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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA E SUPORTE TEÓRICO

2.3. PATRIMÔNIO / PRESERVAÇÃO

Segundo a construção do conceito de patrimônio histórico e cultural pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), preservar é um ato embasado na possibilidade de contar a história através do construído, do edificado, do monumental. (IPHAN [s/d])

Define-se como patrimônio cultural o conjunto de manifestações, realizações e representações de um povo, de uma comunidade. Ele está presente em todos os lugares, atividades, nos modos de fazer, criar e trabalhar. Nos livros, na poesia, nas brincadeiras, nos cultos, etc. Estabelece as identidades que determinam os valores a serem defendidos. Quanto mais o país cresce e se educa, mais cresce e se diversifica o patrimônio cultural. O patrimônio cultural de cada comunidade é importante na formação da identidade de todos os brasileiros.

(IPHAN, Educação Patrimonial [s/d])

O tombamento é um ato administrativo realizado pelo Poder Público, nos níveis federal, estadual ou municipal. Seu objetivo é preservar bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e também de valor afetivo para a população, impedindo a destruição e/ou descaracterização de tais bens.

Pode ser aplicado aos bens móveis e imóveis, de interesse cultural ou ambiental. Sendo o caso de fotografias, livros, mobiliários, utensílios, obras de arte, edifícios, ruas, praças, cidades, regiões, florestas, cascatas, dentre outros.

Somente é aplicado aos bens materiais de interesse para a preservação da memória coletiva.

Os tombamentos federais são de responsabilidade do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e se inicia pelo pedido de abertura do processo, por iniciativa de qualquer cidadão ou instituição pública. O processo de tombamento, após avaliação técnica preliminar, é submetido à deliberação das unidades técnicas responsáveis pela proteção dos bens culturais brasileiros. Se houver aprovação da intenção de se proteger um determinado bem, seja ele cultural ou natural, será expedida uma notificação ao seu proprietário. Essa notificação determina que o bem já está sob proteção legal, até que seja tomada a decisão final, depois de o processo ser devidamente instruído, ter a aprovação do tombamento pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural e a homologação ministerial publicada no Diário Oficial. O processo termina, finalmente, com a inscrição no Livro do Tombo e a comunicação formal do tombamento aos proprietários.(IPHAN [s/d]

Nas suas manifestações o homem realiza algumas coisas que marcam sua historia, sua trajetória. Esses bens representam de maneira notável sua produção. A arquitetura é uma das formas pelas quais o homem pode registrar sua cultura e sua história e, para que não se perca, algumas medidas podem ser tomadas. A seguir,

alguns dos conceitos no âmbito da temática do Patrimônio Cultural que contribuem para o bom entendimento:

-Preservação

Segundo Tinoco (2007), nas relações com a vida, no cenário dos seus desejos em obter o êxito, o homem identifica-se com valores atribuídos as coisas.

Essa identificao gera então a necessidade de permanência para satisfação dos seus sentidos e percepções. Surge assim o ativismo no comportamento das ações de preservar.

-Manutenção

É o conjunto de medidas, de caráter preventivo, com o objetivo de manter as coisas livres da deterioração. Basicamente consiste em atividade de revisão, limpeza, lubrificação, pintura, imunização, impermeabilização, capinação.

-Conservação

Conservar é resguardar do dano e da decadência. As ações da conservação constituem-se num conjunto de medidas, com o objetivo de corrigir e consertar partes da edificação com sinais explícitos e potenciais de deterioração. Tem caráter preventivo.

-Restauração

É o conjunto de atividades operativas e materiais que visam restabelecer a edificação do dano. Consiste em ações de medidas de substituição, modificação e eliminação de elementos destruídos, danificados ou descaracterizados. Tem caráter corretivo.

-Reconstituição

É o conjunto de atividades operativas e materiais que visam construir novamente a edificação ou partes da mesma.

Entre a restauração e a reconstituição há um tênue fio de entendimento que separa essas atividades. Na primeira é fundamental que o objeto da intervenção seja sobre as partes danificadas ou fragmentadas que constituem a unidade. Na segunda apenas sobrevém a informação de como seria ou poderia ter sido constituída a unidade. Na restauração sobrevém o objeto da intervenção. Na reconstituição resta a suposição da constituição do objeto. (Tinoco-Teoria da Restauração I, 2007)

Estes conceitos destacam a importância de manter vivos os valores dos bens culturais que são a base de nossa identidade.

2.3.1. Intervenção em Patrimônio Cultural

Brandi define restauração qualquer intervenção realizada no âmbito de atribuir novamente a eficiência a um produto da atividade humana e, como produto a obra de arte coloca uma dúplice instancia: a instancia estética que corresponde a artisticidade pela qual a obra de arte pode ser assim considerada, e a instancia histórica que lhe apresenta como um produto humano realizado em um certo tempo e lugar e que em certo tempo e lugar se encontra. Percebe-se que a utilidade não foi acrescentada como instância, visto que, mesmo que esteja presente, não poderá ser levada em consideração de forma isolada para a obra de arte.

Assim, o que pode-se analisar com relação ao caso de Cascavel-PR, a respeito de algumas obras características do Art Déco que servem como estudo de caso para este trabalho, é que já não podemos considerar muitas dessas obras como um produto de obra de arte, principalmente quando começamos a perceber que a dúplice instância a qual Brandi se refere, já não é mais encontrada em muitas dessas obras, e que a perda de uma acarreta na perda da outra automaticamente, se considerarmos que ao perder a artisticidade a obra estará inevitavelmente perdendo sua capacidade de contar a história através de suas características. É como se a história deixasse de ser contada pelo produto, para ser apenas uma lembrança na memória de quem a reconhecia antes de perder sua dúplice instância.

É o caso do prédio do antigo Hotel Apolo, localizado na cidade de Cascavel-PR na Avenida Brasil, esquina com a Rua Carlos Gomes, o qual apresentava uma fachada que remetia aos preceitos do Art Déco e que, após uma reforma (e não um restauro) acabou perdendo todas as suas características iniciais, inclusive sua identidade, tornando-se uma obra sem significância artística nem histórica.

Figura 56- Antigo Hotel Apolo, em Cascavel-PR, antes da reforma. Fonte: Museu da Imagem e do Som de Cascavel-PR.

A unidade potencial da obra de arte, nos casos do estilo Art Déco, será sempre encontrada na fachada, afinal o que mais distingue o estilo das demais obras do Século XX é essa preocupação com a ornamentação da fachada.

Portanto, apesar de ser um estilo que já foi nomeado como moderno, e ter surgido paralelamente à Revolução Industrial, ele aceitou as novas técnicas e mudanças, porém não abriu mão da preocupação estética aliada à funcional. (Teoria da Restauração- Cesare Brandi)

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