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Com o fim da paralisação dos policiais militares no Ceará, a quantidade de assassinatos diminuiu, mas não voltou ao patamar anterior Ao mesmo tempo, a

pandemia de coronavírus se alastrou pelos municípios. O estado chegou ao fim

do primeiro semestre com o maior crescimento de homicídios e a maior taxa de

mortalidade por covid-19 no Brasil.

MAL TERMINOU a paralisação de policiais militares no Ceará, o governo estadual precisou administrar mais uma grave crise: o elevado número de óbitos em decorrência da infecção pelo novo coronavírus. O estado que apresentou o maior crescimento da violência letal no Brasil nos primeiros seis meses de 2020 entrou no segundo semestre com a maior taxa de mortalidade por covid-19 do país.

Até o dia 13 de julho, o Ceará já havia registrado 6.947 mortes por covid-19, uma taxa de 761 óbitos por um milhão de habitantes que fazia com que o estado ficasse no topo da mortalidade entre as 27 unidades da federação. São Paulo, com uma população cinco vezes maior, tinha 2,5 vezes mais mortes, a maior quantidade do país: 17.907 óbitos. Mas com uma taxa de letalidade quase duas vezes menor, de 390 mortes por um milhão de habitantes, o estado ocupava o 12º lugar no ranking. Uma semana depois, a taxa de mortalidade no Ceará em consequência da infecção pelo novo coronavírus já havia aumentado para 787 óbitos por um milhão de habitantes. O estado é uma das oito unidades federativas em que a taxa de mortes superava os índices de países onde a covid-19 havia se mostrado mais letal. Além do Ceará, estavam nesse grupo os estados do Amazonas, do Rio de Janeiro, de Roraima, do Pará, do Pernambuco, do Amapá e do Espírito Santo. E o Brasil já era o segundo país com o maior número de infectados e mortos, atrás apenas dos Estados Unidos.

O Brasil encerrou o primeiro semestre com 1.408.485 de casos confirmados da doença e 59.656 óbitos. Em decorrência da pandemia, o país tinha uma pessoa morta em cada quatro em todo o planeta, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). A proporção

era a mesma em relação ao número de infectados: um brasileiro com diagnóstico positivo em cada quatro casos no mundo.

Um monitoramento realizado pela Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, apontava que o planeta já tinha mais de dez milhões de infectados pelo novo coronavírus, com cerca de 500 mil óbitos. O Brasil respondia por 11% das mortes totais, embora o primeiro óbito associado à covid-19 tenha sido confirmado em 17 de março, meses depois de a pandemia já ter se espalhado por outros países.

O primeiro caso da doença no Brasil foi confirmado no dia 26 de fevereiro, em São Paulo. O registro era de um homem de 61 anos, residente na capital paulista, que havia permanecido 12 dias em viagem à Itália naquele mês. A primeira morte no país causada pela infecção do novo coronavírus aconteceu duas semanas depois, em 12 de março, também em São Paulo. A vítima era uma mulher de 57 anos, moradora da zona leste da cidade.

No Ceará, os três primeiros casos de covid-19 foram confirmados no dia 15 de março, em Fortaleza. O primeiro óbito aconteceu no dia 26 de março, também na capital cearense, quando o estado já era o primeiro do Nordeste a registrar mais casos da doença. Mas o novo vírus já circulava no Ceará em janeiro, sem ter sido detectado, conforme apontou em maio a Secretaria da Saúde do Ceará. A constatação, segundo o órgão, se deu a partir do acesso a dados retroativos, sobretudo de casos aten- didos pela rede privada de saúde.

A avaliação das informações concluiu que, nos dois primeiros meses do ano, 166 pessoas infectadas pelo novo coronavírus já haviam passado por serviços de saúde em pelo menos 11 cidades do Ceará – em 52

DAVI PINHEIRO Praça do Ferreira: pandemia de covid-19

deixou sem circulação de pessoas um dos locais mais movimentados de Fortaleza

casos, não havia informação sobre o local de residên- cia. A análise posterior identificou casos em janeiro em Fortaleza, Caucaia, Eusébio, Itaitinga, Horizonte e Sobral. O número de municípios aumentou em fevereiro, com casos confirmados também em Itapipoca, Maracanaú, Pacajus, Quixadá e Sobral.

Rapidamente, o número de casos cresceu e a doença se expandiu pelo estado. No dia 25 de junho, a cidade de Granjeiro teve o primeiro diagnóstico positivo da doença, completando a lista dos 184 municípios cearenses com registros de covid-19. Ao fim do primeiro semestre, o Ceará ultrapassava 110 mil casos, com mais de seis mil óbitos. Até as 15h02min do dia 30 de junho, o IntegraSUS, plataforma utilizada pela Secretaria da Saúde do Estado, computava exatamente 110.483 diagnósticos positivos, entre eles 6.146 de pessoas que não resistiram às compli- cações causadas pela infecção do novo coronavírus.

Desde os primeiros registros da doença, o Ceará ganhou visibilidade nacional pela velocidade com que a doença cresceu e pelo número de mortes em decorrência da infecção pelo novo vírus no estado. Ao mesmo tempo, outro grave problema de saúde pública, mas também de segurança, eliminava mais vidas: a violência. Os homicí- dios, no entanto, não despertam a mesma comoção que os óbitos por causas tipificadas como naturais, a exemplo dos quadros letais em consequência de enfermidades.

Com o fim da paralisação dos policiais militares cearen- ses, em 1º de março, após 13 dias de mobilização dos agentes de segurança e um crescimento acentuado da criminalidade e da violência, a quantidade de assassinatos diminuiu no estado, mas não voltou ao patamar anterior. Em março, foram registrados 359 casos, e em abril, mais 438 crimes fatais, situação bem diferente do mês de janeiro, quando houve pelo menos 265 assassinatos no estado. Fevereiro foi o mês com maior número de casos, 20,45%, seguido por abril, com 19,56%, praticamente iguais, embora o Ceará já estivesse sob a vigência de decretos de isolamento social desde 19 de março, como estratégia para conter o avanço da pandemia do novo coronavírus.

É preciso também conter a epidemia de violência que tem colocado o Ceará no topo de crescimento dos homi- cídios no Brasil. Como observou o Comitê de Prevenção à Violência, da Assembleia Legislativa, em nota pública divulgada à época, nossa compaixão não deve ser seletiva. Manifestamos total solidariedade aos familiares e amigos das vítimas do novo coronavírus e também às pessoas afetadas pela violência em nosso estado. O nosso esforço pela preservação de vidas também não deve ser seletivo. Cobramos do poder público a implementação do conjunto de recomendações para prevenção de homicídios apresen- tadas em 2016 e endossadas ao longo dos anos seguintes. Cada vida importa, sempre, em qualquer contexto.

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