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Capítulo 1: A indústria do vestuário, as oficinas de costura e a migração circulante

1.1 A indústria do vestuário:

1.1.1 Panorama geral

Nesta pesquisa não nos ateremos à indústria têxtil, ou mesmo à indústria de confecções como um todo. O ponto que mais nos interessa se refere ao papel desempenhado pelas oficinas de costura no setor e sua relação com o que chamamos de migração da costura. O caso de fiscalização envolvendo a Zara teve ação realizada nesta fase da produção. De qualquer modo, vale a pena apresentarmos, em linhas gerais, o panorama desse segmento produtivo em São Paulo e no mundo.

A indústria têxtil e de confecções apresenta uma cadeia produtiva bastante longa e composta por várias etapas interdependentes. A indústria têxtil está imbricada em diversos grandes setores industriais, como a indústria química (provedora de fibras químicas ou manufaturadas e insumos para tinturaria e acabamento), indústria agropecuária (provedora de fibras animais ou vegetais); esta primeira etapa produz os insumos para a fiação. Uma segunda etapa se refere à tecelagem, que demanda intensa utilização de equipamentos especializados e oriundos da indústria de máquinas, conjugada às tecnologias de automação e softwares. Há ainda a fase do acabamento ou

beneficiamento, que confere ao produto algumas propriedades específicas após a

produção do tecido. Por último, a etapa final diz respeito à confecção, onde são desenvolvidos os desenhos, a confecção de moldes, o encaixe, o corte e a costura. Na indústria de confecção, os produtos podem tomar a forma de vestuário, de artigos para o lar (cama, mesa, banho, decoração e limpeza) ou para a indústria (filtros, embalagens, componentes para automóveis, etc.). (GARCIA e CRUZ-MOREIRA, 2004; HIRATUKA et. al., 2008).

Dessas etapas, as que absorvem com maior intensidade os avanços tecnológicos se referem à tecelagem e à fiação (fibras químicas). Em relação à indústria de confecções, pode-se avaliar o avanço das tecnologias relacionadas ao corte do tecido e ao design da produção, mas a costura não teve diminuição na quantidade de força de trabalho

necessária para a sua produção40. Este é o momento da cadeia que demanda força de

trabalho de modo mais intensivo.

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Ao se olhar pra o setor em âmbito mundial, a possibilidade de fragmentar o processo produtivo em etapas resultou em uma cadeia produtiva integrada internacionalmente e comandada por grandes empresas especializadas na gestão da marca e da comercialização. Esse processo implicou, em termos globais, uma transferência das etapas mais intensivas em força de trabalho para países com custos salariais mais baixos41.

Ta ela - P odução u dial de estuá io e to eladas e

País Vestuário Participação em %

China 19.709.000 48,96% Índia 2.819.000 7,00% Paquistão 1.535.000 3,81% Brasil 1.169.000 2,90% Turquia 1.070.000 2,66% Coreia do Sul 968.000 2,40% Itália 968.000 2,40% México 951.000 2,36% Malásia 651.000 1,62% Polônia 622.000 1,55% Taiwan 578.000 1,44% Romênia 518.000 1,29% Tailândia 453.000 1,13% Sri Lanka 450.000 1,12% Indonésia 445.000 1,11% Outros 7.352.000,00 18,26% TOTAL 40.258.000 100,00%

Fonte: IEMI, 2011 (apud CNI, 2012).

Como se pode depreender a partir da Tabela 11, em 2009 a China era a grande produtora de vestuário no globo, com participação de quase 50% no total da produção. O Brasil também se encontrava em posição de destaque nesse mercado, ocupando a quarta posição no mercado mundial, atrás apenas da China, Paquistão e Índia. Outro fato

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aidedà desig / o pute à aidedà a ufa tu i g .à Deà todoà odo,à seà essasà i o aç esà o segui a à di i ui à su sta ti a e teà aà

ua tidadeà deà t a alhoà e ess ioà pa aà aà p oduç oà eà osà o tesà dosà te idos,à oà hou eà a a çosà te ol gi osà ela io adosà à etapaàdaà ostu a,à ueàsegueàse doàaàpa teà aisài te si aàdeàde a daàdeàfo çaàdeàt a alhoàpa aàaà o fe ç oàdosàp odutosàdaà

adeia.

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interessante a se observar na tabela é a ausência de países do capitalismo avançado na produção de vestuário (com exceção da Itália), uma vez que os custos com mão de obra nessas localidades são demasiadamente elevados, as empresas preferiram transferir a parte da produção que demanda intensa força de trabalho para lugares em que os custos fossem mais baixos. No caso brasileiro, a estrutura de emprego do setor, desde os anos ,àsof euà asta teà o àoà ustoà hi s ,à ueàau e touàaà o petiti idadeàeàjogouàosà preços do varejo nacional da indústria de confecções para baixo (RIZEK; GEORGES; FREIRE; 2010).

