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A participação dos professores do Ensino Médio nos cursos oferecidos pela

5.2 A Formação Continuada no âmbito da SECD: uma visão a partir da ótica dos

5.2.2 A participação dos professores do Ensino Médio nos cursos oferecidos pela

As mudanças ocorridas no campo educacional, nas últimas décadas, centram o foco nos professores e nos programas de formação que passam a ganhar destaque, como condição de renovação e elevação da qualidade escolar. Portanto, estar em constante processo de formação, é fundamental para a implantação da reforma no campo educacional. No entanto, quando consideramos os professores que participaram do estudo, podemos evidenciar que na realidade do RN, a participação em cursos de capacitação ou atualização é muito limitada. Dos professores que responderam ao questionário, 51,7% responderam não ter participado de nenhuma formação oferecida pela SECD/RN e 48,3% afirmaram ter participado. O que pode ser observado no Gráfico nº. 05.

Gráfico 05 48,3% 51,7% 0,45 0,5 0,55

Participação dos Professores na Formação Continuada promovida pela SECD

Sim Não

Os dados mostram que há uma participação significativa dos professores em processos de formação no Estado do RN (48,3%), no entanto, identificamos que essas formações são realizadas em cursos rápidos, esporádicos e, muitas vezes, apresentados por meio da figura do multiplicador. O percentual de professores (51,7%), que não participaram de nenhum

aperfeiçoamento ou qualificação oferecido pela SECD/RN, é muito alto, isso demonstra que a formação continuada para os professores do Ensino Médio não é prioridade.

Vários motivos poderiam explicar a pouca participação dos professores nos cursos oferecidos pela Secretária de Educação, entre eles, está o fato de que não existe um programa específico, financiado pelo Estado, para os professores desse nível de ensino. Os programas existentes são financiados por recursos federais ou internacionais e obedecem a determinados critérios para a sua implantação.

No estado do Rio Grande do Norte, os programas nacionais, implementados, como o PRODEB/PROMED e o Alvorada, têm um caráter focalizado, não atingindo a maioria dos professores. Dessa forma, docentes atuantes nas zonas urbanas das grandes cidades ou de cidades de médio porte, portanto situadas fora da zona de extrema pobreza, são penalizados.

Esse é um ponto contraditório das reformas, ou seja, o discurso da formação aponta para a necessidade de docentes profissionais, bem preparados, conscientes de seu papel, com capacidade e desejo de continuar aprendendo, mas implementa políticas focalizadas, para melhorar a eqüidade do sistema educacional, atuando em áreas mais carentes, deixando à deriva um grande contingente de profissionais que atuam na rede pública, mesmo reconhecendo que a formação inicial, principalmente nos curso de licenciatura é limitada e inadequada para a sua atuação no Ensino Fundamental e Médio.

Por outro lado, a falta de participação dos professores, em cursos de formação continuada, também pode ser explicada pela crescente desvalorização profissional que estes enfrentam, criando uma situação de desinteresse e revolta por parte dos mesmos. Ribas (2000, p. 35) nos diz:

Praticamente não são oferecidas ao professor possibilidades para a construção do conhecimento, de que tanto se fala. Como é possível a um professor, com 60 horas de trabalho e correndo de escola em escola, pensar, refletir e reconstruir seu conhecimento? Devido à rotina exaustiva, as aulas são desenvolvidas na base do livro didático, só aberto quando se entra em sala. (...) A organização da escola não possibilita o trabalho coletivo. E o professor principalmente o iniciante, sente falta de apoio, por que não tem com quem trocar idéias sobre sua atuação.

A formação do professor se faz, ainda hoje, com base em estudos e modelos do passado, que acabam por possibilitar uma defasagem entre o pensado e o construído. A

simples transmissão do conhecimento não caracteriza mais a ação docente, o momento requer outra mentalidade, outro modo de ser e agir. Desse modo, ainda segundo Ribas (2000, p. 39):

A formação continuada deve ser trabalhada em moldes contemporâneos. A desvalorização da profissão e problemas econômico-financeiros enfrentados por muitos professores provoca alta rotatividade e criam barreiras para o processo de formação contínua.

Evidentemente, conforme nos diz a autora, não é apenas a formação continuada que irá resolver tal situação. Para ela se faz necessário acabar com a deterioração das condições de trabalho sofridas pela escola pública, mas sem deixar de lado a formação dos professores, uma vez que só haverá melhoria na educação com a qualificação destes.

