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Parâmetros formais

No documento - SP TAÍSA PERES DE OLIVEIRA (páginas 81-86)

TIPOLOGIAS DAS ORAÇÕES CONDICIONAIS

B: Foi um carro que Maria comprou.

5.3. Parâmetros formais

No que diz respeito à natureza formal das orações condicionais, avaliou-se a ordem em que as orações condicionais ocorrem, considerando, principalmente, o padrão de ordenação dos constituintes, tal como estabelecido na GF. É também de natureza formal a correlação modo-temporal que figura em uma oração condicional.

5.3.1. A ordem nas orações condicionais

35 Un enfoque pragmático de la presuposición, por tanto, resulta más apropiado desde el punto de vista de

la GF, marco teórico de la presente investigación, ya que tiene en cuenta el análisis de un fenómeno lingüístico desde el punto de vista de la comunicación entre individuos.

Em seu estudo sobre a semântica das orações condicionais, Dik (1990) afirma que a oração condicional pode assumir quatro posições em relação à oração principal, considerando o padrão de ordenação dos constituintes, tal como estabelecido na GF: P2, [P1...X], P3

As orações condicionais podem ocorrer antepostas (P1 ou P2) ou pospostas (X ou P3). A diferença entre as posições está no fato de que, quando ocorrem em P2 ou P3, as orações condicionais são separadas da oração núcleo por uma pausa, o que não ocorre com condicionais nas posições P1 ou X. Considerando as quatro posições, tal como representadas no esquema anterior, Dik (1990) fornece os seguintes exemplos: (70a) If John stays Peter will leave (P1)

Se John ficar Peter partirá.

(70b) If John stays, Peter will leave (P2)

Se John ficar, Peter partirá. (70c) Peter will leave if John stays (X)

Peter partirá se John ficar.

(70d) Peter will leave, if John stays (P3)

Peter partirá, se John ficar.

Às quatro posições sugeridas por Dik (1990), Wakker (1992) acrescenta mais uma, Pn, sendo que a variável ‘n’ indica que essa posição pode variar:

P2, [P1 ..., (Pn), .... X], P3

Essa quinta posição é ilustrada com o seguinte exemplo dessa autora: (71) There is, in case it rains, an umbrella in my wardrobe.

Há, no caso de que chova, um guarda-chuva no meu armário.

As posições P1 e X são consideradas, na GF, posições intra-oracionais. Nesses casos a oração condicional vem integrada à oração núcleo, não sendo separada por vírgulas ou pausas entonacionais, como se vê nos exemplos (70a) e (70c). Por outro lado, P2, Pn e P3 são posições extra-oracionais e, por essa razão, a condicional vem

separada da oração principal por uma vírgula ou por uma pausa entonacional, como se pode observar nos exemplos (70b), (70d) e (71).

De uma maneira geral, os trabalhos realizados sobre a oração condicional (COMRIE, 1986; GRYNER, 1995; FERREIRA, 1997; HIRATA, 1999; NEVES, 1999, 2000; NEVES e BRAGA, 1998) consideram as posições anteposta, intercalada e posposta, sem considerar as noções de intra e extra-oracional, tal como especificadas em Dik (1990) e Wakker (1992).

A anteposição, especificada na GF como P2 e P1, é apontada, por todos os teóricos, como a posição cânone para a oração condicional ocorrer. Essa tendência, de acordo com Greenberg (1963), pode ser explicada como sendo um reflexo da ordem natural para causa anteceder conseqüência.

Vários estudos buscaram explicar quais fatores motivariam a ordem das orações condicionais. Assim, hipóteses diversas foram formuladas no sentido de relacionar a ordem das orações condicionais a fatores pragmáticos, como o fluxo de informação e a organização do discurso, e também a aspectos como os tempos e modos verbais usados na construção condicional.

Comrie (1986) sugere que a não-factualidade levaria à anteposição. Essa hipótese foi refutada por Hirata (1999), que, ao analisar as orações condicionais do português, verificou que a maioria das condicionais não factuais36 ocorreram pospostas à oração núcleo. Comrie (1986) afirma ainda que a anteposição da oração condicional pode estar relacionada aos tempos e modos verbais que figuram na construção condicional, propondo que a ordem linear das duas orações reflete sua referência temporal. Segundo esse autor, a referência temporal da prótase é não-posterior à referência temporal da apódose. Para Comrie (1986), outro motivo que explicaria a anteposição é o fato de a ordem linear das orações ser icônica à seqüência de argumentação do discurso. Esse autor relaciona a ordem das condicionais à proposta de Haiman (1978), segundo a qual as condicionais são tópicos das orações em que ocorrem, daí a anteposição.

