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4. GLOBALIZAÇÃO: TENDÊNCIAS E DESAFIOS COM RELEVO PARA A ATIVIDADE

4.2. Papel da informação na sociedade 101

Os meios de comunicação de massas possuem uma grande importância na vida das sociedades, de tal forma que atualmente será muito difícil viver sem informação mediatizada. Será

difícil para as sociedades ou para os indivíduos considerados isoladamente prescindir dos meios de comunicação modernos.

As sociedades atuais dependem de uma contínua comunicação que permite a interação pessoal, mesmo quando em situações de separação longínqua. A expansão global das telecomunicações transformou as relações espácio-temporais.28 Graças às atuais opções tecnológicas pessoas a viver em distintos contextos podem partilhar experiências simultaneamente. Assim, independentemente do local onde habitem, os atores sociais podem presenciar o mesmo acontecimento através da mediatização global, ou seja, é um acontecimento cultural global mediatizado. Esta deslocalização espácio-temporal permite presenciar a realidade indiferentemente da proximidade ou longevidade.

O desenvolvimento tecnológico, designadamente, no campo das tecnologias de informação e comunicação anda a par com a crescente importância da comunicação social. O desenvolvimento tecnológico, aliás, facilitou e vem permitindo a existência de meios impressos mesmo em concorrência com outros meios de comunicação social. A crescente influência da televisão talvez seja, particularmente considerado, o meio de comunicação social mais importante das últimas décadas: “Os programas noticiosos de TV fornecem um mosaico de imagens internacional. Nasceu uma ordem mundial de informação – um sistema internacional de produção, distribuição e consumo de produtos de informação. Dada a posição predominante dos países industrializados no sistema mundial de informação, muitos acreditam que os países do Terceiro Mundo estão sujeitos

a uma nova forma de imperialismo dos meios de comunicação social” (Giddens, 1997: 659-660).

Num estudo realizado pela British Broadcasting Corporation (BBC), apresentado em 2012, a principal conclusão extraída da pesquisa é a de que se verifica complementaridade, ao invés de competitividade, quanto à utilização dos meios de comunicação. Em termos do quotidiano os utilizadores incorporam os diversos meios na visualização, não procedendo por norma à exclusão do uso de qualquer dos outros (83% dos donos de tablets fazem uso simultâneo com a televisão).

Ainda com referência ao mesmo estudo, mais de 40% dos utilizadores de tablets afirmam que atualmente assistem mais a programas televisivos do que quando possuíam exclusivamente a televisão. Os novos meios complementam o uso da televisão harmonizando a utilização dos diversos meios com a assistência televisiva: “Avid news consumers are hungry for information wherever they are and expect to stay in touch on all the devices they now own. There’s been speculation for years that mainstream uptake of smartphones, laptops and tablets will have a negative impact on television viewing, but this study has found that the four devices atually work well together,

resulting in greater overall consumption rather than having a cannibalising effect” (BBC, 2012).

28 O termo globalização assinala que tal aceção comporta um processo que anula e deixa sem

expressão a importância das distâncias no espaço e as divisões territoriais, produzindo uma espécie de reorganização do tempo, distância e espaço das relações sociais: “A globalização das relações sociais deveria ser entendida, em primeiro lugar, como a reordenação do tempo e da distância nas nossas vidas” (Giddens, 1997: 621).

A realidade mencionada é ratificada pelo papel dos meios de comunicação nas sociedades:

“Para um número crescente de pessoas de todo o mundo, a vida já não é vivida como um destino,

já não tem um percurso relativamente fixo e determinado” (Giddens, 2006: 73). O que permite

refletir acerca do papel desempenhado pelos meios de comunicação social nas sociedades: “Num mundo baseado na comunicação constante e ativa, o poder rígido – o poder que só flui do topo

para a base – perdeu o pé” (Giddens, 2006: 73).

A influência da televisão como meio cultural não pode ser avaliada adequadamente em função do conteúdo dos programas projetados. A televisão contribui para proporcionar quadros de experiência através das perspetivas culturais globais nos quais os indivíduos interpretam e organizam a informação. A televisão e a Internet são tão importantes como os livros, as revistas e os jornais na expansão atual das formas indiretas de comunicação. Enquadram os modos em que os indivíduos interpretam e respondem ao mundo social contribuindo para ordenar a experiência que têm dele: ”O mundo tornou-se hoje eletronicamente interconectado, de uma maneira que

ninguém poderia prever …” (Giddens, 2007: 24).

