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Papel da Associação dos Técnicos de Palco do Theatro Municipal

2.2. Políticas públicas municipais e a formação da estrutura técnica de apoio às artes no

2.2.1. Papel da Associação dos Técnicos de Palco do Theatro Municipal

Qual significado é possível atribuir à volta da condição de funcionário público estável para o técnico de palco? Esta era a situação vivida antes de 1976, pelos profissionais técnicos de apoio às áreas de audiovisual, iluminação, guarda-roupa e orquestra. Lembramos que eles perderam a estabilidade no trabalho a partir da promulgação da Lei 8401, de 08/06/76, quando eles passaram a ser vinculados ao Quadro de Atividades Artísticas, juntamente com os músicos e bailarinos do Theatro Municipal de São Paulo, mas, sobretudo, com a decretação da Lei 9320, de 25/09/81, que coloca vários cargos da categoria artística e técnica na condição de “livre provimento em comissão”.

Como vimos na história do Theatro Municipal, no item 1.2.1. do cap. I, a instituição funcionou até a década de 1970, como uma casa de espetáculo, que recebia as companhias externas, sendo que apenas em 1976 foi criado um Quadro de Atividades Artísticas permanentes, possibilitando a ampliação das atividades internas do Theatro.

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Inicialmente, buscaremos apontar as formas de inserção política das equipes de apoio técnico às artes do Theatro Municipal de São Paulo. Atualmente, eles participam da Associação dos Técnicos de Palco do Theatro Municipal, criada em 200133, apenas de caráter normativo e associativo, não recebendo nenhuma contribuição sindical por parte dos associados.

Devido a mudanças nas formas de financiamento público das atividades culturais, hoje há um forte apelo por parte da gestão pública em transformar o Theatro Municipal em uma fundação ou uma organização social.

É através da Associação dos Técnicos que tem sido discutido, junto ao poder público, propostas de como gerir o quadro de profissionais ligados às atividades artísticas. Há propostas no sentido de mudar as formas de vinculação desses técnicos e dos artistas junto ao Theatro Municipal. Porém, apesar das negociações estarem ocorrendo desde 2004, o poder público e as várias associações, tanto dos técnicos quanto dos artistas, não têm chegado a um acordo.

Quando ao aspecto político, existe o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversões (SATED), que tem se mantido alheio a essas discussões. Por se tratar de um corpo de profissionais permanentes, vinculados a um teatro público, as negociações ocorrem mais a nível interno.

A maior parte dos profissionais técnicos que trabalham no Theatro Municipal não possui o registro profissional junto à Delegacia Regional do Trabalho. Conforme depoimento do presidente da Associação dos Técnicos (maio de 2005), ele estava negociando junto ao Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversões (SATED) – órgão responsável por atestar a qualificação profissional de artistas e técnicos – formas de possibilitar esse registro. A Associação busca conscientizar os técnicos de que essas inscrições constituem formas de instrumentalizar a luta pelo exercício de sua profissão e pela preservação do emprego no Theatro Municipal. Essa situação nos possibilita ressaltar que esses técnicos não constam das estatísticas oficiais apresentadas pela Delegacia Regional do Trabalho do Ministério do Trabalho. Isso nos leva a afirmar que as formas de contratação adotadas pela Instituição contrariam o que diz o artigo 6º da

33A Associação dos Técnicos de Palco do Theatro Municipal foi criada no ano de 2001, coincidindo com o

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Lei 6.533/78, que define a necessidade do registro para contratação. “Art. 6º - O exercício das profissões de Artista e de Técnico em Espetáculos de Diversões requer prévio registro na Delegacia Regional do Trabalho do Ministério do Trabalho, o qual terá validade em todo o território nacional”.

