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Apresentação e discussão de dados da Grelha de Observação da Micropedagogia 527

Quadro 9 - Comportamento das Crianças na Micropedagogia 5 (fonte: grelha de registos de observação participante)

Indicadores Nº de Crianças

Ouve com atenção a história 10

Coloca questões sobre a história (acontecimentos e personagens)

6

Responde a questões sobre a história 8

Foca o olhar no livro 8

Foca o olhar na animadora enquanto esta lê 8

Participa na conversa espontaneamente 8

Participa na conversa apenas se lhe for dada a palavra 3

Aguarda a sua vez de falar 3

Escuta com atenção as intervenções dos colegas 10

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Faz comentários aos comportamentos das personagens 7

Ouve com atenção a proposta de Exp.Plástica 10

Usa os materiais de acordo com as suas especificidades 10

Organiza o seu espaço de trabalho 9

Coloca questões durante a atividade de Exp. Plástica 10

Podemos constatar pelos dados recolhidos através da Grelha de Observação que a tendência de participação do grupo de crianças mantém-se. Estamos perante um conto que o grupo não conhece e os comentários, a uma personagem tão maltratada pelos outros, devido à sua aparência, aumentam, alterando inversamente o resultado da categoria Aguarda a sua vez de falar.

Nota-se nos elementos um sentimento de revolta, de desconforto, por todas as dificuldades que este patinho passou. Surgem críticas, principalmente à mãe que o abandonou.

No momento 2, Compreensão da Obra, apresentou-se ao grupo um novo final para este conto. O Patinho Feio, agora um belo cisne, um dia volta a encontrar a sua família. Muito emocionado conversa com a mãe…

O objetivo era desenvolverem o diálogo entre o Patinho Feio e a Mãe e concluírem esta nova história. Todo o grupo de crianças participou, construindo um novo final para este conto. Todos agem de forma muito assertiva, não dando “perdão” a esta mãe que não soube proteger o seu filho, e que foi julgado pela sua aparência e não pelas suas atitudes.

Tal como na micropedagogia anterior, o processo criativo de expressão plástica foi dos que mereceu maior atenção e dedicação por parte do nosso grupo, sendo acolhido com muito entusiasmo, caraterizando-se, novamente como uma experiência artística única: execução do autorretrato numa tela!

A investigadora apresentou ao grupo de crianças vários autorretratos, de sua criação, construídos na Unidade Curricular Laboratório de Artes Plásticas, inspirados no artista designer Cur3es (as suas criações passam por composições de fotografias, através de colagens marcadas por combinações originais de elementos, mas com um resultado final harmonioso).

A micropedagogia O Patinho Feio foi, provavelmente a experiência de leitura que a investigadora teve “mais apertada”. Estavam, literalmente, todos sobre o livro. Tinham o desejo de acompanhar, simultaneamente, leitura e ilustração.

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O grupo revela-se coeso, muito organizado… já conhecem “as regras do jogo”. Arriscamo-nos a deduzir que, quanto mais o projeto avança, mais o grupo se envolve nas leituras promovidas, que lhes permitem ver-se ao espelho (identificação com as personagens), criando também laços com a animadora da leitura.

Constatamos, da análise dos dados recolhidos através da Grelha de Observação que, na micropedagogia anterior nove elementos do grupo intervieram só quando solicitado pela animadora da leitura e, no conto O Patinho Feio, o mesmo indicador revelou três elementos: B (9 anos), E (10 anos) e J (9 anos). Ou seja, interpretamos que as dinâmicas construídas precisam de tempo e bons recursos e estratégias para levar determinadas crianças a expressarem-se.

Perante esta constatação, deve a escola, no intuito de desenvolver leitores competentes, que se relacionem com as suas leituras e as interpretem, promover momentos extraescolares de leitura informal e opcional.

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Apresentação e discussão de dados da Compreensão da Obra (identificação de comportamentos incorretos das personagens) e da Compreensão da Obra através de um processo criativo plástico da Micropedagogia 5 28

Quadro 10 - Registos relativos à Compreensão da Obra da Micropedagogia 5 (fonte: registos recolhidos durante a sessão)

Categoria: Conhecimento do grupo sobre o conto apresentado

-“(…) só porque era feio em pequeno (…)”

-“(…) porque quando os outros me ofendiam, eu ficava muito triste.”

-“(…) cada vez que ia a um sítio toda a gente me mandava embora, porque era feio.”

Categoria: Significado atribuído à personagem principal e posição crítica

-“(…) só porque era feio em pequeno, não quer dizer que seja feio em grande.” -“(…) muito triste.”

-“ (…) não sou um pato qualquer!”

Categoria: Comportamentos incorretos

-“(…) quando os outros me ofendiam

-“(…) porque não tive pais, nem irmãos (…)”

-“(…) toda a gente me mandava embora, porque era feio.” -“(…) não te ter acompanhado no teu crescimento!”

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56 Categoria: Criação Plástica como outra forma de linguagem

-“Porque de vez em quando sou assim…de outras formas!”

-“Quando os meus pais ralham comigo, e têm razão, sinto-me partido ao meio!” -“Faz-me rir, mete piada, porque sou uma pessoas muito bem disposta!”

-“Identifico-me, porque há várias partes em que me estou a rir…os óculos a olhar fixamente!” -“Às vezes sinto-me baralhada como estou agora; tem elementos em que me identifico profundamente: o meu tereré e o meu sorriso!”

-“Tem o meu sorriso e o meu cabelo!”

-“O que tem mesmo a ver comigo é o olhar. Sou um miúdo feliz! Gosto de olhar para ele, porque sou eu!”

-“Gosto da minha cara…está desarrumada!”

-“Tem a ver comigo! Quando olho para mim próprio vejo algo de diferente. Sobressai, nesta tela, um bocado de tudo. Eu gosto mais de estar a olhar para mim próprio, mas não de maneira a ficar vaidoso!”

-“O que gosto mais é a orelha, porque acho que é uma orelha diferente das outras. Gosto das minhas orelhas. Gosto do meu olhar e da boca. Tenho um ar de sereno!”

Da análise ao quadro 10, registos recolhidos durante a sessão, interpretamos que o grupo criou um momento, num novo final para o conto, no qual o Patinho Feio teve a oportunidade de dizer à sua mãe que não a perdoava. Salientaram as amarguras que este pato viveu, como se a possibilidade de algum dia viverem o mesmo fosse imperdoável. O sentimento de família surge aqui como uma necessidade totalmente estruturante para as nossas crianças.

No processo criativo de expressão plástica, autorretratos, constatamos a exposição de sentimentos, reações em determinadas situações do dia-a-dia, características físicas e psicológicas. Após a conclusão dos mesmos, viveu-se um sentimento de enorme satisfação pelo resultado final, que se revelou original e totalmente pessoal.

Apresentação e discussão de dados das Entrevistas da Micropedagogia 529 (fonte: registos recolhidos durante as entrevistas)

Conforme podemos ver no anexo 29, verificamos pelos dados recolhidos através das Entrevistas que, o grupo se divide na categoria Gosto das Crianças em serem a Personagem Principal. Tal facto justifica-se, talvez porque alguns elementos valorizam

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o final do conto, quando este patinho se tornou num belo cisne, percebendo-se aqui a importância da aparência, para estas crianças – “Sim, porque ele ficou a ser um cisne e eu gosto disso!” (B 9 anos); “Mas gostava porque depois cresci e, em vez de ser um pato, era um cisne e fiquei mais belo do que antes!” (I 9 anos).

Outras, declaram que não gostavam de viver esta personagem, por ser feia, diferente (tal como constatámos no conto O Valente Soldadinho de Chumbo o ser diferente é uma caraterística negativa para as nossas crianças) e, como tal, com grandes possibilidades de não ter amigos (aspeto também mencionado no conto O Valente Soldadinho de Chumbo) – “Não, porque iria ser diferente!” (C 10 anos); “Não, porque tratavam-me mal, diziam que era feio!” (D 9 anos).

O grupo justifica que não é correto avaliar os outros pela aparência – “Aprendi que nunca se deve gozar com as pessoas, mesmo que sejam feias. O que importa é o que está por dentro, a psicologia delas!” (A 9 anos); “Que não devemos ser mal educados com os outros, só porque têm um aspeto diferente!” (G 8 anos).

Mas, ainda assim, quando questionados sobre O que os outros pensariam, numa situação imaginária de serem o Patinho Feio, sugerem termos como pena, ser diferente e gozo – “Tinham pena!” (B 9 anos); “Gozavam, tratavam-me mal!” (I 9 anos).

Através das entrevistas, tal como no conto anterior, não se identifica uma valorização desta personagem, perante a sua coragem de ultrapassar as dificuldades da vida, apesar de as mesmas terem sido bem focadas aquando da compreensão da obra, logo após a sua leitura. Interpretamos tal facto, talvez por não se cultivar uma cultura de esforço nas nossas crianças, uma das ideias gerais que hoje carateriza a nossa sociedade.