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PANORAMA DE USO DE MADEIRA NATIVA EM CONSTRUÇÕES HABITACIONAIS

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. PANORAMA DE USO DE MADEIRA NATIVA EM CONSTRUÇÕES HABITACIONAIS

2.1.1. Viabilidade do uso de madeiras nativas e seu desenvolvimento tecnológico O Brasil é o sexto país do mundo em florestas nativas, ficando atrás de países como Canadá, Finlandia e Rússia. De acordo com Veríssimo (2008), a área de florestas do Brasil representa “5,5 milhões de Km2 (...) deste total 60% são florestas tropicais e estão situadas na Amazonia legal”. A regiões Norte e Centro Oeste apresentam madeira nativa e as regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste apresentam florestas em madeira de reflorestamento.

O descaso com o setor florestal na região amazônica foi, ao longo dos anos, associado à falta de um desenvolvimento tecnológico e de incentivos fiscais. Isso fez com que os setores envolvidos com a produção da madeira nativa ficassem totalmente marginalizados. A produção da madeira nativa era realizada com mão de obra muito barata, sem planos de gestão para extração da madeira, em geral com áreas exploradas até seu esgotamento total. Isso ocorre sem uma preocupação com o impacto ambiental gerado, a vida existente em torno da floresta, o impacto sobre o microclima local, entre outros fatores. Em geral, essas áreas são abertas para a ampliação de áreas agrícolas, para a criação de gado, soja etc. E sua abertura das ainda é feita por meio de queimadas ou de exploração até seu esgotamento.

Alguns grupos defensores do meio ambiente apresentam dados do crescimento deste setor nas áreas das florestas. Entre 1990 e 2003 a taxa de crescimento da pecuária na Amazônia Legal cresceu 140%, passando de 26,6 cabeças de gado para 64 milhões de cabeças. A taxa média de crescimento foi 10 vezes maior do que no restante do país, respondendo por 33% do rebanho nacional. Os estados do Mato Grosso, Pará e Rondônia foram os principais produtores no período. Em 2000, a maior parte da carne produzida pelos frigoríficos da Amazônia foi para o mercado nacional, principalmente Nordeste e Sudeste, e pode-se considerar crescente o aumento da demanda de exportação (NATUREBA, 2011).

A partir da convenção internacional realizada no Rio de Janeiro em 1992, protocolada como Agenda 21, ocorreu uma grande valorização da importância das florestas e seus produtos como forma de resgate e fixação de gás carbônico.

A instituição de pesquisa IMAZON (Instituto do Homem e Meio Ambiente) é uma instituição sem fins lucrativos que publica diversos trabalhos sobre a exploração da Amazônia. O trabalho de Gerwing; Vidal (2002) apresenta o conceito de manejo florestal da floresta nativa

O Decreto Federal 28/09/1998 estabeleceu que a

exploração das florestas primitivas da bacia amazônica (...) somente será permitida sob a forma de manejo florestal sustentável de uso múltiplo, que deverá obedecer aos princípios de conservação dos recursos naturais, de prevenção da estrutura da floresta e de suas funções, da manutenção da diversidade biológica, de desenvolvimento sócio-econômico da região (GERWING; VIDAL, 2002).

O conceito de manejo sustentável define um exploração controlada que depende do plano de impacto ambiental aprovado pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). O plano tem que apresentar uma análise de especies existentes na área, do número estimado de árvores de cada espécie, o número estimado de arvores acima do diâmetro mínimo permitido para extração, idade, entre outros fatores. Um número de árvores, mais especificamente as mais antigas, é retirado de modo a permitir a entrada da luz e a renovação da floresta e não o esgotamento total da espécie e floresta. As experiências realizadas pelo IMAFLORA no Pará comprovaram que desta forma o micro clima criado permite a renovação da floresta nativa muito mais rápido. Após o corte, uma nova arvóre da espécie nativa é plantada no local.

A partir de 2004 começa a diminuir a devastação das áreas plantadas, mas somente a partir de 2006 (Lei nº 11.284, de 02/03/2006) é que a adoção do manejo florestal em escala começou a ocorrer na região Amazônia, permitindo o manejo inclusive de florestas publicas, desde que aprovadas estudos dos impactos ambientais e de gestão do manejo. O número de empresas que atuam com o manejo é pequenos em função do custo inicial (VERÍSSIMO, 2006).

