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Destacamos desde já que esta é uma pesquisa qualitativa, que trabalha com a categorização de um participante de processos materiais com características diferentes dos já existentes (Ator, Meta, Beneficiário, Cliente e Escopo). Assim, este trabalho não tem preocupações quantitativas, como o número de ocorrências deste participante em exemplos com um determinado verbo em um determinado gênero do discurso, embora pudemos perceber, ao longo da análise, que sua ocorrência é frequente.

Primeiramente, recorremos a trabalhos em língua portuguesa que tenham realizado pesquisas semelhantes à nossa, em busca de referências para um melhor aprofundamento do nosso objeto de investigação. Encontramos poucos, porém significativos trabalhos que se destinam a discutir as definições de voz verbal e de papel dos participantes em relação ao processo, em exemplos da língua portuguesa.

Entendemos que o diálogo com outros trabalhos na área da Linguística Sistêmico- Funcional contribui para um crescimento desses estudos na língua portuguesa.

A seguir, preocupamo-nos com a noção de sujeito. Por isso, iniciamos o trabalho com o detalhamento feito por Halliday e Matthiessen (2004; 2014) para as categorias de sujeito gramatical, sujeito lógico e sujeito psicológico. Após, realizamos uma extensa pesquisa nas gramáticas de autores consagrados pela tradição linguística em estudo da norma culta da língua portuguesa. Entre vários autores que se limitavam a definir as vozes verbais sem se aprofundarem em pormenores, destacamos alguns que traziam à tona a discussão de alguns exemplos que causavam dúvidas quanto à definição da voz verbal. Na busca, foram analisados sempre os capítulos referentes a “vozes verbais” e “sujeito”, nos quais entendemos que poderíamos encontrar referências a essa discussão. Exemplos dessas obras estão destacados no capítulo 2.

Em terceiro lugar, fizemos uma elucidação das abordagens sistêmico- funcionais que são pertinentes a esta análise: a noção de linguagem, as metafunções, o sistema de transitividade, os tipos de processos, os participantes dos processos materiais, as figuras materiais e a ergatividade. Essas explanações podem ser encontradas também no capítulo 2. O objetivo foi esgotar as possibilidades de a aparente divergência apontada pelos gramáticos tradicionais como problemática já ter sido elucidada pela teoria sistêmico-funcional. A partir disso, entendemos que podíamos especificar a função desse participante e, consequentemente, propor um nome a ele, de acordo com o cruzamento dos sistemas de transitividade e ergatividade da gramática sistêmico-funcional.

Na sequência, observamos a análise feita na revisão da literatura para destacar todos os verbos que apareceram em exemplos apresentados pelos autores das gramáticas como problemáticos em relação à definição de voz ativa (ou agentividade) e voz passiva (ou passividade), no capítulo 4. Muitos desses verbos apareceram em mais de uma ocorrência, no entanto, como já destacamos, nossa pesquisa não é quantitativa e, por isso, preocupou-se apenas em analisar os exemplos ocorridos. As gramáticas que apresentaram exemplos a serem analisados por nós neste trabalho, em ordem cronológica, foram: BARROS (1540); MACABIRA (197); LUFT (1989); LEITÃO (1995); AZEREDO (1999); FARACO e MOURA (1999); ABREU (2003); SACCONI (2006); PERINI (2007); ALMEIDA (2009); BECHARA

(2010); CASTILHO (2010); PERINI (2010); TERRA (2011); AZEREDO (2013); CUNHA e CINTRA (2013) e BAGNO (2014).

Realizada a coleta, nosso quinto passo foi analisar, à luz dos conceitos trazidos pelo sistema de transitividade da gramática sistêmico-funcional, qual seria a função de cada um dos participantes nessas orações. Os exemplos estão destacados com a letra E maiúscula, seguida do número correspondente desde 1 até 43. Os resultados estão dispostos por verbos, em ordem alfabética, destacando os exemplos encontrados com esses verbos nas gramáticas analisadas e nos textos de diferentes gêneros discursivos analisados. Para exemplificar, mostramos o exemplo nomeado E0, que servirá de modelo para todos os exemplos apresentados na pesquisa.

