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Como temos vindo a deslindar ao longo deste trabalho, o envolvimento dos adolescentes nas suas comunidades locais e na sociedade civil tem vindo a tornar-se um tópico de interesse crescente nos últimos anos. Para além do interesse na socialização política dos adolescentes pela participação juvenil (Tocqueville, 1996; Niemi & Junn, 1998; Hauser, 2000; Galston, 2001; Torney-Purta, Amadeo & Lehman, 2001; Torney-Purta, 2002), a literatura tem mostrado também evidências ao nível do desenvolvimento pessoal e social dos jovens fruto do seu envolvimento em diferentes organizações juvenis que podem existir dentro ou fora da escola (Youniss & Yates, 1997, 1999; Putman, 1995, 2001;Hooghe, 2003; Pickup, Sayers, Knopff & Archer, 2004; Flanagan, 2003; Flanagan & Van Horn, 2003; Dworkin, Larson & Hansen 2003; Green & Brock, 2005; Larson, 2000; Mahoney, Larson & Eccles, 2005; Larson, Hansen & Moneta, 2006; Fredricks & Eccles, 2006). Adicionalmente, a literatura atribui à participação juvenil um efeito protector de determinadas situações menos positivas na vida dos adolescentes, ao associar o envolvimento dos jovens em actividades de participação a uma menor tendência para o humor depressivo (Mahoney, 2000), a um nível mais elevado de satisfação com a vida (Gilman, 2001), à promoção da saúde psicológica (Barber, Eccles & Stone, 2001; Larson & Kleiber, 1993; Vandell & Corasaniti, 1988), a níveis inferiores de gravidez na adolescência (Allen, Philliber, Herrling & Kuperminc, 1997), a menor prevalência de comportamentos anti-sociais (Mahoney & Stattin, 2000; Yin, Katims & Zapata, 1999; Mahoney & Cairns, 1997; Vieno, Nation, Perkins & Santinello, 2007), a níveis inferiores de consumo de substâncias nocivas (Youniss, Yates & Su, 1997) e a níveis inferiores de execução de ofensas de ordem criminal (Mahoney, 2000). No entanto, convém salientar que embora a participação juvenil seja globalmente vista como uma experiência positiva, o potencial para experiências de participação negativas (com efeitos como o stress e a ansiedade exagerados, problemas com a família, problemas comportamentais e de abuso de substâncias, conflitos, promoção de normas sociais inapropriadas e insatisfação pessoal) também existe (Mahoney, 2000; Vieno et al., 2007; Smoll & Smith, 1996; Eccles & Barber, 1999; Fredricks & Eccles, 2006), conforme se referirá mais adiante. Mais se acrescenta que o interesse no envolvimento cívico juvenil é baseado na assumpção, sustentada por dados de investigações longitudinais e outras, de que a participação juvenil em actividades extra-curriculares na escola e organizações juvenis com actividade comunitária e política durante a adolescência facilitam o desenvolvimento dos adolescentes, influenciando os seus esforços de mobilização (Johnson et al., 1998; Hooghe, 2003), de modo a que tal levará a um maior envolvimento cívico e comunitário na adultícia (Miller & Kimmel, 1997; Youniss et al., 1997). Finalmente, saliente-se que a investigação

sugere que existem ligações entre determinados indicadores do contexto familiar dos jovens e o envolvimento cívico dos adolescentes (Garbarino, 1985; Ichilov, 1998; Menezes et al., 2003; Hart et al., 2004). Estudos empíricos efectuados em relação ao papel da escola apontam a relevância de variáveis de abertura e democraticidade do clima de sala de aula enquanto tendo um impacto positivo nas atitudes dos jovens e nos seus comportamentos de participação política (Hahn, 1998; Torney-Purta et al., 2001; Amadeo et al., 2002). Saliente- se ainda que através da participação dos adolescentes em organizações juvenis eles são capazes de desenvolver disposições políticas e competências (Putman, 1995; Flanagan & Faison, 2001; Menezes, 2003a; Ferreira, Ribeiro & Menezes, 2003).

De seguida, exploraremos os dados da literatura que se centram no estudo da relevância de um ou mais elementos contextuais e que nos permitem compreender associações entre características de meios contextuais onde os jovens se movimentam e desenvolvem, e o seu próprio desenvolvimento psicológico no domínio político. Apresentaremos a revisão bibliográfica de estudos relativos à relação entre a participação juvenil e o contexto da família, contexto da escola e, por fim, a relação entre a participação política dos jovens e outros contextos de participação mais específicos.