Entendemos que os meios de comunicação social têm uma relevância iniludível na vida quotidiana, dado que proporcionam serviços de informação necessários e oferecem possibilidades de melhoria de conhecimentos ou entretenimento. No entanto, os meios de comunicação tendem a refletir as conceções dos grupos dominantes na sociedade. Esta situação não ocorre por via da eventual censura política direta mas, principalmente, devido a quem possui os meios em causa e os interesses que representam: “A difusão de notícias é dominada por um pequeno número de agências noticiosas que fornecem informação atualizada aos jornais e às estações de rádio e de

televisão de todo o mundo” (Giddens, 1997: 653).

4.2.1. Globalização, comunicação e quotidiano

O constante desenvolvimento tecnológico com impacto global conduz à necessidade de reflexão sobre as suas consequências económicas, sociais e individuais, até porque, “ A globalização é política, tecnológica e cultural, além de económica. Acima de tudo, tem sido

influenciada pelo progresso dos sistemas de comunicação (...)” (Giddens, 2006: 22).

Reconhecemos, que as novas tecnologias têm associadas visões de integração e conhecimento imediato de realidades surgidas geograficamente distintas. Permitem o intercâmbio de informação em qualquer parte do planeta, entre indivíduos que dificilmente poderiam estar em copresença: “O

alcance das novas tecnologias de comunicação aumenta com cada vaga de inovações” (Giddens,

2006: 23). No entanto, a globalização da informação acarreta avisados receios, muito no âmbito da liberdade individual e direitos humanos, tendo presente que os meios de comunicação podem ser utilizados para cercear a liberdade e manipular as sociedades. Atualmente vivemos num

“mundo” em que se salienta o conceito de integração de interesses e necessidades recíprocas,

generalização da Internet (...), contribuiu para este processo. Muitos aspetos da vida social e económica dos países da UE – bem como noutras partes – sofreram alterações por via destes

progressos” (Giddens, 2007: 25).

Os formatos da produção televisiva e cinematográfica já não são feitos para públicos reduzidos mas ao invés, para vastas populações, sem atenderem à distância geográfica e diferenças culturais e económicas a que se encontram os consumidores. O mesmo se passa com a imprensa. A formação de consórcios internacionais está na génese destas situações.

Em síntese, a relação existente entre a informação, a integração e o desenvolvimento é cada vez mais apertada. O sentimento de pertença ao mesmo mundo é em larga medida resultante da projeção internacional dos meios de comunicação. Os satélites e a comunicação massificada contribuem para este sentimento.

As tecnologias de comunicação permitiram a instantaneidade do relato de qualquer acontecimento ultrapassando a barreira das distâncias. Mas, os avanços no setor dos transportes contribuem, igualmente, para o encurtamento das distâncias aliado à circulação de pessoas e bens. As sociedades, em resultado, têm-se tornado mais interdependentes, “ O mundo é hoje

muito mais interdependente do que era há um século…” (Giddens, 2006: 78), mas o

desenvolvimento das relações sociais globais acarreta desigualdades intra e inter sociais nas sociedades, independentemente do nível de desenvolvimento conseguido. É o que verificamos entre sociedades industrializadas e outras com menos recursos ou com os recursos explorados por organizações internacionais, mostrando que, “A globalização, longe de ser consensual, é (...), um vasto e intenso campo de conflitos entre grupos sociais, Estados e interesses hegemónicos, por um lado, e grupos sociais, Estados e interesses subalternos, por outro; e mesmo no interior do campo hegemónico há divisões mais ou menos significativas. No entanto, por sobre todas as suas divisões internas, o campo hegemónico atua na base de um consenso entre os seus mais

influentes membros” (Santos, 2001: 33). Isto é relevante para a integração das sociedades, dado

que a nova realidade comunicacional se tem produzido de forma desigual e reflete as divisões entre as sociedades, dependentes não exclusivamente dos aspetos económicos, mas também culturais através dos meios de comunicação social.

De acordo com o que abordámos anteriormente, constatamos que a posição privilegiada dos países industrializados, com particular incidência nos Estados Unidos da América, na produção e difusão dos meios de comunicação configura uma situação de imperialismo em relação a esses meios.

A globalização dos meios de comunicação ainda que veicule os acontecimentos que de outra forma não teriam a projeção atual, contribui para a criação de uma ordem global da informação, ou seja, um sistema global de produção, distribuição e consumo da informação em que o benefício mais destacado vai para os países mais poderosos internacionalmente.

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