Schneider et al (2000) aponta que novos investimentos internacionais podem ampliar a quantidade de áreas com manejo sustentável na floresta Amazônica, especialmente em função dos instrumentos da convenção sobre as mudanças climáticas do Protocolo de

Kyoto, que a partir de 2012 podem ser reeditados, possibilitando que países desenvolvidos possam investir em projetos que promovam o seqüestro de carbono em projetos de manejo florestal de matas nativas, hoje o instrumento somente beneficia projetos em áreas de reflorestamento.

Veríssimo (2006) afirma que o desenvolvimento tecnológico no setor de florestas nativas “encontra-se em um estágio inicial de desenvolvimento tecnológico em uma situação quase oposta ao setor de florestas plantadas caracterizado pelo uso de modernas tecnologias e fortemente capitalizadas”.

Os novos paradigmas da sociedade, associados às mudanças da legislação brasileira permitindo a gestão da floresta com manejo sustentável na floresta nativa, permitirão a sobrevida da floresta nativa e o desenvolvimento de tecnologias associadas à madeira.

Como o mercado paulista é um dos maiores consumidores da madeiras maciças, a cidade de São Paulo através da secretaria do verde e do meio Ambiente em associação com o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) produziu o manual “Madeira: Uso Sustentável da Madeira na Construção Civil” (ZENID, 2009). O trabalho analisa o impacto gerado pelo setor da construção civil sobre as espécies nativas da Amazônia.

Neste trabalha Zenid (2009) destaca a importância da incorporação de espécies alternativas para especificação da espécie empregada nas atividades da construção civil com o objetivo de minimizar os impactos ambientais causados pelo uso intensivo de determinadas espécies. Zenid (2009) aponta duas espécies que estão em esgotamento muito procuradas pelos construtores: a Peroba-Rosa utilizada em estrutura de cobertura e o Pinho-do-Paraná para usos temporários e leves. Para minimizar este tipo de impacto, o pesquisador recomenda, para cada uso na construção, várias espécies que não estão em extinção. Nas estruturas, por exemplo, podem-se utilizar todas as espécies apresentadas na Tabela 1, pois as mesmas não se encontram em extinção. Entre elas, podemos destacar o cumaru e a maçaranduba.

Tabela 1: Espécies alternativas para construção pesada interna (referência: Peroba-rosa) Fonte: Zenid, 2009

Zenid (2009) analisa que outra forma de minimizar o impacto sobre as espécies da Amazônia são as classes de resistência propostas na norma Projeto de estruturas de madeiras NBR 7190 (1997), que substituiu o “nome das espécies por classes de resistência como C 20, C 30, C 40 e C 60”.

2.1.2. As certificações

O Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola) é uma organização brasileira, que tem como premissa promover a conservação e o uso sustentável dos recursos naturais e para gerar benefícios sociais nos setores florestais e agrícolas. No Brasil, o Programa de Certificação Florestal do Imaflora é o representante do Programa Smart Wood da Rainforest Alliance (uma ONG norte-americana credenciada pelo FSC e pioneira em certificação florestal no mundo).

O FSC (Forest Stewardship Council) representa o selo de certificacao do processo de retirada da madeira nativas e plantadas mais reconhecido internacionalemnte, e é chamado de Conselho de manejo florestal. O selo FSC é fornecido a empresas cujo processo apresenta um plano de manejo florestal e demostra claramente que a extração das madeiras não gera impactos negativos nas economias locais, nos sistemas ecológico do aproveitamento florestal, conservando a capacidade de regeneração das florestas nativas, preservando os recursos hídricos e habitat de vida silvestre. Assegura ainda que os processos madeireiros apóiem o desenvolvimento econômico das populações locais,

não empregam mão-de-obra infantil ou informal e que os diretos dos trabalhadores e das comunidades locais são preservados (CUNHA, 2011).

Além deste selo o FSC através do IMAFLORA fornece tambem o chamado certificado de cadeia de custódia o qual e certifica que um produto foi produzido a partir de areas certificadas, produzindo um documento que rastreia a “procedência da madeira, do manuseio e o rastreamento da matéria-prima utilizada em todas as etapas de produção, desde a floresta até o consumidor final” (IMAFLORA, 2011).

Em 2006, IBAMA criou a normativa n. 112 que exige que todo produto ou subproduto de origem nativa apresentem um Documento de Origem Florestal chamado de DOF. O DOF é um documento obrigatório para o controle e transporte dos produtos de origem nativa, entretanto ele nao é exigido para os produtos gerados pelo reflorestamento. Uma empresa que tem o selo FSC também tem apresentar o documento de origem florestal DOF no transporte de produtos derivados da floresta nativa.

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