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Parecer nº 4/2017 do Conselho Nacional de Educação sobre o Perfil dos Alunos para o

2. CAPÍTULO II – CONSTRUÇÃO DE UMA POLÍTICA DE INCLUSÃO

2.2. Parecer nº 4/2017 do Conselho Nacional de Educação sobre o Perfil dos Alunos para o

O documento foi elaborado por um grupo de trabalho criado nos termos do Despacho nº 9311/2016, de 21 de julho, liderado pelo antigo Ministro da Educação – Guilherme d’Oliveira Martins – como resposta do sistema educativo aos “desafios colocados pela sociedade contemporânea”.

Este documento (Ministério da Educação, 2017) tem como principal objetivo a educação para todos, considerando os fatores diversidade e complexidade em todo este processo. O termo “perfil”, de acordo com o documento, não pretende uniformizar mas pressupõe: liberdade, responsabilidade, valorização do trabalho, consciência de si próprio, inserção familiar e comunitária e participação na sociedade que nos rodeia. Pretende-se formar pessoas autónomas e responsáveis e cidadãos ativos num contexto de complementaridade e enriquecimento mútuo entre cidadãos.

A aprendizagem é entendida como motor de desenvolvimento, o processo ensino/aprendizagem deve ser flexível, a Educação deve estar no “coração da sociedade” e deve fazer-se “um apelo a pensar e a criar um destino comum humanamente emancipador”.

Para a elaboração deste documento foi considerado o trabalho desenvolvido por Edgar Morin “Os sete pilares necessários à Educação do futuro”. Morin é um educador, pensador e pesquisador francês bastante conceituado devido ao vasto trabalho desenvolvido na área da Educação. Daí a necessidade de se apelar à compreensão dos sete pilares deste pensador,

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“numa cultura de autonomia e responsabilidade: prevenção do conhecimento contra o erro e a ilusão; ensino de métodos que permitam ver o contexto e o conjunto, em lugar do conhecimento fragmentado; o reconhecimento do elo indissolúvel entre unidade e diversidade da condição humana; aprendizagem duma identidade planetária considerando a humanidade como comunidade de destino; exigência de apontar o inesperado e o incerto como marcas do nosso tempo; educação para a compreensão mútua entre pessoas de pertenças e culturas diferentes; e desenvolvimento de uma ética do género humano, de acordo com uma cidadania inclusiva.” (Ministério da Educação, 2017, p. 6) O documento defende (e muito bem) que a criatividade e a inovação não se restringem a uma determinada área mas sim ao ser humano como um todo e que a sociedade deve estar “centrada na pessoa e na dignidade humana como valores fundamentais”. (ibid., p. 6) Salienta também que as aprendizagens devem ser consideradas como centro do processo educativo; a inclusão deve ser uma exigência e a contribuição para o desenvolvimento sustentável deve ser um desafio atendendo sempre ao rigor e às diferenças. Este modelo “visa, simultaneamente, a qualificação individual e a cidadania democrática” (ibid., p. 10).

A escola é entendida como “um lugar privilegiado para os jovens adquirirem as aprendizagens essenciais, equacionadas em função da evolução do conhecimento e dos contextos histórico-sociais.” (ibid., p.7) Esta instituição deve incentivar o gosto/prazer pela aprendizagem ao longo da vida.

As medidas de política educativa, desde 1986, com a aprovação da Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE) foram tendo sempre em consideração dois objetivos:

“(i) alargar o número de anos da escolaridade obrigatória, assegurando a equidade no acesso à escola de todas as crianças e jovens em idade escolar; (ii) garantir uma educação de qualidade, assegurando as melhores oportunidades para todos” (ibid., p. 7). A aprovação do Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória tem toda a pertinência num contexto de escolaridade obrigatória de doze anos, com a necessária e desejável intervenção de toda a comunidade educativa para, assim, poder ser garantida uma educação de qualidade.

Os princípios que subjazem este trabalho bem como os princípios que se encontram no despacho aprovado (Despacho nº 6478/2017, de 26 de julho), apesar do texto e da sequência não serem precisamente semelhantes, não divergem e concentram-se, basicamente, nos mesmos parâmetros (conforme tabela 4).

37 Tabela 4: PERFIL DOS ALUNOS – PRINCÍPIOS

Perfil dos Alunos para o Século XXI Perfil dos Alunos à saída da escolaridade obrigatória

Versão para consulta pública Despacho nº 6478/2017, de 26 de julho A. Um perfil de base humanista – a ciência evolui,

cabendo à escola o dever de dotar os jovens de conhecimento para a construção de uma sociedade mais justa e para agirem sobre o mundo enquanto bem a preservar. Entende-se o conhecimento como fundamental para uma sociedade centrada na pessoa e na dignidade humana como valores inestimáveis.

B. Educar ensinando para a consecução efetiva das aprendizagens – as aprendizagens são o centro do

processo educativo. Sem boas aprendizagens, não há bons resultados. A educação deve promover intencionalmente o desenvolvimento da capacidade de aprender, base da aprendizagem ao longo da vida. O perfil do aluno prevê domínio de competências e saberes que sustentem o desenvolvimento da sua capacidade de aprender e valorizar a educação ao longo da sua vida.

