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Parâmetros fisiológicos utilizados em testes de tolerância ao calor

No documento Ana Luisa Paçó Zootecnista (páginas 43-47)

CAPÍTULO I - CONSIDERAÇÕES GERAIS

2. Tolerância ao calor

2.4. Parâmetros fisiológicos utilizados em testes de tolerância ao calor

Não existe consenso entre os autores sobre quais variáveis fisiológicas devem ser utilizadas para a avaliação da tolerância ao calor. Entretanto as mais utilizadas são temperatura retal, frequência respiratória, frequência cardíaca e taxa de sudação (MARAI et al., 2007).

De acordo com Cunningham (2004), a temperatura retal normal em ovinos varia de 38,5 °C a 39,9 ºC e vários fatores são capazes de causar variações na temperatura corporal, entre os quais: idade, sexo, estação do ano, período do dia, exercício e ingestão e digestão de alimentos. Reece (2006) reportou valores para temperatura retal de ovinos entre 39 °C e 41 °C, frequência cardíaca de 70 a 80 batimentos/minuto e respiratória entre 16 e 34 movimentos/minuto.

Quesada et al. (2001) estudaram a tolerância ao calor das raças Santa Inês e Morada Nova utilizando temperatura retal, batimentos cardíacos e freqüência respiratória, observando correlação positiva, média a alta, entre as características fisiológicas analisadas, significando que o aumento em uma característica foi acompanhado por elevação nas outras.Segundo os autores, quando a temperatura retal aumenta, em virtude da ação conjunta dos efeitos ambientais, influencia os batimentos cardíacos e a freqüência respiratória, sendo ativados mecanismos de controle do animal para restabelecer o equilíbrio de suas funções vitais.

De acordo com Marai et al. (2007), o aumento na frequência cardíaca reflete principalmente a homeostase da circulação sanguínea e o metabolismo corporal. Ocorre aumento da frequência quando o animal é submetido a altas temperaturas, com isso aumenta o fluxo sanguíneo do interior do corpo para a periferia com o objetivo de possibilitar maior chance do calor ser perdido por mecanismos sensíveis e insensíveis.

Resultados semelhantes foram obtidos por McManus et al. (2009), quando avaliaram as raças Santa Inês, Bergamácia e seus cruzados. De acordo com os autores, o incremento da frequência respiratória pode ser considerado o principal mecanismo de controle da homeotermia, acompanhado por outros mecanismos como o aumento da frequência cardíaca. O mesmo foi observado por Aita et al. (2010) com fêmeas Corriedale e Ideal, entretanto a

temperatura corporal e a frequência respiratória apresentaram correlação positiva e fraca.

Silvanikove (2000) classificou a severidade do estresse térmico em ovinos por meio da taxa respiratória, sendo a frequência de 40-60 mov./min caracterizada como baixo estresse, 60-80 mov./min como estresse médio, 80-120 mov./min, estresse alto e acima de 200 mov./min, estresse severo.

Entre as características fisiológicas (frequência respiratória, frequência cardíaca e temperatura retal) estudadas por Da Cruz Junior (2011), a frequência respiratória foi a que melhor explicou as alterações fisiológicas causadas pelo estresse térmico.

Eustáquio Filho et al. (2011) relataram que as médias dos valores de frequência respiratória durante a exposição experimental não diferiram estatisticamente entre as temperaturas em estudo de 10 °C, 15 °C, 20 °C e 30 °C, se mantendo entre 20 e 28 mov./min para as borregas Santa Inês. Entretanto, o aumento nos movimentos respiratórios a partir da temperatura de 35 °C demonstrou que a frequência respiratória pode ser a principal forma de dissipar calor nos ovinos. Também foi observado que em temperaturas extremas, como a de 40 °C, os animais apresentaram média de 173 movimentos/minuto, com projeção da língua na tentativa de perder calor.

Starling et al. (2002), com o intuito de avaliar o grau de adaptação de ovinos ao calor por meio das medidas de temperatura retal e frequência respiratória, não obtiveram respostas satisfatórias quanto à seleção de animais mais adaptados, concluindo que a avaliação de somente essas variáveis não é suficiente na avaliação de parâmetros adaptativos.

De acordo com Silva e Starling (2003), a evaporação cutânea tem papel importante para a termorregulação de ovinos lanígeros em ambientes de alta temperatura, contribuindo em média com 63% da evaporação total. Os autores trabalharam com animais Corriedale e constataram diferença significativa entre sexos quanto a ambas as vias de evaporação: no caso da evaporação respiratória, as fêmeas apresentaram taxa mais elevada (0,9257 ± 0,0199 g.h-1.kg-1) que os machos (0,6942 ± 0,0145 g.h-1.kg-1), enquanto no caso da evaporação cutânea os machos apresentaram média mais elevada (1,3924 ± 0,0915 g.h-1.kg-1 contra 1,0772 ± 0,1257 g.h-1.kg-1 para as fêmeas). No que se refere à influência da espessura do velo, os autores verificaram que,

à medida que aumenta a mesma, reduz-se a evaporação respiratória. O efeito da temperatura do ar sobre os dois tipos de evaporação também é diferente, conforme a espessura do velo, sendo mais acentuado quando o velo é menos espesso (7,5 cm a 8,1 cm). A evaporação cutânea tende a ser maior, à medida que a espessura do velo aumenta (até cerca de 10 cm); este incremento na evaporação ocorre ao nível da superfície cutânea. Segundo os autores, a taxa de sudação dos animais tende a aumentar quando a temperatura da superfície da epiderme se eleva, por causa da maior dificuldade de eliminação de calor sensível através da capa. Em conseqüência, a taxa de sudação aumenta e da mesma forma a evaporação cutânea. Aumentando a termólise por evaporação na superfície do corpo, o organismo pode reduzir então o trabalho respiratório, o que por sua vez resulta na diminuição da evaporação respiratória. Nos animais com velo menos espesso, a evaporação cutânea permaneceu praticamente inalterada, à medida que a temperatura ambiente se elevou até 45 °C, ao mesmo tempo em que a evaporação respiratória subiu mais rápido nas temperaturas mais altas.

