundamentais e a observância desses direitos e liberdades;

(...). (DECLARAÇÃO..., 1948).

Por ser o primeiro documento a anunciar a universalidade dos direitos humanos e pelo significativo número de votações favoráveis, a Declaração constitui-se em documento jurídico vinculante para os Estados-Partes da ONU. Ela fixa as liberdades fundamentais a serem garantidas, mas mesmo assim, foi preciso que fosse “juridicizada” sob a forma de tratado internacional. Esse processo foi concluído apenas em 1966 com a criação de dois pactos, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais incorporando a Declaração Universal, simbolizando um movimento internacional dos direitos humanos e proporcionando uma importância global para o sistema de proteção aos direitos humanos (PIOVESAN, 1997, p. 177).

Embora aprovados pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1966, foi apenas dez anos depois que o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais que eles entraram em vigor, no ano de 1976 (CULLETON; BRAGATO; FAJARDO, 2009, p. 116).

Em seus primeiros artigos o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, proclama o dever dos Estados-partes em assegurar para todos os indivíduos os direitos lá elencados. Incluindo a obrigação do Estado a proteção aos indivíduos contra a violação de tais direitos, ao impor tais obrigações de respeitar e assegurar esses direitos de forma imediata, o Pacto dos Direitos Civis e Políticos apresenta auto aplicabilidade (PIOVESAN, 1997, p. 179-180).

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O Pacto possui uma sistemática de monitoramento dos direitos, impondo aos Estados que ao ratificarem-no sejam enviados relatórios sobre as medidas judiciárias, administrativas e legislativas. Esses relatórios são analisados pelo Comitê de Direitos Humanos que é integrado por dezoito membros nacionais dos Estados-partes que são eleitos pelos próprios Estados-partes. Outra possibilidade está configurada em comunicações interestatais, que versam sobre um Estado denunciar outro Estado por violações dos Direitos Humanos ao Comitê, que somente será possível se ambos aceitaram a competência do Comitê (CULLETON; BRAGATO; FAJARDO, 2009, p. 117).

A respeito do significado da sistemática dos relatórios, comenta Henry Steiner (apud PIOVESAN, 1997, p. 180):

Os relatórios elaborados pelos Estados sobre os direitos humanos internacionais tornaram-se hoje um lugar comum no plano dos tratados internacionais de direitos humanos. Mas considere quão revolucionária uma ideia como esta pode ter parecido, para grande parte dos Estados do mundo, quase que inconcebível, na medida em que deveriam periodicamente submeter um relatório a órgãos internacionais, sobre seus problemas internos de direitos humanos, envolvendo governo e cidadãos, e posteriormente participar de discussões a respeito do relatório com membros daquele órgão perante o mundo como um todo.

Esses relatórios são enviados para o Comitê apreciá-los, devendo assim ser encaminhados no período de um ano a contar da ratificação do Pacto e também sempre que for solicitado pelo Comitê, que, depois de examiná-los, encaminha esses relatórios acrescidos com seus comentários e apontamentos para o Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (PIOVESAN, 1997, p. 181).

O Pacto possui inúmeros dispositivos que incorporam a Declaração Universal, abrigando novos direitos e garantias, permitindo também limitações a alguns direitos, quando são necessárias para a segurança na ordem pública (PIOVESAN, 1997, p. 186).

Foi adotado no dia 16 de dezembro de 1966, o Protocolo Facultativo ao pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, mas apenas em 26 de março de 1976 entrou em vigor. Tal protocolo acrescentou petições individuais que são apreciadas

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pelo Comitê de Direitos Humanos. Os requisitos de admissibilidade de tais petições estão elencados no artigo 5º do Protocolo Facultativo:

1. O Comitê examinará as comunicações recebidas em virtude do presente Protocolo tendo em conta todas as informações escritas que lhe forem submetidas pelo indivíduo e pelo Estado-Parte interessado.

2. O Comitê não examinará nenhuma comunicação de indivíduos sem que tenha se assegurado:

a) que a mesma questão já não está sendo examinada por uma outra instância internacional de investigação ou decisão;

b) que o indivíduo esgotou todos os recursos internos disponíveis. Esta regra não é aplicável se os processos de recurso excederem prazos razoáveis.

3. O Comitê realizará as suas sessões a portas fechadas quando examinar as comunicações previstas no presente Protocolo.

4. O Comitê comunicará seu parecer ao Estado-Parte interessado e ao indivíduo. (PROTOCOLO..., 1966).

Tal decisão não tem força obrigatória ou vinculante, e não prevê sanção em caso de descumprimento e sim solicita ao Estado informações sobre o seu cumprimento, que será publicado no Relatório Anual, podendo gerar situações constrangedoras no plano internacional (CULLETON; BRAGATO; FAJARDO, 2009, p. 118).

Não diferente do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, também foi aprovado em 1966 e entrou em vigor dez anos depois em 1976. Este traz em seu bojo normas programáticas, na medida em que traz a expressão e o reconhecimento dos Estados de adotar medidas, até o máximo de seus recursos disponíveis, incluindo a adoção de medidas legislativas, visando assegurar os direitos reconhecidos em eu teor (CULLETON; BRAGATO; FAJARDO, 2009, p. 118-119).

