• Nenhum resultado encontrado

1. Agricultura de Baixa Emissão de Carbono: a construção de um paradigma

6.2 A recuperação de pastagens

Segundo informações do censo agropecuário (IBGE, 2006), existem, no Brasil, aproximadamente 58 milhões de hectares com baixa taxa de lotação (menos de 0,6 UA/ha/ano) (Figura 6.02). A ideia do Plano ABC, já discutida anteriormente, é elevar esta taxa para 1 UA/ha/ano, trazendo benefícios para a produção de carne no Brasil, redução da pressão de expansão da pecuária na Amazônia e redução de emissão de GEE, com os pastos melhorados.

É preciso, portanto, após os dois primeiros anos de atuação do Plano ABC, definir melhor os locais onde a taxa de lotação é baixa. Esse índice, por enquanto, foi adaptado para permitir uma análise em todo território nacional. Segundo essas informações, existem 1.115 municípios com taxa de lotação inferior a 0,6 UA/ha/ano. Com o valor mínimo determinado no Plano ABC, de 0,4 UA/ha, existem 535 municípios. Estes devem ser prioritariamente os alvos para formação de multiplicadores e aplicação dos créditos destinados à recuperação de pastagens.

Na Amazônia, existem 112 municípios com taxa de lotação menor ou igual a 0,4 UA/ha/ano, totalizando 14,5 milhões de hectares de pastos considerados degradados. No total, estima-se haver, no Brasil, 31 milhões de hectares de pastos com até 0,4 UA/ha/ano e 58 milhões de hectares com até 0,6 UA/ha/ano.

82

Figura 6.02 Distribuição espacial dos pastos degradados no Brasil, com taxas de lotação variando de 0,1 a 0,6 UA/ha/ano (Atualizado em Maio de 2013).

A figura 6.02 indica as áreas com pastagens degradadas em todo o Brasil. As fontes dessas informações foram o Censo Agropecuário (IBGE, 2006) e a base PROBIO do MMA.

Percebe-se que os estados prioritários devem ser MG, BA, MT, MS, GO, PA, MA e PI. No Anexo 2, estão listados os municípios que devem receber prioridade na implantação do subprograma de recuperação de pastos degradados, por terem taxas de lotação variando de 0,1 a 0,6 UA/ha/ano.

6.2.1 O ABC atingirá as metas?

Nesse ponto, é preciso verificar se o esforço feito até o momento permite atingir as metas estabelecidas em Copenhague, de redução nas emissões nacionais de 1,2 bilhão de t CO2 eq., cabendo à agricultura entre 133 e 166 milhões de t CO2 eq. Para tanto, e

considerando que 80% dos financiamentos até então ficaram concentrados em recuperação de pastagens e integração lavoura-pecuária (o número reduzido de

83 contratos nos outros itens não permite traçar cenários), os cenários ficaram limitados a estes dois subprogramas, que, juntos, devem responder por 101 a 126 milhões de t CO2

eq. de reduções. O público-alvo considerado é o universo de 5 milhões de propriedades agrícolas, com pelo menos 1,8 milhão de agricultores familiares. A execução atual, de menos de 6.000 projetos/ano, ainda deixa a desejar. Considerando os grandes números do IBGE, são 54 milhões de hectares com taxa de lotação menor do que 0,6 UA/ano, considerados aqui como pastagens degradadas. Existem, segundo o censo de 2006, 281 mil propriedades no Brasil com pastagens plantadas degradadas, ou seja, em média, 192 ha por propriedade, dados os 54 milhões de ha com baixa taxa de lotação. Considerando que a meta do Plano ABC é recuperar 15 milhões de hectares de pastos degradados, de maneira linear, isso corresponderia a 78 mil pecuaristas com uma área média a ser recuperada de 192 hectares por proprietário.

Para verificar a possibilidade de atingir as metas, foram estabelecidos três cenários, a saber:

• O primeiro grande cenário considera a execução, até 2018, de 20% (pessimista), 50% (mediano) e 80% (otimista) do total dos 78 mil contratos estimados necessários para o programa, somente no que diz respeito à recuperação de pastagens e ILP;

• O segundo grande cenário considera um aumento de 20% (pessimista), 50%

(mediano) e 80% (otimista) dos contratos em relação ao que já foi executado até o ano de 2012/2013 em recuperação de pastagens e ILP (cerca de 2.800 contratos), mantidos os fatores de emissão do IPCC, que estão superestimados para as condições tropicais;

• O terceiro grande cenário considera um aumento de 20% (pessimista), 50% (mediano) e 80% (otimista) dos contratos executados até o ano de 2012/2013 em recuperação de pastagens e ILP (cerca de 2.800 contratos), mantidos os fatores de emissão do IPCC para fermentação entérica, porém com redução das emissões das excretas bovinas, adotando as medições atualizadas e comprovadas pela Embrapa até o ano de 2012.

