FACULDADE ASSIS GURGACZ CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
TAMARA VIEIRA
TARDIAS MANIFESTAÇÕES DO ART DÉCO EM CASCAVEL- PR
CASCAVEL 2012
TAMARA VIEIRA
TARDIAS MANIFESTAÇÕES DO ART DÉCO EM CASCAVEL-PR
Trabalho de Conclusão do Curso de Arquitetura e Urbanismo, da FAG, apresentado na modalidade Teórico- conceitual, como requisito parcial para a aprovação na disciplina: ARQ001 Trabalho Final de Graduação.
Orientador: Arquiteto Fúlvio Natércio Feiber - doutor
CASCAVEL 2012
TAMARA VIEIRA
TARDIAS MANIFESTAÇÕES DO ART DÉCO EM CASCAVEL-PR
DECLARAÇÃO
Declaro que realizei em Novembro de 2012 a revisão lingüistico-textual, ortográfica e gramatical da monografia de Trabalho de Curso denominado: Tardias Manifestações do Art Déco em Cascavel-PR, de autoria de Tamara Vieira, discente do Curso de Arquitetura e Urbanismo - FAG.
Tal declaração contará das encadernações e arquivo magnético da versão final do TC acima identificado.
Santo Antonio do Sudoeste, 07, Novembro, 2012.
Assinatura, em tinta preta Dorilde Lanzarini Maran
Licenciado em Letras Português/Francês /sigla instituição/ 1982 RG nº 466.542 PR
FACULDADE ASSIS GURGACZ CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
TAMARA VIEIRA
TARDIAS MANIFESTAÇÕES DO ART DÉCO EM CASCAVEL-PR
Trabalho apresentado no Curso de Arquitetura e Urbanismo da FAG, como requisito básico para obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo, sob a orientação do arquiteto professor Fúlvio Natércio Feiber- doutor.
BANCA EXAMINADORA
Arquiteto Orientador Faculdade Assis Gurgacz
Fúlvio Natércio Feiber doutor
Arquiteto Avaliador Faculdade Assis Gurgacz
Silmara Dias Feiber mestre
Arquiteto Avaliador Profissional autônomo Carlos Eduardo Salamanca Arquiteto e Urbanista especialista
Cascavel, 08 de Novembro de 2012
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho às três pessoas mais importantes de minha existência:
aos meus pais - Saul José Vieira e Hilda Liliana Fauzel Vieira- e ao meu irmão - Saulo Henrique Vieira.
Aos meus pais que se dedicaram a mim em todos os anos de minha vida. Às pessoas que oportunizaram a realização deste trabalho (e de tantos outros) e que investiram e acreditaram na minha capacidade. Que me ensinaram valores e, muito mais que me mostrar o caminho, me acompanharam e incentivaram em toda a trajetória.
E, ao meu irmão, por ser o grande presente de Deus em minha vida.
Esta dedicatória é uma forma de demonstrar meu infinito amor e admiração por minha família.
AGRADECIMENTOS
Registro aqui minha eterna gratidão ao meu orientador: Fúlvio Natércio Feiber, pela confiança depositada em mim, por conceder seu auxílio em todos os momentos de dificuldade e por partilhar comigo seus grandiosos conhecimentos.
Sou grata também à minha avaliadora: Silmara Dias Feiber, por ter contribuído na elaboração deste trabalho de diversas maneiras – como professora, introduzindo ao assunto muito antes da escolha do tema da conclusão de curso, como amiga no compartilhamento de materiais pessoais e como avaliadora com sugestões de melhorias.
E finalmente, agradeço muito à Deus, por estar permitindo a realização de um grande sonho: ser Arquiteta. “Obrigada Senhor, pela força nos momentos de fraqueza, pela coragem nos momentos de insegurança, pela sabedoria nos momentos de dificuldades e pela oportunidade de realização”.
EPÍGRAFE
Só há um meio eficaz de assegurar a defesa do patrimônio de arte e de história do país; é a educação popular.