É o que prevê o artigo 2º, parágrafo 1º do Pacto:

Cada Estado Parte do presente Pacto compromete-se a adotar medidas, tanto por esforço próprio como pela assistência e cooperação internacionais, principalmente nos planos econômico e técnico, até o máximo de seus recursos disponíveis, que visem a assegurar, progressivamente, por todos os meios apropriados, o pleno exercício dos direitos reconhecidos no presente Pacto,

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incluindo, em particular, a adoção de medidas legislativas. (BRASIL, 1992).

O Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, requer a progressiva implementação dos direitos reconhecidos. Sendo assim, os Estados se comprometem tão somente a adotar o máximo de medidas disponíveis para alcançar a realização e aplicação desses direitos por ele elencados, e não se comprometendo a atribuir que tais direitos tenham sua aplicação de forma imediata. Para o Pacto essa aplicação de forma progressiva e não imediata de seus direitos nele elencados, produz efeitos que refletem no reconhecimento, ou seja, a realização integral e completa dos direitos não se faz possível em um curto período (PIOVESAN, 1997, p. 195).

O maior objetivo do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais foi incorporar a Declaração Universal na forma de normas juridicamente obrigatórias e vinculadas, com o intuito de permitir a linguagem de direitos, criando obrigações legais aos Estados-partes, prevendo uma maior responsabilização internacional em caso de violações aos direitos nele enunciados (PIOVESAN, 1997, p. 193).

O Pacto consiste em um sistema de monitoramento e implementação na forma de relatórios que são apresentados pelos Estados-partes, tendo em vista seu principal objetivo de assegurar a observância dos direitos, é o que prevê o artigo 16 do Pacto:

1. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a apresentar, de acordo com as disposições da presente parte do Pacto, relatórios sobre as medidas que tenham adotado e sobre o progresso realizado com o objetivo de assegurar a observância dos direitos reconhecidos no Pacto.

2. a) Todos os relatórios deverão ser encaminhados ao Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, o qual enviará cópias dos mesmos ao Conselho Econômico e Social, para exame, de acordo com as disposições do presente Pacto.

b) O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas encaminhará também às agências especializadas cópias dos relatórios ou de todas as partes pertinentes dos mesmos enviados pelos Estados Partes do presente Pacto que sejam igualmente membros das referidas agências especializadas, na medida em que os relatórios, ou partes deles, guardem relação com questão que

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sejam da competência de tais agências, nos termos de seus respectivos instrumentos constitutivos. (BRASIL, 1992).

No âmbito do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, há a existência de um órgão de monitoramento, o Comitê de Direitos Humanos. Já no âmbito do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais é o Comitê sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais que foi criado pelo Conselho Econômico e Social da Organização das Nações Unidas (ONU), não havendo a sistemática de comunicações individuais e nem tampouco permite o mecanismo de comunicação interestatais (CULLETON; BRAGATO; FAJARDO, 2009, p. 119).

Enquanto o Pacto dos Direitos Civis e Políticos estabelece direitos endereçados aos indivíduos, o Pacto dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais estabelece deveres endereçados aos Estados. Enquanto o primeiro Pacto determina que “todos têm direito a...” ou “ninguém poderá...”, o segundo Pacto usa a fórmula “os Estados-partes reconhecem o direito de cada um a...”. (PIOVESAN, 1997, p. 194).

Tendo em vista as violações desses direitos, são consideradas como mais sérias e intoleráveis, as violações de direitos civis e políticos, em relação à negação de direitos econômicos, sociais e culturais. Quanto às violações de direitos econômicos, sociais e culturais, é o resultado da ausência de suporte e a visível falta de intervenção governamental, sendo “um problema de ação e prioridade governamental e implementação de políticas públicas, que sejam capazes de responder a graves problemas sociais” (PIOVESAN, 1997, p. 200).

Quanto à noção de ação governamental, é importante citar a observação de Jean Dreze e Amartya Sem (apud PIOVESAN, 1997, p. 200) os quais esclarecem que:

Ação pública é não apenas uma questão de respostas públicas ou iniciativas estatais. É também um problema de participação pública no processo de transformação social. A participação pública pode

oferecer poderosas e positivas contribuições, tanto como

“colaboradora” da política governamental, como “adversária” a ela. Incentivos são centrais para a lógica da ação pública.

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Podemos dizer depois deste breve estudo, que o Direito Internacional está caminhando rumo a aperfeiçoar a aplicabilidade dos direitos humanos criando assim, obrigações para os Estados, no intuito de adotar medidas concretas para a sua implementação investindo, por exemplo, em programas direcionados à educação, tendo em vista a existência de uma grande demanda, os mecanismos hoje disponíveis estão limitados a essas condições.

Com esses três documentos: a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, formou-se o Sistema Global de Proteção aos Direitos Humanos, que com uma maior preocupação na sua proteção e evitando violações, a Assembleia Geral da ONU incentivou a partir da adoção dos Pactos, a criação de sistemas regionais de proteção para se obter uma efetiva proteção aos direitos, sendo este o nosso próximo estudo.

1.2 Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos

O Sistema Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos, juntamente com o sistema europeu e africano, configuram os três Sistemas Regionais de proteção aos direitos humanos, além de um quarto sistema que tem surgido, porém, ainda de forma insipiente, qual seja, o árabe. O Sistema interamericano é o segundo sistema regional mais consolidado no que tange à proteção aos direitos humanos (CURSO..., 2006) e é este o principal objeto de estudo do presente trabalho.