Por mais que o Brasil tenha posição de destaque na produção de vestuário, isso não quer dizer que o país seja um grande exportador, na realidade o Brasil importa mais do que exporta e a sua produção é destinada ao mercado nacional. Os grandes produtores e exportadores são os três primeiros países da tabela (China, Índia e Paquistão). Na Tabela 12, pode-se observar a participação do setor (têxtil e confecção) na importação e exportação nacional. Deve-se notar que nos últimos anos o Brasil aumentou consideravelmente suas importações, concomitante a uma diminuição das exportações. Esse dado é importante, pois as condições de trabalho das oficinas de costura variam segundo a lógica da concorrência que estrutura o setor. É importante situarmos o que ocorre em São Paulo atrelado à lógica global do setor.

Ta ela - I po tações e expo tações do seto t xtil e de o fe ção o B asil Valor das importações e participação no total

importado

Valor das exportações e participação no total exportado

Período

Valor das importações (sem inclusão das fibras

de algodão), em US$ FOB42

Participação no total importado

Valor das exportações (sem inclusão das fibras de

algodão) em US$ FOB

Participação no total exportado 2006 2,2 bi 2,40% 1,8 bi 1,30% 2007 2,9 bi 2,40% 1,9 bi 1,20% 2008 3,7 bi 2,10% 1,7 bi 0,90% 2009 3,5 bi 2,70% 1,2 bi 0,80% 2010 4,9 bi 2,70% 1,45 bi 0,70% 2011 6,1 bi 2,70% 1,45 bi 0,50%

Fonte: AliceWeb/MDIC – Elaborado por CNI (2012).

Outro dado relevante da dinâmica macroeconômica do setor no Brasil refere-se ao aumento da produção nacional na indústria de confeccionados e têxtil nos últimos anos (ver Tabela 13). Apesar de a importação ter crescido substantivamente, a produção

42àU“$àFOBà àu aàdasà edidasàpad oà ueàseàutilizaàpa aàe p i i à alo esà efe e tesàaoà o ioài te a io al.àFOBàsig ifi aàF eeà

O àBoa d.àT ata-seàdoà alo à o et ioà ueà à o e ializadoà o side a doà ueàoàe po tado à à espo s elàpelaà e ado iaàat à

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brasileira também aumentou entre 2006 e 2010, apresentando uma taxa de crescimento de confeccionados próxima a 25% (o crescimento da produção têxtil foi inferior, em torno de 15%)43.

Ta ela - P odução po seg e to e il to eladas B asil

Ano Segmento Produção em toneladas

2006 Têxtil 1.956 Confeccionado 1.586 2007 Têxtil 1.999 Confeccionado 1.702 2008 Têxtil 2.078 Confeccionado 1.837 2009 Têxtil 2.089 Confeccionado 1.850 2010 Têxtil 2.249 Confeccionado 1.971

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IEMI, 2011 (apud CNI, 2012).

Tendo em vista o papel desta indústria para a dinâmica urbana de São Paulo, vamos nos ater às transformações na estrutura de empregos e na gestão da produção da indústria de vestuário nos últimos anos. Em relação às transformações na estrutura de emprego, o que mais nos interessa se refere à costura, etapa do processo produtivo que emprega o trabalho migrante. Como vem sendo amplamente debatido pelas ciências econômicas e pelas ciências sociais, na virada dos anos 1980-1990, de forma geral, os processos de reestruturação produtiva impactaram fortemente a dinâmica industrial urbana das grandes cidades. Em relação à indústria de vestuário, houve diminuição intensa da quantidade de empregos formais na RMSP, no entanto, isso não significou uma contração do setor na região. Dos anos 2000 para os dias de hoje, percebe-se um aumento da formalização, num sentido inverso do que ocorreu na década anterior. Segundo Freire (2008), a participação da indústria de confecções na economia da RMSP ganhou destaque e peso desde os anos 1990.

43à Essesà alo esà efe e -seà aoà e adoà a io al,à i feliz e teà oà o segui osà osà dadosà espe ífi osà so eà essaà di i aà aà

‘egi oàMet opolita aàdeà“ oàPaulo.à Deà ual ue à odo,àsegu doài p ess esàdosàe t e istados,àhou eàe pa s oàdoàseto à aà ‘M“P,à ueàpodeàse à o side adaàaà aio àeà aisài po ta teà egi oàdaàp oduç oà a io alàdeà o fe io adosàeàt til.à

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