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3 OS MOVIMENTOS AMBIENTAIS COMO ESPAÇO PARA O EXERCÍCIO DA

3.1 A dimensão ambiental da cidadania

3.1.1 Formas de participação para proteção do meio ambiente

3.1.1.1 Participação não-oficial

A participação não oficial, segundo Séguin, “caracteriza-se pela ausência de uma formalidade específica a ser cumprida”. Concretiza-se em ações livres, que geralmente exigem apenas mobilização em massa de indivíduos e são sempre permitidas quando não ofendem o princípio da legalidade inscrito no artigo 5º, inciso I da Constituição. A autora aponta como modalidades de exercício da participação não-oficial a mobilização da opinião pública, o direito de reunião e de associação e os grupos de pressão.158

A opinião pública se define como “o conjunto de idéias e dos juízos partilhados pela maioria dos membros de uma sociedade, naquilo que concerne às mais variadas áreas de atividades” 159. Trata-se, portanto, do pensamento emitido por grupos ou pessoas que possuem

alguma notoriedade na sociedade civil, o que leva suas opiniões a serem levadas a público e, por conseguinte, a influenciarem o modo de pensar de outras pessoas e outros grupos.

158 SEGUIN, Elida. Op. cit., p. 321/322.

159 HOLANDA, Aurélio Buarque de. O Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Versão digital. Editora Positivo, 2004 CD-ROM.

Percebe-se, portanto, que o fenômeno da opinião pública tem íntima relação com a liberdade de pensamento e o direito do indivíduo de acesso à informação.

É preciso estar alerta, contudo, praticando um exercício de criticidade sobre a informação que chega até nós. Muitas vezes, a mídia está a serviço de interesses contrários à preservação ambiental, aliando-se a políticos, empresários e outros grupos que ainda acalentam um pensamento desenvolvimentista, ou seja, de crescimento econômico a qualquer custo, invertendo as prioridades, e publica o que bem lhe interessa da forma que melhor convém às pretensões daqueles com quem está de fato compromissada. Sempre que se recebe uma informação, não apenas sobre meio ambiente, mas acerca de qualquer outro assunto relativo à comunidade, é extremamente saudável procurar saber mais detalhadamente sobre a informação recebida, entendendo quais mecanismos estão ligados àquele fato, verificando se há omissões na informação passada, se os fundamentos apresentados na defesa de determinado posicionamento encontram realmente correspondência na realidade. Dessa forma, evita-se a reprodução de idéias que se encontram opostas ao direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, mesmo que de uma maneira mais sutil, mais disfarçada.

Por outro lado, Séguin alerta que, ao expor publicamente a necessidade de proteção ao meio ambiente, de nada adiantam protestos irados sem que se apresente algo mais concreto. Afirma a autora160:

Este tipo de atitude milita em desfavor da causa ambiental, em especial porque inclinações perversas do ecologismo contemporâneo permitam que o amor à natureza dissimule o ódio aos homens, fazendo com que estes ambientalistas radicais sejam apelidados de “ecoxiitas”, ecochatos ou biodesagradáveis. Preservar a natureza sim, mas sem esquecer que o homem faz parte integrante dela, devendo ser preservado, até dele mesmo.

Portanto, a emissão de opiniões em defesa da proteção ambiental deve ser feita de forma bem fundamentada, com apresentação de propostas que possam funcionar como alternativas solucionadoras do problema denunciado, e não mero protesto contra tudo e contra todos. Se não houver a devida preocupação com a consistência do discurso, os protestos caem no vazio.

A segunda forma de participação não-oficial listada por Séguin se refere aos direitos de reunião e de associação. A Constituição, em seu artigo 5º, inciso XVI, declara que “todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião”. O dispositivo citado continua afirmando que se exige apenas que a autoridade competente seja previamente autorizada acerca da realização da reunião. Já o direito de associação está disposto no inciso XVIII do mesmo artigo, ficando estabelecido que é livre a sua criação e que é vedado ao Estado interferir no seu funcionamento.

É preciso diferenciar o direito de reunião do direito de associação. O primeiro deles é mais efêmero, mais pontual, pois a reunião ocorre durante certo intervalo de tempo e depois se dissolve, sem gerar vínculos mais fortes entre aqueles que participam do ato. Seu objetivo é chamar a atenção para um fato, possuindo valor simbólico, e um bom exemplo do exercício do direito de reunião é a realização de uma passeata pelas ruas de uma cidade em protesto contra a poluição excessiva lançada pelas empresas locais. Já a associação se refere a algo mais duradouro, mais constante, para o qual se pode citar como exemplo a criação de associações de bairro para defender os interesses de determinada comunidade.

Em seguida, vêm os grupos de pressão. Antes de qualquer coisa, cabe considerar que os grupos de pressão são uma espécie do gênero grupos de interesse. Pereira161 define grupos de interesse como organizações de tipo associativo cujos membros possuem um interesse comum, atuando coletivamente para a satisfação desse interesse. Para o autor, os interesses podem resultar de posições sociais ou profissionais comuns, entre outros fatores; além disso, tais grupos possuem uma organização mínima, diferindo nesse ponto dos grupos latentes, em que há comunidade de interesse mas não há organização.

Para Séguin162, os grupos de interesses podem ser divididos em dois grupos principais: os partidos políticos e os grupos de pressão. Os primeiros intentam alcançar o poder político de maneira mais direta, participando das disputas eleitoras. Os grupos de pressão, por sua vez, podem ser definidos como associações que, querendo manter ou alterar determinados pontos da estrutura social, se aproximam dos atores sociais mais diretamente envolvidos com o poder

161 PEREIRA, Paulo Trigo. Governabilidade, grupos de pressão e o papel do Estado. Artigo. Apresentado no I Encontro Nacional de Ciência Política – Associação Portuguesa de Ciência Política – Lisboa. 1999. Disponível em http://pascal.iseg.utl.pt/~ppereira/docs/GruposPressao5.pdf. Acesso em 5 mai. 2010.

político de forma a influenciá-los para o atendimento do interesse específico que o grupo de pressão representa.

Séguin163 define resumidamente os grupos de pressão como “elementos catalisadores para a formação de uma ação comum”. Eles são responsáveis por grandes mobilizações, quando contam com vários adeptos que conferem força ao ato realizado. Um exemplo que pode ser dado é o de uma ONG que espalha pela internet um abaixo-assinado a ser enviado ao Congresso Nacional para que determinada lei que permite maiores agressões ambientais não seja aprovada. Quanto maior a adesão que o grupo conseguir, mais pressionados os destinatários da ação do grupo se sentem a atender aos objetivos da manifestação.