Com a preocupação de garantir maior proteção aos direitos proclamados pela Convenção Americana, criou-se dois órgãos com competência para conhecer todos os assuntos ligados ao cumprimento dos compromissos assumidos pelos Estados - Parte da Organização dos Estados Americanos (OEA). Esses órgãos são a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos, que serão abordados a seguir.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos como já dito, é um órgão pertencente à Organização dos Estados Americanos (OEA) e tem sua sede em

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Washington. A Comissão foi criada através da Resolução VIII do 5º Encontro de Consulta de Ministros de Relações Exteriores no ano de 1959 em Santiago, do Chile, e a partir da entrada em vigor no ano de 1970 do Protocolo de Reformas da Carta da OEA, passou a ser um dos principais órgãos da OEA (CULLETON; BRAGATO; FAJARDO, 2009, p. 131).

A Comissão é regida pela Convenção Americana, a qual foi assinada em 1969 e desde 1979 continua vigente. Além de servir como instância consultiva, seu principal objetivo é promover a observância e principalmente a proteção dos Direitos Humanos, sendo composta por sete membros, os quais serão eleitos pela Assembleia Geral da Organização, sendo observados: a autoridade moral e o elevado conhecimento sobre Direitos Humanos, tendo os eleitos, mandato de quatro anos, podendo ser reeleitos somente uma vez (PIOVESAN, 1997, p. 227).

No exercício de sua função de proteção aos Direitos Humanos, a Comissão recebe, analisa e investiga as petições individuais que violem esses Direitos. Caso existam tais violações, e não sendo possível a resolução mediante a adoção de recomendações, poderá ser o caso remetido à jurisdição da Corte Interamericana, atuando assim a frente da Corte em determinados litígios (PIOVESAN, 1997, p. 229-230).

A competência da Comissão Interamericana de Direitos Humanos alcança todos os Estados - partes da Convenção Americana, em relação aos direitos humanos nela consagrados. A competência da

Comissão alcança ainda todos os Estados – membros da

Organização dos Estados Americanos, em relação aos direitos consagrados na Declaração Americana de 1948. (PIOVESAN, 1997, p. 226-228).

A Comissão foi criada em 1959 e no ano de 1961, já começou a realizar visitas “in loco”, com o objetivo de investigar acerca da existência de casos de violações dos direitos humanos, sendo essa uma de suas funções e atribuições (CONVENÇÃO..., 1969).

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Se considerar necessário e conveniente, a Comissão poderá realizar uma investigação in loco, para cuja eficaz realização solicitará as facilidades pertinentes, as quais serão proporcionadas pelo Estado em questão. Em casos graves e urgentes, a Comissão poderá realizar uma investigação in loco mediante consentimento prévio do Estado em cujo território se alegue haver sido cometida a violação, tão somente com a apresentação de uma petição ou comunicação que reúna todos os requisitos formais de admissibilidade. (REGULAMENTO..., 2013).

Conforme pode-se observar, as investigações ou visitas in loco da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, dependem do consentimento do Estado, a qual tem como principal objetivo avaliar o cumprimento e as violações se houver dos direitos humanos. A mobilização e a opinião pública são de fundamental importância sob o aspecto da atenção às violações cometidas pelos Estados (CARVALHO, 2002).

Essas visitas in loco também viabilizam as questões domésticas, sobretudo quando um Estado se mostra com dificuldades de solucionar o conflito, a Comissão para satisfazer as partes envolvidas se utiliza de sua função conciliadora para assim pôr fim ao conflito não solucionado pelo Estado (CARVALHO, 2002).

Observando a importância de mencionar as mais variadas formas de conscientização que a Comissão prepara, por exemplo, a organização de palestras, visando sempre estimular a consciência e a valorização dos Direitos Humanos na América, também organiza, cursos, congressos, além de outras atividades para estimular no cidadão e nos Estados, a necessidade da proteção dos Direitos Humanos na sociedade internacional.

Flávia Piovesan (1997, p. 227) diz que:

A competência da Comissão Interamericana de Direitos Humanos alcança todos os Estados - partes da Convenção Americana, em relação aos direitos humanos nela consagrados. A competência da

Comissão alcança ainda todos os Estados – membros da

Organização dos Estados Americanos, em relação aos direitos consagrados na Declaração Americana de 1948.

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Após a verificação da ocorrência de violações, na hipótese de não se alcançar uma solução amistosa, a Comissão fará um relatório, com os fatos e suas conclusões do caso e, eventualmente, com recomendações ao Estado-parte, o qual terá o prazo de 3 (três) meses para conferir o cumprimento de tais recomendações. Durante esse período o caso ainda poderá ser solucionado pelas partes ou então, ser remetido à Corte Interamericana de Direitos Humanos (PIOVESAN, 1997, p. 233).

Caso contrário, se não for solucionado e nem ao menos remetido para a Corte que é o órgão jurisdicional deste sistema regional, caberá a Comissão, em sua maioria absoluta, emitir sua opinião e conclusão, a qual fixará um prazo para que o Estado tome suas medidas para amenizar a situação. Expirando o prazo, caberá a Comissão decidir, sempre com a maioria absoluta, se as medidas foram adotadas pelo Estado e se publicará no relatório anual. Cita-se aqui o art. 61-1 da Convenção Americana que traz: “Somente os Estados-partes e a Comissão têm direito de submeter um caso à decisão da Corte” (CONVENÇÃO..., 1969).

