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A infecção por enteroparasitos pode ocorrer em qualquer idade, porém vários relatos da literatura demonstram uma elevada frequência entre a população infantil, sobretudo em ambientes de maior coletividade, principalmente entre escolares (CHIEFFI et al., 1982; PEDRAZZANI et al., 1988; MOURA et al., 1997; MELO et al., 2014; BIOLCHI et al. 2015) ou aquelas assistidas por creches (GURGEL et al., 2005;

KOMAGOME et al., 2007; UCHÔA et al., 2009; GONÇALVES et al., 2011; COSTA et al. 2015).

As crianças estão mais expostas à infecção em função de hábitos higiênicos precários, seja por desconhecimento ou não consolidação. Outro elemento que favorece a aquisição desses parasitos seria uma maior exposição a fatores de risco, propiciada pela interação com o ambiente, já contaminado por cistos, ovos ou larvas (RODRIGUES et al., 2013).

O aumento dos casos de infecções em crianças institucionalizadas tem sido associado a fatores como a aglomeração e contato muito próximo com outras pessoas, hábitos que facilitam a disseminação de infecções como levar as mãos e objetos à boca, incontinência fecal e falta de higiene das mãos (SEIXAS et al., 2011; PEDRAZA et al., 2014).

Gurgel et al. (2005) avaliaram creches de Aracaju, SE, com objetivo de identificar se esse espaço seria um ambiente protetor ou propiciador para parasitoses intestinais por meio de exame coproparasitológico de 468 crianças de creche e grupo controle. Os autores detectaram maior positividade em crianças frequentadoras de creche (63%), tanto para helmintos quanto para protozoários, em comparação às crianças que não frequentavam creche (41,1%), fato justificado pela aglomeração de crianças.

Estudando crianças assistidas em creche de Itambé, PR, Komagome et al. (2007) verificaram frequência para parasitos intestinais de 37%, sendo as menores de dois anos as mais acometidas.

Uchôa et al. (2009) estudaram amostras fecais de 372 crianças e 57 funcionários de oito creches comunitárias do município de Niterói, RJ. Os autores obtiveram adesão média de participação de 62,9% (372/591) entre as crianças e de 46,7% (57/122) entre os funcionários, sendo a positividade para enteroparasitos em 51,6% das crianças. As espécies parasitárias mais frequentes foram Giardia duodenalis em 123 amostras, Entamoeba coli em 32, Ascaris lumbricoides em 33 e Trichuris trichiura em 21, sendo o monoparasitismo observado em 144 (75%).

Esses resultados demonstraram elevada prevalência do parasitismo intestinal nas crianças de creche no município de Niterói e indicaram a necessidade de melhoria das condições de saneamento nas comunidades, bem como a implantação de programas e projetos de fomento à educação em saúde continuada (UCHÔA et al., 2009).

Costa et al. (2015), em seu estudo com crianças de pré-escolas de Xanxerê, SC, analisaram material fecal de 99 delas. Destas, 34 (34,4%) foram negativas para formas evolutivas de parasitos, enquanto que 65 (65,6%) apresentaram positividade. Entre os parasitos mais encontrados, destacaram-se, segundo os autores, Ascaris lumbricoides, presente em 32 amostras, ancilostomídeos, em 23, Entamoeba coli, em 17 e Endolimax nana, em 15 amostras.

Por outro lado, segundo alguns autores, as parasitoses intestinais ocorrem com maior frequência na faixa de 5 a 12 anos (CHIEFFI et al., 1982; PEDRAZZANI et al., 1988; NGRENNGARMLERT et al., 2007; CARVALHO & GOMES, 2011).

Ngrenngarmlert et al. (2007) estudaram a prevalência de parasitoses intestinais em oito escolas localizadas na Província de Nakhon Prathom, Tailândia. Foram coletadas 1920 amostras fecais, as quais 242 (12,6%) foram positivas para formas evolutivas de parasitos. Os autores apontaram que a baixa prevalência pode ser explicada pela urbanização, investimentos públicos em saneamento básico, investimentos em condições de vida e acessibilidade a serviços de saúde.