E0

Participante tipo de processo Outros participantes

(Fonte do exemplo)

Nomeamos como “Participante” o participante que é nosso principal objeto de investigação, que aparentemente não pode ser considerado Ator, nem Meta, nem Beneficiário, nem Cliente, nem Escopo. A identificação do processo será sempre a de processo material18, pois corresponde ao processo que abrange todo o nosso trabalho. Outros participantes serão destacados também na análise, de acordo com cada ocorrência. Ainda, os exemplos e sua respectiva análise sistêmico-funcional estão seguidos de uma explanação das dificuldades em categorizar um participante.

Seguindo a etapa de apresentação de resultados, separamos os verbos analisados em ordem alfabética, com a discussão dos resultados obtidos com as análises. Na primeira parte, os verbos que compõem a seção de discussão inicial estão dispostos no Quadro 13. Assim, para cada verbo, existem tantos quantos forem os exemplos encontrados nas gramáticas abordadas no capítulo 1.

Nosso sétimo passo, após uma categorização de 25 processos considerados de análise controvertida por diferentes autores de gramáticas da língua portuguesa,

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Em alguns casos, apareceram ocorrências de orações com outros processos, com o intuito de ilustrar diferentes possibilidades de análise pela teoria sistêmico-funcional. Nesses casos, o processo foi nomeado como mental, relacional, verbal, comportamental ou existencial, conforme a ocorrência.

foi a separação desses 25 processos em grupos, agora considerados semanticamente “processos”, conforme características próximas de ocorrências: processos materiais que formam o par nominativo-acusativo/ergativo-absolutivo (G1); processos mentais já categorizados pelo sistema de transitividade da GSF (G2); processos materiais com passividade inerente (G3); processos materiais com análise dependente de interpretação por metáfora (G4); e processos que podem ser interpretados como processo relacional + Atributo (G5).

Consequentemente, o oitavo passo foi a análise de 68 orações de cada um dos 25 processos selecionados como de ocorrência ergativas no Corpus Brasileiro da PUCSP, com o objetivo de verificar o contexto de ocorrência, no capítulo 5. Para isso, estabelecemos o critério de buscar ocorrências desses exemplos em cada um dos tempos verbais possíveis em língua portuguesa: no modo indicativo – presente, pretérito perfeito, pretérito imperfeito, pretérito mais-que-perfeito, futuro do presente e futuro do pretérito; no modo subjuntivo – presente, pretérito imperfeito e futuro; nas formas nominais – infinitivo, gerúndio e particípio. Por questões de extensão do trabalho, não apresentamos a análise de todos os exemplos encontrados, já que muitos eram identificados com análises muito semelhantes. Com isso, pretendemos esgotar as possibilidades, a fim de encontrar exemplos de ocorrência ergativas em situações de comunicação real em língua portuguesa.

Assim, o nono passo consistiu na sistematização da nossa proposta de criação de um participante, a ser somado aos participantes já nomeados como Ator, Meta, Beneficiário, Cliente e Escopo, na configuração de processos materiais. Ao final, no décimo passo, reunimos nossas considerações finais acerca de tais ocorrências e, principalmente, reafirmamos a necessidade de categorização desse Participante de processos materiais no sistema de transitividade da metafunção ideacional da gramática sistêmico-funcional, em língua portuguesa. Acreditamos que essa categoria é extremamente necessária, dada a frequência e importância desses exemplos nos textos de diferentes gêneros discursivos.

4 TRANSITIVIDADE, VOZ E AGENTIVIDADE EM LÍNGUA PORTUGUESA

Nesta seção, apresentamos nossa primeira análise, de acordo com os sistemas de transitividade e ergatividade da gramática sistêmico-funcional (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014), dos exemplos encontrados nas gramáticas. Os verbos estão dispostos em ordem alfabética, e os exemplos analisados são tantos quantos forem os encontrados no corpus composto pelas gramáticas analisadas e cuja descrição pode ser visualizada no capítulo 4, referente à metodologia adotada.