Flávia Piovesan (1997, p. 233) em seu livro “Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional” enfatiza que:

Contudo, a questão só poderá ser submetida à Corte se o Estado-parte reconhecer, mediante declaração expressa e específica, a competência da Corte no tocante à interpretação e aplicação da

Convenção – embora qualquer Estado-parte possa aceitar a

jurisdição da Corte para um determinado caso.

Os Estados-partes poderão reconhecer a competência da Comissão para examinar ou receber comunicações alegadas por um Estado-parte em relação às violações cometidas por outro Estado-parte, ou seja, como forma de cláusula facultativa, que está prevista no sistema das comunicações interestatais, tendo em vista, para efeitos de adoção das comunicações, tem-se a necessidade que os Estados envolvidos tenham realizado uma declaração expressa de reconhecimento de tal competência da Comissão (PIOVESAN, 1997, p. 233).

Flávia Piovesan em sua obra cita a lição de Thomas Buergenthal, no que diz respeito as comunicações interestatais, ou seja, em que os Estados-partes podem

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reconhecer a competência da Comissão para receber e examinar uma alegação que um Estado-parte faz do outro Estado-parte que tenha violado um direito elencado na Convenção, para tal alegação ser válida é imprescindível que ambos os Estados tenham redigido uma declaração em que reconhecem a competência da Comissão (PIOVESAN, 1997, p. 233).

A Corte Interamericana de Direitos Humanos é o órgão jurisdicional do Sistema regional por excelência, seus sete membros detêm o título de Juízes, a Comissão formula relatórios com recomendações, já a Corte emite sentenças, as quais não podem ser apeladas por serem de caráter definitivo, essas sentenças emitidas pela Corte são obrigatórias e os Estados deverão cumpri-las (PIOVESAN, 1997, p. 234-237).

Importante frisar que apenas os Estados-partes e a Comissão podem remeter ou não um caso à Corte Interamericana, não podendo assim os indivíduos recorrer à Corte, por não serem aptos, uma vez que não consta tal previsão na Convenção Americana (PIOVESAN, 1997, p. 237).

Como podemos observar o reconhecimento da competência da Comissão ao conhecer de casos individuais decorre da ratificação da Convenção Americana. Já a Corte com sua função contenciosa depende de expressa manifestação em documento para a OEA.

Através dos arts. 1º e 2º de seu Estatuto, Hector Fix-Zamudio (apud (PIOVESAN, 1997, p. 235) nos apresenta que:

a Corte Interamericana possui duas atribuições essenciais: a primeira, de natureza consultiva, relativa à interpretação das disposições da Convenção Americana; a segunda, de caráter jurisdicional, referente à solução de controvérsias que se apresenta acerca da interpretação ou aplicação da própria Convenção.

Qualquer membro parte ou não da Convenção, poderá solicitar parecer junto a Corte, em seu plano consultivo, assim sendo, é importante ressaltar aqui, a afirmação de Monica Pinto (apud PIOVESAN, 1997, p. 236) ao que se refere aos

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pareceres já emitidos até 1993 pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, salientando que são dados antigos:

Até o presente momento, a Corte emitiu doze opiniões consultivas, que têm permitido aprofundar a compreensão de aspectos substanciais da Convenção, dentre eles: o alcance de sua competência consultiva, o sistema de reservas, as restrições à adoção da pena de morte, os limites ao direito de associação, o sentido do termo “leis” quando se trata de impor restrições ou resposta, o habeas corpus e as garantias judiciais nos estados de exceção, a interpretação da Declaração Americana, as exceções ao esgotamento prévio dos recursos internos e a compatibilidade de leis internas em face da Convenção.

Destaca-se dentro destes pareceres a impossibilidade da adoção de pena de morte no Estado da Guatemala, a Corte afirmou em seu parecer: “a Convenção impõe uma proibição absoluta quanto à extensão da pena de morte a crimes adicionais, ainda que uma reserva a esta relevante previsão da Convenção tenha entrado em vigor ao tempo da ratificação” (PIOVESAN, 1997, p. 236-237).

A Corte, além de sua competência consultiva, é também contenciosa, a qual tem jurisdição para examinar a violação de direitos protegidos pela Convenção, em que envolvam denúncias de um Estado-parte, determinará assim, a adoção de medidas necessárias para reparar o direito que foi violado, podendo ainda, a Corte condenar que o Estado pague uma compensação à vítima, servindo como título executivo. Como vimos acima, a decisão da Corte terá força vinculante e obrigatória, devendo o Estado cumpri-la imediatamente e ainda, observar a necessidade do Estado reconhecer a jurisdição da Corte, que como visto acima até 1993 respondeu a oito casos no plano da jurisdição contenciosa (PIOVESAN, 1997, p. 237).

Vejamos a citação do Dalmo Abreu Dallari (2004, p. 97), o qual retrata sucintamente a sociedade onde vivemos em que o cidadão que tem seus direitos humanos violados muitas vezes não responde da mesma maneira, ou até se cala diante de tais situações, por medo, o que pode gerar conforme veremos ainda mais ofensas.

A pessoa que tem um direito violado está sofrendo uma perda de alguma espécie. E, quando essa pessoa que teve um direito ofendido

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não reage, isso pode encorajar a ofensa a outros direitos seus, pois sua passividade leva à conclusão de que ela não pode ou não quer defender-se. (DALLARI, 2004, p. 97).