(Rodrigo Melo Franco de Andrade)
RESUMO
O trabalho trata do estudo e análise da produção arquitetônica na linguagem Art Déco, principalmente com relação às possíveis tardias manifestações encontradas na cidade de Cascavel-PR. O estilo teve sua origem na Europa, mas expandiu-se também para as Américas do Norte e do Sul, inclusive o Brasil, a partir dos anos 20 e 30 do Século XX. Porém, pode-se observar que desde o ano 1915 começaram a surgir as primeiras manifestações do estilo que aconteceu até aproximadamente 1945. Percebeu-se que o Art Déco buscava uma renovação sem causar desordem. Apesar de ser um concorrente do Movimento Moderno, o Art Déco caminhou junto com esse Movimento, acreditando na funcionalidade pregada pelo Modernismo, mas tentando, através da ornamentação, quebrar a rigidez e a sobriedade encontradas nas obras modernas. Levando em consideração as transformações ocasionadas pela Revolução Industrial, a arquitetura tradicional e eclética já não era satisfatória, pois não possuía autenticidade nem era adequada àquele tempo, onde o mundo só falava em inovação e a arquitetura se limitava a imitar o passado. O Déco e o Moderno buscavam trazer pra Arquitetura a inovação de que tanto o mundo falava. O Movimento Moderno conseguiu uma maior expressão, o Art Déco teve seu declínio antes de terminar o primeiro meado do Século, por volta de 1945. Porém, continuou apresentando algumas manifestações tardias. Sendo, possivelmente, o caso de Cascavel-PR, que apesar de não possuir nenhuma obra do Estilo, pois foi emancipada após o término das primeiras produções, acredita-se que haja na cidade algumas tardias manifestações. Assim, o trabalho pretende, além de um estudo rigoroso a respeito do Art Déco, analisar as obras que serão identificadas na cidade de Cascavel-PR para se tentar comprovar como sendo ou não tardias manifestações do estilo Art Déco.
Palavras chave: Arquitetura. Art Déco. Valor Histórico. Preservação. Cascavel.
ABSTRACT
The work deals with the study and analysis of the architectural production in the Art Deco style, specially about the probably late manifestations found in the city of Cascavel – PR. This is an European style, but it expanded too in the North and South Americas, including Brasil, from the „20s and „30s of the twentieth century. However, since 1915 the first manifestations of this style started, during until 1945. It was noticed that the Art Deco sought a renewal without causing a disorder. Although being a current of the Modern Movement, Art Deco walked together with this Movement, believing in the functionality preached by Modernism, but trying through the ornamentation to break the hardness and sobriety found in the Modern style.
Taking in consideration the changes caused by the Industrial Revolution, the traditional and eclectic architecture wasn‟t satisfactory, because it was neither authentic nor adequate to that time, when the world only talked about innovation and the architecture was stuck in the past. The Modern and the Deco sought to bring the architecture the innovation that the world talked about. The Modern Movement got more expression, the Art Deco ended around the half of the century, in 1945.
However, it continued to show some late manifestations, like in the city of Cascavel- PR that, despite not having a real work of this style, since it was emancipated after the end of the last productions, is believed to have some late manifestations. This way, this work intends to make an intense analysis of the Art Deco and analyze some buildings of Cascavel-PR as being a late manifestation or not.
