• Nenhum resultado encontrado

De acordo com as premissas da abordagem qualitativa, o pesquisador vai a campo buscando estudar um fenômeno a partir da perspectiva das pessoas nele envolvidas, considerando que os pontos de vista expressados por essas pessoas constituem retrato e representação, de algum modo, do coletivo onde se inserem.

Minayo (1992, p. 102), ao dissertar sobre esse aspecto, assinala que a amostragem qualitativa “privilegia os sujeitos sociais que detêm os atributos que o investigador pretende conhecer” e que “uma amostra ideal é aquela capaz de refletir a totalidade nas suas múltiplas dimensões”. Isso significa que a qualidade dos sujeitos em fornecer dados

relevantes à pesquisa configura-se como de maior importância que a quantidade de informantes consultados. Dentro desta compreensão, busca-se a imersão na realidade, procurando conhecer o pensamento dos sujeitos a serem pesquisados, os quais são considerados bons informantes quando têm algo a dizer, da melhor maneira possível, sobre a temática que está sendo investigada.

A definição dos sujeitos, em pesquisa dessa natureza, pauta-se por procedimentos de amostragem denominados não probabilísticos (GIL, 1994) ou não aleatórios (BARBETA, 1998). Segundo Gil (1994), a amostragem de tipo não probabilística, típica da pesquisa social, não se fundamenta na matemática ou na estatística, dependendo unicamente de critérios estabelecidos pelo pesquisador para ser levantada. Barbeta (1998), por sua vez, acrescenta que, “em geral, as técnicas de amostragem não aleatórias procuram gerar amostras que, de alguma forma, representem razoavelmente bem a população de onde foram extraídas” (p. 53).

A abordagem qualitativa, usualmente, não privilegia critério numérico para definir uma amostra, uma vez que não se propõe à generalização e sim ao aprofundamento e à abrangência da compreensão do fenômeno em estudo. Pautado por premissas dessa abordagem, este estudo não teve a preocupação de incluir muitos sujeitos na amostra. Antes, buscou valorizar a qualidade dos dados, bem como as interações estabelecidas com os sujeitos, na perspectiva colocada por Bogdan e Biklen (1994), segundo a qual “a qualidade do trabalho de campo passa pelo estabelecimento de relações” (p. 114).

Com base nos subsídios encontrados na fase exploratória, foram estabelecidos como critérios que seriam sujeitos do estudo psicólogos que desenvolvessem suas atividades profissionais no município de Florianópolis, registrados no CRP e que estivessem no exercício da profissão. Além desses critérios, a amostra deveria contemplar: a) profissionais que trabalhassem em campos de atuação diversificados, incluindo tanto os que desenvolvessem práticas de trabalho individual, típicas de consultório particular, quanto aqueles envolvidos coletivamente, por meio de inserção em equipes multidisciplinares de hospitais, clínicas, empresas e consultorias, por exemplo; b) profissionais de diferentes abordagens teórico-metodológicas de intervenção, ou seja, cujas práticas se pautassem por correntes de pensamento diversificadas; c) profissionais que contassem com cinco ou mais anos de formados, entendendo já terem, então, uma relativa estabilidade em sua profissão, uma significativa trajetória de trabalho cotidiano a lhes proporcionar vivências constitutivas de identidade profissional e, ainda, a possibilidade de comparar entre o que desejavam e o que alcançaram na profissão.

No que se refere aos diferentes campos e locais de atuação que se pretendia abranger, buscaram-se subsídios em pesquisa sobre a realidade profissional do psicólogo brasileiro, desenvolvida em 2001, a qual apontou como as quatro áreas de atuação predominantes desse profissional a Psicologia Clínica de consultório, com 55% de incidência; a Psicologia da Saúde com 12,6%; a Área Organizacional ou do Trabalho, com 12,4% e a Psicologia Educacional/Escolar, com 9%. Atuações em Psicologia do Trânsito, Psicologia Jurídica, Docência em Psicologia, Psicologia Social, Pesquisa em Psicologia e Psicologia do Esporte somaram os 11% restantes (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2003a)1. Segundo a mesma pesquisa, os locais de exercício da atividade principal são, em primeiro lugar, o consultório particular (45%), seguido de empresas (12,5%), hospitais/ambulatórios/Postos de Saúde e Centros de Saúde (11,8%), escolas/faculdades e universidades (10%), clínicas (9,7%), órgãos públicos (7,1%) e sistema penal/penitenciário (2,3%). Órgãos ligados à criança e ao adolescente, centros e associações comunitárias, clubes e instituições de caridade e outros são referidos em menor número, somando 6%.