Östan et al. (2007) coletaram amostras fecais de 294 estudantes de duas Escolas Primárias Privadas localizadas no Distrito de Manisa, Turquia. Desses, 91 (31%) estavam infectados com pelo menos uma espécie de parasito intestinal. Segundo os autores, Giardia duodenalis foi o parasito mais observado, porém, Blastocystis hominis também foi prevalente independentemente das condições sanitárias. Os autores afirmaram que infecções por parasitos intestinais em escolares representam um problema de Saúde Coletiva que aumenta conforme a diminuição das condições socioeconômicas.

Já no Brasil, estima-se que 55,3% das crianças apresentem infecção por enteroparasitos. A enteroparasitose na infância assume grande relevância não só pela morbidade, mas também pela associação frequente com diarreia crônica e desnutrição, condições que podem ocasionar déficit físico e cognitivo e até mesmo óbito (PEDRAZA et al., 2014).

Moura et al. (1997) analisaram amostras de fezes de 146 crianças do 2º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública de Campinas, SP, e obtiveram percentual de positividade de 30,8%, evidenciando Ascaris lumbricoides e Giardia duodenalis.

Um estudo sobre parasitoses intestinais em 18.973 escolares de 7 a 14 anos, realizado em algumas regiões de Minas Gerais, incluindo o Triângulo Mineiro, Alto

Paranaíba, Noroeste de Minas e Sul/Sudoeste, demonstrou que em 82% dos escolares, o exame parasitológico de fezes foi negativo. Entre os positivos, 15% dos estudantes estavam monoparasitados e 3% poliparasitados. A prevalência para Ascaris lumbricoides foi de 10,3%, Trichuris trichiura 4,7%, ancilostomídeos 2,9%, Enterobius vermicularis 1,2%, Hymenolepis nana 0,4% e Taenia sp. de 0,2% (CARVALHO et al. 2002).

Em um levantamento realizado com escolares de 6 a 14 anos de uma escola pública do município de Araguaína, TO, Pereira-Cardoso et al. (2010) observaram positividade de 55,3%, nas 76 amostras fecais analisadas, destacando Entamoeba coli (28,9%), Endolimax nana (18,4%), Giardia duodenalis (11,8%) e Ascaris lumbricoides (9,2%) como os parasitos mais frequentes.

Em Teresina, PI, Carvalho e Gomes (2011) investigaram a prevalência de enteroparasitoses em amostras fecais de 40 crianças de 6 a 12 anos de uma escola pública. Das amostras analisadas, 67,5% foram positivas para enteroparasitoses, sendo os parasitos mais encontrados Endolimax nana (54%), Entamoeba coli (22%), Giardia duodenalis (16%), Hymenolepis nana (2,7%), Ascaris lumbricoides (2,7%) e Enterobius vermicularis (2,7%). Segundo os autores, para que se minimize o número de indivíduos infectados, é necessária a aplicação de medidas de controle, capazes de neutralizar os mecanismos de transmissão.

Gelatti et al. (2013) coletaram 201 amostras de fezes de escolares da rede pública estadual de Uruaçu, GO. O estudo observou que 34,3% apresentaram resultado positivo ao exame parasitológico de fezes para parasitos patogênicos e não patogênicos. Entre os protozoários, o mais frequente foi Giardia duodenalis (15,9%), seguido pelos parasitos não patogênicos Endolimax nana (15,4%) e Entamoeba coli (14,4%). O helminto Enterobius vermiculares foi detectado em 0,5% das amostras avaliadas.

Biolchi et al. (2015), em seu estudo com escolares de áreas rurais e urbanas do município de Campos Novos, SC, coletaram 109 amostras. Dessas, 24 (58,5%) amostras de estudantes da zona rural e 21 (30,9%) de área urbana, apresentaram parasitos, indicando uma elevada prevalência de parasitos na área rural. Dentre os parasitos identificados, ancilostomídeos (35%) e Ascaris lumbricoides (28,3%) foram os mais frequentes, seguidos de Entamoeba coli (25%), Giardia lamblia (5%), Balantidium coli (1,6%), Iodamoeda sp. (1,6%), Isospora belli (1,6%) e Trichuris

trichiura(1,6%). Foi também identificado um caso de poliparasitismo (ancilostomídeo e A. lumbricoides) em um estudante da zona rural, segundo os autores.

