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A atividade, a partir dessas abordagens, apresenta-se como uma tentativa de lutar contra a inércia, de lidar com as variabilidades e o acaso e de dar conta da tarefa para a qual foi designado. Ela sempre produz saberes, saberes em geral invisibilizados que, em alguns momentos, são descartados, em outros compõem um patrimônio que passa a dar subsídios aos trabalhadores na realização da atividade, podendo ser produzidos de forma mais abundante, coletivizados ou descartados, dependendo de como o trabalho é organizado e as relações estabelecidas. Garantir a produção e socialização

dos saberes é garantir também a produção de saúde dos trabalhadores.

Em suma, a gestão desse trabalho, como um “problema” humano, está presente onde há variabilidade, história. As ações jamais se efetivam sem um debate em diferentes dimensões. Conceber a atividade humana como “gestora” do trabalho é afirmar que não há passividade absoluta mesmo em situações em que as formas verticalizadas de organização do trabalho acontecem. Trabalhar é sempre, de alguma maneira, resistir à impessoalidade das normas exógenas, produzir novas normas e saberes para lidar com as infidelidades e exigências dos meios de trabalho. Acentuar certa “inoperância” e a “passividade” dos trabalhadores diante das adversidades e a fragilidade do “gênero” tem servido apenas para reduzir nossa capacidade de análise e nos imobilizar diante das transformações históricas. Buscamos, então, dar visibilidade às ações que apontam para uma reinvenção afirmativa do gênero docente nas transformações das condições de trabalho nas escolas, com suas movimentações cotidianas e suas lutas por saúde. Podemos aqui retornar ao início do texto, quando afirmávamos nossa aposta em uma “habilidade” em estabelecer um diálogo ampliado com a história e a vida dos trabalhadores.

Os professores produzem incessantemente saberes, estratégias, ações e métodos para lidar com a organização do trabalho nas escolas, com as surpresas, com os imprevistos, com tudo aquilo que é impossível de antecipar e que se faz tão presente no cotidiano do trabalho na escola. Esses saberes são produzidos pelos trabalhadores para atualizar suas práticas diante do movimento da vida, das transformações do espaço escolar e daqueles que o habitam. O descompasso entre professores e escola, entre a prática docente e o movimento da vida, a tentativa de fazer da escola um espaço atemporal, de vivê- la como um ambiente a-histórico têm gerado sofrimento e adoecimento. A produção de espaços e modos de compartilhar esses saberes e experiências emerge como estratégia para atualização constante dos modos de ser e fazer dos professores num espaço que não para de se transformar,

de composição com as diferentes dimensões dos movimentos da vida, com a história.

Nesse sentido, expressamos os modos como todas essas ferramentas conceituais foram experimentadas, em uma composição ou um arranjo que pretendia, a partir da análise coletiva do trabalho docente, ampliar as possibilidades de ação. Ampliação que significa a produção de saúde no cotidiano da escola. Experiência coletiva que foi, a um só tempo, processo de análise do desenrolar do trabalho e tentativa de compor arranjos e rearranjos concretos de uma organização ética do trabalho docente.

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CAPÍTULO 4

O VÍDEO PRODUZINDO ENCONTROS E