• Nenhum resultado encontrado

1. Agricultura de Baixa Emissão de Carbono: a construção de um paradigma

4.3 Parcerias com o setor privado

A consolidação de parcerias público-privadas é fundamental para potencializar as ações do plano e replicá-las nas esferas estadual e municipal. É possível torná-las mais eficientes por meio da divulgação e/ou da adoção de práticas sustentáveis, com papel fundamental na disseminação do ABC, mas, principalmente, identificando os principais parceiros que devem atuar em cada município. É preciso classificar estes

65 municípios por categorias que indiquem onde será necessário maior ou menor esforço de formação e multiplicação em função da existência de Emater/Ater, cooperativas, sindicatos, empresas privadas, ONGs, universidades, Oepas, Embrapa. Com essa definição de categorias, é possível melhorar o foco nas regiões para concentrar o esforço de treinamento e multiplicação.

Para cada ação do Plano ABC, é possível identificar a presença do setor privado, seja no fornecimento de insumos, seja participando diretamente da difusão de tecnologia.

Nas ações referentes à recuperação de pastagens e integração lavoura-pecuária, existem diversas associações e empresas que podem garantir amplamente o mercado de sementes para recuperação. Destacam-se, nesse mercado, a UNIPASTO, composta por uma associação de empresas e produtores de sementes de forrageiras, atuando em quase todo o território nacional, totalizando trinta associados, com alta capacidade de transferência de tecnologia.

Na mesma direção, existem, registradas no Registro Nacional de Sementes e Mudas (RENASEM) do MAPA, empresas produtoras de sementes de forrageiras, com principal foco em Brachiaria e Panicum. Atuam em todo o Brasil e asseguram a demanda necessária de sementes para a ação referente à recuperação de pastagens e integração lavoura-pecuária. A Figura 4.05 ilustra a distribuição espacial das empresas registradas no RENASEM e das associadas da UNIPASTO. Fica evidente a forte concentração do mercado de sementes de forrageiras nas regiões Centro-Oeste e Sudeste. Nestas regiões, o esforço para implantação das ações de recuperação de pastagens e de ILP e ILPF deverão, necessariamente, contar com o apoio das empresas privadas e com a estrutura já existente. Nas outras regiões, principalmente na Amazônia, é preciso verificar se essas empresas podem atender as demandas que irão surgir em razão do crescimento das ações do Plano ABC. É evidente a carência de base comercial para crescimento do ABC, no que diz respeito à recuperação de pastagens, tanto na Amazônia, quanto na região Nordeste.

66

Figura 4.05 Distribuição espacial dos produtores de sementes de forrageiras no Brasil, registrados no RENASEM-MAPA e associados da UNIPASTO.

Na ação referente ao plantio direto, os agricultores que aderiram ao sistema criaram a Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha, contando, hoje, com setenta e três associadas (Anexo 4), entre elas empresas de extensão rural, universidades, clube dos amigos da terra, empresas privadas, ONGs com vasto conhecimento em plantio direto na palha. A federação e seus associados são, sem dúvida, os principais atores para colaborar na implantação da ação do plano referente ao plantio direto.

Na ação referente à fixação biológica de nitrogênio, a Associação Nacional de Produtores e Importadores de Inoculantes (ANPII) conta, hoje, com oito associadas, que têm uma rede de distribuição que segue o mapa da produção da soja. Como se pode observar na Tabela 4.01, esses seriam os principais atores dessa ação do Plano ABC.

Tabela 4.01. Relação das principais empresas produtoras e importadoras de inoculantes no Brasil.

67

Empresas Localização

BASF Agrícola São Paulo-SP, Guaratinguetá-SP, Santo Antônio de Posse-SP, Ponta Grossa-PR BioAgro Santa Maria-RS

BioSoja São Joaquim da Barra-SP MicroQuímica Campinas-SP Novozymes Araucária-PR Rizobacter do Brasil Londrina-PR Stoller do Brasil Cosmópolis-SP Total Biotecnologia Curitiba-PR

Fonte: ANPII

O conhecimento mais profundo do mercado de inoculantes poderá ter um papel fundamental no monitoramento dessa ação. Só será possível estabelecer as bases do monitoramento da FBN com a participação do setor privado. No Brasil, cerca de 95% do mercado de inoculantes estão destinados à cultura da soja. No caso do feijão-caupi, há inoculantes disponíveis no mercado, sendo necessário disseminar seu uso entre os produtores, em especial na região Nordeste. Para outras culturas, o uso de FBN está em fase de desenvolvimento tecnológico e de mercado. Há potencial, assim, para desenvolver e/ou adaptar novos inoculantes, abrindo novas perspectivas de mercado e antecipando demandas reprimidas no setor produtivo e empresarial para cana-de-açúcar, milho, arroz, trigo, sorgo, feijão comum, amendoim e forrageiras, que, conforme dados do IBGE (Censo Agropecuário, 2006), representam cerca de 50% da área plantada no País.

Na ação referente ao reflorestamento, é preciso buscar maior parceria com o setor privado, para melhorar a efetivação do programa. Praticamente, não houve crescimento na área plantada com florestas no ano de 2011. Segundo a ABRAF,

As principais razões para a estagnação do crescimento da área de plantios

florestais em 2011 foram:

As restrições impostas pelo governo brasileiro para a compra de terras por

grupos nacionais que possuam composição majoritária de capital estrangeiro;

a reduzida atividade econômica nos países da União Europeia e nos Estados

Unidos, países importadores de produtos florestais ou da cadeia de base florestal plantada;

68

a redução da competitividade no mercado internacional dos produtos da

cadeia produtiva brasileira de base florestal; e

a excessiva burocratização e os longos prazos requeridos pelos órgãos

ambientais nos processos de licenciamento ambiental de novos projetos florestais e industriais no país”.