Key Words: Architecture, Art Deco, Historical Value, Preservation, Cascavel.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 01: Cartaz da Exposição Internacional de Artes Decorativas e 21
Industriais Modernas de 1925 – Paris. Figura 02: Desenhos de Mulheres Art Déco. 21
Figura 03: Chrysler Building. Construído entre 1930/1931 em Nova 22
York, o arranha-céu tem 319 metros de altura. Figura 04: Avião Art Déco. 22
Figura 05: Rádio Art Déco. 23
Figura 06: Relógio Art Déco Simétrico. 23
Figura 07: Relógio Art Déco. 23
Figura 08: Máquina de Costura Art Déco. 24
Figura 09: Empire State Building, de Shreve, Lamb e Harmon. 25
Figura 10: Mercedes-Benz 540 K Especial Roadster. 26
Figura 11: Hotel Taft, Miami, Florida (1936). 27
Figura 12: Tropical Déco em Miami Beach. 28
Figura 13: Edifícios Art Déco em Miami, Florida. 28
Figura 14: Cardozo Hotel, Tropical Déco (1939), Miami-Florida. 29
Figura 15: Agência dos Correios e Telégrafos em Belém. 31
Figura 16: Banco de São Paulo em São Paulo. 32
Figura 17: Escada Art Déco no Cinema Roxy, Rio de Janeiro. 32
Figura 18: Escada do Cinema Roxy-RJ. 33
Figura 19: Teatro Armando Manzanero, Merida, Mexico. 33
Figura 20:Comparativo entre Art Nouveau e Art Déco: mulheres. 34
Figura 21: Comparativo entre Art Nouveau e Art Déco: acabamentos. 34
Figura 22: Comparativo entre Art Nouveau e ArtDéco: mobiliário. 35
Figura 23: Apartment Entrance, Tropical Déco, Miami-Florida. 35
Figura 24: Porta Art Déco. 36
Figura 25: Escada Art Nouveau-Casa Tessel, Arquiteto Victor Horta. 37
Figura 26: Casa Tassel - Arquiteto Victor Horta. 38
Figura 27: Sereia e porta Art Nouveau. 38
Figura 28: Teatro Municipal Marajoara em Lages-SC. 40
Figura 29: Edifício Acaiaca em Belo Horizonte, estilo Art Déco, inaugurado em 1943 40
Figura 30: Escultura de índio na fachada do edifício Acaiaca em Belo Horizonte 41
Figura 31: Efígie de índio, no edifício Acaiaca. 41
Figura 32: Teatro em Belo Horizonte (1932). 41
Figura 33: Prédio Art Déco em São Paulo, Av. São João. 42
Figura 34: Prédio em São Paulo, Praça Marechal Deodoro. 42
Figura 35: Torre do Relógio, Goiânia- Avenida Goiás. 43
Figura 36: Teatro Goiânia, Goiânia- Avenida Tocantins, Centro. 44
Figura 37: Museu Casa Pedro Ludovico-Goiânia. 44
Figura 38: Museu Zoroastro Artiaga – Goiânia. 45
Figura 39: Coreto Praça Cívica. 45
Figura 40: Cristo Redentor – Rio de Janeiro. 46
Figura 41: Antiga Sede da Central do Brasil e Antigo Ministério da Guerra- 47
Avenida Presidente Getúlio Vargas -RJ. Figura 42: Prédio da Antiga Central do Brasil, construído por Roberto Magno 47
de Carvalho e Robert Petrince-RJ. Figura 43: Comando Militar do Leste – Rio de Janeiro. 48
Figura 44: Antigo Ministério da Guerra, Av. Getúlio Vargas-RJ. 48
Figura 45: Edifício Biarritz – Rio de Janeiro. 49
Figura 46: Balcões arredondados do edifício Biarritz-RJ. 49
Figura 47: Teatro Carlos Gomes, RJ (1931). 50
Figura 48: Edifício Guinle, RJ (1928). 50
Figura 49: Edifício Tabor Loreto, RJ. 51
Figura 50: Conjunto a praia do Flamengo, RJ (1940). 51
Figura 51: Antiga Fábrica de Fitas, Curitiba-PR. 52
Figura 52: Hotel em Curitiba-PR. 52
Figura 53: Agência de Correios e Telégrafos – Curitiba. 53
Figura 54: Agência do Correio em Antonina-PR. 53
Figura 55: Mapa para Localização da cidade de Cascavel-PR. 54
