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Para ser comunista Só os que estão armados com a ideologia comunista, os que têm a plena

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convicção da vitória do comunismo, só os que colocam o amor do Partido acima de tudo e não separam sua vida da do Partido podem sair vitoriosos das provas mais difíceis diante de um inimigo desesperado. (Carlos

Marighella)

Para fins de nossa problematização, devemos levar em conta que a memória proposta aqui anteriormente está contida em um conjunto social institucionalizado ou em processo de institucionalização. Por isso, faz-se necessário estabelecermos uma interpelação com a teoria dos partidos políticos, especialmente os partidos comunistas.

Em relação a esta institucionalidade, permitam-nos uma digressão a respeito do tema, pois consideramos de suma importância a construção de um partido proletário, independente da ordem burguesa e comprometido com uma perspectiva de classe. Como escreveu Friedrich Engels a Sorge,

em um país onde o proletariado acaba de se pôr em movimento, o primeiro grande passo a ser dado é sempre o da constituição dos trabalhadores em partido político independente, seja lá como for, desde que se trate de um partido operário, distintos dos demais partidos (1886, Apud MARX, ENGELS, LÊNIN, TROTSKY, 1978, p. 26).

Para o conceito de classe social privilegiamos as análises propostas por E. P. Thompson, que definiu classe social como uma relação, um fenômeno histórico “que unifica uma série de acontecimentos díspares e aparentemente desconectados, tanto na matéria prima da experiência como na consciência. Ressalto que é um fenômeno histórico” (THOMPSON, 1997, p. 09). Classe social ainda pode ser entendida como grupos sociais antagônicos em que um se apropria do trabalho alheio, motivado pelo lugar diferente que ocupam na estrutura econômica de um modo de produção determinado.

No que tange particularmente à experiência, Thompson a definiu assim: “é determinada, em grande medida, pelas relações de produção em que os homens nasceram – ou entraram involuntariamente” (THOMPSON, 1997, p. 10), deliberando assim sua formação e atuação histórica. Observamos, então, que os interesses de classes não podem ser confundidos com os interesses imediatos, já que estes representam as aspirações de um momento específico, têm geralmente por objetivo conseguir maior bem-estar imediato, ou seja, a melhor participação na repartição da riqueza. Ressaltamos que os interesses imediatos não podem ser considerados, no sentido rigoroso, como interesses de classe. Marx, em seu livro “A sagrada família”, definiu como interesse de classe o seguinte princípio:

não se trata do que estabelece, ocasionalmente, como objetivo, este ou aquele proletariado, ou inclusive o proletariado em sua totalidade. Seu

objetivo e sua ação histórica estão manifestos e irrevogavelmente traçados por sua própria situação vital, como por toda a organização da sociedade burguesa atual (MARX, ENGELS, 2003, p. 49).

O interesse estratégico, em longo prazo, são os interesses que aparecem da situação própria de cada classe na estrutura econômica da sociedade. Em suma, o interesse estratégico da classe dominante, em longo prazo, é perpetuar sua dominação; o da classe dominada é destruir o sistema de dominação. Então, o interesse estratégico do proletariado é romper com a dominação exercida pela burguesia, origem de sua condição de explorado, destruindo assim aquilo que é seu fundamento: a propriedade privada dos meios de produção. Nesse caso, para o acontecimento da ruptura da ordem estabelecida, os marxistas defenderam a necessidade da consciência, pois

a consciência de classe é a forma como essas experiências são tratadas em termos culturais: encarnadas em tradições, sistemas de valores, idéias e formas institucionais. Se a experiência aparece como determinada, o mesmo não ocorre com a consciência de classe (THOMPSON, 1997, p. 10).

Entretanto, uma ressalva deve ser feita: não se pode confundir a consciência de classe com a consciência psicológica dos indivíduos que fazem parte de uma determinada classe. A consciência de classe se acha diretamente ligada ao conceito de interesse de classe. O não-determinismo da consciência de classe ocorre, segundo Thompson (1997, p. 10), quando “ela – classe operária – deveria ter (mas raramente tem), se estivesse adequadamente consciente de sua própria posição e interesses reais”.