Nesse sentido, a Associação dos Técnicos de Palco do Theatro Municipal não dispõe de todos os instrumentos legais para negociar em condições mais favoráveis. Foi a partir do estabelecimento de um quadro de negociação com a Prefeitura Municipal que a mesma se fortaleceu e passou a ter visibilidade perante as outras Associações34 que representam os artistas vinculados ao Theatro Municipal. Durante as negociações envolvendo Prefeitura e todas as associações, a Associação dos Técnicos adotou uma forma de pressão, propondo rever a situação de todos, já que os técnicos, apesar de pertencerem ao Quadro de Atividades Artísticas, eram os únicos que não tinham sido beneficiados por nenhuma das gratificações criadas nos últimos anos. Esta ação teve como fruto o apoio das outras associações à causa dos técnicos.

Em 2004, a coordenadoria de cenotécnica relatou que expôs a necessidade de ampliação das equipes técnicas junto à Prefeitura Municipal de São Paulo, inclusive relatou a dificuldade de dar folga a esses trabalhadores, e a resposta que obteve é que poderiam ceder eletricistas de outros setores para substituí-los nos dias de folga. A coordenadora observa que os técnicos de palco têm uma atividade muito específica, que vai além de conhecimentos de eletricidade. Essa atitude demonstrou a falta de sensibilidade da Prefeitura para com a área técnica da cultura e, também, a não valorização da especificidade desse trabalho.

Conforme observamos, não há um plano de carreira para os profissionais da área técnica, de modo que o salário base é o mesmo tanto para os técnicos mais antigos de casa quanto para os iniciantes na carreira, o mesmo ocorrendo para os valores das gratificações. Segundo informações da Assistência Administrativa do Theatro (2004), as diferenças se dão apenas para aqueles que têm o direito ao recebimento do qüinqüênio, que é um acréscimo de 5% nos salários daqueles que estiverem no exercício do cargo há 5 anos; com 10 anos de trabalho, tem direito a 10% e assim sucessivamente até o 4º qüinqüênio, depois do que se passa a receber a 6a parte, que corresponde a 23% em cima do salário referência.

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Segundo depoimento do presidente da Associação dos Técnicos de Palco do Theatro Municipal, nos anos de 2003 e 2004, foram promulgadas as duas leis que reestruturam os cargos do funcionalismo público, instituindo um novo plano de carreira para o pessoal de nível básico (Lei 13652, de 25/09/03) e de nível médio (Lei 13748, de 16/01/04). Durante esses anos, a Associação pressionou o poder público para que reestruturasse os cargos dos técnicos de palco vinculados ao Quadro de Atividades Artísticas, alegando que os cargos dos artistas já haviam passado por uma reestruturação em 1992 e os servidores de nível básico e médio também estavam tendo seus cargos reestruturados e, desta forma, faltaria reestruturar a situação funcional dos técnicos.

Em 2004, como resposta às reivindicações, relativas à reestruturação das carreiras de nível técnico, feitas pela Associação dos Técnicos de Palco do Theatro Municipal, o Departamento de Gestão Pública da Prefeitura Municipal de São Paulo propôs a incorporação de todos os técnicos de palco na Lei 13652/03, que havia transformado todos os cargos de nível básico do funcionalismo público em agentes de apoio35. Ou seja, propôs uma forma de separar os profissionais das atividades artísticas (AAs) por área de ocupação, de modo a isolar a categoria de técnicos de palco da categoria artística que abrange músicos e bailarinos. Como foi exposto no item 2.2. desse capítulo, essa atitude seria um retorno à situação vivida antes de 1976, com os técnicos voltando a participar da massa homogênea do funcionalismo público, mas agora perdendo a especificidade de sua profissão, já que seus cargos seriam transformados em agentes de apoio, abrindo brechas para possíveis remanejamentos e transferências para outros setores. Esse seria o preço a ser pago para adquirir o vínculo estável a que tem direito o funcionário público.

A gestão pública parece não valorizar a especificidade do trabalho técnico na área de artes, uma vez que ela homogeneiza seus procedimentos burocráticos para todas as esferas do funcionalismo, e nele inclui as áreas com necessidades diferenciadas.