Ademais, outro fator que diminuiu o nível de atratividade para investimentos em florestas plantadas foi a limitação imposta pela infraestrutura deficiente do País, em vias de acesso, rodovias, ferrovias e portos, o que acarreta custos adicionais ao transporte da madeira para as fábricas e para o escoamento dos produtos.

Mesmo assim, os programas PROPFLORA (Programa de Plantio Comercial e Recuperação de Florestas) e o PRODUSA12 (Programa de Estímulo a Produção Agropecuária Sustentável) foram incorporados e consolidados no Programa ABC.

Na ação referente à utilização de dejetos animais, o principal ator do setor privado é o fabricante de biodigestores. O Brasil não possui uma rede razoável de fabricantes que possa atender todo o País. Há poucas empresas, e elas estão concentradas nas regiões Sul e Sudeste (Figura 4.06). Seria interessante incentivar o crescimento do setor. Não será uma tarefa simples atingir as metas dessa ação com a rede de fabricantes que existe hoje. A relação completa dos fabricantes de biodigestores está no Anexo 5.

12

O PRODUSA foi um programa criado em 2009 e tinha como objetivo a recuperação de áreas degradas a partir de práticas agrossilviculturais. Nas suas linhas de financiamento, havia ILPF e reflorestamento que estão no Programa ABC. Os juros eram maiores. Em 2010, ele foi incorporado ao Programa ABC.

69

70

5 Sugestões para o monitoramento do Plano ABC

Para a efetivação do monitoramento das ações do Plano ABC, algumas premissas devem ser estabelecidas:

• É necessário ter a referência geográfica do projeto financiado (latitude e longitude), porque, de acordo com a localização do empreendimento, a taxa de acúmulo de carbono apresentará fortes diferenças por bioma e, em segundo lugar, essa é a maneira de verificar se a expansão do programa está compatível com as regiões identificadas como prioritárias.

• É necessário ter a análise química do solo no qual está implantado o

empreendimento financiado. O aumento da matéria seca e,

consequentemente, o acúmulo de carbono está diretamente relacionado com a oferta de nutrientes para as plantas. Essa necessidade nutricional só é conhecida após a análise do solo.

• No caso das pastagens, da ILPF e do plantio direto, é necessário conhecer o estoque de carbono no solo no início do empreendimento e repetir a análise de carbono no solo a cada cinco anos. O conhecimento do estoque de carbono é a base da agricultura de baixa emissão de carbono. É a única maneira que existe para monitorar e acompanhar a evolução das ações para o cumprimento das metas. Para fazer ABC, é preciso quantificar o carbono em tempos diferentes.

• No caso das pastagens, da ILPF e do plantio direto, também é necessário conhecer a área financiada, para pode estimar as emissões evitadas.

Para a efetivação de um sistema de monitoramento compatível com a importância do Programa ABC, a Embrapa, com o Fundo Clima, sugeriu a criação de um Laboratório Virtual Multi-institucional de Mudanças Climáticas, que permita monitorar o programa segundo as bases científicas existentes hoje e a demanda operacional. A proposta desse laboratório é:

• Ter uma coordenação conjunta entre o MMA e o MAPA, na qual o primeiro

atuaria como responsável pelo acompanhamento e cumprimento do Decreto 7.390/2010 e o segundo executaria o plano.

• Deverá ser composto por um colegiado com a participação da Embrapa, universidades, Banco do Brasil, OCB, CNA, MDA, CONTAG e ONGs, que irão discutir, avaliar, definir e propor as metodologias de acompanhamento

71 das emissões de GEE definidas no plano. Caberá ao Banco do Brasil repassar regularmente ao colegiado informações sobre o andamento dos financiamentos, indicando quantos são e em quais categorias se inserem, para que, utilizando imagens de satélite, seja possível acompanhar a evolução do programa em escala nacional.

• Deverá ser criada uma linha de base para determinação do estoque de carbono nos solos, principalmente para as ações de recuperação de pastagens, integração lavoura-pecuária e plantio direto.

• No caso da fixação biológica de nitrogênio, o colegiado irá definir as prioridades de investimento em pesquisa, para que, até 2015, existam mais opções de inoculantes visando à substituição da adubação nitrogenada, conforme estabelecido no Plano ABC.

• O laboratório estará vinculado diretamente à Diretoria Executiva da Embrapa, e o seu funcionamento será garantido pela cessão parcial de pesquisadores da Embrapa, que formarão seu corpo técnico, distribuído pelos diversos centros de pesquisa da empresa. Será também formado por pessoal do MAPA, por bolsistas contratados com apoio do MCTI e estagiários contratados via descentralização orçamentária a ser definida com o Ministério da Agricultura. Caberá à Embrapa Meio Ambiente fornecer o suporte administrativo para o adequado funcionamento do laboratório.

• As ações de caráter metodológico (levantamentos, medições, análises de solos, etc.) serão custeadas pelo MAPA, também via descentralização orçamentária (o custo dessas ações deve ser avaliado anualmente).

• Não serão de responsabilidade deste laboratório as ações de treinamento, mas sim a definição e implementação de metodologias, que serão posteriormente transferidas aos agentes multiplicadores pelos responsáveis pelas ações de transferência de tecnologia.

• Todas as alterações e redefinições das ações do laboratório deverão se feitas pelo colegiado e aprovadas pelos Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente, após encaminhamento da Diretoria Executiva da Embrapa.

Espera-se que, com essa estrutura, sejam mais transparentes os resultados do monitoramento das emissões de GEE na agricultura.

72

Documentos relacionados