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Segundo Demo (2005), estudos qualitativos demandam suas aplicações em grupos menores, a comunidades pequenas e a instituições de tamanhos facilmente contornáveis, sendo essa limitação metodológica amplamente compensada pela profundidade dos procedimentos, estando, nesta particularidade, sua razão de ser.

Neste sentido, no presente estudo foram entrevistados 08 médicos e 12 enfermeiros (TABELA 1). O critério de inclusão dos médicos e enfermeiros no estudo foi o de compor a equipe do setor, como residente ou plantonista e atuar como enfermeiro respectivamente. Inicialmente, propôs-se que apenas profissionais com no mínimo 06 meses de vínculo no setor fossem entrevistados, o que excluiria 02 enfermeiras com relevante atuação no serviço. Assim, optou-se por não utilizar como critério de inclusão a variável tempo mínimo de atuação no cenário. Isto porque a partir da observação de campo, percebeu-se que o tempo não delimita a relação de poder e, assim chegamos à conclusão de que excluí-las alteraria a percepção e compreensão da dinâmica das relações estudadas e a sua configuração.

As principais técnicas de coleta de dados usadas no estudo foram as entrevistas de roteiro semiestruturado (APÊNDICES B e C) e a observação, com registro em diário de campo. Os dados foram coletados no período de agosto a outubro de 2017.

TABELA 1 - Distribuição dos participantes do estudo por categoria profissional. CATEGORIA PROFISSIONAL TOTAL DE PROFISSIONAIS Nº DE ENTREVISTADOS Enfermeiros 17 12 Médicos 36 08

Fonte: dados da pesquisa

A entrevista foi a primeira opção de coleta de dados por ser considerada, por muitos autores, um dos instrumentos mais básicos para se coletar dados dentro da proposta qualitativa. É a técnica mais utilizada nas pesquisas relacionadas às Ciências Sociais por demandar interação social por meio das relações que se estabelecem à medida que entrevistador e entrevistado se comunicam por palavras, sons, gestos e feições (LÜDKE; ANDRÉ, 2011).

Delimitar a amostra é um dos grandes desafios das pesquisas qualitativas. A definição de amostragem por Bauer e Gaskel (2003) se constitui como um conjunto de técnicas para se alcançar representatividade. A confiabilidade da amostra representativa é incontestável e satisfatória à medida que garante eficiência na pesquisa por fornecer uma base lógica para o estudo de apenas partes de uma população sem que se percam as informações que traduzam a realidade de sua totalidade (VELLOSO, 2011). Isso justifica o fato de que, neste estudo, ter se utilizado a amostra por saturação, que não é sustentada por critérios estritamente numéricos e de que nela não há, a priori, delimitação de número de entrevistados.

Buscou-se garantir a representatividade da amostra a partir da apreensão da realidade do fenômeno estudado, o que foi considerado quando a coleta de novos dados não mais despertava novos insights teóricos, nem revelava novas propriedades das categorias estabelecidas (CHARMAZ, 2009; VELLOSO, 2011). Assim, foi considerada ideal a amostra capaz de refletir a totalidade de suas múltiplas dimensões (MINAYO, 2010). A amostra abrangeu tantos indivíduos quantos foram necessários para a melhor compreensão da realidade estudada. Todavia, é importante ressaltar que não foram desprezadas informações de relevância ímpar cujo potencial explicativo foi necessário levar em conta.

A sequência das entrevistas foi definida de forma aleatória, respeitando a disponibilidade dos sujeitos do estudo em seus respectivos plantões. Os dados foram coletados na própria instituição, durante o turno de atuação de todos os profissionais, para que não

excedesse a carga horária de trabalho da escala em decorrência da pesquisa. Houve acordo prévio com as coordenações médica e de enfermagem para definição do melhor horário de abordagem aos profissionais considerando resguardar a rotina assistencial do setor.

A entrevista de roteiro semiestruturado possibilitou um diálogo norteado por um esquema básico, porém, flexível, o que permitiu ao pesquisador fazer adaptações que considerou serem necessárias no processo de coleta de dados (YIN, 2010). Utilizando-se esse roteiro, a entrevista foi conduzida por meio de perguntas fundamentais a respeito do fenômeno social que se desejava conhecer aprofundando em ideias ou respostas com maiores detalhes (POPE; MAYS, 2009).

Os participantes foram identificados utilizando a letra inicial maiúscula, que corresponde à sua categoria profissional (médico – M e enfermeiro – E), seguida do número correspondente à ordem da entrevista (TABELA 2).

As conversas foram gravadas e posteriormente transcritas na íntegra para análise e interpretação dos discursos constituídos a partir das falas dos autores, de forma a garantir a totalidade e fidedignidade das informações com auxílio de um aluno bolsista sob orientação e supervisão do pesquisador.

TABELA 2 – Identificação dos sujeitos do estudo. IDENTIFICAÇÃO CATEGORIA PROFISSIONAL

E1 Enfermeiro E2 Enfermeiro E3 Enfermeiro E4 Enfermeiro E5 Enfermeiro E6 Enfermeiro E7 Enfermeiro E8 Enfermeiro E9 Enfermeiro E10 Enfermeiro E11 Enfermeiro E12 Enfermeiro M1 Médico M2 Médico M3 Médico M4 Médico M5 Médico M6 Médico M7 Médico M8 Médico

Fonte: dados da pesquisa

Durante todo o processo de coleta de dados, todas as impressões e observações realizadas pela pesquisadora foram registradas em diário de campo. Quanto à prática da observação, analisar o ambiente no qual a pesquisa está sendo realizada favorece uma percepção mais aguçada das circunstâncias particulares onde os sujeitos estão inseridos, sendo uma ação essencial no processo de entendimento do contexto ao relacionar o percebido com as pessoas, os gestos e as palavras (POPE; MAYS, 2009; LÜDKE, ANDRÉ; 2011). Neste momento, a

maioria dos dados da realidade foi considerada importante, bem como a maneira como os sujeitos elaboraram as respostas às questões levantadas pela pesquisadora.

Para Pope e Mays (2009), a necessidade de observar surge em decorrência do distanciamento que há entre o que as pessoas falam e o que fazem. Por significarmos o que vemos de acordo com nossa vivência, este método precisa ser fielmente controlado e sistematizado, para que seja considerado um instrumento válido e limpo de inferências do pesquisador, demandando então um planejamento cuidadoso e uma rigorosa preparação do investigador ao determinar o que e como observar. Os dados observados foram documentados em um diário de campo por meio de um registro claro, detalhado e sistemático que resultou em 20 páginas escritas.