De acordo com Eustáquio Filho et al. (2011), as taxas de sudorese de borregas Santa Inês à temperatura de 40 °C, tanto na escápula (59,17 g.m-2 h -1) como no pescoço (59,17; 50,17 g.m-2 h-1), foram inferiores aos valores encontrados à temperatura de 35 °C (61,90 g.m-2 h-1; e 69,15 g.m-2 h-1, respectivamente). Era esperado aumento na taxa de sudorese com o aumento da temperatura ambiental, entretanto, o aumento da frequência respiratória e a diminuição da frequência cardíaca podem ter influenciado na taxa de sudação ocorrida a 40 °C. Os coeficientes de variação das taxas de sudação nas temperaturas de 35 °C e 40 °C foram de 78,7% e 63,9% nas regiões do pescoço e da escápula, respectivamente. Independentemente da temperatura de observação, a região do pescoço apresentou maior sudorese. A alta variabilidade dos resultados indica necessidade da adoção de metodologias que apresentem maior confiabilidade e precisão para a medida da sudorese.

McManus et al. (2009) observaram as maiores taxas de sudação em animais Bergamácia (248,60 g.m-2 h-1) e cruzados destes com Santa Inês (240,37 g.m-2 h-1). Valores mais baixos de taxa de sudação foram observados em animais Santa Inês de pelagem marrom, preta e branca (36,25 g.m-2 h-1; 36,10 g.m-2 h-1,e 35,99 g.m-2 h-1, respectivamente).

Como forma de avaliar a homeostase, também pode ser estudado o perfil hematológico com contagem de eritrócito, hematócrito e volume corpuscular médio, além da bioquímica sérica. De Acordo com Pugh (2002), os valores de referência para ovinos são: eritrócitos 9-15 (x106/mm³), volume Globular Médio 28-40 (fl), hematócrito 27-45 (%) e proteínas totais 6-7,9 (g/dl).

Segundo Recee (2006), o hematócrito pode ser diminuído por vários fatores como anemia, hemólise, estado de gestação além de condições de estresse térmico por longa duração, que podem reduzir o número de hemácias, o teor de hemoglobina e a contagem global de leucócitos, em razão de um processo de hemodiluição. De acordo com Schimidt-Nielsen (2002), a função da hemoglobina consiste no transporte de oxigênio dos pulmões para os diferentes tecidos e durante o esforço físico a liberação do oxigênio se processa de forma mais rápida, contribuindo para a elevação na taxa de consumo de oxigênio e, consequentemente, aumento do valor da hemoglobina. Alguns estudos relataram o aumento do hematócrito em animais que sofrem com estresse térmico em razão da elevada solicitação destes pelos mecanismos evaporativos como forma de manter a homeotermia, acarretando, em consequência, grande perda hídrica para o ambiente, ocorrendo hemoconcentração relativa e aumento do número de hemácias (FERREIRA et al., 2009, DELFINO et al., 2012).

Ferreira et al. (2009), estudando os valores para eritrócitos, hemoglobina e hematócrito em bovinos antes (manhã) e após (tarde) o estresse térmico, revelaram os seguintes valores: número de eritrócitos antes e depois do estresse de 8,04 mm3 - 8,64 mm3, respectivamente; teor de hemoglobina igual a 9,00 g/dl (manhã) e 9,34 g/dl (tarde); e hematócrito igual a 27,23% (manhã) e 28,42% (tarde). Os valores após o estresse calórico apresentaram-se mais elevados quando comparados aos de antes do estresse. Morais (2011) avaliou a tolerância ao calor de ovinos Morada Nova utilizando também alguns parâmetros hematológicos. Para os ovinos da raça Morada Nova, os valores de eritrócitos (10,04 x 106/mm3), hematócrito (34,27%) e volume corpuscular médio (34,88fl) encontraram-se dentro da faixa de normalidade para a espécie, o que pode ser justificado pelo fato de os animais não apresentarem necessidade de acionamento dos mecanismos

evaporativos como meio de perder calor, mesmo expostos a condições ambientais severas como elevada radiação.

De acordo com Reece (2006), quanto maior o número de eritrócitos, maior a capacidade de oxigenação dos tecidos pela oxihemoglobina, já que durante a passagem dos eritrócitos pelos capilares pulmonares a hemoglobina combina-se com o oxigênio formando a oxihemoglobina. Sendo assim, o estresse pelo calor de longa duração pode aumentar o número de eritrócitos e o volume globular médio, levando a uma hemoconcentração em função da diminuição da ingestão de água e alimentos.

Nos animais Morada Nova avaliados por Morais (2011), pela sua elevada adaptação ao ambiente, não houve redução dos parâmetros protéicos avaliados como proteína total, albumina e globulina, visto que o ambiente não causou alteração das respostas fisiológicas, com isso, possivelmente, não houve diminuição no consumo de alimento, podendo ser percebido pelos níveis normais do perfil energético, refletindo em manutenção das concentrações protéicas, fato de extrema importância para não prejudicar o desenvolvimento produtivo e reprodutivo normal dos animais.

No documento Ana Luisa Paçó Zootecnista (páginas 43-47)

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