Esta consciência não se dá apenas no critério econômico, mas também no plano político e ideológico. Mesmo que o proletariado não tenha uma visão tão lúcida quanto a burguesia, a consciência se apresenta num dado objetivo em uma situação objetiva e está representada pela condição que cada classe ocupa na cadeia de produção social. A consciência de classe, e mais especificamente, a consciência do proletariado, exprime-se a partir das vivências de suas lutas históricas, discernindo e conscientizando-se da contradição em que está inserido – não pensando mais abstratamente através de ideologias alienantes (ligadas diretamente com a produção econômica); esta consciência é expressa na luta revolucionária em que os trabalhadores estão inseridos, a superação do adversário histórico, seja a burguesia seja o capitalismo.

A transposição da luta econômica para um estágio de luta política pode ser entendida a partir da afirmação de Marx, descrita no Manifesto do Partido Comunista, que toda luta de classes é uma luta política, afirmando ainda que essa organização do “proletariado em classe, e portanto em partido político, é incessantemente destruída pela

concorrência que existe entre os próprios operários. Mas ela renasce sempre e cada vez mais forte, mais poderosa” (MARX, ENGELS, 1997, p. 75).

Antes de descrever as concepções de partido político formuladas especificamente por Marx e Engels, e posteriormente por Lênin, é necessário expor as teorias construídas em torno deste tema, ressaltando que “os partidos têm um pé na sociedade civil e um pé nas instituições” (BOBBIO, 1997, p. 36), dicotomizando-se entre a espontaneidade e a institucionalidade, como ainda destacou Norberto Bobbio; ou como afirmou Umberto Cerroni, um partido moderno é a junção de máquina e programa.

Maurice Duverger, “situa os partidos comunistas entre os partidos totalitários. Priorizando o papel da ideologia na constituição dos partidos políticos” (1970, Apud PANDOLFI, 1995, p. 44). Em suas análises, Duverger destacou alguns pontos para a análise dos partidos políticos, em especial, os partidos comunistas. Segundo ele, um primeiro aspecto a ser destacado é que a doutrina, por exemplo, “assume um papel fundamental e rígido. Por se apresentar como um sistema completo e coerente de explicação do mundo, as divergências nesse campo não podem ser toleradas” (1970, Apud PANDOLFI, 1995, p. 45). Um outro aspecto levantando pertinentemente por Duverger,

e que permeia o funcionamento de todos os partidos comunistas, é o seu caráter sagrado. O partido é elevado à dignidade de um fim em si mesmo, em vez de repousar no domínio dos meios e das técnicas. Objeto de verdadeiro culto, o partido é considerado todo-poderoso, infalível, protetor, transcendente. A religiosidade não advém somente de sua estrutura – muito próxima à da Igreja – ou do seu totalitarismo. Repousa, também, na natureza verdadeiramente sagrada que ali assumem os laços de solidariedade entre os militantes (1970, Apud PANDOLFI, 1995, p. 45).

Duverger, citado por Pandolfi, concluiu que

diferentemente dos demais agrupamentos partidários cujas origens foram os grupos parlamentares, seguidos dos comitês eleitorais, os partidos comunistas, criados em função dos sindicatos e dos movimentos sociais, teriam ‘uma origem externa’, extraparlamentar. Organizados internamente através de células, dispondo de uma intensa articulação estrutural e fazendo uso do centralismo democrático, teriam um grau muito maior de eficiência organizacional do que os partidos políticos não-comunistas. O controle na execução das decisões seria garantido pela forte centralização, e as permanentes discussões, a despeito da hierarquia, aproximariam a direção das bases partidárias (1970, Apud PANDOLFI, 1995, p. 45).

Em uma máxima, observamos que os princípios que nortearam todos os partidos comunistas foram “fazer ‘a’ revolução” (PANDOLFI, 1995, p. 44). Sua atuação ocorreu em “todas as esferas da vida, pois sua proposta é não apenas mudar o regime ou a forma de governo, mas transformar as relações sociais e fazer vigorar uma nova concepção de mundo” (PANDOLFI, 1995, p. 44). Finalmente, por definir o partido comunista como a “forma

superior de organização do proletariado e cujo objetivo é guiá-lo para atingir o seu inexorável destino, o comunista se considera em permanente missão revolucionária” (PANDOLFI, 1995, p. 43).