C. Incluir como requisito de educação – a

escolaridade obrigatória é de todos e para todos. A escola contemporânea agrega uma diversidade de alunos tanto do ponto de vista socioeconómico e cultural como também do ponto de vista cognitivo e motivacional. A adoção do perfil é crítica para que todos possam ser incluídos e para que todos possam entender que a exclusão é incompatível com o conceito de equidade e democracia.

D. Contribuir para o desenvolvimento sustentável –

há riscos de sustentabilidade que afetam o planeta e o ser humano. O cidadão do século XXI age num contexto de emergência da ação para o desenvolvimento, numa perspetiva globalizante, mas assente numa ação local.

E. Educar ensinando com coerência e flexibilidade –

a flexibilidade é instrumental para se dar a oportunidade a cada um de atingir o perfil proposto, de forma coerente, garantindo a todos o acesso às aprendizagens. É através da gestão flexível do currículo, do trabalho conjunto dos professores sobre o currículo, do acesso e participação dos alunos no seu próprio processo de formação e construção de vida, que é possível explorar temas diferenciados, trazer a realidade para o centro das aprendizagens visadas.

F. Agir com adaptabilidade e ousadia – a incerteza do

século XXI passa pela perceção de que, hoje, é fundamental conseguir moldar-se a novos contextos e novas estruturas, mobilizando as competências chave, mas também estando preparado para atualizar conhecimento e desempenhar novas funções.

G. Garantir a estabilidade – educar para um perfil de

competências alargado requer tempo e persistência. Um perfil de competências assente numa matriz de

A. Base humanista – A escola habilita os jovens com

saberes e valores para a construção de uma sociedade mais justa, centrada na pessoa, na dignidade humana e na ação sobre o mundo enquanto bem comum a preservar.

B. Saber – O saber está no centro do processo educativo.

É responsabilidade da escola desenvolver nos alunos a cultura científica que permite compreender, tomar decisões e intervir sobre as realidades naturais e sociais no mundo. Toda a ação deve ser sustentada por um conhecimento sólido e robusto.

C. Aprendizagem – As aprendizagens são essenciais no

processo educativo. A ação educativa promove intencionalmente o desenvolvimento da capacidade de aprender, base da educação e formação ao longo da vida.

D. Inclusão – A escolaridade obrigatória é de e para

todos, sendo promotora de equidade e democracia. A escola contemporânea agrega uma diversidade de alunos tanto do ponto de vista socioeconómico e cultural como do ponto de vista cognitivo e motivacional. Todos os alunos têm direito ao acesso e à participação de modo pleno e efetivo em todos os contextos educativos.

E. Coerência e flexibilidade – Garantir o acesso à

aprendizagem e à participação dos alunos no seu processo de formação requer uma ação educativa coerente e flexível. É através da gestão flexível do currículo e do trabalho conjunto dos professores e educadores sobre o currículo que é possível explorar temas diferenciados, trazendo a realidade para o centro das aprendizagens visadas.

F. Adaptabilidade e ousadia – Educar no século XXI

exige a perceção de que é fundamental conseguir adaptar- se a novos contextos e novas estruturas, mobilizando as competências, mas também estando preparado para atualizar conhecimento e desempenhar novas funções.

G. Sustentabilidade – A escola contribui para formar

nos alunos a consciência de sustentabilidade, um dos maiores desafios existenciais do mundo contemporâneo,

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características que permitam fazer face a uma revolução numa qualquer área do saber e ter estabilidade para que o sistema se adeque e as orientações introduzidas produzam efeito.

H. Valorizar o saber – toda a ação, de forma reflexiva,

deve ser sustentada num conhecimento efetivo. A escola tem como missão despertar e promover a curiosidade intelectual e criar cidadãos que, ao longo da sua vida, valorizam o saber.

Em (Ministério da Educação, fevereiro 2017, p. 8-9)

que consiste no estabelecimento, através da inovação política, ética e científica, de relações de sinergia e simbiose duradouras e seguras entre os sistemas social, económico e tecnológico e o Sistema Terra, de cujo frágil e complexo equilíbrio depende a continuidade histórica da civilização humana.

H. Estabilidade – Educar para um perfil de

competências alargado requer tempo e persistência. O Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória permite fazer face à evolução em qualquer área do saber e ter estabilidade para que o sistema se adeque e produza efeitos.

Em (Ministério da Educação-Direção-Geral da Educação, 2017, p. 13-14)

Os valores referidos nas duas versões (para consulta pública e aprovada) mantêm-se os mesmos: Responsabilidade e integridade; excelência e exigência; curiosidade, reflexão e inovação; cidadania e participação; liberdade.

Da mesma forma, em ambos os documentos constam as competências nas seguintes áreas: Linguagens e textos; informação e comunicação; raciocínio e resolução de problemas; pensamento crítico e pensamento criativo; relacionamento interpessoal; desenvolvimento pessoal e autonomia; bem-estar, saúde e ambiente (designação do Despacho nº 6478/2017; na versão de consulta consta a designação: bem-estar e saúde); sensibilidade estética e artística; saber científico, técnico e tecnológico (designação do Despacho nº 6478/2017; na versão de consulta consta a designação: saber técnico e tecnologias); consciência e domínio do corpo.

2.3.

ANÁLISE DO PARECER Nº

4/2017 DO CONSELHO NACIONAL DE