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Segurança dos ocupantes

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.3. PROTEÇÃO CONTRA FOGO NAS CONSTRUÇÕES

2.3.4. Segurança dos ocupantes

O fator mais importante a ser analisado em casos de incêndio é a segurança dos ocupantes, que está diretamente relacionada ao uso da edificação e à quantidade de pessoas no edifício, sua idade, seu estado de saúde e o tempo de escape.

Os edifícios comerciais com grande número de pessoas, como escritórios, hotéis e shoppings, fazem com que a proteção contra incêndio seja feita de maneira distinta dos edifícios com menor capacidade de pessoas e fluxo. É importante levar em consideração no projeto de Arquitetura o isolamento dos ambientes, evitando o escape da fumaça para outros ambientes e até para as edificações vizinhas. Deve-se considerar o número de pavimentos como grande influência no tempo de escape para assegurar a vida dos ocupantes.

Diversos autores apontam a fumaça como a principal causa da maioria das mortes em um incêndio, já que, além de dificultar a visualização dentro do local afetado, atrapalhar

a fuga e dificulta o resgate das vítimas. Assim, é essencial projetar um sistema de exaustão da fumaça, sendo o uso de equipamentos ativos uma das formas mais rápidas e seguras de evitar um incêndio. De acordo com a reportagem apresentada na base de dados do site METÁLICA (2010) sobre segurança da propriedade, o uso de “proteção ativa como detectores de fumaça e chuveiros automáticos pode evitar o crescimento do incêndio além de permitir à entrada de bombeiros e a proteção a vida”.

Figura 16: Ventilação residencial. Fonte: Pinto, 2001

Na Figura 16, é perceptível o caminho que a fumaça percorre em busca do oxigênio. Nesse caso, tem-se uma residência com pé direito duplo; o fogo, que começou no pavimento térreo, rapidamente se alastra para o pavimento superior em busca de uma abertura por onde percorrer. Dependendo da temperatura, pode atingir o telhado e até edificações vizinhas.

Alguns pontos importantes na segurança contra incêndio é o uso de proteção passiva, como compartimentações e barreiras arquitetônicas com materiais de maior resistência ao fogo. As associações de proteção passiva a ativa proporcionam maior segurança à edificação, em especial à vida humana: a evolução de sistemas ativos como sistemas de alarmes de incêndio computadorizados pode minimizar ou até extinguir a possibilidade de um incêndio.

Todavia, não se pode ignorar que nenhum edifício é totalmente à prova de fogo. Mesmo aqueles realizados com materiais incombustíveis pegam fogo, e a intenção do projeto deve ser sempre permitir que as pessoas tenham tempo para escapar com vida da edificação – o chamado Tempo Requerido de Resistência ao Fogo (TRRF). Seito et al

(2008) em suas pesquisas afirma que o TRRF pode ser interpretado “como o tempo mínimo que os elementos construtivos devem resistir a uma ação térmica padronizada, em um ensaio laboratorial”.

O tempo utilizado como medida para o desempenho do incêndio não é uma medida exata, pois o fator mais importante são as temperaturas que o fogo atinge e a resistência de cada material ao fogo. O tempo considerado nas normas é uma suposição – uma espécie de estimativa –, sendo preestabelecido por consenso nas normas técnicas de cada país. De acordo com a Seito et al (2008) apud NBR 14432 (2000), o tempo é estabelecido com o risco de incêndio relacionando ao tipo de edificação e a sua altura. O tempo estabelecido de resistência ao fogo geralmente fica entre 30, 90 e 120 minutos, e a Tabela 2 apresenta a síntese dos tempos requeridos no Brasil.

Tabela 2: Tempo requerido de resistência ao fogo. Fonte: Seito et al, 2008 apud NBR 14432, 2000

Observa-se que, quanto mais alto o edifício e a concentração de pessoas, maior é o tempo requerido de resistência ao fogo. No Brasil, segundo Seito et al (2008) apud NBR 14432 (2000), a norma isenta pequenas edificações de realizar e demonstrar a resistência ao fogo. Como apresentado na Tabela 3, à norma também considera isenta de proteção contra o fogo, edificações menores que 750 m2, independentemente dos materiais utilizados e da altura do projeto. Em uma edificação térrea acima de 5.000 m2 é exigida a compartimentação com elementos corta fogo.

Tabela 3: Exemplos de edificações isentas de verificação de resistência ao fogo. Fonte: Seito et al, 2008 apud NBR 14432, 2000

O Canadá é um dos países que apresentam grande desenvolvimento na tecnologia da madeira e sua aplicação na construção civil. Os códigos de segurança da construção da Province British Columbia permitem construções em madeira em uma área máxima de 7.200 m2 e até 6 andares, sendo que a área máxima que pode ser dividida pelo número de andares é 1200 m2 (Figura 17). (COLUMBIA, 2010)

Figura 17: Áreas permitidas para construção de edifícios com materiais combustíveis (madeira). Fonte: Columbia, 2010

As construções com materiais incombustíveis podem ter até 36.000 m² de barreiras ou 6 andares de até 6.000 m². Se os materiais forem combustíveis, como a madeira, a norma

da Province British Columbia permite construções de até 6 andares com área menor que 1.200 m². Acima dessa metragem, é obrigatória a compartimentação do espaço com uso de barreiras comprovadas com resistência corta fogo, também chamada de firewall, como mostra a Figura 18.

Figura 18: comparação de áreas permitida com materiais combustíveis e não combustíveis.

Fonte: Columbia, 2010

Segundo Silva; Vargas; Ono (2010), o afastamento necessário entre duas edificações serve para o controle de risco de propagação do incêndio por radiação do calor, convecção de gases aquecidos e transmissão de chamas, de forma a impedir que o incêndio proveniente de uma edificação expositora ao se propague para outra, chamada de edificação em exposição. No estado de São Paulo, a IT n°07/ SP (2004) do Corpo de Bombeiros avalia a distância mínima entre dois edifícios, chamada de isolamento de risco, por meio de um processo de cálculo que abrange diversos fatores, como carga de uso, térmica de incêndio, dimensões das aberturas existentes nas fachadas, altura dos edifícios etc.

Conforme estudos relatados por Daniel Ingold (2010), pesquisador da Universidade de Lausanne, é possível que um incêndio se transfira de uma edificação a outra por meio de convecção (fumaça ou massa de gases aquecidos), fagulhas ou radiação (por ondas eletromagnéticas).

Nos códigos construtivos da França e da Suíça, observa-se a necessidade de manter uma distância de segurança entre as edificações e utilizar proteções contra incêndio de acordo com a necessidade e características de cada habitação. Caso não seja possível, é necessário que as casas mantenham uma distância de segurança e sejam consideradas independentes, além de serem somadas suas áreas a fim de dimensionar as proteções contra fogo utilizadas na realização do projeto. As normas francesas, discutidas no trabalho do pesquisador por Ingold (2010), apontam distâncias mínimas entre duas casas (Figuras 19a e 19b) para materiais combustíveis: 10 m (quando ambas as fachadas possuem revestimentos combustíveis), 7,5 m (quando uma das fachadas é incombustível) e 5 m (quando as duas fachadas são incombustíveis). Quando as habitações são unifamiliares, as distâncias devem ser 7 m, 6 m e 4 m, respectivamente.

Figuras 19a e 19b: Distância de segurança ao fogo entre duas unidades habitacionais. Fonte: Ingold, 2010

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