Dulce Pandolfi, de forma pertinente, ressaltou um outro ponto fundamental no estudo de qualquer partido comunista, o de

tratá-lo de uma maneira diferente dos partidos políticos não-comunistas. Ou seja, um partido comunista, mesmo quando adota um comportamento qualificado de ‘moderado’ e ‘reformista’, não é um partido como os outros. Mesmo quando legal e integrado ao sistema político-partidário vigente num determinado país, sua ação não se limita ao terreno parlamentar e institucional. Espécie de ‘microssociedade’, um partido comunista, além da atividade política, oferece aos seus militantes uma gama de atividades na área social, cultural, recreativa etc. (PANDOLFI, 1995, p. 44).

A organização de uma classe, em especial do proletariado, em um partido político é estabelecida por vários fatores interligados. Sílvia Regina Pantoja em seu estudo sobre o “Amaralismo” identificou algumas destas características vitais para a construção de um partido político. Historicamente,

a moderna concepção de partido político surgiu na Europa ocidental em fins do século XIX. Dentre as características que singularizam os partidos estruturados a partir deste período, destacam-se: a duração no tempo, que lhes possibilita responder a uma tendência profunda da opinião pública: a extensão no espaço, através de uma organização hierarquizada, a aspiração ao exercício do poder por meio de um projeto global que é apresentado como conveniente à nação em seu conjunto; e o empenho em procurar bases cada vez mais amplas de sustentação, seja enquadrando militantes, seja ganhando voto de eleitores (PANTOJA, 1995, p. 08).

Organizados a partir de um processo de burocratização, os partidos políticos modernos foram ordenados mediante uma hierarquia e disciplinados por regulamentos, que “para cumprir seus objetivos de conquistar o poder ou impedir que outros o tomem”, montam “grandes organizações com ramificações por todo país, adotam programas que são propostos ou impostos à população e recrutam futuras gerações de políticos” (BLONDEL, 1996, p. 560a). Especificamente, nos interessa aqui as posições assumidas e defendidas pelos comunistas, indagando como eles construíram suas teorias em torno deste tema, objetivando sempre a chegada do proletariado ao poder.

Para nossos propósitos metodológicos, os posicionamentos de Marx e Engels em relação aos partidos políticos podem ser observados a partir da publicação do Manifesto

do Partido Comunista, escrito em 1848, atendendo a um pedido da Liga dos Comunistas.

Estes dois autores propuseram a constituição e a efetivação de um partido proletário independente. A construção deste foi determinada em grande parte pela própria história política do movimento proletário europeu, em que este deveria romper a barreira da

espontaneidade e consolidar suas ações por meio de um organismo único, centralizado e disciplinado, capaz de reivindicar não só conquistas econômicas, mas também conquistas políticas. Imaginou-se que, se os trabalhadores obtivessem uma maior inserção na luta política travada com a burguesia através de um partido, o caminho para a revolução estaria aberto.

Marx e Engels afirmaram que os trabalhadores deveriam travar suas lutas de emancipação no terreno da política, enfatizando a importância do partido político como instrumento de promoção da classe em si à classe para si. Para Carlos Nelson Coutinho, o conceito de classe em si à classe para si deve ser entendido como um fenômeno objetivo do proletariado, que age como sujeito coletivo autoconsciente, exposto por Marx em “A sagrada

família” da seguinte maneira:

não se trata do que esse ou aquele proletário, ou mesmo o proletariado em seu conjunto possa conceber, em cada oportunidade concreta, como meta. Trata-se daquilo que o proletariado é e do que está obrigado historicamente a fazer, de acordo com esse seu ser” (MARX, ENGELS, 2003, p. 49).

Esta visão anteriormente citada demonstrou a urgência com que Marx e Engels tratavam o proletariado em seu compromisso revolucionário; a superação de seus adversários não era apenas uma necessidade histórica, mas, também, uma necessidade de sobrevivência. Através de uma concepção ampla e atualizada do que deve ser um partido da classe trabalhadora, Marx e Engels libertaram a Liga dos Comunistas do jacobinismo e implementaram uma renovação às práticas comunistas, defendendo que

os comunistas não constituem um partido especial, separado dos demais partidos operários. […]. Os comunistas distinguem-se dos outros partidos proletários apenas em dois pontos: de um lado, nas diversas lutas nacionais dos proletários, destacam e fazem prevalecer os interesses comuns, independentes da nacionalidade, de todo o proletariado; de outro lado, nas diferentes fases de desenvolvimento por que passa a luta entre os proletariado e burguesia, representam sempre os interesses do movimento em seu conjunto (MARX, ENGELS, 1997, p. 79).

