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4 Concepções e práticas dos professores

4.2 Estratégias de ensino-aprendizagem utilizadas pelos professores

4.2.3 Para introduzir um problema

Ao fazer uso de problematização, os professores, necessariamente, rompem com a postura da mera transmissão de informações e se apóiam na aprendizagem por descoberta e aprendizagem significativa (CYRINO; TORALLES-PEREIRA, 2004)

Acho que ninguém ensina ninguém. Você facilita o processo da descoberta da interação, do caminhar junto. Porque quando você caminha junto, a escolha é do aluno: ele vai fazer uma escolha mais teórica, ele vai fazer uma escolha mais vivencial, ele vai fazer uma escolha de articular essa teoria com a prática. Você precisa estar muito presente no sentido de ser o facilitador, mas o presente não significa o inibidor (P6)

É possível perceber no relato dos professores uma preocupação com a utilização de estratégias centradas nas inter-relações, que se apóia na concepção de educação como prática de liberdade desenvolvida por Paulo Freire (1987) e possibilita um aprender junto, dado pela relação dialógica entre professor, aluno e saber.

O uso de práticas de ensino problematizadoras foi um dado comum relatado por todos os professores. Para introduzi-las, utilizam, principalmente o estudo de caso e as narrativas.

As estratégias escolhidas têm em comum o foco em um problema a ser solucionado. O estudo de caso é a mais citada e, segundo os professores, utilizada

sempre ou quase sempre (Anexo G).

O estudo de caso trata-se de uma análise minuciosa e objetiva de uma situação real que necessita ser investigada e é desafiadora para os envolvidos. Já a dramatização é uma representação teatral a partir de um problema, “um jeito particular de estudo de casos”, segundo Anastasiou (2004b).

Em ambos os casos os professores esperam dos alunos uma iniciativa em busca da aquisição e construção do conhecimento. Esse processo configura uma perspectiva pedagógica que favorece uma lógica de auto-aprendizagem.

Eu uso estudo de caso para ver a reflexão sobre a situação real. Em geral eu descrevo, discuto um caso, e peço ou que eles façam alguma coisa ou uma avaliação e a partir daquela simulação do caso, ou que eles me digam qual avaliação utilizaram e por quê. (P3)

Entre os professores há apenas um que introduz o estudo de caso dentro de um modelo mais próximo à Aprendizagem Baseada em Problemas (APB),

Eu uso estudo de caso para fazer os alunos terem uma visão global do individuo. Para eles conseguirem ver todos os aspectos do ser humano. Eu não abordo uma coisa só. [...] O que procuro com o estudo de caso, é uma tentativa individual de trabalhar com aquilo que falei sobre a educação baseada em problemas. (P2)

Este professor segue os passos da ABP, apresentando um caso, por escrito, com dado problema, sendo tarefa dos alunos encontrar a causa do problema e apontar diferentes caminhos para sua solução (CYRINO; TORALLES-PEREIRA, 2004). O professor assume o papel de tutor que deve estimular o aluno a procurar e integrar os conhecimentos.

Eu dou um caso clínico para os alunos e eles trabalham tendo uma questão global, todos os aspectos relacionados aos seres humanos: desde físico, mental, aí no mental entra tanto na ordem emocional quanto percepto- cognitiva, a visão do trabalho, a visão das atividades de vida diária básicas, instrumentais e avançadas, atividades educacionais, religiosas, adaptação de ambientes, uso de tecnologia assistiva, então esta é uma estratégia que deu super certo. (P2)

O estudo de caso pode então partir do professor, utilizado de modo tradicionalTP

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, ou introduzindo o caso com outros elementos, como é o caso da utilização de filmes e de reportagens de jornais e revistas, destacada por alguns professores por acreditarem que esses recursos aproximam mais o caso da realidade.

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Como tradicional nesse caso, referimo-nos ao desenvolvimento do estudo de caso seguindo a dinâmica da atividade sem a introdução de outros elementos como os filmes, por exemplo. Na forma tradicional, o professor expõe o caso a ser estudado (distribui ou lê o problema), o grupo analisa e expõem os pontos estudados, o professor retoma os pontos principais das soluções propostas, o grupo debate as soluções e conclui o caso (ANASTASIOU, 2004b, p. 91)

Eu tenho usado uma coisa que é muito simples, mas que é uma coisa que muita gente usa: os filmes. [...] eles vão lá tiram todas as histórias, os problemas dos filmes. Eu não estou trazendo caso clínico, mas estou trazendo casos que eles já viram em alguma situação. [...]. E é interessante porque antes eu trazia o caso clínico e ficava uma coisa muito reduzida. (P5)