A família

Os estudos sobre a temática da participação dos jovens focavam inicialmente a associação de factores demográficos e familiares com um maior envolvimento político dos jovens e com o voluntarismo dos adolescentes na intervenção da vida da comunidade. O papel da família nos comportamentos de participação evidenciados pelos jovens é enfatizado desde a base: neste contexto os jovens aprendem a cuidar e a confiar, o que constitui um pré-requisito para a participação em associações (Stone, 2000; Flanagan, 2003, 2004). A família, sendo considerando uma poderosa influência no processo de desenvolvimento global dos seus elementos, é simultaneamente um agente dinâmico (transforma e é transformada, numa perspectiva bidireccional), com protagonismo na participação política dos jovens na vida da comunidade (Grotevant & Cooper, 1988).

A evidência sugere que através de processos de modelagem, de comunicação e de transmissão de valores e expectativas sobre a política (Ichilov, 1998 ; Garbarino, 1985) este contexto de vida dos adolescentes desempenha um relevante papel na participação política dos jovens. Adicionalmente o envolvimento dos pais em organizações cívicas e políticas ou a sua intervenção em assuntos políticos aparece como estando correlacionado com a participação juvenil em organizações formais e informais (Youniss & Yates, 1999 ; Almond & Verba, 1963; Hart et al., 2004; Oesterle et al., 2004). Variáveis sociodemográficas de caracterização da estrutura familiar dos jovens revelam igualmente a sua importância para o estudo da participação juvenil: o envolvimento dos adolescentes em organizações juvenis

correlaciona-se com o tamanho da família (Williams et al., 2001), posição na fratria – os irmãos mais novos têm maior tendência a envolverem em actividades de participação em idades mais precoces, quando os irmãos mais velhos já participam activamente (Williams et

al., 2001), com um mais elevado estatuto socioeconómico da família (Johnson et al., 1998;

Youniss & Yates, 1997; Flanagan, 2004), com o nível educacional dos membros da família (Hauser, 2000; Williams et al., 2001; Oesterle et al., 2004) e com as elevadas aspirações educacionais (Johnson et al., 1998; Youniss et al., 1997; Youniss & Yates, 1999). O nível de religiosidade da família dos jovens também é um factor que está positivamente correlacionado com o envolvimento juvenil em actividades políticas formais ou informais (Kunzman, 2005; Schwadel, 2005). Efectivamente, a afiliação religiosa pode estar relacionada com o facto de determinadas instituições religiosas valorizarem a participação dos adolescentes em grupos de jovens e em determinadas actividades comunitárias que influenciam o envolvimento dos adolescentes em actividades (de participação) religiosas (Pedersen, 2005). Em relação a características dos pais dos jovens, Bartko e Eccles (2003) e outros autores comprovam pelos seus estudos que o nível educacional dos pais e o seu estatuto ocupacional se encontravam positivamente relacionados com o envolvimento dos alunos em actividades de participação depois do tempo escolar (Pedersen, 2005; Frederick & Eccles, 2006; Hauser, 2000; Perliger et al., 2006).

Em Portugal, os baixos níveis educacionais e os baixos estatutos socio-económicos das famílias funcionam como factores de exclusão da participação (Cabral & Pais, 1998) e demonstram existir um baixo nível de desenvolvimento e cultura política (Braga da Cruz, 1985). Efectivamente, a generalidade dos níveis educacionais das famílias do nosso país são, em muitos casos, significativamente diferentes dos níveis educacionais das famílias de outras nacionalidades, onde estes são, em média, mais elevados do que os portugueses (Amadeo et al., 2002; Torney-Purta et al., 2001). Em Portugal existem indicadores sociodemográficos familiares que têm um impacto bastante significativo nos conhecimentos cívicos dos jovens portugueses (Menezes et al., 2003), e que funcionam como seus preditores (Menezes et al., 2003; Menezes et al., 2005). Assim, o número de livros que os adolescentes portugueses têm em casa (medida do nível cultural da família) vai aumentando conforme o nível de escolaridade que o aluno frequenta (Menezes et al., 2003), desde o ensino básico até ao ensino secundário. Para além disso, na generalidade, os níveis educacionais dos pais são mais elevados conforme mais elevado é o nível de escolaridade que o aluno frequenta, ou seja, os estudantes do ensino secundário são, como esperado, um grupo mais culturalmente selectivo do que os estudantes do ensino básico (ensino obrigatório em Portugal) (Menezes et al., 2003).