Cavagnolli et al. (2015) estudaram a prevalência de parasitoses e o perfil socioeconômico da população escolar de Flores da Cunha, RS. Foram coletadas amostras fecais de 341 alunos das quais 10,0% foram positivas, sendo observada a presença de cistos de Endolimax nana (55,9%), Entamoeba coli (26,5%), Iodamoeba butschlii (5,9%), Giardia lamblia (2,9%B) e ovos de Ascaris lumbricoides (2,9%), além de indivíduos (5,9%) com poliparasitismo (Entamoeba coli e Endolimax nana).

Ao observar os inquéritos parasitológicos em crianças de várias regiões do Brasil, é possível perceber que a prevalência dessas infecções apresenta grandes variações de um local para outro, divergindo, também, em relação à idade (MOURA et al., 1997; CARVALHO et al., 2002; GURGEL et al., 2005; PEREIRA-CARDOSO et al., 2010; GELATTI et al., 2013, CAVAGNOLLI et al. 2015).

Além da coleta do material fecal, o exame do resíduo que se deposita sob as unhas, também é importante para assinalar a presença de formas evolutivas de parasitos (CAMPOS, 1974).

Campos (1974) afirmou que as crianças, devido aos hábitos higiênicos não consolidados característicos da idade, podem carregar, nos resíduos que se formam sob as unhas, uma ampla variedade de parasitos intestinais, disseminando helmintos e protozoários por meio de mãos contaminadas.

Bezerra et al. (2013) coletaram material subungueal de 47 crianças de uma creche de Fortaleza, CE. A positividade encontrada foi de 34%, sendo observados os protozoários Entamoeba coli, Entamoeba histolytica e Giardia duodenalis, além dos helmintos Hymenolepis nana e Trichuris trichiura. Os autores assinalaram que a elevada frequência desses parasitos, cuja transmissão também ocorre por meio de mãos contaminadas, é um indicativo das condições socioeconômicas das famílias que utilizam os serviços da creche.

Segundo Pedraza et al. (2014), não existe uma técnica capaz de diagnosticar, simultaneamente, todas as formas parasitárias. Algumas técnicas são mais sensíveis, permitindo o diagnóstico de várias espécies de parasitos intestinais, enquanto outras são específicas, indicadas para uma espécie de parasito em especial. Devido a esse fato, estudos sobre prevalência de enteroparasitoses devem priorizar a utilização simultânea de técnicas com diferentes fundamentos, com o objetivo de aumentar a acurácia diagnóstica e, consequentemente, diminuir os

resultados falso-negativos (MELLO et al., 2000; CARVALHO et al., 2002; MENDES et al., 2005).

Para Seixas et al. (2011), o levantamento coproparasitológico dos escolares ainda é um procedimento de suma importância para o fornecimento de informações epidemiológicas necessárias para promover medidas de intervenção. Porém, a adesão, segundo alguns autores, pode ser um fator que dificulta tais levantamentos coproparasitológicos (UCHÔA et al., 2009; NUNES, 2012; SANTOS et al., 2014).

Barbosa et al. (2009), em estudo realizado com moradores de um bairro da periferia do município de Crato, CE, relataram que 47% (21/45) dos participantes devolveram o recipiente com material fecal. Santos et al. (2014), estudando 240 escolares da cidade de Juazeiro, BA, afirmaram que 50 (20,8%) participantes se submeteram a realização do exame de fezes. Segundo esses autores, essa baixa adesão ao diagnóstico pode ser explicada porque os estudantes têm vergonha de levar suas amostras fecais para a escola.

A escola pública é um elemento aglutinador da população carente e torna-se importante reforçar o papel do setor saúde na prevenção de parasitoses intestinais, no sentido de ampliar a informação sanitária, sempre na busca do melhor estado de saúde e qualidade de vida. Nesse caso, também devem ser repassadas informações sobre o parasitismo intestinal, bem como de outras doenças com mecanismo de transmissão similar (MOURA et al., 1997; UCHÔA et al., 2009) propiciando o “empowerment” da comunidade (BARBOSA et al, 2009).

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