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CAPÍTULO 2 – METODOLOGIA

2.4. Passeio Acompanhado

A partir da necessidade da necessidade de compreender como as pessoas com deficiência visual percebem e se orientam nos espaços, escolheu-se o método Passeio Acompanhado, desenvolvido por Dischinger (2000), que consiste em observar e estudar o fenômeno nos locais de estudo por meio de observação e de relatos orais dos participantes

70 acerca das experiências vivenciadas em tempo real. Este método proporcionou à pesquisadora o entendimento sobre a orientação de pessoas com deficiência visual em restaurantes.

De acordo com Dischinger (2000), antes de iniciar o Passeio Acompanhado propriamente dito, deve-se definir percursos de interesses conforme o objetivo da pesquisa. Estes percursos devem ter um ponto de partida com objetivos a alcançar definidos pela pesquisadora. Inicialmente, o método deve ser explicado aos usuários a fim de sanar qualquer dúvida, explicando seus objetivos e a forma de desenvolvimento. É importante salientar que a pesquisadora e o assistente devem acompanhar todo o processo do passeio acompanhado, sem interferir ou dar orientações aos usuários. A pesquisadora deve observar ainda a maneira como os usuários utilizam a tática de “perímetro-cognitivo”16 e reagem ao interagir com os ambientes

construídos. Para tanto, existem dois conceitos importantes: environmental numbness17 e environmental awareness18. O environmental numbness paralisa o indivíduo, que não se sente confortável dentro de um determinado ambiente e raramente exerce alguma atividade, devido a situações desagradáveis como ruídos e arranjo do mobiliário confuso. Já no environmental

awareness, é importante a participação eficiente e ativa do usuário no que se refere ao conforto

ambiental, adequação das necessidades e potencialidade dos elementos arquitetônicos, gerando assim um compromisso entre o usuário e ambiente (GIFFORD, 1976 apud BERNARDI, 2007). Para registrar as dificuldades e/ou facilidades encontradas pelos usuários, estes devem verbalizar o máximo possível, apontando não apenas dificuldades e facilidades, como também pontos que julgarem relevantes para a pesquisa. Neste momento, a pesquisadora e o assistente utilizam técnicas de anotações, gravações em áudio e vídeo, além de registrar fotografias. Posteriormente, o áudio é transcrito para análise e interpretação de dados, como também são analisados vídeos e fotografias, a fim de identificar os aspectos relevantes que serão localizados em mapas sintéticos (DISCHINGER, 2000). Para tanto, foi solicitada autorização aos restaurantes, a qual foi concedida prontamente.

Determinou-se a quantidade de 10 Passeios Acompanhados, cinco para cada restaurante, sendo realizados dois passeios pilotos (um para cada restaurante) para testar e aprimorar os procedimentos adotados na pesquisa.

16 Busca explorar os ambientes ao percorrer ao longo das paredes (LAHAV; MIODUSER, 2004). 17 Entorpecimento ambiental (tradução livre).

71 2.4.1. Elaboração do roteiro de Passeio Acompanhado

Elaborou-se um roteiro (Apêndice E), baseado nos trabalhos de Carlin (2004) e de Oliveira (2006), com a finalidade de orientar a pesquisadora sobre os itens que seriam observados durante o Passeio Acompanhado. A estrutura do roteiro foi composta por uma ficha com espaço para descrever a situação do restaurante no momento do Passeio Acompanhado, o horário, e situar os usuários nos mapas sintéticos. Além disso, apresentava um perfil de usuários, com dados como idade, grau de deficiência visual, profissão e tipo de recurso assistivo utilizado para mobilidade. Dischinger (2000) explica que os percursos do Passeio Acompanhado devem ser definidos. Porém, no caso desta pesquisa, foram definidas atividades a serem realizadas em restaurantes, a saber:

1. Localizar a entrada do restaurante (ponto de partida); 2. Entrar ao restaurante;

3. Localizar uma mesa para sentar-se; 4. Fazer um pedido;

5. Realizar a refeição;

6. Localizar o banheiro (ir e voltar); 7. Solicitar a conta e pagá-la; 8. Sair do restaurante;

9. Percorrer o entorno do restaurante.

Tais atividades foram escolhidas por serem comumente utilizadas pelos consumidores de restaurantes. Além disso, foram apresentadas algumas questões propostas por Rheingantz et al. (2009) e modificadas pela pesquisadora de forma a embasarem ainda mais com a pesquisa, a saber:

 O que você considera importante em restaurantes para a sua orientação espacial?  O que deve ser mantido como está nesse restaurante?

 O que deve ser modificado nesse restaurante?

 O que você observou no entorno do restaurante que lhe chamou mais atenção? Por quê?

Estas questões foram apresentadas aos sujeitos de pesquisa antes de iniciar o Passeio Acompanhado para motivar a verbalização.

72 2.4.2. Seleção da amostra

Após definir os restaurantes, foram selecionados participantes que atendessem aos seguintes critérios:

 Ser maior de 18 anos de idade, uma vez que, de acordo com o Comitê de Ética, um menor de 18 anos deve estar acompanhado de responsável legal;

 Ter seus sentidos remanescentes preservados: a importância de visão, audição, olfato e paladar estarem intactos propicia maior satisfação das exigências perceptivas, de orientação e de mobilidade para uma pessoa com deficiência visual.

 Ter bom domínio de técnicas de Orientação e Mobilidade;

 Utilizar recurso assistivo de orientação, como a bengala longa e/ou cão-guia;

 Não ter conhecimento prévio dos restaurantes estudados: a importância de vivenciar a experiência pela primeira vez permite aos indivíduos sensações e experimentações espontâneas, o que caracteriza um ambiente rico e não contaminado por experiências anteriores, situação relevante para os resultados da pesquisa.

Salienta-se que não apenas as pessoas com deficiência visual participaram da pesquisa, como também pessoas normovisuais durante a aplicação do método de Passeios Acompanhados. Todos os participantes concordaram em participar da pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, com a possibilidade de retirar o seu consentimento em qualquer momento que julgar oportuno. Os seus nomes verdadeiros foram mantidos em sigilo, adotando códigos de identificação para preservar a sua identidade.

Quanto à seleção dos participantes, a amostra foi não probabilística intencional, cujo tamanho deve ser viável conforme o cronograma, a disponibilidade e os custos gerados da pesquisa de campo, além de prever tempo necessário para o estudo dos casos. Assim, considerando-se esses aspectos, 10 pessoas compõem a amostra de forma representativa, sendo quatro com cegueira total, quatro com baixa visão e dois normovisuais, totalizando 10 Passeios Acompanhados.

Como foram selecionados dois restaurantes para a aplicação do método de Passeio Acompanhado, a amostra foi dividida em dois grupos, distribuídos conforme a Tabela 4.

Tabela 4. Grupos de Passeio Acompanhado

Restaurante X Restaurante Y

Cegueira total 02 usuários 02 usuários

73

Normovisual 01 usuário 01 usuário

Total 05 usuários 05 usuários

Fonte: Elaboração própria, 2014.