Esses dados foram importantes para a definição dos participantes do estudo, por mostrarem que os locais de trabalho dos psicólogos guardam relação direta com as atividades por eles desenvolvidas: nos consultórios e clínicas está a atuação clínica, nos hospitais e outras unidades de saúde está a atuação em Psicologia da Saúde, nas empresas a Psicologia do Trabalho e nas escolas a atuação em Psicologia Educacional e Escolar. Assim, procurou-se contemplar as áreas e locais de atuação mais representativos da Psicologia. Para tanto, foi elaborada, num primeiro momento, uma lista dos possíveis locais e/ou instituições da cidade onde poderiam ser encontrados psicólogos, ou onde se sabia previamente que os havia, como clínicas, escolas, órgãos públicos, hospitais, empresas, centros comerciais e consultorias. Esse registro foi efetuado com o auxílio de informações veiculadas em listas telefônicas, livretos de convênios, e também a partir da observação e registros acerca de diferentes locais da cidade onde esses profissionais atuam, como prédios comerciais onde funcionam Centros Médicos, por exemplo.

Esse “mapeamento” informal preliminar permitiu passar à etapa seguinte, de estabelecimento de contatos telefônicos com esses locais. Nesses contatos, procurava-se

1

Informações fornecidas pelo CRP 12 referentes aos registros de especialidades em Psicologia solicitados pelos profissionais apontaram dados parecidos. Até dezembro de 2002, segundo esses dados, as áreas de maior incidência de pedidos de registro foram a Psicologia Clínica, seguida da Psicologia Organizacional e do Trabalho, Psicologia Escolar/Educacional, Psicologia Hospitalar, Psicologia do Trânsito e Psicologia Jurídica.

confirmar a presença de psicólogo ali atuando e, em caso positivo, avaliar se se encaixavam nos critérios que pautariam a escolha. A preferência era sempre que o contato se desse já com o próprio profissional, embora em alguns casos secretárias ou recepcionistas tenham fornecido as primeiras informações. De qualquer modo, sempre se faziam a apresentação da pesquisadora e a explanação sintetizada dos objetivos do contato. No caso de locais onde atuavam vários profissionais, como algumas clínicas e órgãos públicos, solicitava-se a informação sobre o número de psicólogos que ali trabalhavam, realizava-se um sorteio e só então era dirigido o convite para participação na pesquisa, disponibilizando-se o máximo possível de informações sobre a proposta e deixando a pessoa bastante à vontade para decidir se gostaria ou não de participar. Um dos sujeitos só se decidiu pela participação após um contato pessoal, quando lhe foi mostrado o projeto de pesquisa e expostas novamente as condições de sua participação. Apenas um convite foi recusado, sob a alegação de falta de tempo. Em outro caso, o sujeito precisou ser substituído ao se constatar que não preenchia o critério de estar formado há pelo menos cinco anos.

Esse processo de busca dos sujeitos foi sendo completado na medida da realização das entrevistas, pois os próprios psicólogos iam trazendo outras informações sobre locais onde havia profissionais que poderiam ser incluídos na amostra. Por essa via, chegou-se a profissionais e locais de trabalho onde num primeiro momento nem se suspeitava que os houvesse.

Vale ressaltar que a seleção de participantes foi particularmente delicada, exigindo a observância de muitos cuidados éticos, uma vez que, sendo a pesquisadora componente desse universo de profissionais, corria o risco de enviesar sobremaneira o processo de escolha, tornando-o intencional e incluindo, por exemplo, apenas pessoas conhecidas, apenas pessoas bem-sucedidas profissionalmente ou, ainda, apenas egressos da Universidade Federal onde atua profissionalmente.

Com base nos critérios e considerações expostos, participaram desta pesquisa 16 psicólogos do município de Florianópolis. A previsão inicial era de se trabalhar com aproximadamente 18 a 20 profissionais. No entanto, com 16 entrevistas, começou a identificar-se o momento de saturação dos dados2 e optou-se por não incluir novos elementos.

2

Bogdan e Biklen (1994) definem esse momento como o ponto do processo de levantamento de dados a partir do qual a busca de informação se torna redundante e a aquisição de informação nova diminuta. Segundo esses autores, “o segredo está em descobrir este ponto e parar” (p. 96).

Quanto ao local, embora tenha sido critério que os participantes fossem do município de Florianópolis, os dados mostraram que, em função das múltiplas frentes de trabalho que desenvolvem3, e como reflexo da própria realidade ocupacional em que se inserem, seu cotidiano profissional estende-se além dessas fronteiras, em muitos casos por todo o Estado.

Entre os participantes, 13 são do sexo feminino - ADRIANA, ANA, BEATRIZ, CARLA, CLARICE, CRISTINA, LIA, MARIA, MARIANA, PAULA, ROSA, SARA e SORRISO - e três do sexo masculino - CARLOS, GUILHERME e MÁRIO4. Sete deles eram conhecidos da pesquisadora, embora em nenhum caso sua inclusão na pesquisa tenha se dado por esse critério e sim por aqueles já explicitados.