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Segundo Foucault (1979), o avanço da Medicina favoreceu a reorganização dos hospitais. E é na reorganização da Instituição Hospitalar e no posicionamento do médico como principal responsável por esta reordenação, que encontramos as raízes do processo de disciplinarização e seus reflexos na Enfermagem. Após esse processo, a Enfermagem ressurgiu de uma fase sombria em que esteve submersa até então (GEOVANINI, 1995; TURKIEWICZ, 1995).

Uma das pessoas mais importantes na história da Enfermagem é Florence Nightingale, nascida na Itália, era filha de ingleses e possuía inteligência atípica, tenacidade de propósitos, determinação e perseverança. No desejo de realizar-se como enfermeira, passou o inverno de 1844 em Roma, estudando as atividades das Irmandades Católicas, porém decidida a seguir sua vocação, procurou completar seus conhecimentos que julgava ainda insuficientes visitando o Hospital de Dublin dirigido pelas Irmãs de Misericórdia (GEOVANINI, 1995; TURKIEWICZ, 1995).

Em 1854 a Inglaterra, França e Turquia declararam guerra à Rússia e a mortalidade entre os soldados hospitalizados nos campos de batalha era de 40%. Foi nesse cenário que a Enfermagem passou a atuar, quando Florence Nightingale foi convidada pelo Ministro da Guerra da Inglaterra para trabalhar junto aos soldados feridos em combate na Guerra da Criméia. Aos poucos, os soldados e oficiais, um a um, começaram a curvar-se e a enaltecer à incomum Miss Nightingale, pois a mortalidade decresceu de 40% para 2% (GEOVANINI, 1995; TURKIEWICZ, 1995).

Segundo Pires (2009), a Enfermagem é uma profissão reconhecida desde a segunda metade do século XIX, quando Florence agregou atributos às atividades de cuidado à saúde já desenvolvidas milenarmente. Somente a partir de Florence a ideia de cuidado passou a ser considerada objeto de estudo do que viria a se constituir a enfermagem, embora as ideias e formulações sobre cuidado sejam muito anteriores a isso (BOFF,1999; AYRES, 2003; COSTA

et al., 2012).

Desde a antiguidade, o profissional de enfermagem dedicou-se a promover, restabelecer e manter a saúde das pessoas, atuando na promoção, prevenção e recuperação de doenças, reconhecendo na união do enfermeiro com o paciente e na enfermagem a possibilidade de satisfação das necessidades básicas da população (CAVALCANTI et al., 2014). Além de ser reconhecida como uma área técnico-científica formalizada legalmente, a Enfermagem é também um campo de práticas sociais, pois assiste ao indivíduo doente ou sadio, a família e a comunidade (COSTA et al., 2006). A evolução da enfermagem ocorreu de forma gradativa sob influência dos padrões da sociedade. Assim, o cuidado passou de uma assistência limitada ao círculo familiar, transmitida de geração em geração, para uma assistência técnico-científica, por meio da formação de profissionais em Universidades (CAVALCANTI et al., 2014).

Segundo Costa et al. (2006), nas décadas de 1920 a 1930, ocorreu a inserção da Enfermagem profissional no Brasil. A Escola Anna Neri foi pioneira no país e priorizou em seu currículo as práticas de Saúde Pública reproduzindo o modelo Nightingaliano, que possuía disciplina militar em seus ensinamentos (GEOVANINI, 1995; TURKIEWICZ, 1995). Já nas décadas de 1940 a 1950, a saúde foi considerada prioridade nacional, evidenciada pela criação do Ministério da Saúde, e passou a desenvolver ações privadas da medicina de grupo, que se consolidou como modalidade assistencial. Nesse contexto, a Enfermagem encontrou espaço para a consolidação da modalidade Moderna, com participação progressivamente maior nos cenários hospitalares, ficando cada vez mais encarregada de atribuições administrativas e atividades educativas como treinamentos e preparo de pessoal em serviço (GEOVANINI, 1995; TURKIEWICZ, 1995; COSTA et al., 2006).

Em 1960, período militar ditatorial no Brasil, os esforços estavam direcionados à centralização do poder e as práticas assistenciais passaram a ser exercidas em larga escala, por auxiliares de Enfermagem que ultrapassaram o total de enfermeiros, uma vez que o mercado de trabalho passou a exigir mão de obra para a atenção à saúde individual. Na década de 1970, a Enfermagem criou o seu conselho próprio como categoria profissional em nível federal e

garantiu a representatividade desse órgão de classe em diversas regiões do país. Entretanto, na década de 1980, a categoria não efetivou sua inserção no processo da reforma sanitária (COSTA

et al., 2006).

Nos anos de 1990, a Enfermagem, ocupou espaço na administração dos serviços de saúde com atividades voltadas para os recursos humanos, avanços tecnológicos e qualidade na oferta de bens e serviços. Portanto, reconhece-se que por muito tempo na história, a enfermagem somente reproduziu, ainda que de maneira eficiente e eficaz, o que foi determinado pelas políticas, programas e instituições governamentais. O enfermeiro parecia não ter percebido a dimensão da sua esfera de poder e visibilidade, conquistados ao longo do tempo (COSTA et al., 2006).

De acordo com Pires (2009), cabe ao profissional enfermeiro cuidar do coletivo ou individual, educar e pesquisar, seja no trabalho com a equipe ou na promoção de saúde e prevenção de agravos com pacientes. Cabe ainda ao enfermeiro coordenar o trabalho coletivo da equipe de enfermagem, a administração do espaço assistencial, de participação no gerenciamento da assistência de saúde e no gerenciamento institucional. E mesmo com uma história por vezes discriminatória, a enfermagem, ainda hoje, busca seu verdadeiro papel em um campo cada vez maior de atuação, pois procura se modernizar, politizar, tentando se engajar gradativamente na apropriação da profissão como ciência (CAVALCANTI et al., 2014).

O trabalho da enfermagem sempre demandou uma relação próxima entre diversos sujeitos, como entre o cuidador e o sujeito a ser cuidado. O cuidador traz consigo sua subjetividade, história, necessidades, relações de trabalho e concepção profissional de saúde, por outro lado o sujeito a ser cuidado carrega consigo suas necessidades e concepções culturais de saúde e doença. Estas expectativas e interesses podem aproximar-se, potencializando a perspectiva do cuidado “de si e do outro” ou distanciar-se gerando conflitos entre os envolvidos (FOUCAULT, 2002).