84 Cenário1

Hipóteses estabelecidas em função da necessidade total de contratos Emissões entéricas em t CO2 eq. Emissões evitadas em t CO2 eq. Saldo t CO2 eq. % de atingimento das metas de rec. de pastagens e ILPF

*Hipótese 1: baixa adesão ao programa, com 20% de contratos até o ano 2018

5.558.043 65.894.400 60.305.357 De 48% a 60%

**Hipótese 2: média adesão ao programa, com 50% de contratos até o ano 2018

13.972.608 164.736.000 150.763.392 De 120% a 149%

***Hipótese 3: alta adesão ao programa, com 80% de contratos até o ano 2018

22.356.173 263.577.600 241.221.427 De 191% a 239% *Execução de 2.560 contratos/ano **Execução de 7.800 contratos/ano ***Execução de 12.488 contratos/ano Cenário 2 Hipóteses estabelecidas em função da necessidade total de contratos Emissões entéricas em t CO2 eq. Emissões evitadas em t CO2 eq. Saldo t CO2 eq. % de atingimento das metas de rec. de pastagens e ILPF *Hipótese 1: aumento de 20% no número de contratos atuais até o ano 2018

6.018.969 70.963.200 64.944.230 De 52% a 64%

**Hipótese 2: aumento de 50% no número de contratos atuais até o ano 2018

7.523.712 88.704.000 81.180.288 De 64% a 80%

***Hipótese 3: aumento de 80% no número de contratos atuais até o ano 2018

9.028.454 106.444.800 97.416.346 De 77% a 96%

*Execução de 3.360 contratos/ano **Execução de 4.200 contratos/ano ***Execução de 5.040 contratos/ano

85 Cenário 3 (fermentação entérica 1,6 t CO2 eq. UA ano-1)

Hipóteses estabelecidas em função da necessidade total de contratos Emissões entéricas em t CO2 eq. Emissões evitadas em t CO2 eq. Saldo t CO2 eq. % de atingimento das metas de rec. de pastagens e ILPF *Hipótese 1: aumento de 20% no número de contratos atuais até o ano 2018

5.160.960 70.963.200 65.802.240 De 52% a 65%

**Hipótese 2: aumento de 50% no número de contratos atuais até o ano 2018

6.451.200 88.704.000 82.252.800 De 65% a 81%

***Hipótese : aumento de 80% no número de contratos atuais até o ano 2018 7.741.440 106.444.800 98.703.360 De 78% a 98% *Execução de 3.360 contratos/ano **Execução de 4.200 contratos/ano ***Execução de 5.040 contratos/ano

Vale ressaltar algumas condições e premissas sobre estes cenários:

• Considera-se como horizonte para a realização dos contratos o período de cinco anos a partir de 2013, tempo mínimo para resposta do solo ao aumento do estoque de carbono;

• Considera-se que as emissões de fermentação entérica por UA/ano, segundo o estabelecido pelo IPCC (nível 1) e estudos da Embrapa, são de 1,86 t CO2

eq./ano;

• Considera-se que as emissões de fermentação entérica por UA/ano, segundo o estabelecido pelo IPCC (nível 1) e com novos fatores de emissão a partir de estudos da Embrapa, são de 1,60 t CO2 eq./ano;

• O número ideal de contratos em recuperação de pastagens até 2020, com base nos dados do censo do IBGE 2006 sobre a área e número de propriedades com pastagens degradas, seria de 78.000 no horizonte de cinco anos, com área média por contrato de 192 hectares;

• O número atual de contratos incluindo ILP (Fonte: BB, 11/2012) é de 2.800;

• O aumento médio do estoque de carbono no solo é de 22 t CO2 eq.;

• A meta estabelecida em Copenhague para redução de emissões em

recuperação de pastagens + ILP (NAMAS), no seu limite superior, é de 126 Milhões t CO2 eq.;

86

• A meta estabelecida em Copenhague para a redução de emissões em recuperação de pastagens + ILP (NAMAS), no seu limite inferior, é de101Milhões t CO2 eq.

Portanto, havendo o esforço em ampliar os contratos em busca da condição ideal, ou seja, de 78 mil contratos até 2018, a meta é superada já na hipótese mediana, com 50% dos contratos executados. Mantida a situação atual (2.800 contratos), para o segundo e terceiro grandes cenários, as metas não serão atingidas, mesmo considerando as hipóteses mais otimistas.

Isso significa que um grande esforço de capilarização do programa deve ser feito, assim como a priorização dos alvos, buscando a maior eficiência da aplicação dos recursos investidos no programa ABC.

Documentos relacionados