Nesse sentido, é possível constatar, nas reflexões que analisam a política da Secretaria de Educação, ter havido continuamente ações voltadas para a formação de professores, mas sem um projeto que forneça diretrizes de ação e avaliação garantindo uma permanência dos resultados. São ações fragmentadas, realizadas por multiplicadores, que não chegam a todos os professores. Chegam a todas as escolas, mas apenas um professor é privilegiado para receber a formação.

A inexistência de uma política de formação sistemática faz com que os conhecimentos adquiridos sejam defasados no tempo, pois a distância ocorrida entre esses treinamentos não permite que o profissional tenha uma visão atualizada do processo educacional e nem acompanhe as evoluções e as mudanças ocorridas no mundo moderno.

5.2.3 Os temas em discussão no processo de formação continuada institucional

Outro aspecto relevante, ressaltado nesse estudo, diz respeito ao conteúdo da formação continuada, realizada institucionalmente, entendemos, assim como Severino (2007), que um projeto adequado de formação pressupõe o desenvolvimento articulado de três grandes perspectivas, que se impõem com a mesma relevância; são os saberes necessários aos docentes que se consolidam pelo domínio dos conteúdos específicos, das habilidades e técnicas e das relações sociais.

Nesse sentido, achamos relevante averiguar, junto aos professores do Ensino Médio, quais as temáticas que foram desenvolvidas na formação continuada oferecida pela SECD/RN. 73,9% dos professores não responderam essa questão; apenas 26,1% fizeram algumas indicações das temáticas que foram desenvolvidas.

A grande incidência de professores que não responderam a essa pergunta é ilustrativo de como a formação continuada realizada, por meio da SECD/RN, tem sido pouco significativa ou inexistente para a grande maioria dos docentes do Ensino Médio. Por outro lado, identificamos algumas temáticas discutidas no processo de formação continuada propiciado pela SEDC/RN, que se assemelham com as temáticas trabalhadas no âmbito da formação realizada no espaço escolar.

A diversidade de conteúdos é grande, no entanto são enfatizados com mais evidências temas como: o uso das tecnologias em sala de aula; estudo dos Referenciais Curriculares para o Ensino Médio e avaliação da aprendizagem. Com menos incidência, temas como: planejamento por disciplina e a gestão democrática da educação.

Constatamos que os conteúdos da formação continuada, oferecidos pela SECD/RN, priorizaram apenas os conteúdos da reforma educacional. Isso era previsível, pois essas são temáticas desenvolvidas, no âmbito dos programas nacionais, para a formação de professores do Ensino Médio, como PROMED/PRODEB e o Projeto Alvorada, que visam a implementação das políticas de melhoria e expansão do Ensino Médio. As formulações destas políticas envolvem ações voltadas para a gestão escolar e de sistemas, desenvolvimento curricular, formas alternativas de atendimento, formação inicial e continuada de professores e gestores, novas tecnologias educacionais, elaboração do Ensino Médio regular à distância.

Ao priorizar os temas inovadores que vão garantir a chegada das mudanças propostas para o campo educacional à escola, há uma secundarizando os conteúdos específicos das disciplinas do Ensino Médio. O aprofundamento desses conteúdos específicos contribuiriam para o aprofundamento dos conteúdos específicos e permitiriam que os professores se apropriassem dos conhecimentos das ciências. Para Severino (2007), esses conteúdos são essenciais para uma boa formação do professor. Nesse sentido, faz a seguinte colocação:

A dimensão dos conteúdos específicos tem a ver com a cultura científica em geral, com o saber [...] e não se trata apenas de uma acumulação de saber pré-elaboradas, assumidas mecanicamente, mas de um domínio que passa também pela assimilação do processo de produção do conhecimento. Assim de um professor de línguas, há de se esperar um conhecimento sólido e consistente dos conteúdos de sua área, aliado ao domínio de metodologia de

investigação científica de campo, tanto empírico quanto teórico [...] (SEVERINO, 2007, p. 125).

Assim entendemos que não há uma preocupação central em formar, continuamente, os professores para o desenvolvimento de uma prática que rompa com posturas tradicionais existentes nas salas de aula, há uma preocupação sim, em fazer chegar até a escola as novas diretrizes da reforma educacional, que visam uma escola mais aberta, mais flexível, organizada de forma descentralizadas, na qual o sucesso ou o fracasso dos alunos é da responsabilidade de gestores e professores.