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Do conjunto de 59 ações reunidas em 12 campos de recomendações, elaboradas pelo Comitê de Prevenção à Violência, 39 são de iniciativa própria dos governos municipais

ou podem ser replicadas pelas prefeituras, mesmo tendo sido destinadas ao governo

estadual ou a instâncias outras.

O COMITÊ DE PREVENÇÃO e Combate à Violência,

da Assembleia Legislativa, reafirma a necessidade de políticas focadas na prevenção da criminalidade e dos homicídios. As recomendações aos gestores públicos apresentadas ao fim de 2016, primeiro ano de atividades do comitê, reúne um conjunto de ações que demandam pequeno ou nenhum aporte extra de recursos. A execução das propostas depende menos de orçamento e mais de vontade política e planejamento para qualificar projetos e programas já existentes.

Com 59 ações distribuídas por 12 campos de intervenção, as recomendações estão baseadas em evidências de vulnerabilidade à violência letal, após pesquisa com as famílias de adolescentes assassinados em 2015. Das 12 recomendações, dez estão diretamente relacionadas às competências também dos governos municipais: apoio e proteção às famílias vítimas de violência, ampliação da rede de programas e projetos sociais a adolescente vulnerável, qualificação urbana dos territórios vulneráveis, busca ativa para inclusão de adolescentes no sistema escolar, prevenção à expe- rimentação precoce de drogas, mediação de conflitos e proteção a ameaçados, atendimento integral no sistema de medidas socioeducativas e oportunidades de trabalho com renda, controle de armas de fogo e munições e mídia sem violações de direitos.

Apenas em duas recomendações não constam ações destinada às prefeituras. Uma trata da formação de policiais na abordagem ao adolescente, o que compete ao governo estadual. Outra abarca a responsabilização dos autores de homicídios, que envolve o sistema de segurança pública e justiça.

Das 59 propostas contidas nos 12 campos de reco- mendação, 39 são aplicáveis pelos gestores munici- pais, o que representa 66,1% do conjunto de ações, embora nem todas citem textualmente as prefeituras e os respectivos órgãos municipais. A recomendação de “apoio e proteção às famílias vítimas de violência”, dirigida à Secretaria da Justiça e à Defensoria Pública do Ceará, por exemplo, não é uma atribuição exclusiva das duas instâncias. Basta sensibilidade e empenho para “garantir atendimento jurídico e psicossocial às famílias de adolescentes assassinados, por meio dos progra- mas de atendimento a vítimas de violência e núcleos especializados em infância e adolescência, de forma descentralizada nos territórios”, como está redigida a recomendação feita pelo comitê do Legislativo estadual.

Ilustração de Rafael Limaverde usada no primeiro relatório Cada Vida Importa sinalizou o cenário para aplicação das recomendações de prevenção à violência

Da mesma forma, as ações que fazem parte da reco- mendação de “prevenção à experimentação precoce de drogas e apoio às famílias” não precisam necessaria- mente ser executadas apenas pela Secretaria Especial de Políticas sobre Drogas ou pela Secretaria da Saúde do Estado, órgãos para os quais elas foram indicadas. “Estimular o financiamento de serviços comunitários que adotem metodologias pautadas na abordagem da redução de danos”, “desenvolver um trabalho de orien- tação para os profissionais da rede socioassistencial e educacional para atuar junto às famílias de adolescentes sobre os efeitos do uso abusivo de drogas” e “ampliar a rede pública de atendimento especializado para adoles- centes usuários de substâncias psicoativas” devem ser iniciativas também dos órgãos municipais.

Outra recomendação fundamental para ser implemen- tada pelas administrações municipais trata da “mediação de conflitos e proteção a ameaçados”. As ações previstas para o governo estadual devem ser compartilhadas pelos gestores dos municípios ou reproduzidas por eles. Se a ação proposta é “mapear a dinâmica dos conflitos entre gangues nos diversos territórios das cidades cearenses”, isso não impede que as prefeituras tomem a iniciativa de fazer um mapeamento próprio.

Ao governo estadual ainda é recomendado “investir em ações, mediação de conflitos e práticas restaurativas para gestão de conflitos nas escolas e comunidades” e “formar equipes e desenvolver métodos eficazes nos territórios mais violentos”, mas o município também pode assumir essa responsabilidade. Igualmente, quando se recomenda “desenvolver um programa de atendimento especializado em que arte-educadores e educadores sociais realizem ofici- nas artísticas, culturais e esportivas com adolescentes, de forma capilarizada, que favoreçam a construção de projetos de vida distintos do envolvimento direto com a crimina- lidade, em territórios mais vulneráveis aos homicídios”.

Ainda nesse campo de “mediação de conflitos e prote- ção a ameaçados”, o comitê recomenda aos conselhos tutelares “realizar busca ativa aos adolescentes amea- çados de morte, para o devido encaminhamento à rede de proteção (acolhimentos institucionais e programa de proteção a crianças e adolescentes ameaçados de morte)”. O conselho tutelar é um órgão autônomo, mas criado por lei municipal e mantido pelo poder público municipal.

Mais uma ação destinada ao governo estadual, que não impede os próprios municípios de tomarem iniciativa: “ampliar, em debate com os Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, outras estratégias de proteção para adolescentes ameaçados de morte, junto à Secretaria da Justiça, Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social e Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social, fortalecendo um Sistema Estadual de Proteção a Pessoas”. A recomendação para “atendimento integral no sistema de medidas socioeducativas”, ao Governo do Ceará, à Superintendência do Sistema Socioeducativo e ao Tribunal de Justiça, também pode ser implementada pelos governos municipais: “criar Núcleos de Atendimento Integral (NAI) para o acompanhamento das medidas socioeducativas nas cidades que abrigarem unidades para o cumprimento de e medidas provisórias”. A tais núcleos, o comitê recomendou “promover a adoção de princípios de justiça restaurativa em todo o processo socioeducativo”, ou seja, uma ação também passível de aplicação pela gestão municipal.

E, por fim, mais uma ação para o fortalecimento do sistema socioeducativo, recomendada aos Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, que tem os governos municipais como indispensáveis: “criar e implementar os planos municipais de atendimento socioeducativo”. É de responsabilidade do Executivo municipal e do respectivo conselho instalar o processo de elaboração do referido plano.

APOIO E PROTEÇÃO ÀS FAMÍLIAS