Pode-se dizer que tanto a Comissão como a Corte Interamericana de Direitos Humanos, órgãos do sistema interamericano estão se tornando eficazes, adotando medidas disponíveis e principalmente inovando a maneira de conscientizar e estimular a proteção a esses direitos, tendo em vista, a possibilidade de maior avanço tanto aos indivíduos como também as organizações não-governamentais, para que em um futuro próximo, haja maior valorização e aplicação dos direitos humanos, independente da situação em que estes “humanos” se encontrem são dignos de respeito, e de dignidade. Sendo assim, passa-se a analisar em seguida, o princípio basilar da proteção aos direitos humanos, o princípio da dignidade da pessoa humana.

1.3 Princípio da dignidade da pessoa humana, consagrado como direito constitucional

Antes de adentrarmos ao princípio da dignidade da pessoa humana, faz-se uma análise do direito internacional dos direitos humanos com a questão nacional, ou seja, uma análise entre o processo de internacionalização dos direitos humanos e o impacto causado na reconstrução da cidadania brasileira. O processo de democratização iniciado em 1985 possibilitou a reinserção do Brasil na arena internacional de proteção aos direitos humanos, o que pode ser observado uma grande conexão, pois permitiu uma ratificação dos tratados internacionais, que veio a fortalecer o processo democrático, possibilitando a contribuição da sistemática internacional de proteção dos direitos humanos para o aperfeiçoamento desses direitos no Brasil (PIOVESAN, 1997, p. 303-314).

Assim, pode-se afirmar que a concretização dos direitos da cidadania se torna possível com a efetiva aplicação dos direitos humanos, nacional e internacionalmente. Por força do princípio da norma mais favorável à vítima, e que mais assegura a proteção aos direitos humanos, vindo a aprimorar e fortalecer o

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grau de proteção a esses direitos consagrados na Constituição brasileira como paradigma da ordem internacional (PIOVESAN, 1997, p. 303-314).

Primeiramente necessário salientar que os princípios constitucionais são o ponto mais importante no sistema normativo brasileiro. São alicerces pelos quais se constrói o sistema jurídico, pois se estes não são obedecidos podem comprometer todo o ordenamento. Desse modo, pode-se observar que os princípios constitucionais têm uma função muito importante, tendo em vista a sua qualidade normativa, que condicionam, orientam e iluminam a interpretação das normas (NUNES, 2002, p. 37-38).

Assim como em todos os campos do Direito, há entendimentos variados entre diversos autores no que se refere ao princípio constitucional. Existem autores que defendem a ideia de que a isonomia é a principal garantia constitucional, outros apontam a dignidade da pessoa humana como o principal direito constitucional garantido, sendo que é a dignidade que dá a direção e o comando ao intérprete (NUNES, 2002, p. 45).

Como interprete de todos os princípios, direitos e garantias elencadas na Constituição, que já em seu artigo 1º, inciso III, elenca a dignidade da pessoa humana como fundamento:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III – a dignidade da pessoa humana. (BRASIL, 1988).

Por ser um fundamento constitucional de suma importância para o Ordenamento Jurídico Brasileiro, encontra-se o princípio da dignidade da pessoa humana expresso na Constituição em seu artigo 226, parágrafo 7º, que aborda:

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. (...)

§7º - Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da propriedade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado proporcionar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma

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coercitiva por parte de instituições oficiais ou provadas. (BRASIL, 1988).

O princípio da dignidade da pessoa humana é fruto de uma série de atrocidades que marcaram a experiência humana, gerando conscientização na era pós nazista, no sentido de que a dignidade da pessoa deve ser preservada a qualquer custo. Cabe observar ainda, que a Constituição Federal da Alemanha Ocidental do pós-guerra, em seu artigo de abertura, também traz que “a dignidade da pessoa humana é intangível. Respeitá-la e protegê-la é obrigação de todo o poder público” (NUNES, 2002, p. 48).

A dignidade nasce com o ser humano, o qual no decorrer do seu desenvolvimento deve ter seu pensamento respeitado, assim como, tudo o que se relaciona com a dignidade da pessoa, porém, cabe frisar que a dignidade é garantida até o momento em que essa não vier a ferir outra (NUNES, 2002, p. 49-50).

O princípio da dignidade da pessoa humana é considerado o princípio que ilumina todas as normas e princípios constitucionais e infraconstitucionais, sendo assim é considerado como um supra princípio que não deve ser desconsiderado em nenhuma etapa de criação, interpretação ou aplicação das normas jurídicas (NUNES, 2002, p. 51). Cabe salientar, uma importante reflexão de Paulo Bonavides, citada por Ingo Wolfgang Sarlet (2011, p. 90), a qual diz, que:

sua densidade jurídica no sistema constitucional há de ser portanto máxima e se houver reconhecidamente um princípio supremo no trono da hierarquia das normas, esse princípio não deve ser outro senão aquele em que todos os ângulos éticos da personalidade se acham consubstanciados.

Apesar de ser questionada a conexão dos direitos fundamentais e a dignidade da pessoa humana, consagrados na Constituição Federal de 1988, não se pode desconsiderar tal vínculo, principalmente no que se refere à efetivação de uma vida com dignidade. Encontramos também o direito de igualdade, que está diretamente ligado ao princípio da dignidade da pessoa humana, sendo consagrado pela Declaração Universal da ONU (Organização das Nações Unidas) que todos os seres humanos são iguais em direitos e dignidade, constituindo assim um pressuposto de

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respeito e a garantia da isonomia para todos os seres humanos, não sendo admitido e nem tolerados qualquer tipo de tratamento discriminatório e arbitrário, assim como, qualquer tipo de ofensa (SARLET, 2011, p. 102-105).

