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PARTE I: ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2. Parentalidade

2.2. Parentalidade, Função Parental e Relação Conjugal

As características do relacionamento conjugal e das práticas parentais têm-se como preditores de maiores níveis de funcionalidade ou disfuncionalidade para o sistema familiar (Costa, Cenci & Spies, 2014), sendo que os níveis de funcionalidade ou ausência desta estão relacionados com a forma de resolução de conflitos entre o casal, bem como com a questão da parentalidade, na medida em que o nascimento de uma criança intensifica as preocupações do casal (Bradt, 1995, citado por Costa, et al, 2014; Lenadro, Nossa & Rodrigues, 2009).

Também Brites (2010) infere que a forma como os pais vivem as situações de stresse e vulnerabilidade são da maior importância a nível vital, considerando as consequências para as pessoas que a experienciam, mas em simultâneo repercussões no grupo da família e do desenvolvimento da criança. Assim, os conflitos nos subsistemas conjugal e parental interferem negativamente no funcionamento da restante família e no desenvolvimento das crianças (Anton, 2002; Baptist et al., 2012; Schmidt et al., 2011, citado por Costa, et al., 2014; Costa, Cenci & Spies, 2014), sendo que as famílias emocionalmente tensas nas relações adultas vão criar processos de disfunções emocionais nas gerações futuras, ou seja, nos filhos (Baptist et al., 2012).

Belsky, Crnic e Gable (1995) sugerem que o processo parental é importante para perceber a natureza das relações familiares, o casamento, a parentalidade em si e o desenvolvimento infantil. No estudo de 1995 os autores anteriores concluíram que, quanto maiores as diferenças entre as mães e os pais na competência parental, mais stresse existe na relação de casal e no próprio exercício da parentalidade, associando o conflito parental aos problema comportamentais na criança. Assim, sugere-se que diferenças entre extroversão, afeto interpessoal, personalidade, sociabilidade e empatia influenciam a competência parental e a relação conjugal, no sentido em que quanto maiores forem as discrepâncias dos fatores anteriores entre homem e mulher, maiores serão as diferenças na estabilidade da relação conjugal e no exercício da parentalidade. (Belsky, et al., 1995).

31 Ao longo do desenvolvimento infantil os pais e, na generalidade, a família, devem cumprir duas tarefas contrapostas, ou seja, por um lado devem garantir a satisfação das necessidades físicas e afetivas da criança, fornecendo segurança, vigilância e proteção, mas por outro lado, a criança deve ser incentivada a ter autonomia, socializar e explorar. A família é determinante na adaptação da criança, além de que quanto mais os pais souberem sobre o processo de desenvolvimento, saúde, aprendizagem e educação, maior são as hipóteses de adoção de significações mais adaptativas, flexíveis e integradoras sobre a tarefa parental (Pereira, Goes & Barros, 2015).

Para Lemay (2006) ser bom pai ou boa mãe dependerá do desenvolvimento de uma competência parental, juntando um conjunto de atitudes que ajudam a inclusão de uma identidade na criança.

Belsky (1984) propõe um modelo para melhor compreender o comportamento parental, o qual tem em conta a personalidade dos pais, o bem-estar parental, o temperamento da criança e as condições onde a parentalidade tem lugar, ou seja, a relação do casal, as redes sociais e as dinâmicas de emprego/ desemprego, sendo estes indicadores cruciais na influência do funcionamento parental. Partindo do artigo original The Determinants of Parenting: A process

model, Belsky (1984) concluiu que a função parental e o stresse que, de forma direta ou indireta,

afeta o bem-estar pessoal, a personalidade influenciam os contextos de suporte, ou seja o bem- estar pessoal dos pais influenciam também, de forma direta ou indireta, o desenvolvimento da criança.

Assim, viver em situação de pobreza coloca desafios particulares aos pais e à família no geral, tornando-a mais vulnerável, bem como ao papel parental em si. A pobreza está, então, associada a maiores riscos na qualidade da parentalidade e no desenvolvimento psicossocial da criança e do adolescente (Dinis, 2011).

Ainda em relação a este propósito, vários estudos têm revelado que os pais de baixo estatuto socioeconómico tendem a ser menos adequados, a ter menor envolvimento e sensibilidade com os seus filhos, a exprimir mais afeto negativo, são menos responsivos e proporcionam menor estimulação às crianças (Evans, 2004; Little & Carter, 2005, Magnunson & Duncan, 2002; McLoyd, 1990; NICDH, 1999; Novais & Sá Lemos, 2003, citados por Pereira, Goes & Barros, 2015).

A respeito da parentalidade nas FMP, Ayala-Nunes et al. (2012) alertam para o fato destes pais terem maiores níveis de stresse no exercício da função parental.

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2.3. Maternidade e Paternidade

Segundo Balancho,(2006) e Martins, et al. (2014) o papel de ser mãe e ser pai é um desafio de enorme complexidade que exige várias alterações nos papéis individuais de cada membro do casal, com necessidade de redefinição de papéis, para conseguir acompanhar as exigências de receber um novo ser, o filho.

Ser pai e ser mãe não se podem englobar na mesma função, ou seja, com papéis distintos, pai e mãe interagem de formas diferenciadas com os filhos, existindo algumas competências com exclusividade para o pai ou para a mãe (Balancho, 2006; Brunschwig, 2008)

Martins, et al (2014) sugerem que após o nascimento dos filhos, os casais tendem a tornar-se mais tradicionais na divisão de tarefas, contudo ainda hoje, o exercício da parentalidade continua a trazer mais mudanças na vida das mães, em comparação com os pais. Contudo, os dados parecem apontar que o papel do pai e o exercício da paternidade têm mudado nos últimos 30 anos, deixando o pai de ser uma figura estereotipada de poder, autoridade e frieza, e passando a ter mais envolvimento com os filhos, mostrando carinho e interesse (Drago & Menandro, 2014; Monteiro, Torres, Costa & Freitas, 2015). Esta alteração vem coincidir com uma mudança de paradigma sobre o papel da mulher, o conceito do trabalho e a igualdade de direitos face aos homens (Drago & Menandro, 2014).

O estudo de Monteiro et al. (2015) com o objetivo de identificar atitudes e crenças de mães e pais a respeito do papel paterno, permitiu concluir que as atitudes e crenças sobre a parentalidade de pais e mães terão estruturas diferentes, sendo que as mães distinguem a importância do envolvimento paterno na educação dos filhos, contudo também se dizem mais cuidadoras a nível da sensibilidade em relação aos filhos, com base em estereótipos de género.

O pai tem também o poder de influenciar o desenvolvimento dos filhos, pelo tipo de relação conjugal, e através do apoio fornecido à companheira, sendo que este pode ter influência na qualidade da relação entre mãe e os filhos, influenciando assim o desenvolvimento e capacidade de ajustamento do filho (Pereira, Goes & Barros, 2015).