Os posicionamentos defendidos por Marx e Engels em 1848 e, mais precisamente redigidos no Manifesto do Partido Comunista, refletem uma exposição de doutrina clara, organizativa e combativa que os proletários deveriam assumir. O Manifesto do Partido Comunista detém um vigor extraordinário em eleger o proletariado como força motriz da revolução, definindo os objetivos básicos, táticos e estratégicos2 e identificando a

relação íntima entre partido e classe, apresentando não o partido do proletariado, mas o proletariado como partido.

2 Para estratégia, entendemos como o objetivo a ser alcançado. Por tática, entendemos como o caminho, a

Se Marx e Engels defenderam uma concepção de partido como a vanguarda esclarecida do proletariado, a teoria mais acabada de um partido comunista como força propulsora da revolução pode ser encontrada nas obras e ações de Lênin, já que este elaborou a melhor concepção de partido de massas para a tomada do poder pela classe trabalhadora.

Lênin atribuiu ao partido uma grande importância teórica e prática; este partido seria concebido como uma vanguarda centralizada e empenhada em fundir a teoria e a consciência socialista com o movimento proletário espontâneo. Organizado hierarquicamente e com quadros limitados, o partido concebido por Lênin era o mais adequado ao estágio em que o movimento proletário se encontrava na Rússia, bem como a ilegalidade imposta pelo czarismo. Na realidade, segundo Dulce Pandolfi,

o movimento comunista foi o resultado de uma junção feliz entre uma importante idéia política e uma não menos importante força social. Por isso não morreu no nascedouro. Muito pelo contrário. Ameaçando destruir toda uma civilização, o surgimento do movimento comunista marcou o início de uma nova era. O seu maior produto foi a Revolução Russa de 1917 (PANDOLFI, 1995, p. 51).

Expresso por uma estratégia política que demandava o primado do engajamento ativo na prática política, este partido político, como a vanguarda ou direção do proletariado, deveria compor-se de marxistas militantes dedicados à revolução. O partido leninista tinha a tarefa de dar direção à luta revolucionária contra a burguesia, bem como o importante papel de levar às massas a teoria marxista e as experiências revolucionárias. Para a efetivação deste processo, Lênin recomendou a participação dos partidos operários nas eleições e não dos operários nas eleições no interior de partidos da burguesia liberal.

A natureza deste partido estaria baseada no princípio do centralismo democrático, formado por um amplo partido de massa, em que os membros participariam ativamente (eletividade) da formulação política a ser adotada e da escolha da direção. Entretanto, a execução dessa política deveria ser disciplinada (responsabilidade) e a lealdade à direção seria exigida – bem como o afastamento das lideranças. Somente um partido organizado assim seria capaz de dirigir o processo revolucionário sintonizado com o proletariado e com as massas, acompanhando as evoluções de sua aprendizagem e de sua socialização política. Lênin ainda afirmou que

as relações econômicas atrasadas, ou cujo desenvolvimento foi tardio, conduzem constantemente ao aparecimento de partidários do movimento operário que só assimilam certos aspectos do marxismo, certas partes da nova concepção ou certas palavras de ordem e reivindicações, que são incapazes de romper corajosamente com todas as tradições, com as

concepções burguesas, em geral, e com as concepções burguesas democráticas, em particular (LÊNIN, 1979, p. 44).

Sem dúvida,

a grande preocupação teórica de Lênin foi a questão da organização partidária. Para ele, sem o partido, a classe operária permaneceria limitada às lutas sindicais. Ou seja, a consciência política do proletariado só se desenvolveria a partir de um agente externo: o partido revolucionário. Desse modo, o proletariado só surgiria enquanto classe organizada, pela via desse tipo de representação. Por outro lado, a vanguarda, sem o apoio das massas, não cumpriria o papel essencial de dirigente do processo da revolução. Entretanto, Lênin considerava, diferentemente de Marx, que o proletariado não trazia em si a ‘consciência revolucionária’. No texto Que Fazer, afirmava que o partido era formado fora e independentemente da classe operária (PANDOLFI, 1995, p. 59).

