• Nenhum resultado encontrado

2 DA CONCEPÇÃO A SOCIOLOGIA NO CURRÍCULO E AS

2.2 OS DOCUMENTOS OFICIAIS PARA O CURRÍCULO DE

2.2.2 Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino

A publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM) é posterior à publicação das DCNEM e está subordinada a esta última, sendo seu complemento. O termo „parâmetro‟ nos dá uma ideia de medida, de um padrão constante e invariável, tanto é que o documento fala em referenciais nacionais comuns ao processo educativo, porém, respeitando as diversidades regionais. Lançado em 1999, segue os princípios das Diretrizes, apresentando ênfase maior na estrutura curricular a ser seguida nas escolas. Os PCNEM fazem parte da reforma do ensino médio e também são criticados, principalmente, por seguirem a mesma direção e pressupostos das reformas da educação e do Estado realizadas no Brasil nos anos 1990, fortemente marcados pelo ideário neoliberal.

Os PCNEM estão divididos em três grandes áreas: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias; Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias; e Ciências Humanas e suas Tecnologias, onde se situa a disciplina de Sociologia.

Dessa forma, os PCNEM se diferenciam das DCNEM, pois indicam as competências e habilidades a serem desenvolvidas em cada uma das disciplinas escolares, pensando a interação com a grande área na qual está localizada. O documento dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio foi complementado em 2002 com o lançamento do PCN+, tendo como meta “facilitar a organização do trabalho da escola, em termos desta área de conhecimento” (PCN+ 2002, p. 7). A área das Ciências Humanas e suas Tecnologias, composta pelas disciplinas de História, Geografia, Sociologia e Filosofia, de acordo com os Parâmetros deve tratar de outros conhecimentos como Antropologia, Política, Direito, Economia e Psicologia considerados fundamentais para o ensino médio38. As Tecnologias, presente em todas as demais áreas, seriam então uma forma de contextualizar os conhecimentos e as disciplinas no mundo produtivo, o que expressa também a centralidade do trabalho (LOPES, 2002).

Assim, as competências aparecem dividias em três campos: 1) representação e comunicação; 2) investigação e compreensão; e 3) contextualização sociocultural. Para a área da Sociologia, as competências específicas a serem desenvolvidas em cada campo são:

Quadro 3 - Competências indicadas para a Sociologia Representação e Comunicação Investigação e Compreensão Contextualização Sociocultural Identificar, analisar e comparar os diferentes discursos sobre a realidade: as explicações das Construir instrumentos para uma melhor compreensão da vida cotidiana, ampliando a “visão de mundo” e o “horizonte de expectativas” nas Compreender as transformações no mundo do trabalho e o novo perfil de qualificação exigida, gerados por mudanças na 38

Cabe ressaltar ainda que no documento a disciplina de Sociologia é nomeada como „Conhecimentos de Sociologia, Política e Antropologia‟, ou seja, os temas que seriam transversais, como Política e Antropologia, acabam ganhando destaque na redação do texto.

Ciências Sociais, amparadas nos vários paradigmas teóricos, e as do senso comum. Produzir novos discursos sobre as diferentes realidades sociais, a partir das observações e reflexões realizadas. relações interpessoais com os vários grupos

sociais.

Construir uma visão mais crítica da indústria cultural e dos meios de comunicação de massa, avaliando o papel ideológico do “marketing”, como estratégia de persuasão do consumidor e do próprio eleitor. Compreender e valorizar as diferentes manifestações culturais de etnias e segmentos sociais, agindo de modo a

preservar o direito à diversidade, enquanto

princípio estético, político e ético que supera conflitos e tensões

do mundo atual. ordem econômica. Construir a identidade social e política de modo a viabilizar o exercício da cidadania plena, no contexto do Estado de Direito, atuando

para que haja, efetivamente, uma reciprocidade de direitos e deveres entre o poder público e o cidadão e, também, entre os diferentes grupos.

Fonte: Quadro desenvolvido pela autora através de dados do PCN+ (2002, p. 89-91).

Essas competências específicas orientam a proposta de currículo que o PCN+ apresenta para a disciplina de Sociologia, todavia, vale lembrar que este currículo não tem caráter obrigatório, serve apenas como uma expressão de possibilidade a partir dos “conceitos estruturadores e das competências sugeridas para a área em geral e para cada disciplina que a compõe em particular” (PCN+, 2002, p. 14).

Na especificidade da disciplina de Sociologia aparecem como conceitos estruturadores do currículo a cidadania, o trabalho e a cultura, que são vinculados à quatro eixos temáticos: 1) indivíduo e sociedade; 2) cultura e sociedade; 3) trabalho e sociedade; e 4) política e sociedade. Essas competências específicas orientam a proposta de currículo que o PCN+ apresenta para a disciplina de Sociologia, todavia, vale lembrar

que este currículo não tem caráter obrigatório, serve apenas como uma expressão de possibilidade a partir dos “conceitos estruturadores e das competências sugeridas para a área em geral e para cada disciplina que a compõe em particular” (PCN+, 2002, p. 14).

