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Participação da Atenção Básica na Força de Trabalho em Saúde

3. Dimensionamento do mercado de trabalho em ABS

3.1. Participação da Atenção Básica na Força de Trabalho em Saúde

Dimensionar o tamanho do mercado de trabalho em ABS é um desafio tão complexo quanto o de identificar o tamanho da força de trabalho em saúde como um todo. Tal desafio ocorre na medida em que as principais bases de dados na área não permitem identificar se o indivíduo ocupado exerce ou não atividades precípuas da ABS. O desafio é minimizado no que se refere ao setor público, já que é possível identificar, por meio do CNES, os ocupados em estabelecimentos públicos destinados exclusivamente à realização de atendimentos de ABS. Em outros estabelecimentos públicos e em estabelecimentos privados, no entanto, os ocupados que prestam atendimento de ABS estão irregularmente distribuídos em locais que também são destinados a média e alta complexidade ou mesmo a outra atividade que não a de saúde (indústrias, sindicatos, cooperativas, entre outros). Em suma, o dimensionamento do mercado de trabalho em ABS através das bases de dados disponíveis deve ser feita por meio de estimativa e tendo como pressuposto que o valor estimado estará sub-representado. Também deve ser feito um esforço de comparar diferentes bases de dados, no sentido de complementação das estimativas. Apresentamos a seguir um exercício comparativo entre as principais bases de dados sobre o tema com o objetivo de estimar a participação da ABS na força de trabalho em saúde no Brasil.

Em 2010, cerca de seis milhões de pessoas estavam ocupadas no Macrossetor Saúde, no trabalho principal da semana de referência, segundo os critérios do Censo Demográfico do IBGE (Tabela 1). Ressalta-se que esse número tão expressivo, que representava algo em torno de 7% de toda a população ocupada no Brasil, não considera aqueles que se ocupavam no setor apenas em seus trabalhos secundários, os desocupados que procuravam trabalho na área e os ocupados em profissões não regulamentadas, situadas nas franjas das classificações ocupacionais e dos mercados informais. Destes seis milhões, 61,3%, ou 3,7 milhões de pessoas, estava ocupada no núcleo do Macrossetor, isto é, em atividades de assistência direta a saúde.

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Tabela 1 – BRASIL, 2010: População ocupada no Macrossetor saúde, no núcleo do setor, com registro no CNES e em estabelecimentos de ABS.

Fonte: EPSM a partir do Censo Demográfico/IBGE e do CNES/MS.

1. Dados do Censo Demográfico de 2010 referentes ao trabalho principal na semana de referência de 19 a 23 de julho.

2. Dados do CNES de dezembro de 2010.

3. Estimativa a partir considerando 43,6% do total de ocupados não SUS e os subestimados em relação ao núcleo do setor

Comparando os dados do Censo Demográfico referente ao núcleo do Macrossetor com os do CNES do mesmo período, isto é, buscando associar os casos correspondentes aos ocupados em estabelecimento de assistência direta à saúde nas duas bases, sugere-se que os registros do CNES corresponderiam a 48,5% do núcleo se as duas bases fossem totalmente equiparáveis. Apesar de uma comparação limitada, é plausível que pelo menos a metade dos ocupados em estabelecimentos de saúde não esteja registrada no CNES, o qual se mostra incompleto para os ocupados em estabelecimentos privados não conveniados ao SUS e para os ocupados em funções de apoio (administração, limpeza, logística, manutenção, etc.). De fato, das 1,8 milhões de pessoas com registro no CNES, 1,6 estão ocupadas no SUS.

Em relação ao total de ocupados no SUS e, portanto, partindo do pressuposto que este contingente representa a população ocupada em serviços públicos de assistência direta à saúde, quase 700 mil, ou 43,6%, são de ocupados em estabelecimentos de ABS. Aplicando o mesmo percentual relativamente ao núcleo do setor que foi subestimado no CNES, estima-se em torno de 980 mil ocupados em atividades da ABS no setor suplementar. Em suma, quase

N População ocupada no Macrossetor Saúde 1 6.049.479

Núcleo do setor 1 3.708.704

Ocupados com registro no CNES2 1.797.069

% em relação ao núcleo do setor 48,5

Ocupados no SUS (público ou conveniado) 2 1.600.133 Ocupados em estabelecimentos públicos de ABS 2 697.832 % em relação ao total de ocupados no SUS 43,6 Estimativa do número de ocupados na ABS do setor suplementar 3 979.357

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1,7 milhões de pessoas prestavam serviços de ABS à população brasileira em 2010, o que corresponderia a quase metade do total de ocupados nas atividades nucleares da saúde e a quase um terço do Macrossetor17.