Figura 56: Antigo Hotel Apolo, em Cascavel-PR, antes da reforma. 59
Figura 57: Capa do Livro usado como correlato. 61
Figura 58: Prédio na cidade de Cascavel- vista Rua Erechim. 65
Figura 59: Ljubljana, Slovenia. 65
Figura 60: Prédio na cidade de Cascavel- vista Rua Carlos Gomes. 66
Figura 61: Imagem interna do prédio, com destaque para a grossa espessura das paredes. 66
Figura 62: Escadaria do Prédio, nota-se o descaso e a falta de manutenção. 67
Figura 63: Interior do prédio, que possui infiltrações. 67
Figura 64: Imagem aérea antiga do prédio. 68
Figura 65: Levantamento Gráfico- vista Rua Erechim. 68
Figura 66: Hospital Rio Grande. 69
Figura 67: Mercado dos Óculos e Antigo Hospital Rio Grande. 69
Figura 68: Antigo Hospital Rio Grande. 70
Figura 69: Antigo Hospital Rio Grande, vista Rua Paraná. 70
Figura 70: Levantamento Gráfico do Antigo Hospital Rio Grande em Cascavel-PR. 71
Figura 71: Levantamento Gráfico do Antigo Hospital Rio Grande 71
Figura 72: Levantamento Gráfico Antigo Hospital Rio Grande, vista Rua Paraná. 72 Figura 73: Levantamento Gráfico Antigo Hospital Rio Grande, vista Rua Carlos de Carvalho. 72 Figura 74: Antigo Hotel Apolo. 73 Figura 75: Antigo Hotel Apolo. Fonte: Museu da Imagem
e do Som de Cascavel-PR. 73 Figura 76: Antigo Hotel Apolo. 74 Figura 77: Antigo Hotel Apolo, vista Avenida Brasil. 75 Figura 78: Prédio localizado na esquina entre as Ruas Carlos Gomes
e Rio Grande do Sul. 76 Figura 79: Prédio localizado entre as Ruas Carlos Gomes
e Rio Grande do Sul, vista da Rua Carlos Gomes. 76 Figura 80: Levantamento gráfico prédio localizado na esquina entre
as Ruas Carlos Gomes e Rio Grande do Sul. 77 Figura 81: Levantamento gráfico prédio localizado na esquina entre
as Ruas Carlos Gomes e Rio Grande do Sul(2). 77 Figura 82: Hotel Pinheiro, Cascavel-PR. 78
SUMÁRIO
1 1.1 1.2 1.3 1.4 1.4.1 1.4.2 1.5 1.6 1.7 1.7.1 1.7.2 1.8
INTRODUÇÃO
ADERÊNCIA À LINHA, GRUPO E TEMÁTICA DA PESQUISA ASSUNTO
TEMA
JUSTIFICATIVAS Sócio-cultural
Acadêmico-científica
PROBLEMA DA PESQUISA HIPÓTESE
OBJETIVOS Objetivo Geral
Objetivos Específicos
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
15 16 16 16 17 17 17 17 18 18 18 18 18 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA E SUPORTE TEÓRICO 20
2.1 O ART DÉCO 20
2.1.1 Características na Arquitetura 31
2.1.2 2.1.3 2.1.3.1 2.1.3.2 2.1.3.3 2.2 2.2.1
Influências Art Nouveau O Art Déco no Brasil Art Déco em Goiânia Art Déco no Rio de Janeiro Manifestações no Paraná
ESTUDO DE CASO: CASCAVEL-PR Histórico de Cascavel-PR
36 39 43 46 51 54 55
2.3 2.3.1
PATRIMÔNIO / PRESERVAÇÃO Intervenção em Patrimônio Cultural
56 59
3 CORRELATOS OU ABORDAGENS 61
4 ENCAMINHAMENTO METODOLÓGICO 62
4.1 MÉTODO DE ABORDAGEM 62
4.2 MÉTODOS DE PROCEDIMENTO 63
4.3 TÉCNICAS 63
5 ESTUDO-PILOTO 64
5.1 PRÉDIO NA ESQUINA ENTRE AS RUAS CARLOS GOMES E
ERECHIM 64
5.1.1 Levantamento Gráfico 68
5.2 5.2.1 5.3 5.4
5.4.1 5.5
ANTIGO HOSPITAL RIO GRANDE Levantamento Gráfico
ANTIGO HOTEL APOLO
PRÉDIO NA ESQUINA ENTRE AS RUAS CARLOS GOMES E RIO GRANDE DO SUL
Levantamento Gráfico HOTEL PINHEIRO
69 71 73
75 77 78
6 CONSIDERAÇÕES 79
7 REFERÊNCIAS 82
1 INTRODUÇÃO
O trabalho de pesquisa trata do estudo e análise da produção arquitetônica na linguagem Art Déco, principalmente com relação às tardias manifestações encontradas na cidade de Cascavel-PR.
