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3 CONEXÕES TEÓRICAS ENTRE PARTICIPAÇÃO, GOVERNANÇA E

4.1 PARQUES URBANOS: DIFERENTES ACEPÇÕES

Elaborar estudos sobre parques urbanos implica, primeiramente, considerar a definição do que seja parque, dificultada pelas diferenças de dimensões, formas de tratamento, funções e equipamentos, pois parques urbanos desempenham diferentes funções as quais não são submetidas a um padrão. Enquanto certos parques recebem multidões, a exemplo do Parque Ibirapuera, em São Paulo, outros estão vinculados à proteção ambiental, a exemplo do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, sendo definido como uso restrito (SCALISE, 2002).

No Brasil, a Lei nº 9.985/00, do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), relaciona a definição de parque com o conceito de Unidades de Conservação (UC) de proteção integral, seja em perímetro urbano ou rural, seja de gestão federal, estadual ou municipal. A criação destes parques tem a proposição de preservar o meio ambiente e a qualidade de vida das populações que habitam no entorno dessas áreas (BRASIL, 2000).

Quanto às formas de tratamento, consistem desde a linguagem formal, ou seja, espaço destinado ao descanso, à contemplação da natureza e ao lazer até o ambiente natural, ou seja, local destinado à preservação dos recursos naturais. No que concerne aos equipamentos diferenciam-se dos que tem forte diversidade de equipamentos culturais, esportivos e recreativos, a exemplos do Parque do Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro e do Parque Juscelino Kubstichek, em Brasília, aos que têm como principal atração os caminhos e as áreas de descanso e contemplação com intensa vegetação, a exemplos do Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG) e do Parque Estadual do Utinga (PEU’t), em Belém. O reflexo dessa diversidade pode ser observado por meio das necessidades do parque, do pensamento e do gosto de um determinado grupo social ou de determinada época (SCALISE, 2002).

Contudo, nas obras a seguir referenciadas, o termo parque apresenta uma confusão conceitual que o torna próximo de outros espaços livres de lazer como praça e jardim. Kliass, (1993), por exemplo, define parques urbanos

como “espaços públicos com dimensões significativas e predominância de elementos naturais, principalmente, de cobertura vegetal, destinados à

recreação” (KLIASS, 1993). Scalise (2002), por sua vez, reportando-se a

Olmsted, o criador do Central Park de Nova York, conceitua parques como “lugares com amplitude e espaço suficientes e com todas as qualidades necessárias que justifiquem a aplicação a eles daquilo que pode ser encontrado na definição da palavra cenário ou da palavra paisagem” (SCALISE, 2002).

Consubstancialmente, Macedo e Sakata (2002), consideram como parque todo espaço de uso público destinado à recreação de massa, qualquer que seja o seu tipo, capaz de incorporar intenções de conservação e cuja estrutura morfológica é auto-suficiente, isto é, não é diretamente influenciada em sua configuração por nenhuma estrutura construída em seu entorno (MACEDO; SAKATA, 2002). Lamas (s.d.) identifica parques como elementos da estrutura urbana que caracterizados pela estrutura verde, têm individualidade própria, desempenham funções precisas, são elementos da composição e do desenho urbano, servem para organizar e definir espaços (LAMAS, s.d.).

As diversas variações e imprecisões da definição de parque demonstram a importância do debate do tema, acrescentando-se o estudo da origem e evolução desse espaço verde no ambiente das cidades, para que se percebam as mudanças do seu significado (PORTO et al., 2007). E a denominação parques urbanos generaliza-se quando se combina lazer, visitação, turismo e conservação (BRITO; ROCHA, 2009), à medida que as cidades foram se desenvolvendo, os parques urbanos passaram a assumir novas funções, tais como ecológicas, culturais e esportivas. Nas áreas verdes que possuem maior fluxo de visitantes, os parques são valorizados, porém, em outras sofrem com a degradação ambiental e com o descaso dos gestores públicos devido à falta de uma política ambiental diretamente relacionada à preservação dos parques urbanos (LIMA; ROCHA, 2009).

Assim, o conceito de parque, diversifica-se à medida que a sociedade transforma-se ao longo dos anos. Neste sentido, é necessário cautela, sobretudo, para não reduzir o significado das inúmeras acepções de parque ao

senso comum, ou seja, um espaço destinado ao lazer que se confunde com a praça e o jardim. Sobre este mesmo aspecto, Terra (2002), comenta que o termo jardim, praças e parques para os autores que tratam do assunto - a exemplos de Silva; Egler, (2003) e Macedo; Sakata, (2002) - possui o mesmo significado de áreas verdes e somente se diferenciam pelas funções e tamanho da área (TERRA, 2002).

A praça é caracterizada como lugar intencional de encontro, da permanência, dos acontecimentos, de práticas sociais e de manifestações da vida urbana (LAMAS, s.d.). Praças são espaços livres públicos destinados ao lazer e ao convívio da população inseridos na malha urbana, acessíveis aos cidadãos e livres de veículos (FERREIRA, 2006), com área equivalente a da quadra, com cobertura vegetal, equipamentos para uso lúdico, canteiros e bancos (CARNEIRO; MESQUITA, 2000 apud MENDONÇA, 2007). Neste curso, Lamas (s.d.), insere parque e jardim na categoria denominada por ‘espaços verdes’ definindo-os como elementos de composição do ambiente urbano (LAMAS, s.d.).

Consubstancialmente, com oadvento da Lei Federal do SNUC em 2000,

o parque urbano, agora sob a forma de UC, agrega outros significados, especialmente a função de preservação da biodiversidade para o bem coletivo. O parque urbano passa a ser o lócus da preservação ambiental, da contemplação e do bem estar coletivo, sobretudo, daqueles que vivem ao redor do parque. Para tal, a lei do SNUC traz no seu bojo, a necessidade de democratização na criação e gestão do espaço público envolvendo a participação da sociedade civil. Todavia, esta participação não acontece de forma consensual. Os stakeholders, com seus diferentes interesses, disputam o domínio e influencia sobre a gestão dos parques.

Entretanto, nenhum trabalho científico pode utilizar o conceito sem defini-lo dentro do seu escopo. Nesta dissertação, parque urbano significa espaço público de socialização e aprendizado. Em consonância com o que rege a legislação ambiental brasileira (SNUC, 2000), seu uso deve ser restrito pela sociedade civil, sendo admitida apenas a permissão de uso público em espaços destinados às atividades de educação e interpretação ambiental, uso

lúdico e cultural com fins de preservação dos recursos naturais no ambiente urbano.