Fazendo o mesmo exercício do ponto de vista dos empregos formais, consideraram-se os registros da RAIS como referência na comparação com CNES. Obconsideraram-servou-consideraram-se, em 2010, algo em torno de 4,7 milhões de empregos formais no Macrossetor, dos quais 3,2 milhões no núcleo. Por sua vez, os registros de empregos formais no CNES somavam 1,9 milhões, o que representaria 60,2% do núcleo do setor, caso as duas bases fossem equiparáveis. Este percentual é aceitável tendo em vista que o setor público, maioria no CNES, é aquele que mais gera empregos formais. Destes registros, 1,8 milhões eram de empregos no SUS (público e privado conveniado) e 709 mil em ABS (39,5% em relação ao total de empregos no SUS). Estimam-se 651 mil empregos na ABS do setor suplementar.

Tabela 2 – BRASIL, 2010: Nº de empregos no Macrossetor saúde, no núcleo do setor, registrados no CNES e em estabelecimentos de ABS.

Fonte: EPSM a partir do Censo Demográfico/IBGE e do CNES/MS.

1. Dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) referentes aos vínculos ativos em 31 de dezembro de 2010.

2. Dados do CNES de dezembro de 2010 referentes aos vínculos empregatícios.

3. Estimativa considerando 39,5% do total de empregos não SUS, mais os subestimados em relação ao núcleo do setor.

17 É possível que esta estimativa da Atenção Básica no setor suplementar esteja muito acima da realidade, tendo em vista que neste setor não há utilização de Agentes Comunitários de Saúde que, no setor público, representa quase um terço da força de trabalho ocupada.

N Nº de empregos no Macrossetor Saúde 1 4.737.180

Núcleo do setor 1 3.225.367

Empregos com registro no CNES2 1.941.456

% em relação ao núcleo do setor 60,2

Empregos no SUS (público ou conveniado) 2 1.796.381 Empregos em estabelecimentos de ABS 2 709.189

% em relação ao total de empregos no SUS 39,5 Estimativa do nº de empregos na ABS do setor suplementar 3 651.947

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A Figura 2 mostra a evolução dos estoques de trabalhadores em estabelecimentos de saúde, em estabelecimentos de ABS e na ESF, no período de dezembro de 2010 a março de 2014. No cômputo geral, assistiu-se crescimento ao longo de toda a série, com exceção de dezembro de 2011, em que todos os estoques diminuíram como resultado da Portaria 134 de 04 de abril de 2011 que redefiniu regras para a correta inserção, manutenção e atualização dos registros dos profissionais de saúde no CNES18. No total de estabelecimentos, o número de trabalhadores passou de 1,797 para 2,265 milhões no período (incremento de 468 mil pessoas). Considerando apenas os ocupados em estabelecimentos de ABS, também houve aumento, neste caso de 698 mil, no início da série, para 772 mil, no final (74 mil a mais). No que se refere apenas aos trabalhadores da ESF o aumento foi de 374 para 459 mil, isto é, 85 mil pessoas a mais.

Figura 2 – BRASIL, dez-2010 a mar-14: Nº de trabalhadores em estabelecimentos de saúde, em estabelecimentos da ABS e na ESF (em milhares).

Fonte: EPSM a partir do CNES/MS.

18 O efeito dessa Portaria será observado em praticamente todas as análises de série histórica, dessa forma, optou-se por não citá-la a partir daqui a não ser que comentários específicos se façam necessários.

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No que diz respeito à participação dos trabalhadores da ABS em relação ao total, houve um decréscimo de 38,8% para 34,1%, se comparados o primeiro e último meses do período analisado. Porém, não é possível afirmar com isto que o mercado de trabalho geral da saúde cresceu mais do que o da ABS, em função de o CNES seguir sub-representado para alguns setores e ocupações. Dessa forma, não se pode mensurar o quanto desse aumento se deu pela ampliação da cobertura de registro. O mesmo não ocorre na comparação entre ESF e ABS, tendo em vista que ambos os setores estão bem representados no CNES. Neste caso, a participação da ESF, em relação à ABS geral, cresceu de 53,6% para 59,5%, destacando a expansão da política enquanto estratégia de acesso aos serviços de ABS.