Art Decó é uma expressão francesa, que derivou do nome da Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas (Exposition Internationale des Arts Décoratifs et Industriels Modernes), realizada em Paris no ano de 1925.
Aplica-se a uma expressão artística que, iniciada por volta de 1920, no imediato pós-guerra, só atingiria seu pleno desenvolvimento cerca de dez anos mais tarde sendo que recebeu a denominação “Art Déco” recentemente, no Século XX era conhecida como “Estilo Moderno”.
Houve uma forte expressão e repercussão no Brasil, especialmente nas cidades do Rio de Janeiro – RJ e Goiânia - GO, que podem ser consideradas referenciais do Art Déco do país. Este fato decorre de o Rio de Janeiro até o início da década de 1960, ser a capital federal e centro de grande parte das transformações artístico-sociais brasileiras; Goiânia, por sua vez, ainda hoje é conhecida como a “Capital do Art Déco” no Brasil, por possuir o maior acervo da Arquitetura Art Déco do país e por ter sido planejada e criada com base no estilo. O trabalho pretende investigar sua continuidade e disseminação, e demonstrar que houve uma continuação e disseminação dessa arte, mesmo mais tarde, em outras regiões do território brasileiro, em especial no Estado do Paraná o qual teve um processo de ocupação acentuado a partir dos anos de 1940. Toma como estudo de caso a cidade paranaense de Cascavel, localizada no Oeste do Paraná, que apresenta manifestações que, acredita-se, sejam enquadradas nesta expressão artística em algumas de suas obras arquitetônicas mais antigas.
O assunto do presente trabalho se refere às Tardias Manifestações da Arquitetura Art Déco no Paraná, tomando por estudo de caso a cidade de Cascavel-PR. O Art Déco é um movimento artístico do Século XX, que teve uma forte expressão no nosso país, e que apesar de ter ocorrido basicamente entre os anos 1915-1945, continuou se disseminando em diferentes locais do território, mesmo alguns anos depois, sendo o caso de Cascavel, que apresenta algumas manifestações tardias, contribuindo e fortalecendo ainda mais essa arquitetura.
Tendo em vista o entendimento dessas obras encontradas na cidade de Cascavel-PR, como do Estilo Art Déco e acreditando na importância como patrimônios históricos, espera-se que haja uma maior preocupação e cuidado, preservando para as gerações futuras e para que não se perca essa produção.
Então será realizado um estudo de levantamento de campo para investigar se algumas obras encontradas na cidade de Cascavel-PR pertencem às Tardias Manifestações do Estilo Art Déco. Tendo em vista que as primeiras manifestações começaram a surgir a partir de 1915, tendo seu apogeu em 1930, e tendo seu fim marcado por volta de 1945, o Art Déco contempla ainda algumas tardias manifestações, acreditando ser esse o caso de Cascavel-PR, cidade que apesar de ter sido criada na década de 50, apresenta algumas obras que possuem fortes características do Estilo.
Assim, acredita-se na importância desse estudo de pesquisa para que haja conhecimento sobre as produções arquitetônicas encontradas na cidade de Cascavel, e na relevância do trabalho com relação à preservação dessas obras.
1.1. ADERÊNCIAS À LINHA, GRUPO E TEMÁTICA DA PESQUISA
Linha: Arquitetura e Urbanismo
Grupo de Estudo e Discussão de Arquitetura e Urbanismo
1.2. ASSUNTO
Manifestações da Arquitetura Art Déco no Paraná, tomando por estudo de caso a cidade de Cascavel-PR.