36 A noção de não factual nesse contexto não é a mesma que se verifica quando aplicamos às condicionais

o parâmetro factualidade. A noção de não-factualidade de Hengeveld (1998), usada neste trabalho, aplica-se à estrutura interna da oração condicional, e não à relação entre a condicional e sua núcleo. Em Comrie (1986) e Hirata (1999), não factualidade diz respeito ao grau de hipoteticidade de uma oração condicional, nesse caso, identificando as condicionais que têm uma menor probabilidade de ocorrência. Em Hengeveld (1998), não-factualidade indica o estatuto irreal do conteúdo descrito pela oração condicional em si, e não a relação entre ela e a oração nuclar.

Em relação à ordem marcada, isto é, à posposição e à intercalação da condicional, Ferreira (1997) investigou uma série de fatores – tais como correferência de sujeito, tempos e modos verbais, explicitude de sujeito, estatuto informacional – que acreditava ser influente na posposição da condicional. Hirata (1999), por outro lado, verificou que a ordem marcada das orações condicionais é determinada pela função de adendo, ou afterthought, nos termos de Chafe (1984), que essas orações desempenham.

Também neste trabalho, assume-se que posição da oração da condicional é determinada pelos tipos de estratégias (retóricas ou pragmáticas) que essa oração assume dentro do contexto discursivo. Essa posição se justifica dentro do modelo teórico elaborado pela GDF, segundo o qual decisões tomadas em um nível mais alto (interpessoal) influenciam decisões em níveis inferiores, como o nível estrutural, no qual questões de ordem são determinadas, seguindo-se, assim, a hierarquia de influência funcional.

Quando a oração condicional tem função de tópico, ela ocorre na posição P1, e quando tem a função de foco, ela ocorre em X. Por outro lado, se a condicional assume a função de orientação, deve ocorrer em P2, e se assume a função de correção deve ocorrer em Pn ou P3. Portanto, para a análise da ordem nas orações condicionais realizada neste trabalho, consideram-se as posições intra-oracionais P1 e X e as posições extra-oracionais P2, Pn, e P3, que se propõe representar da seguinte maneira: conjunção p (então) q: a oração condicional ocorre em P1

conjunção p, (então) q: a oração condicional ocorre em P2

(então) q conjunção p: a oração condicional ocorre em X (então) q, conjunção p: a oração condicional ocorre em P3 q, conjunção p, (então) q: a oração condicional ocorre em Pn

5.3.2. A correlação modo-temporal nas construções condicionais

Segundo Pérez Quintero (2002), as orações adverbiais podem ser formalmente descritas, ainda, no que diz respeitos aos tempos e modos verbais que nelas figuram. Essa afirmação se sustenta no pressuposto de que as orações adverbiais se caracterizariam pela presença de formas verbais específicas (QUIRK et al, 1991).

Assim, por esse parâmetro, pretende-se identificar cada uma das formas verbais que podem ocorrer nas orações condicionais iniciadas por conjunções complexas.

Embora os tempos e modos verbais sejam analisados, nesta tese, como um parâmetro formal, acredita-se, aqui, que a correlação modo-temporal que figura uma construção condicional não está relacionada apenas à sua expressão formal, mas também à sua estrutura semântica, principalmente em relação aos diferentes graus de hipoteticidade que a relação condicional pode assumir, o que já foi discutido. Assim, tempos com referência futura ou de presente, revelam um grau de hipoteticidade maior, enquanto tempos com referência passada indicam menos grau de hipoteticidade.

No estabelecimento dos parâmetros descritos nesta seção, procurou-se conjugar aspectos relevantes para o estudo da oração condicional a uma proposta de descrição dos componentes sintático-semântico-pragmáticos integradamente, tal qual exige a teoria da GDF que fundamenta este estudo. Assim, os parâmetros acima discutidos não serão considerados isoladamente, mas observando-se o modo como eles interagem uns com os outros. Tendo em vista o conjunto de parâmetros aqui apresentados, é que se pretende analisar as orações condicionais iniciadas por conjunções complexas no português do Brasil, o que se faz a seguir, após algumas explicações de natureza metodológica.

6. CARACTERIZAÇÃO DAS CONJUNÇÕES E ORAÇÕES

No documento - SP TAÍSA PERES DE OLIVEIRA (páginas 81-86)