Também o ambiente psicossocial da família dos jovens tem um papel importante na participação juvenil. Com efeito, diferentes estudos apresentam evidências relativas ao facto de que a discussão frequente de assuntos cívicos e políticos entre pais e filhos tem efeitos no nível de compromisso dos jovens em relação a diferentes actividades de participação juvenil, na medida em que este é um meio privilegiado de transmissão de valores e de expectativas (Ichilov, 1998; White & Matawie, 2004; Kahne & Sporte, 2008; Smetana et al., 2006). A comunicação familiar, aberta a assuntos políticos e sociais controversos, parece estar relacionada com um maior envolvimento e participação política dos jovens nos assuntos da comunidade (Ichilov, 1998; Richardson, 2004; McIntosh, Hart & Youniss, 2007). Mais ainda, os adolescentes que discutem política e assuntos actuais e controversos com os seus pais tendem a apresentar resultados mais elevados do que os outros jovens da mesma idade em medidas de comportamento cívico e político, em atitudes e competências políticas (Torney-Purta et al., 2001; Andolina, Jenkins, Zukin & Keeter, 2003; Verba, Schlozman & Brady, 1995) – os adolescentes manifestam níveis mais elevados de conhecimentos políticos e apresentam um nível superior de disposição ou intenção de votarem, no futuro, para além de que revelam um melhor desempenho em comportamentos políticos, tais como participar em encontros da comunidade ou elaborar uma petição para angariar fundos para entidades de apoio social (McIntosh, Hart & Youniss, 2007). Note-se que as evidências empíricas revelam que a discussão política entre os membros da família permite aos pais serem “importantes fontes de conhecimento político que os jovens podem usar na construção do seu próprio conhecimento político” (McIntosh, Hart & Youniss, 2007, p. 497) e, em última análise, na construção do desenvolvimento político dos jovens. Ora veja-se os efeitos positivos da discussão política entre membros da família que apoiam a perspectiva de que os jovens constroem os seus próprios significados políticos e que indicam que este processo de construção de significado é ainda mais eficaz quando os jovens têm acesso imediato a “material cívico suficiente” (McIntosh, Hart & Youniss, 2007, p. 498) na forma dos conhecimentos, atitudes e comportamentos políticos dos pais. Para além desse aspecto relacionado com o objecto dos diálogos familiares, ou seja, com a comunicação familiar, parece existir ainda uma tendência de modelagem, pois quando os pais dos jovens são activos na comunidade e em organizações cívicas e políticas, os seus filhos tendem a apresentar maior envolvimento activo nos assuntos da comunidade e em organizações juvenis durante a adolescência (Ichilov, 1998; Kahne & Sporte, 2008; Hart et al., 2004; Youniss & Yates, 1999; Youniss et al., 1997, 1999; Johnson et al., 1998).

Jennings e Niemi (1968) começaram a questionar a convencional perspectiva do papel dos pais no moldar, por transmissão directa, as orientações e desenvolvimento políticos dos seus filhos. Os resultados dos seus estudos demonstraram existir uma grande variabilidade na semelhança de posições políticas entre os pais e os filhos. Sublinhe-se, também, que Connell (1972) alude que os pais não moldam directamente as perspectivas

políticas dos seus filhos mas, em vez disso, o autor sugere que os pais apenas colocam os seus filhos num determinado contexto sociopolítico que pode proporcionar algum reforço positivo das suas próprias perspectivas, enquanto pais. Efectivamente, muitas investigações nesta área parecem estar a ser guiadas pela assumpção da perspectiva da aprendizagem social que acentua o facto das crenças e comportamentos políticos dos adolescentes serem moldados pelo seu envolvimento com os pais (Smetana et al., 2006) e, embora existam evidências empíricas da relevância da modelagem de comportamentos políticos entre pais e filhos, é importante relembrar que o processo pelo qual os indivíduos desenvolvem concepções sobre si próprio e sobre o seu mundo, tal como o mundo político, inclui não só os julgamentos valorativos dos outros, mas também a experiência directa, as experiências vicariantes e as inferências que os sujeitos fazem sobre o conhecimento que eles já possuem (Bandura, 1986). Quer isto significar que embora os pais possam modelar as atitudes dos jovens em relação a assuntos públicos e à participação política, a literatura já há muito tempo que se apercebeu que a influência dos pais nos filhos tende a manifestar-se de formas difusas.