A polêmica sempre se mostrou intensa sobre a natureza e o fundamento dos direitos humanos, se estes são naturais ou inatos, ou ainda positivos ou históricos. Quanto a essa afirmação, Norberto Bobbio (apud PIOVESAN, 1997, p. 132) afirma que o maior problema relacionado aos direitos humanos hoje “não é mais o de fundamentá-los, e sim o de protegê-los”.

Ao conceituar dignidade humana enfrentamos vários problemas relacionados ao conceito de pessoa, podendo até ser definida como status ou mesmo uma condição, atribuindo para um determinado ser um grupo de características que visam a proteção contra ações dos próprios seres humanos uns contra os outros (CULLETON; BRAGATO; FAJARDO, 2009, p. 64).

Sendo assim, diante da grande necessidade de uma ação internacional mais eficaz, que viesse a proteger os direitos humanos alavancou o processo de internacionalização, passando a ser uma importante resposta para a reconstrução desse novo paradigma (PIOVESAN, 1997, p. 141):

Em especial durante a Segunda Guerra Mundial (1939 / 1945), esses direitos foram esmagados pelas ditaduras que se instalaram na Alemanha, Itália e Japão, fazendo com que se esquecessem, por interesses políticos imediatos, as atividades que ocorriam na União Soviética, com a implantação do regime estalinista. (BICUDO, 1997, p. 34-35).

Cabe ressaltar aqui, que vindo para proteger ainda mais os direitos humanos, a dignidade humana foi incorporada em documentos como a Carta das Nações Unidas de 1945, na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e em tratados e pactos (BARROSO, 2014, p. 21).

Não basta afirmar, formalmente, a existência dos direitos, sem que as pessoas possam gozar desses direitos na prática. A par disso, é indispensável também a existência de instrumentos de garantia, para que os direitos não possam ser ofendidos ou anulados por ações

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arbitrárias de quem detiver o poder econômico, político ou militar. (DALLARI, 2004, p. 97).

Dignidade da pessoa humana é princípio e regra constitucional, presente no ordenamento jurídico. É um reconhecimento pelo direito que abrange toda pessoa humana, atuando como princípio no ordenamento jurídico brasileiro, visando a proteção da pessoa concreta (GOMES; BULZICO, 2011, p. 15).

Podemos observar que tal princípio pode ser concebido sob duas dimensões, de princípio e de valor. Paulo da Mota Pinto afirma sobre a supremacia do princípio como valor que da

garantia da dignidade humana decorre, desde logo, verdadeiro imperativo axiológico de toda ordem jurídica, o reconhecimento de personalidade jurídica a todos os seres humanos, acompanhado da

previsão de instrumentos jurídicos (nomeadamente direitos

subjetivos) destinados à defesa das refracções essenciais da personalidade humana, bem como a necessidade de proteção desses direitos por parte do Estado. (GOMES; BULZICO, 2011, p. 17).

A inclusão do princípio da dignidade da pessoa humana na Constituição é uma norma constitucional vinculante. É um princípio elevado a fundamento da República, estabelecendo valor supremo do sistema jurídico (GOMES; BULZICO, 2011, p. 18).

Com relação ao respeito da dignidade, cita-se a assertiva de Ingo Sarlet (apud GOMES; BULZICO, 2011, p. 18) o qual afirma que:

a dignidade da pessoa humana é simultaneamente limite e tarefa dos poderes estatais e, no nosso sentir, da comunidade em geral, de todos e de cada um, condição dúplice esta que também aponta para uma simultânea dimensão defensiva e prestacional da dignidade.

Na medida em que proporcionam a convivência harmônica entre os indivíduos e essenciais para a formação de um Estado Democrático, os direitos humanos são fundamentais, tendo em vista que se tais direitos são negados, são os principais causadores de revoltas, guerras, sendo assim, instrumentos imprescindíveis para a proteção da dignidade da pessoa humana (MOTTA, 2013).

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Tendo em vista que foi um longo processo histórico, a dignidade da pessoa humana incide da humanidade, em que todos os seres humanos são iguais e dignos de respeito e tratamento igualitário.

Buscando uma concretização e aplicação desses direitos, a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 1º, inciso III, assegurou a dignidade, a todos os seres humanos tendo o dever de ser respeitados como pessoa, o qual traz em seu texto:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III - a dignidade da pessoa humana;

Como já observado, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu artigo 1º destaca os dois pilares da dignidade humana, o qual relata que: “Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade” (DECLARAÇÃO..., 1948).

O princípio da dignidade da pessoa humana tem uma posição de destaque, sendo este o princípio máximo do Estado de Direito presente na Constituição Federal de 1988, mas destaca-se também que tal princípio impõe limites na atuação estatal, impedindo que o poder público viole a dignidade humana, e ainda objetiva um dever do Estado de proteger esses direitos, e garantir uma vida com dignidade para todos, o que nos remete à lição de Pérez Luño (apud SARLET, 2011, p. 132-133), “a dignidade da pessoa humana constitui não apenas a garantia negativa de que a pessoa não será objeto de ofensas ou humilhações, mas também, num sentido positivo, o pleno desenvolvimento da personalidade de cada indivíduo”.

