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2.1 Gramaticalização na teoria funcionalista

2.1.3 Estágios∕fases e princípios∕parâmetros de gramaticalização

2.1.3.2 Parâmetros de Lehmann

Os parâmetros de gramaticalização sintagmáticos e paradigmáticos de Lehmann (1995 [1982]), os quais permitem aferir o grau de autonomia de formas em estágios mais avançados de gramaticalização, são voltados para o estudo dos verbos, razão pela qual podem nos servir para a compreensão da mudança observada no verbo tomar. Os quadros a seguir mostram os parâmetros de gramaticalização propostos por Lehmann (1982). O autor propõe seis parâmetros para medir o grau de gramaticalização de uma determinada construção, com base em três aspectos que são relevantes para determinar a autonomia ou não de elementos linguísticos, a saber: peso, coesão e variabilidade avaliados paradigmática e sintagmaticamente, podendo ser em uma perspectiva sincrônica ou diacrônica.

Quadro 3 – Parâmetros de gramaticalização de Lehmann: eixo paradigmático Eixo paradigmático

Parâmetros GR incipiente Processo GR avançada

Integridade (peso) Conjunto de traços semânticos Atrição Poucos traços semânticos

Paradigmaticidade (coesão)

Participação “frouxa” em um

campo semântico Paradigmaticização

Paradigma pequeno,

altamente integrado

Variabilidade (variabilidade)

Escolha livre dos itens, segundo as

necessidades comunicativas

Obrigatoriedade Escolhas sintaticamente restritas, uso obrigatório

Fonte: adaptado de (LEHMANN, 1995 [1982], p.164)

Quadro 4 – Parâmetros de gramaticalização de Lehmann: eixo sintagmático Eixo sintagmático

Parâmetros GR incipiente Processo GR avançada

Escopo (peso)

Item relaciona-se a constituintes de

complexidade arbitrária

Condensação Item modifica palavra ou raiz

Eixo sintagmático

(coesão) independentemente fonológico

Variabilidade sintagmática (variabilidade)

Liberdade de

movimento do item Fixação

O item ocupa uma posição fixa

Fonte: adaptado de (LEHMANN, 1995 [1982], p.164)

Castilho (1997, p. 51) chama a atenção para o fato de que o mérito desses parâmetros é o de mostrar que a gramaticalização está sujeita a graduação forte/fraca, aspecto que é focalizado pelo princípio da continuidade e do gradualismo. Castilho (1997, p.49) analisa que os princípios de Lehmann (1995[1982]) dizem respeito à autonomia do signo. Quanto mais autônomo o signo, menos gramaticalizado e, quanto menos autônomo, mais gramaticalizado.

Os aspectos que permitem medir o grau de autonomia de um signo são:

- peso: para ser autônomo, um signo deve ter certo peso, propriedade que o

distingue dos demais membros de sua classe, proporcionando proeminência no paradigma. - coesão: quanto mais relações com outros signos, tanto menos autônomo se tornou o signo.

- variabilidade: quanto maior a mobilidade do signo, tanto maior será sua autonomia.

O decréscimo no peso e na variabilidade e o aumento da coesão se constituem, portanto, nos três aspectos da gramaticalização. Relacionando-se com os dois aspectos linguísticos fundamentais, o paradigmático e o sintagmático, tem-se: o peso paradigmático de um signo que é sua integridade, seu tamanho substancial, tanto semântico, quanto fonológico. O peso sintagmático é seu escopo, a saber, o número de construções nas quais ele entra e que ajuda a formar.

A coesão paradigmática de um signo será chamada de paradigmaticidade, isto é, o grau de integração de um signo no paradigma. A coesão sintagmática de um signo será denominada conexidade, isto é o grau de sua adesão a outros signos.

A variabilidade paradigmática de um signo é a possibilidade de usar outros signos no seu lugar, ou mesmo a possibilidade de omiti-lo. A variabilidade sintagmática de um signo é a possibilidade de substituí-lo em sua construção.

No eixo paradigmático, o parâmetro da integridade relativo ao peso refere-se ao tamanho substancial de um signo, em relação a sua matriz semântica e fonológica. O peso

paradigmático trata-se, na verdade, de uma propriedade que diferencia um signo dos demais membros de sua classe e que lhe confere uma determinada proeminência no contraste dele com os outros signos.

O parâmetro da paradigmaticidade, relativo à coesão, diz respeito ao grau de ligação de um item determinado com outros dentro de um paradigma, ou seja, a integração formal e semântica de um paradigma como um todo e a integração formal e semântica do item, propriamente dito, dentro desse paradigma. Verifica-se, também, o tamanho e a homogeneidade do paradigma, ou seja, a quantidade de similaridades entre seus membros integrantes e a regularidade das diferenças existentes entre eles. Para Lehmann (1995), o ponto problemático é precisar o tamanho do paradigma que o item em gramaticalização passa a integrar. Paradigmas altamente gramaticalizados tendem a ser menores do que os menos gramaticalizados. Como exemplo disso, temos a classe relativamente aberta de verbos plenos, onde nem todos podem servir para expressar as atitudes do falante, o que torna necessário o uso dos modalizadores. O número de verbos que participam desse paradigma, portanto, é restrito e, consequentemente, seus membros podem ser considerados mais gramaticalizados, quando comparados, por exemplo, ao paradigma dos verbos plenos.

Por fim, o parâmetro da variabilidade paradigmática refere-se a uma alternância paradigmática. Ou seja, em termos pragmáticos, há uma liberdade com a qual o usuário da língua ou escolhe um signo dentre aqueles que pertencem a um determinado paradigma ou não escolhe nenhum deles, deixando, então, em seu lugar, uma categoria genérica, ou mesmo não-marcada, disponível para aquele contexto de uso.

Por sua vez, o objetivo dos Parâmetros Sintagmáticos é captar as relações que um determinado item mantém com outros constituintes, nas diferentes construções em que ele participa, e a sua colocação e mobilidade dentro dessas construções, ou seja, dentro das cadeias sintagmáticas.

O parâmetro escopo, relativo ao peso, diz respeito à extensão do item/construção sobre a construção que ajuda a formar, isso porque, com o aumento do grau de gramaticalização de um item, seu escopo diminui. Para melhor explicar essa questão, podemos dizer que, na mudança, via “condensação”, de um estado da língua para outro, o item passa da relação com constituintes de complexidade arbitrária para a relação com palavra ou com radical, mudanças essas muito bem ilustradas por casos de morfologização.

O princípio da conexidade, relativo à coesão, refere-se ao grau de relacionamento de um item com outro, ou melhor, ao grau de ligação ou dependência desse item com outros.

Por fim, o princípio da variabilidade sintagmática se refere à possibilidade de mobilidade do item na construção em que ocorre. Lehmann (1995) afirma que a posição fixa do item dentro de um sintagma evidencia-se quando ele atinge um alto grau de morfologização.