O visionamento conjunto de pais e filhos de programas ou conteúdos televisivos sobre assuntos políticos é, por exemplo, por vezes o mote para discussões sobre o tema da política. Há inclusivamente estudos que demonstram que apesar de a visão conjunta de conteúdos televisivos não predizer por si só a discussão política entre os membros da família (Pearson, Western, Semlak & Herakova, 2008; Jang, 2009), apontam para o facto de que o cepticismo e o conteúdo negativo das mensagens dos media têm o efeito de promover tal discussão, mas não a cultivação de hábitos de visionamento televisivo crítico ou a participação em processos de participação em assuntos públicos (Pearson, Western, Semlak & Herakova, 2008). Para além disso, é sugerido na literatura mais recente que as atitudes negativas dos pais em relação aos assuntos políticos e à política, em geral, não irão necessariamente criar uma nova geração de cidadãos cada vez mais apáticos e cínicos, porque os pais podem estar motivados para discutir aquelas coisas de que não gostam - tal discussão política entre os membros da família pode levar ao desenvolvimento da consciência política, eficácia e acção entre os filhos (Pearson, Western, Semlak & Herakova, 2008).

Adicionalmente, saliente-se que a comunicação entre a família, o grau de expressividade entre os seus membros e o clima de abertura familiar são indicadores relevantes do nível de envolvimento activo dos jovens na comunidade (Andolina, Jenkins, Zukin & Keeter, 2003; McIntosh, Hart & Youniss, 2007). A literatura revela que crianças que crescem em casas onde existe discussão aberta sobre diferentes temas, expressividade em relação ao que cada um sente e pensa sobre uma dada temática e coesão entre os seus elementos, tendem a ser politicamente envolvidas, quando se tornam adultos (Andolina, Jenkins, Zukin & Keeter, 2003; McIntosh, Hart & Youniss, 2007). Torna-se, portanto,

relevante perceber ainda como os pais ocupam os seus tempos livres, ou seja, os momentos em que não estão a trabalhar, se procuram envolver todos os elementos da família e em que contextos se movimentam. Tal parece querer significar que o facto de ter uma família unida, coesa com um sentido de inter-ajuda e simultaneamente uma família que comunica sentimentos, projectos, pensamentos e experiências se relaciona com a participação política dos seus membros.

Por outro lado, a literatura demonstra que o apoio e estímulo parental com enfoque no sucesso académico dos filhos apresentam uma ligeira, mas significativa, relação negativa com os níveis de participação cívica e política dos seus filhos (Kahne & Sporte, 2008). Tal pode ocorrer nos contextos familiares onde a orientação para o sucesso académico ganha preponderância em relação à dimensão da relação familiar e de crescimento pessoal integral.

Em Portugal, no que concerne às conversas que os pais e filhos têm sobre a política há uma tendência significativa de a sua frequência se relacionar com o nível de escolaridade dos alunos, apesar de serem apenas aproximadamente 15% dos jovens os que discutem frequentemente política com os seus pais (Menezes et al., 2003). Aqui pode ocorrer também um fenómeno de sub-desvalorização das conversas sobre política em família, por parte dos jovens, que poderão ter respondido ao estudo tendo em mente as representações sociais dos jovens sobre a política que são, normalmente, negativas.

Apesar de a família ter, há muito tempo, perdido o seu carácter exclusivo de sociabilidade e de agente de sociabilização juvenil, é um contexto com uma importante influência no desenvolvimento psicológico dos jovens, nomeadamente no que respeita ao domínio político. A família desempenha um papel estratégico no desenvolvimento dos jovens quer directamente, pela influência no conjunto de comportamentos que as crianças aprendem como parte da sua socialização, quer indirectamente pela influência de outros contextos (tais como a vizinhança, a escola, os pares) que influenciam o comportamento do adolescente (Brofenbrenner, 1979). Em jeito de conclusão refira-se que o maior contributo que a literatura sobre a família nos traz para esta temática é a de que a percepção de um clima de família aberto e democrático onde estejam presentes as “condições” acima apontadas pode ter um efeito relevante na internalização de atitudes democráticas e em comportamentos políticos dos jovens. Tal significa que o contexto familiar pode ter um efeito facilitador do desenvolvimento político dos jovens.

Contudo, Beck (1977) afirmava que os verdadeiros agentes de socialização se encontram no contexto. Daí que neste estudo se tenha privilegiado a importância dos contextos de vida, especificamente dois dos mais relevantes contextos de vida, numa dimensão específica do desenvolvimento psicológico, o desenvolvimento político.

