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O papel da escola na contemporaneidade

No documento 1.2 POR QUÊ ? (páginas 42-47)

2. ALGUNS ASPECTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO NO CONTEXTO

2.8 O papel da escola na contemporaneidade

Muitos pensam que educação na atualidade está em crise. O que presenciamos hoje são escolas sucateadas, professores desmotivados, mal remunerados e alunos desestimulados frente às perspectivas educacionais. Além do que há falta de vagas em muitas escolas públicas e a infra-estrutura é precária para o atendimento de grande número de alunos.

É verdade que muitas ações políticas têm procurado mudar esta realidade e várias políticas públicas vêm agindo no sentido de proporcionar o ingresso e a permanência na escola (mesmo que seja em forma de ações assistencialistas), o que de certa forma tem surtido algum efeito dentro do contexto educacional, mas não é o suficiente. O que realmente se necessita é uma educação que avance em vários sentidos, principalmente na transformação do pensamento e na ação voltada para a diminuição das desigualdades e exclusões sociais que se presencia em nosso país.

Como salienta Mariano Enguita (2004,p. 07):

Ainda são muitos aqueles que vêem na educação o melhor e principal instrumento para ajudar as pessoas a se prepararem para uma vida plena, uma cidadania participativa, uma posição econômica digna e suficiente, uma convivência não conflituosa, uma apreciação adequada da cultura e das relações sociais em constante processo de mudança. Contudo, proliferam – e, às vezes, ruidosamente - os que asseguram que já não é assim. Ninguém proclama,é claro, que educar seja algo francamente inútil, contraproducente ou errático, mas insistem nos tópicos mais ou menos parciais que, reunidos, dariam como resultado este diagnóstico. (...) seria incoerente educar para a ultrapassaram a conjuntura econômica e agora se enraízam em outras áreas da vida do homem. E como salienta (Gadotti, 1998) a escola, que não é uma ilha de pureza na qual as contradições de classes não penetram, também acaba sendo atingida por essas ações neoliberais e globalizadas que se proliferam rapidamente pelas sociedades de todo o mundo.

Mesmo que se presencie hoje uma educação permeável, onde as ações globalizadas e as tendências neoliberais estejam presentes, não é isso que se espera da educação atualmente , mas ao contrário, se espera uma educação que se concentre nos valores humanos e que resgate os direitos , a cidadania e seus valores como pessoa humana. E não uma educação e uma escola que seja uma mera reprodução dos interesses dominantes. Contrapondo-se assim a uma ação educativa onde o educando seja um mero espectador do espetáculo de reprodução capitalista, que muito já se faz presente em nossa atualidade, pois como salienta Paulo Freire (2003) “o homem é um ser inacabado, e não haveria educação se o homem fosse um ser acabado”.

A prática educativa é uma ação conjunta, pouco adianta um aparato legal que conceba a educação como uma ação democrática, voltada para a construção de educandos críticos e participativos, se não houver profissionais comprometidos com

tal ação.

Uma educação alicerçada apenas em questões de ordem conteúdista, baseada apenas na qualidade da informação repassada e baseada nas avaliações escolares não tem grande respaldo na vida social do aluno. Ao contrário, coloca-o na posição de um ser acabado que apenas “recebe” informações para depois repassá-las, através da avaliação, demonstrando para seu educador que aprendeu esse é o principio da educação “bancária” que Freire critica em seu livro Pedagogia do Oprimido (1979).

É justamente nesse sentido que se deve pensar a educação, enquanto ação social e que ajude o homem a se tornar um ser pensante criativo e que lute por seus direitos e cumpra seus deveres. A educação de qualidade não é uma educação de característica significativa apenas no sentido de conteúdos programáticos, com currículos elaborados por pessoas que não conheçam a realidade escolar de cada comunidade, mas, ao contrário, a educação contemporânea deve vir ao encontro das particularidades de cada escola, pois cada realidade é única e quem a conhece são justamente aqueles que ali vivem, que ali trabalham.

Ninguém melhor do que os próprios professores, pais, alunos e funcionários das escolas (diga-se comunidade escolar) para conhecer as necessidades de sua escola e são estes mesmos atores da educação que devem projetar e pensar que escola almejam para sua comunidade.

Os inúmeros problemas educacionais e o verdadeiro papel da educação formal são motivos de ampla discussão na sociedade atual. É preciso fazer uso de um esforço coletivo para vencer as barreiras e dificuldades que inviabilizam a construção de uma escola pública que eduque de fato para o exercício pleno da cidadania e seja instrumento real de transformação social, contrapondo-se ao atual modelo gerador de desigualdades e exclusão social que prevalece nas políticas educacionais de inspiração neoliberal.

A escola não está isolada do sistema social, político,cultural, mas ela pode recriar seu espaço de trabalho junto com seus pares, em função da qualidade das aprendizagens dos alunos e de objetivos pessoais, profissionais e coletivos (J.C.

Libâneo ,2004).

Assim salienta Praxedes (2004, p.01):

Cabe aos participantes dos processos educativos a decisão sobre a ênfase que será adotada. A educação é também um processo social do qual participamos enquanto realizamos uma opção entre diferentes valores e objetivos a serem alcançados. Uma educação democrática é aquela em que todos os envolvidos podem participar na definição dos rumos da educação. E escola é um espaço público para a convivência fora da vida privada, intima, familiar. Ao nos capacitarmos para a convivência participativa na escola, participamos de um processo de aprendizagem que também nos ensina como participar do restante da vida social.

O papel da escola na contemporaneidade é baseado na participação, na ação conjunta de toda a comunidade escolar. Os alunos, hoje, precisam aprender a participar, e a escola pode ser um meio indispensável de elevação do nível cultural e do desenvolvimento de conhecimento e capacidade para o enfrentamento de um mundo de condições tão tumultuadas como o atual.

A escola deve atuar frente às profundas desigualdades sócio-econômicas, que excluem uma parcela da população, marginalizada pelas concepções e práticas inspiradas no neoliberalismo. Não basta esperar por soluções que venham verticalmente dos sistemas educacionais. É necessário criar propostas que resultem de fato na construção de uma escola democrática e com qualidade social, fazendo com que os órgãos dirigentes do sistema educacional possam reconhecê-la como prioritária e instituam dispositivos legais que sejam coerentes e justos, disponibilizando os recursos necessários à realização de seus projetos particulares.

Do contrário, a escola não estará efetivamente cumprindo o seu papel, socializando o conhecimento e investindo na qualidade do ensino. A escola tem um papel bem mais amplo do que repassar conteúdos, porém, deve transformar a sua

própria prática (por vezes fragmentada e individualista) que reflete a sociedade injusta em que está implantada.

No documento 1.2 POR QUÊ ? (páginas 42-47)