Neste mesmo contexto, podemos afirmar que a dignidade da pessoa humana atua como limite dos direitos e ainda, limite dos limites, atuando como “barreira contra a atividade restritiva dos direitos fundamentais, o que efetivamente não afasta a controvérsia sobre o próprio conteúdo da dignidade e a existência, ou não, de uma violação do seu âmbito de proteção” (SARLET, 2011, p. 149).

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Por fim, como já elencado em vários momentos, no plano jurídico-normativo, a dignidade da pessoa humana está garantida em princípios e regras, como por exemplo, a proibição de todo e qualquer tratamento desumano (SARLET, 2011, p. 159).

Especificamente no que tange a tratamento desumano, o presente trabalho fará em seguida uma análise acerca de uma das visitas in loco realizadas pela Comissão Interamericana, junto ao sistema prisional brasileiro. Para tanto, far-se-á inicialmente algumas observações acerca de tal sistema, buscando analisar a situação atual do cárcere, bem como, ressocialização do apenado e superlotação dos presídios.

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2 SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

Após analisar a Comissão Interamericana e a Corte Interamericana de Direitos Humanos, sua função, bem como o princípio da dignidade da pessoa humana, desde seu preceito histórico até a sua proteção na Constituição Federal de 1988, passa-se a abordar alguns pontos sobre a história do sistema penitenciário brasileiro.

Pode-se entender por sistema prisional, um conjunto de mecanismos para obter o controle social, e representam o corpo da doutrina. O Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN) alega que o Brasil possui um dos dez maiores sistemas prisionais do mundo (DAMÁZIO, 2010, p. 33), sendo que contempla três regimes de cumprimento da pena:

No Brasil, há 3 regimes de cumprimento de pena: Se o crime é punido com reclusão, os regimes iniciais são: fechado, semiaberto e aberto. Se o crime é punido com detenção, os regimes iniciais são: semiaberto e aberto. Regime fechado: a execução da pena em estabelecimento de segurança máxima ou média; Regime semiaberto: a execução da pena em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar; Regime aberto: a execução da pena em casa de albergado ou estabelecimento adequado. (TIPOS..., 2011).

Estes estabelecimentos são divididos em áreas masculinas e femininas, podendo o condenado, com base em seu comportamento, progredir ou regredir de regime, sendo a pena privativa de liberdade classificada ainda em três espécies: a reclusão, para crimes mais graves; a detenção, para crimes mais leves e a prisão simples para infrações contravencionais (SISTEMA..., 2010).

O significado ideológico do sistema prisional, na maioria das vezes é utilizado como sendo um instrumento de exclusão, definindo condutas para conter as classes sociais mais inferiores (DAMÁZIO, 2010, p. 33).

Com relação aos estabelecimentos de execução da pena privativa de liberdade, temos os estabelecimentos penais, sendo este o lugar onde fica o recluso que ainda não foi condenado, previsto nos artigos 82 a 86 da LEP. Cabe elencar aqui o previsto no art. 82 da LEP que diz: “Os estabelecimentos penais destinam-se

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ao condenado, ao submetido à medida de segurança, ao preso provisório e ao egresso” (BRASIL, 1984).

Temos ainda a penitenciária, prevista nos artigos 87 a 90 da LEP, em seu art. 87 encontramos que: “A penitenciária destina-se ao condenado à pena de reclusão, em regime fechado”. O Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN) ainda classifica as penitenciárias em: penitenciária de segurança máxima especial, que são os estabelecimentos penais que abrigam os presos com condenação em regime fechado que necessitam de celas individuais; e a penitenciária de segurança média ou máxima, essas sendo estabelecimentos penais que abriga os presos também condenados em regime fechado, porém em celas individuais e coletivas (SISTEMA..., [S.d.]).

Outra forma de estabelecimento são as colônias, sendo agrícola, industrial ou similar, elencadas nos artigos 91 a 92 da LEP, local onde “destina-se ao cumprimento da pena em regime semiaberto.” Estes locais não possuem muros nem grades para evitar a fuga dos presos (BRASIL, 1984).

A casa do albergado está prevista nos artigos 93 a 95 da LEP, esta, “destina-se ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em regime aberto, e da pena de limitação de fim de semana”. Esse estabelecimento também, não contêm obstáculos para evitar a fuga do condenado, ficando recolhido aos domingos, feriados e períodos noturnos (BRASIL, 1984).

Cabe mencionar também o centro de observação, que está presente nos artigo 96 a 98 da LEP, que é destinado a realização de “exames gerais e o criminológico, cujos resultados serão encaminhados à Comissão Técnica de Classificação”. Nessa mesma linha tem-se o Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (HCTP), no qual se encontram as pessoas que estão submetidas à medida de segurança, e que está previsto nos artigos 99 a 101 da Lei de Execuções Penais, destinado para os casos previstos no artigo 26 e seu parágrafo único do Código Penal, que prevê:

(36)

Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

E por fim, encontramos a cadeia pública, presente nos artigos 102 a 104 a LEP, destinado “ao recolhimento de presos provisórios”. São para aqueles que ainda estão sem condenação (BRASIL, 1984).

Há que se mencionar que em um longo período a prisão servia tão somente de custódia dos apenados, sendo que a privação da liberdade era totalmente desconhecida. Sendo considerada como uma sanção penal, a base era moral, religiosa e vingativa, fazendo valer a tese do “olho por olho, dente por dente”, e o direito exercido através da Lei do Talião e do Código de Hamurabi (GODOY, 2009, p. 13).