Os casos são formulados a partir de filmes comerciais, ou de artigos e reportagens de revistas. O filme era para ele formular o estudo de caso. Então ele iria ver o filme, este filme seria assistido em grupo, o grupo que ele escolheu, e a partir disso ele ia lidar com determinadas questões. (P6) Dessa maneira é possível ter uma visão integrada e contextualizada de uma realidade, além disso, se o foco não for o caso, e sim a problematização, o estudo de caso permite ter uma visão global do problema envolvendo a dinâmica familiar, a dinâmica de trabalho, entre outros objetivos,

Às vezes eu trago casos, e trabalho a questão do preconceito, tento problematizar para o pessoal refletir a respeito dos parâmetros que tem do homem, da forma como enxerga a sociedade, as questões de saúde, dos valores humanos, Posso falar que é um pouco filosófico o que eu faço, de adentrar a questão ética [...] Eu uso estudos de caso para reflexão (P4) Com este fragmento de fala fica evidente que essas estratégias são ancoradas em metodologias problematizadoras. Nessa estratégia, em especial o professor relata o quanto é possível trabalhar com as questões atitudinais dos alunos.

No estudo de caso são previstas etapas orientadas pelo professor e realizadas com autonomia pelo aluno, incluindo leituras e exercícios e auto-correção (RANGEL, 2005). Nesse sentido, alguns professores utilizam o estudo dirigido para acompanhar o desenvolvimento dos casos.

Eu dou roteiro e eu tenho questões que eles têm que estar respondendo (P1)

Eu uso roteiros para ajudar a organizar os pensamentos, esses roteiros são perguntas, às vezes, um roteiro de conceitos e isso tudo está para provocar realmente (P5)

Os estudos dirigidos foram apontados como usados às vezes ou sempre pelos professores (Anexo G), mas não apareceu com essa mesma freqüência

durante a entrevista. Isso pode estar relacionado com o fato de os professores privilegiarem aquilo que é realizado de modo mais significativo para eles.

O estudo dirigido parece identificar-se mais com o processo de acompanhamento desses alunos, como sinalizador de que ações o professor deve encaminhar: “eu uso estudo dirigido para ter um caminho” (P5), ou “eu uso estudo

dirigido para ampliar o caso” (P6).

O professor, além de apresentar, por meio da proposta de caso, solicita também que os alunos proponham temas a serem problematizados. Consideramos, então, as narrativas aquilo que os alunos trazem, quer pelas dúvidas formuladas em questões, ou utilizando histórias da própria vida ou coletadas através da observação no campo.

Segundo Cunha (1997), trabalhar com narrativas no ensino representa uma possibilidade de desconstrução e construção das próprias experiências tanto do professor como do aluno.

Ao fazer uso de suas histórias familiares, das relações que estabelece com o outro, é necessário ao aluno organizar suas idéias. A narrativa segundo Cunha (Ibid) possibilita que os significados atribuídos aos fatos vividos sejam descobertos pelo aluno que vai, assim, reconstruindo a compreensão que tem de si mesmo. Desse modo, os professores facilitam a aproximação dos alunos à temática do envelhecimento ao contemplar, na apresentação de um problema ou de um caso, a vivência ou a expectativa trazida pelo estudante,

Quando eu fui discutir família eu trouxe modelos de famílias presentes em nossa sociedade e discutimos os papéis desempenhados pelos seus diferentes membros e o papel dos idosos nas famílias. [...] Eu acho assim, a questão do envelhecimento está na mídia, está em todo lugar. Então assim, eles não chegam pra mim sem saber nada sobre o envelhecimento. Inclusive nas práticas eles já vão, eles já chegam com uma noção em geral. (P1)

Também a introdução de assuntos a serem discutidos é realizada pelos alunos ao trazerem suas experiências de convívio com idosos:

- Ah! mais com meu avô a coisa não acontece desse jeito! Pois é, aí você já tem um problema. Então esse confronto da teoria com a prática real, seja na história de vida, seja no paciente, pode ser sempre problematizador (P4) O professor ao solicitar aos alunos que tragam um caso exigirá deles, além do resgate pessoal de suas experiências, um movimento de pesquisa, levantamento de hipótese e a busca de suposições.

Logo, quanto mais o professor possibilita aos estudantes um envolvimento com a realidade que os circunda, tanto mais poderão se sentir desafiados a responder às questões que lhe são postas. Segundo Freire (1996, p. 31), ensinar aprender e pesquisar lida com “dois momentos do ciclo gnosológico: o em que se ensina e se aprende o conhecimento já existente e o que se trabalha com produção do conhecimento ainda não existente”.

Esses dois passos são discutidos de modo mais detalhado nas etapas seguintes.