As fundações do Partido Comunista do Brasil (PCB) e do Partido Socialista do Peru (PSP) aconteceram em momentos históricos distintos, mas estavam em consonância com o cenário político internacional e com a vaga revolucionária que sacudiu o mundo a partir de 1917. Em relação ao PCB, destacamos que o,

Partido Comunista, Seção Brasileira da Internacional Comunista (PC – SBIC) foi fundado num Congresso realizado nos dias 25,26 e 27 de março de 1922. As duas primeiras sessões tiveram lugar na cidade do Rio, no Sindicato dos Alfaiates e dos Metalúrgicos, e a reunião final foi realizada na residência da família de Astrojildo Pereira, na Rua Visconde do Rio Branco 651, em Niterói (PANDOLFI, 1995, p. 70).

Do evento de fundação participaram apenas nove delegados, representando os agrupamentos comunistas existentes no Distrito Federal, Niterói, São Paulo, Recife, Cruzeiro e Porto Alegre. Os inscritos nos diversos grupos representados no Congresso somavam um total de 73 militantes. Dentre os delegados presentes no I Congresso, oito eram egressos do anarco-sindicalismo e apenas um do movimento socialista. Segundo Pandolfi, “a ligação entre o partido e a classe operária, por exemplo, será um elemento decisivo e permanente no processo de formação da identidade do PCB” (PANDOLFI, 1995, p. 95). Devemos relembrar as palavras de Pandolfi,

as principais referências bibliográficas sobre o período são os escritos do fundador e secretário geral do partido, entre 1922 e 1930, Astrojildo Pereira. O livro Formação do PCB, organizado por ocasião do 40º aniversário do partido, deveria, segundo o autor, ser uma fonte de consulta para a elaboração de uma futura história do PCB. A tarefa lhe havia sido proposta, mas ele considerava difícil enfrentar um desafio dessa natureza (PANDOLFI, 1995, p. 69).

Naquela reunião, ficou estabelecida a seguinte ordem do dia para os trabalhos do Congresso, segundo Astrojildo Pereira, “1) Exame das 21 condições de admissão na Internacional Comunista; 2) Estatutos do Partido Comunista; 3) Eleição da Comissão Central Executiva; 4) Ação pró-flagelados do Volga; 5) Assuntos vários” (PEREIRA, 1979, p. 72).

Em relação ao exame das 21 condições de admissão na Internacional Comunista, Dulce Pandolfi afirmou que,

no momento da fundação do PCB, foram adotadas as 21 condições estabelecidas pela Internacional Comunistas para todos os partidos a ela filiados. Ao que tudo indica, a convocação para o I Congresso foi feita às pressas, para que houvesse tempo hábil de enviar uma delegação para participar em Moscou do IV Congresso da IC, marcado para novembro de 1922. Para aquele pequeno agrupamento, ser membro da Internacional, e desfrutar do prestígio mundial, compensaria a pouca inserção no contexto nacional (PANDOLFI, 1995, p. 71-72).

Todavia, a resposta da Internacional Comunista não foi aquela esperada pelos fundadores do PCB. Para a IC, segundo palavras de Souvarine,

este partido não é ainda um verdadeiro partido comunista. Ele conserva restos da ideologia burguesa, sustentados pela presença da maçonaria e influenciados por preconceitos anarquistas, o que explica a estrutura descentralizada do partido e a confusão reinante sobre a teoria e prática comunistas (1922, Apud PINHEIRO, 1991, p. 56).

Em certa medida, a IC não estava equivocada quanto às origens do PCB; devemos rememorar que “de fato, os grupos comunistas que deram origem ao PCB eram formados, na sua absoluta maioria, por operários ativistas do movimento sindical, oriundos do anarquismo” (PANDOLFI, 1995, p. 81). O próprio Astrojildo reconheceu que os comunistas brasileiros tiveram de enfrentar grandes adversidades, pois

a classe operária brasileira não possuía nenhuma tradição de organização política em partido independente, e os sindicatos operários de tendência revolucionária, em cujo seio nasceu o Partido, eram organizações de orientação anarquista, baseadas numa estrutura ultraliberal, adversas a qualquer forma de direção unitária e centralizada (PEREIRA, 1979, p. 72). Neste sentido, temos de concordar com as palavras de Leandro Konder,

o anarquismo tinha sobre o marxismo a vantagem de valorizar ideologicamente o ímpeto rebelde sem complicá-lo (e até certo ponto atrapalhá-lo) por meio da insistência em referir-se à situação sócio- econômica e às limitações políticas do quadro circunstancial. Essa vantagem

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