Na Idade Média, é importante destacar que os réus eram selecionados conforme o seu status, onde utilizavam a guilhotina que era por sua vez a etapa favorita dos povos daquela época, a forca e ainda através da amputação dos braços, penas estas que promoviam o espetáculo e principalmente a dor dos condenados que muitas vezes eram arrastados, e que jamais tornaram os homens melhores (GODOY, 2009, p. 13-14).

A pena de morte como podemos observar no parágrafo anterior, é uma guerra entre o cidadão e a nação que tem a pena de morte como sendo um julgamento justo e útil ao indivíduo que cometeu o delito, e ainda, com a chegada da Idade Moderna, o aumento da criminalidade fez com que a pena de morte deixasse de ser vista como uma alternativa para pôr fim à criminalidade (GODOY, 2009, p. 14).

Durante um longo período as prisões eram tidas como lugar de custódia e de tortura, e somente a partir do Código Penal Brasileiro de 1890, que se aboliu a pena de morte, surgindo o regime penitenciário de correção, que visava a ressocialização e reeducação do preso para a volta a sociedade após o cumprimento da punição, mas que desde logo sofreu modificações e críticas de movimentos reformistas (DULLIUS; HARTMANN, [S.d.]).

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Mesmo sendo abolida a pena de morte, ainda encontramos presente no artigo 5º, XLVIII da Constituição Federal, que permite para os casos de guerras. Nesse sentido, é importante destacar uma de suas observações críticas de Cesare Beccaria (2002, p. 99-100) sobre a pena de morte:

(...)

A pena de morte tampouco é útil pelo exemplo de atrocidade que oferecer aos homens. Se as paixões ou a necessidade da guerra ensinarem a derramar o sangue humano, as leis moderadas da conduta dos homens não deveriam fortalecer esse exemplo ferocidade, tanto mais funesto quanto mais a morte legal é ministrada com metódico formalismo. Parece-me absurdo que as leis, que são a expressão da vontade pública, que abominam e punem o homicídio, o cometam elas mesmas e que, para dissuadir o cidadão do assassínio, ordenem um assassínio público. Quais são as leis verdadeiras e mais úteis?

(...).

Cabe observar a prisão cautelar, que ocorre antes do trânsito em julgado da sentença condenatória e que objetiva impedir que o indivíduo pratique novos delitos ou interfira na investigação, veio antes da prisão-pena, que só passou a existir após a humanidade ter conhecimento da privação da liberdade, sendo que, anteriormente a prisão antes de ser sanção retinha o condenado até a punição (SILVA, 2012).

Com o desenvolvimento de penas privativas de liberdade, inseridas nas punições do Direito Penal, apenas no século XVIII, a pena de prisão passa a exercer um papel importante nas punições, sendo tratada como humanização das penas, com a proibição das penas cruéis e desumanas, o que deu início as construções das prisões. Assim sendo, no século XVIII é que se encontram as raízes do direito penitenciário, através de estudos de doutrinadores, pois durante um longo período o condenado foi objeto de execução penal (MAGNABOSCO, 1998).

As penas privativas de liberdade estão expressas nos artigos 33 ao 42 do Código Penal e também na Lei de Execução Penal (LEP), sendo considerada a base das leis dos presos, que contém seus direitos e deveres, assim como, progressão de regimes, bem como a forma na qual as penas devem ser aplicadas. A título de exemplo, o artigo 112 da LEP, que estabelece:

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A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior e ostentar bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a progressão.

Com o abandono das penas corporais e dando lugar ao controle à disciplina e à correção, é que surgem três sistemas prisionais, o sistema de Filadélfia ou Belga, o sistema de Auburn e o sistema Inglês ou Progressivo. Cabe ressaltar que os sistemas prisionais não podem ser confundidos com os regimes penitenciários, uma vez que os sistemas prisionais representam o corpo da doutrina, os regimes penitenciários é a forma de administração dos presídios e aplicação das penas (SILVA, 2009, p. 40-43).

Tendo início em 1790, na Pensilvânia o sistema de Filadélfia ou Belga, consistia em o condenado ficar em total isolamento, permitindo apenas passeios pelo pátio e leitura da Bíblia para estimular o arrependimento, não permitindo visitas e o trabalho também era proibido, por acreditar que essa seria a melhor forma de dominar os detentos. A preocupação que se tinha no início, era apenas em separar os presos por sexo, idade e a gravidade do delito cometido e apenas mais tarde que passou a se preocupar com a estrutura prisional para evitar as fugas (SILVA, 2009, p. 40-43).

Posteriormente, com a evolução do sistema, que foi permitido aos detentos que praticaram crimes de menor potencial ofensivo, o trabalho durante o período diurno, e em total silêncio. Passou ainda, a ser permitido o contato do detento com os diretores dos presídios, médicos, religiosos e educadores, visando a organização, bem como, superar os inúmeros problemas que encontramos nos estabelecimentos prisionais, tanto no que se refere a higiene, como também as fugas e rebeliões. Mas apesar de representar um significativo avanço, tal sistema recebeu críticas por sua severidade e por não levar a readaptação do preso na sociedade (SILVA, 2009, p. 40-43).

Já o sistema Auburn, foi criado em 1818 nos Estados Unidos, e na cidade de Auburn, também adota a regra do silêncio, mas comparado com o sistema de

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