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Os conhecimentos introdutórios da pesquisa, apresentados no Capítulo 2, indicam a arquitetura como um produto cultural. Como tal, considera-se sua constante evolução. Os processos de assimilação, aculturação, etnicidade e transculturação, abordados no referencial teórico, permitem a compreensão de como os valores culturais do imigrante reagem quando se dá o contato com novas culturas. A necessidade de ajustamentos aos condicionantes do meio físico, o status social do imigrante no país de origem, um novo status no país adotivo e o contato com outras culturas, são fatores influenciadores do resultado do produto cultural elaborado por imigrantes, sendo a arquitetura um desses produtos.

No processo de assimilação há a possibilidade do abandono de elementos culturais. Em relação ao processo de aculturação, há renúncia ou mudanças parciais de elementos culturais. Quando se considera a etnicidade, as modificações culturais expressam-se como adaptações que podem conter persistências de identidade. Entretanto, diferentes níveis existentes nesses processos demonstram complexidades. Na prática, podem resultar em destruição, sobrevivência, resistência,

estima ou adaptação de valores culturais, no contato intercultural. Em termos gerais, a cultura da maioria impõe seus valores, de forma integral ou parcial.

Outro processo citado, o de transculturação, aceita as modificações culturais como próprias da cultura, um produto elaborado historicamente, ajustável e ativo. Assim, transferências de culturas diferentes resultam em adaptações de padrões culturais originais, em função do espaço e meio natural. Nesse sentido, acontece a integração de traços culturais. No caso das modificações promovidas na arquitetura, faz-se necessárias recriações de elementos culturais para a adaptação às condições mesológicas do novo meio. Como exemplo, as técnicas construtivas do país de origem, utilizadas em habitações do imigrante germânico no Sul brasileiro, que se apropria de materiais disponíveis, de forma diferenciada aos das regiões da Alemanha. A técnica é a de origem, mas o material utilizado é outro.

Nos estudos apresentados no Capítulo 2, que trata dos imigrantes germânicos em terras brasileiras, os processos de assimilação, aculturação, etnicidade e transculturação nem sempre acontecem de forma plena. Em termos de arquitetura, há casos em que o imigrante em contato com outras culturas busca situações compensatórias para preservar sua cultura primitiva. São situações relacionadas às transformações da arquitetura, abordadas como necessárias para sua integração ao meio urbano, e, reveladoras de persistências. Trata-se das permanências culturais resistentes à ação do tempo. Também acontecem rupturas, tidas como divergências, em grande parte dos casos, relacionadas aos avanços científicos e tecnológicos. As

integrações geralmente estão relacionadas à disponibilidade de materiais e serviços

e acessos a novos materiais. Como nessa pesquisa busca-se a contribuição do imigrante germânico na arquitetura, o interesse maior é a busca por essas

persistências.

O intuído dessa retomada de reflexões preliminares é apresentar os

comportamentos que permeiam processos culturais da colonização germânica no

Brasil. Porque, é a partir dessas reflexões que se dá a escolha dos princípios norteadores determinantes dos parâmetros de leitura para a análise proposta nesse capítulo. Assim, em consonância com os processos apresentados, busca-se na arquitetura urbana estudada as persistências, integrações e divergências da cultura do imigrante germânico. A pesquisa empírica realiza uma leitura comparativa das imagens fotográficas atuais com as históricas. E, nesse exercício, reflete acerca

do persistente, integrado e divergente48, em relação aos conceitos culturais de origem germânica, na arquitetura do núcleo urbano de Santa Leopoldina.

Ao apropriar-se dessas terminologias, provenientes dos conceitos e abordagens estudados, faz-se necessário esclarecer acerca dos significados das noções adotadas para explicitar o sentido utilizado. Na pesquisa em busca dos significados e sentidos, as palavras perseverança, combinação e distanciamento complementam e auxiliam a compreensão de seus sinônimos, persistência, integração e divergência, respectivamente. Nesse contexto semântico, dá-se a análise do que existe de perseverança, combinação e distanciamento da cultura germânica na arquitetura remanescente urbana do objeto em estudo.

Outro estudo a que se reporta, para consubstanciar os parâmetros de leitura aplicados na análise, é o de Marina Waismann (1991), em La arquitectura em la era Posmoderna. Para compreensão das origens e desenvolvimentos da arquitetura latinoamericana, a autora adota estas terminologias para refletir como se estabelece as relações entre o moderno, o pós-moderno e o antigo. A autora expõe o sentido adotado em sua investigação como a seguir:

• Elementos persistentes–Trata-se do que mantém um relacionamento pautado pela continuidade com a tradição com a intenção de aproximação com a unidade elementar e da recuperação de valores histórico-arquitetônicos. • Elementos integrados–Trata-se do que mantém um relacionamento pautado

pela renovação da tradição com a intenção de uma transformação da unidade elementar e de valores histórico-arquitetônicos, sem promover uma ruptura. • Elementos divergentes–Trata-se do que mantém um relacionamento

pautado no rompimento com a tradição com a intenção de uma inovação da unidade elementar e de valores histórico-arquitetônicos.

Esses elementos, adotados nas investigações de Waismann (1991), apesar de esclarecerem outra temática em contexto mais amplo, vêm de encontro às intenções

48 Em consulta ao Michaelis Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, disponível em formato digital, constata-se significados e sentidos afins: “Persistência – 1) Ato de persistir; constância, firmeza, perseverança [...]. Integração – 1) Ato ou efeito de integrar(-se). 2) Condição de constituir um todo pela adição ou combinação de partes ou elementos [...] 5) Processo que consiste na assimilação cultural, linguística e jurídica, de forma plena, por indivíduos estrangeiros em qualquer comunidade ou nação. Divergência – 1) Ato ou efeito de divergir; separação, distanciamento; desacordo, discordância, diversidade” (Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/>. Acesso em: 10 dez. 2017).

dessa pesquisa. Pode-se aferir que estão em consonância com os processos culturais norteadores da produção arquitetônica do imigrante. Isso, devido ao fato de discutirem continuidades, transformações sem ruptura e rompimentos com valores histórico- arquitetônicos de uma herança cultural na produção arquitetônica.