A Associação dos Técnicos de Palco do Theatro Municipal, na condição de representante dos técnicos, recusou essa proposta, temendo que esses profissionais

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As demais associações são: da Orquestra Sinfônica Municipal, da Orquestra Experimental de Repertório, do Quarteto de Cordas, do Coral Lírico, do Coral Paulistano e do Balé da Cidade de São Paulo.

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Lei 13652, de 25/09/03, conforme seu “Art. 2º - Fica instituída a carreira dos servidores de Nível Básico da Prefeitura do Município de São Paulo, composta de cargos multifuncionais de Agente de Apoio, mediante a transformação dos atuais cargos de provimento efetivo de Nível Básico constantes dos Quadros de Profissionais mencionados no artigo 1º, na conformidade do Anexo I, integrante desta lei.

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pudessem ser levados ao desvio de função e ao esvaziamento do conteúdo do trabalho técnico, já que a incorporação, como agente de apoio, poderia levá-los a ter que exercer outras atividades de acordo com a conveniência do poder público, o que poderia por fim a essa categoria. Segundo depoimento do próprio presidente da Associação, nem todos os técnicos têm consciência do que essa mudança poderia significar na situação profissional futura, mas ainda que essa decisão não tenha sido consensual, ela significou um passo no sentido de assegurar o exercício daquela profissão num teatro público, de modo a preservar o saber adquirido nesta profissão.

Não tendo sido firmado nenhum acordo no sentido de desvinculá-los do Quadro de Atividades Artísticas, devido à resistência da Associação e pela falta de tempo hábil (fim da gestão Marta Suplicy – 2001/2004), a Prefeitura optou por dar uma gratificação no valor de R$ 314,00 para os técnicos de palco, que foi negociada em junho e ratificada pela Lei 13.861, de 29/06/2004. Entretanto a situação só foi formalizada pelo Decreto no. 45.421 de 18/10/2004.

A prática, adotada por várias gestões, é a de atribuir gratificações aos salários, sem oferecer um aumento real, podendo ser extintas na troca de prefeito. Este fato ocorreu em 2005, quando o novo prefeito empossado suspendeu o pagamento da gratificação descrita no Decreto 45421, alegando falta de recursos. Devido a pressões, o então prefeito propôs o pagamento desta gratificação, mas em contrapartida não pagaria as horas de convocação (horas extras)36.

Nota-se que os mecanismos adotados pela gestão pública são frágeis, de modo a depender sempre das circunstâncias vividas em cada momento político, econômico, social e cultural. Os profissionais da área técnica ocupam cargos de “livre provimento em comissão”, situação que não cria vínculo estável; caso a conjuntura mude, eles podem perder o emprego. As gratificações que lhes são atribuídas também permanecem na corda bamba, podendo pender ao sabor das circunstâncias momentâneas.

Parágrafo único - Considera-se multifuncional a aglutinação de atribuições de mesma natureza de trabalho”. 36 No 1º semestre de 2005, o Teatro teve toda a sua programação suspensa, mais ainda assim ocorreram algumas atividades e também o espaço foi cedido para ensaios de outros grupos teatrais. Deste modo, o ritmo de trabalho diminuiu bastante e, por isso, a nova gestão propôs à Associação que pagaria a gratificação criada no Decreto 45421, mas não pagaria as 30 horas de convocação que já faz parte do holerith dos trabalhadores da área técnica (seriam horas extras), somente na área de cultura é possível receber esse benefício.

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Atualmente, as associações de técnicos e de artistas têm se reunido para buscarem propostas conjuntas sobre as várias possibilidades de gestão do trabalho de todos aqueles englobados no Quadro de Atividades Artísticas, para posteriormente negociarem com a gestão pública, mas até o presente momento não houve acordo sobre essas mudanças.