Na especificidade da disciplina de Sociologia aparecem como conceitos estruturadores do currículo a cidadania, o trabalho e a cultura, que são vinculados à quatro eixos temáticos: 1) indivíduo e sociedade; 2) cultura e sociedade; 3) trabalho e sociedade; e 4) política e sociedade. O documento destaca ainda que para a elaboração dessa proposta curricular, preconizaram-se as finalidades indicadas pela LDB para o ensino médio, quais sejam:

• a formação da pessoa, de maneira a desenvolver valores e competências necessárias à integração de seu projeto individual ao projeto da sociedade em que se situa;

• o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico;

• a preparação e orientação básica para a sua integração ao mundo do trabalho, com as competências que garantam seu aprimoramento profissional e permitam acompanhar as mudanças que caracterizam a produção no nosso tempo; • o desenvolvimento das competências para continuar aprendendo, de forma autônoma e crítica, em níveis mais complexos de estudos. (PCN+, 2002, p. 98).

Em coerência com as intencionalidades expressas na LDB e nas DCNEM, nos Parâmetros registra-se a “carta de intenções governamentais para o nível médio de ensino; configura um discurso que, como todo discurso oficial, projeta identidades pedagógicas e orienta a produção do conhecimento oficial” (LOPES, 2002, p. 387).

Por mais que o discurso contido nos PCN+ negue, os conteúdos de ensino ficam subsumidos à formação das competências e habilidades necessárias para o atendimento das demandas do mercado de trabalho. Ou seja, trata-se de uma proposta de currículo não-crítica na medida em que se preocupa, fundamentalmente, com a inserção dos estudantes no mundo produtivo, adequando-se aos interesses da sociedade capitalista. Para tanto, basta observar como conceitos como gestão, organização,

planejamento e trabalho em equipe são recorrentes para a formação das competências para a área das Ciências Humanas e suas Tecnologias (PCN+, 2002).

Segundo Shiroma, Campos e Garcia (2005, p. 437), a escolha da linguagem alinha “mais estreitamente o sistema educacional às necessidades do setor empresarial”, logo, o conhecimento científico e sistematizado a ser ensinado na escola acaba sendo distorcido em favor dessas necessidades do mercado. Nesse sentido, verificamos um esvaziamento dos saberes construídos historicamente em detrimento do desenvolvimento das competências e habilidades escolares.

Os PCN+ destacam em seu texto uma preocupação quanto à contextualização, entendida como,

[...] significação dos temas/assuntos a serem estudados pelos educandos, no âmbito do viver em sociedade amplo e particular dos mesmos [...] passa a ser compreendida como a soma de espaços de vivências sociais diretas e indiretas, nas quais

os educandos identificam e

constroem/reconstroem conhecimentos a partir da mobilização de conceitos, competências e habilidades próprios de uma determinada área e/ou disciplina escolar. (PCN+, 2002, p. 22). Assim, para que haja a contextualização, o documento indica que se supere a noção „amarrada‟ de conteúdo curricular. Nesse sentido, a proposta é valorizar os conhecimentos prévios dos estudantes, seus saberes de outros espaços de vivência social, para que partindo disso seja possível a reconstrução de novos conhecimentos mobilizados pelos conceitos, competências e habilidades de cada área específica frente à realidade social.

Ou seja, possibilitar uma formação onde o estudante seja capaz de agir na resolução dos problemas, característica necessária ao atual modelo toyotista que demanda o pensamento mais abstrato de “realização simultânea de tarefas múltiplas, à capacidade de tomar decisões e de solucionar problemas, à capacidade de trabalhar em equipe” (LOPES, 2002, p. 394), competências postas nos Parâmetros.

Isso fica mais claro quando olhamos as competências referentes à contextualização sociocultural na disciplina de Sociologia (vide quadro anterior) que se caracteriza por: “Compreender as transformações no mundo do trabalho e o novo perfil de qualificação

exigida, gerados por mudanças na ordem econômica” (PCN+, 2002, p. 91. Grifos nossos).

O que o documento propõe é que o currículo abarque a formação do estudante capacitando-o a resolver problemas em contextos específicos da sociedade capitalista, todavia, de forma a contribuir com ela, com seu progresso e manutenção, e não criticamente com a possibilidade de intervenção para transformação e superação. É uma proposta regulativa, na qual se buscar formar um novo perfil de trabalhadores adaptados às exigências da ordem econômica vigente. Além disso, os PCN+ ao enfocarem demasiadamente essa organização curricular (sem mediação entre os conteúdos) empobrecem muito o debate político e pedagógico e, inclusive, no que diz respeito às diferentes perspectivas teóricas que são matrizes na disciplina de Sociologia. Nesse sentido, na etapa seguinte verificaremos de qual forma essa preocupação aparece, ou não, na concretização do currículo de Sociologia no espaço da sala de aula e como os professores fazem a releitura dos conteúdos ao realizarem o planejamento curricular para a disciplina.

2.2.3 Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio -