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O VALENTE SOLDADINHO DE CHUMBO

Apresentação e discussão de dados da Grelha de Observação da Micropedagogia 424

Quadro 7 - Comportamento das Crianças na Micropedagogia 4 (fonte: grelha de registos de observação participante)

Indicadores Nº de Crianças

Ouve com atenção a história 10

Coloca questões sobre a história (acontecimentos e personagens)

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Responde a questões sobre a história 7

Foca o olhar no livro 10

Foca o olhar na animadora enquanto esta lê 10

Participa na conversa espontaneamente 5

Participa na conversa apenas se lhe for dada a palavra 5

Aguarda a sua vez de falar 9

Escuta com atenção as intervenções dos colegas 8

Faz comentários aos comportamentos das personagens 5

Ouve com atenção a proposta de Exp.Plástica 10

Usa os materiais de acordo com as suas especificidades 10

Organiza o seu espaço de trabalho 10

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Coloca questões durante a atividade de Exp. Plástica 5

A micropedagogia O Valente Soldadinho de Chumbo revelou-se com uma nova dinâmica, na Compreensão da Obra. O grupo mostrou-se entusiasmado com esta metodologia e bastante descontraído, refletindo sobre a educação inclusiva.

Nesta sessão, interpretando os dados recolhidos através da Grelha de Observação, diversas categorias contaram com a participação total do grupo. Interpreta-se este acontecimento talvez devido à temática em causa: o ser diferente dos outros. Contudo, na categoria Faz comentários aos comportamentos das personagens, registamos um valor dos mais inferiores, entre todas as micropedagogias, aceitando-se talvez pelo facto de o grupo, na sua maioria, nunca ter lido este conto, e como tal não conhecer a personagem.

No momento 2, Compreensão da Obra, observamos que, após ser dado a conhecer um diferente início ao conto, com uma personagem com comportamentos opostos aos do original Soldadinho de Chumbo, o grupo revelou-se desiludido com esta nova personagem criada. O objetivo era desenvolverem e concluírem esta nova história e todo o grupo de crianças participou, conforme concluímos através da Grelha de Observação.

O processo criativo de expressão plástica foi muito bem acolhido, contando assim, com uma grande concentração e empenho por parte do grupo, para o desenvolvimento do mesmo. Constatou-se que esta experiência foi inédita para todos os elementos do grupo. É de valor a reação dos mesmos, no término da atividade, ao demonstrarem que foi deveras difícil desenharem só através do tato, o que comprova que atingimos o resultado esperado de promover espaços de reflexão a educação inclusiva. O grupo já se reconhece como tal, revelando-se mesmo fechado a outros elementos, não permitindo que outras crianças entrem no espaço onde decorre a micropedagogia, mesmo que seja por engano.

Também a relação animadora da leitura/grupo acontece já de forma muito organizada, refletindo-se no bom aproveitamento destas lógicas de animação leitora.

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Apresentação e discussão de dados da Compreensão da Obra (identificação de comportamentos incorretos das personagens) e da Compreensão da Obra através de um processo criativo plástico da Micropedagogia 4 25

Quadro 8 - Registos relativos à Compreensão da Obra da Micropedagogia 4 (fonte: registos recolhidos durante a sessão)

Categoria: Conhecimento do grupo sobre o conto apresentado

-“Depois, encontrou um brinquedo (…)”

-“O brinquedo viu que o Soldadinho de Chumbo só tinha uma perna (…)” -“(…) do quarto onde estava.”

-“(…) sozinho no passeio!”

Categoria: Significado atribuído à personagem principal e posição crítica

-“Como já estava habituado a fazerem-lhe as vontades (…)” -“(…) mandou-o fazer as suas vontades (…)”

-“(…) o Soldadinho de Chumbo ficou muito chateado e começou a gritar (…)” -“(…) o Soldadinho de Chumbo tinha que se esforçar.”

-“(…) os outros brinquedos disseram que já não aguentavam o Soldadinho de Chumbo, e o Soldadinho foi expulso do quarto onde estava.”

-“Com tanta irritação desmaiou, e quando acordou estava sozinho (…)”

Categoria: Comportamentos incorretos

-“(…) já estava habituado a fazerem-lhe as vontades (…)” -“(…) mandou-o fazer as suas vontades (…)”

-“(…) o Soldadinho de Chumbo ficou muito chateado e começou a gritar (…)” -“Com tanta irritação desmaiou (…)”

Categoria: Criação Plástica como outra forma de linguagem

-“Fazia uma linha, mas depois não sabia onde estava a linha e fazia outra. Não podia unir os pontos. Estava ansioso!”

-“Fez-me confusão não ver!”

-“Senti-me perdido…não sabia onde ia. Estava sempre ao lado ou à frente. Não estava confortável.”

-“Senti-me muito confusa. Foi estranho, fiquei nervosa.”

-“Nervoso. Perdido. Temos a certeza que estamos a fazer mal, porque não vimos o sítio correto.”

-“Correu mal, não sabia onde parar!”

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-“Senti pena das pessoas que são cegas, senti-me perdido. Não sabia onde desenhar!” -“Senti-me muito esquisito. Estava ansioso. Não me sentia bem, era muito grave!” -“Senti-me mal, estava enjoado. Senti pena dos cegos!”

-“Não sabia se estava bem ou mal. Senti-me nervosa e perdida!”

Da análise ao quadro 8, interpretamos que o grupo criou um Soldadinho de Chumbo com uma postura muito incorreta perante os outros e aquilo que o rodeava. Surgem críticas negativas a esta personagem, chamadas de atenção. Nota-se a vontade de punir este Soldadinho, atribuindo-lhe um final de solidão, mais concretamente sem amigos. Evidenciamos, assim, a Teoria de Desenvolvimento Moral de Kohlberg.

O processo criativo de expressão plástica revelou resultados surpreendentes para todo o grupo, inclusive, para a animadora da leitura, pela dedicação e concentração de todo o grupo. Destacamos uma experiência única, desafiante, cheia de obstáculos a superar. Confusão, ansiedade, desconforto, nervosismo e desorientação foram os sentimentos observados nesta experiência, percebendo-se uma reflexão das dificuldades diárias das pessoas com incapacidade visual.

Apresentação e discussão de dados das Entrevistas da Micropedagogia 426 (fonte: registos recolhidos durante as entrevistas)

Conforme podemos ver no anexo 26, através dos dados recolhidos por Entrevistas, a maioria das crianças presentes nesta investigação não gostava de ser o Soldadinho de Chumbo, porque seriam diferentes e dependentes de outros - “Não, porque não iria gostar de ser diferente de outras pessoas!” (C 10 anos); “Não, porque não gostava de ser um peso para as outras pessoas, não gostava que as pessoas fizessem as coisas por mim, porque gostava de ser desenrascada!” (E 10 anos).

Consideram, ainda, que esta situação os levaria a não terem amigos, devido às suas limitações - “Iria sentir-me… triste, isolado, sem ninguém… amigos não havia, iria ser difícil!” (G 8 anos).

Se vivessem a experiência desta personagem todos iriam sentir-se tristes, focando também os termos desilusão, solidão e vergonha – “Um bocado de vergonha, porque todos tinham duas pernas e eu era a única que só tinha uma!” (I 9 anos); “Tristeza por

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só ter uma perna!” (D 9 anos).

Na verdade, nos nossos dias, ao refletirmos sobre as pessoas com limitações físicas não temos grandes dúvidas que estes sentimentos as dominam com frequência.

Quando questionados sobre a opinião dos outros, caso fossem o Soldadinho de Chumbo, os termos mais expressivos, como pena, parvo, gozar, anormal e, o mais surpreendente de todos, nojento, surgem revelando claramente a visão que as crianças têm das pessoas com necessidades específicas – “Que era anormal, mas que mesmo só com uma perna, consigo fazer muitas coisas e ajudar os outros!” (E 10 anos); “Para mim…era nojento, porque só tinha uma perna, não é como nós, podemos deixar para trás!” (G 8 anos). Curiosamente, não se identifica uma valorização desta personagem, perante a sua coragem de ultrapassar as dificuldades da vida, contudo, o nosso grupo de participantes refere “Que apesar de ser diferente, posso fazer as mesmas coisas e ser feliz como toda a gente!” (C 10 anos).

Conclui-se que a escola tem de ser o espaço para pensar a diferença como algo positivo em ordem a uma escola e sociedades inclusivas.