A escola

A escola assume um papel privilegiado na promoção do envolvimento cívico dos jovens, particularmente pela missão cívica que exerce na promoção do desenvolvimento pessoal e social dos jovens, que é tão velha como a própria escola (Roldão, 1999). A escola não é somente o espaço onde objectivos de educação cívica podem ser trabalhados e alcançados, mas é também o espaço público onde muito provavelmente os adolescentes passam a maior parte do seu dia-a-dia, em permanente contacto com outros colegas e com professores que podem influenciar o processo de desenvolvimento dos conhecimentos cívicos, atitudes e comportamentos políticos (Ehman, 1980; Hess & Torney, 1967; Torney- Purta, 2002; Flanagan, 2003; Flanagan, Gill & Gallay, 2005b). Diversas investigações aludem que o contexto da escola apresenta bons resultados na demonstração do seu papel de promotora do desenvolvimento dos jovens no domínio político quando são “ensinados conteúdos políticos e competências de literacia política, onde se assegura e proporciona um clima de sala de aula aberto para a discussão de diversos assuntos, enfatizando-se a importância do processo eleitoral e encorajando uma cultura de escola participativa“ (Torney-Purta, 2002, p. 203). Apesar dos diversos desafios que as escolas enfrentam actualmente, as escolas são a instituição com o mandato mais universal para a integração das gerações mais novas na política (Flanagan, Cumsille, Gill & Gallay, 2007) e, para além disso, são também a instituição social com mais probabilidades de proporcionarem aos indivíduos oportunidades para a prática democrática (Hahn, 1998; Torney-Purta, 2002; Flanagan, Cumsille, Gill & Gallay, 2007) – é efectivamente um dos contextos privilegiados onde os adolescentes podem experienciar um sentido de eficácia pessoal e colectiva e prepararem-se para os seus papéis de cidadãos adultos (Torney-Purta et al., 2001).

Os resultados dos estudos empíricos salientam que variáveis sociodemográficas de caracterização do ambiente escolar e, em particular, do clima de sala de aula dos jovens assumem um importante papel no estudo da participação juvenil. O envolvimento dos jovens em associações de estudantes, grupos de defesa do meio ambiente ou outros clubes ou associações que tenham lugar nas escolas demonstra como a escola é, de facto, um lugar onde as possibilidades de participação política são amplas.

Saliente-se, desde logo, que o próprio clima organizacional da escola, o seu projecto educativo e actividades que envolvam os estudantes e a comunidade local são elementos que podem, por si só, assentar em práticas democráticas ou não e, deste modo, contribuir ou não para a aprendizagem de atitudes e práticas democráticas entre os jovens (Hahn, 1998).

Assim, pode referir-se que a idade dos jovens é uma variável que aparece associada aos níveis de participação política em actividades que ocorrem dentro da escola, na medida em que parece existir um declínio dos níveis de participação juvenis em actividades que

ocorrem na escola (desportivas ou associativas) há medida que a idade dos jovens aumenta (Amadeo et al., 2002; Torney-Purta et al., 2001; Pedersen, 2005; Pedersen & Seidman, 2005; McNeal, 1998; Hooghe, 2003; Hart et al., 2004; Menezes et al., 2004; Fredricks & Eccles, 2006). Os estudos demonstram que há decréscimo dos níveis de participação dos jovens a partir dos 18 anos de idade, aproximadamente, o que corresponde ao momento em que os jovens finalizam o ensino secundário, entram na universidade, havendo frequentemente deslocações e mudanças de residênciaa fazer (e de grupos anteriormente frequentados) e, desse modo, existindo novos contextos a explorar, com a ruptura dos

"antigos" contextos da adolescência (se não todos, pelo menos alguns). Todavia, os jovens

estudantes, na sua globalidade, acreditam que as acções realizadas por grupos de estudantes podem ser eficazes na melhoria da escola e seu funcionamento (Amadeo et al., 2002; Torney-Purta et al., 2001). Como se ilustrará mais adiante neste capítulo, este decréscimo global dos níveis de participação juvenil contém em si mesmo o aumento de algumas formas e/ou tipos de participação e a diminuição de outras(os).

No que concerne os níveis de escolaridade dos jovens pode dizer-se que esta variável, tal como a idade, está correlacionada com os níveis de participação dos jovens – em termos globais, há medida que aumenta a escolaridade aumentam os níveis de participação dos jovens mas com um decréscimo no final do ensino secundário (Amadeo et