1.3. TEMA
Tardias Manifestações da Arquitetura Art Déco em Cascavel-PR.
1.4. JUSTIFICATIVAS
O Art Déco é um movimento artístico do Século XX, que teve uma forte expressão no nosso país, e que apesar de ter acontecido basicamente entre os anos 1915-1945, continuou se disseminando em diferentes locais do território, mesmo alguns anos depois, sendo o caso de Cascavel, que apresenta algumas manifestações tardias, contribuindo e fortalecendo ainda mais essa arquitetura.
1.4.1. Sócio-cultural
Tendo em vista o entendimento dessas obras encontradas na cidade de Cascavel-PR, como do Estilo Art Déco e acreditando na importância como patrimônios históricos, espera-se que haja uma maior preocupação e cuidado, preservando para as gerações futuras e para que não se perca essa produção.
1.4.2. Acadêmico-científica
Realizar um estudo de levantamento de campo que tente comprovar que algumas obras encontradas na cidade de Cascavel-PR pertencem às Tardias Manifestações do Estilo Art Déco. Tendo em vista que as primeiras manifestações começaram a surgir a partir de 1915, tendo seu apogeu em 1930, e tendo seu fim marcado por volta de 1945, o Art Déco contempla ainda algumas tardias manifestações, acreditando ser esse o caso de Cascavel-PR, cidade que apesar de ter sido criada na década de 50, apresenta algumas obras que possuem fortes características do Estilo.
1.5. PROBLEMA DA PESQUISA
Acredita-se que no contexto desta pesquisa, não exista um problema propriamente dito, mas sim pressupostos. Neste sentido a motivação maior dos pesquisadores é uma preocupação com a preservação, um cuidado com relação à destruição do patrimônio arquitetônico.
1.6. HIPÓTESE
Pressupõe-se que existam em Cascavel – PR uma arquitetura de influência Art Decó sendo que, em caso afirmativo, estas encontram-se em um processo de falta de valorização por parte de profissionais e da própria população o que em última instância colabora para sua deterioração.
1.7. OBJETIVOS
Segue abaixo os objetivos gerais e específicos referentes ao tema da pesquisa.
1.7.1. Objetivo geral
Acreditando-se em uma manifestação da Arquitetura Art Decó em Cascavel- PR, que contribuiu para a construção e concepção da cidade, objetiva-se realizar um estudo de pesquisa que demonstre essa produção.
1.7.2. Objetivos específicos
- Contextualizar a produção arquitetônica paranaense;
- Realizar levantamento de obras com características do Art Déco em Cascavel;
- Organizar material acadêmico do objeto de estudo;
- Elaborar catalogação de obras encontradas no levantamento de campo;
1.8. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Antonio Castelnou será o autor que mais contribuirá com o trabalho de pesquisa, que terá como principal referência seu livro produzido a respeito das obras no Estilo Art Déco encontradas na cidade de Londrina-PR, que remete ao objetivo deste trabalho que pretende realizar uma pesquisa com o mesmo enfoque, porém para a cidade de Cascavel-PR.
Henri Bresler também fará contribuições ao trabalho, através da sua teoria “O Art Decorafit Moderno na França” que ajuda a definir e a entender sobre o Art Déco, assunto abordado na pesquisa.
Jorge Czajkwoski, organizador do “Guia da Arquitetura Art Déco no Rio de Janeiro” também traz referência para o trabalho e ajuda na elaboração.
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA E SUPORTE TEÓRICO
Para a construção desta pesquisa, faz-se necessário a construção de referencial teórico pautado no trabalho de autores consagrados em suas respectivas áreas de atuação.
Neste sentido, o presente capítulo é subdividido conforme as temáticas envolvidas para melhor compreensão da pesquisa de modo a criar um arcabouço teórico capaz de estruturar uma metodologia para elaboração de inventário arquitetônico.
2.1. O ART DÉCO
Art Déco é uma expressão, francesa, que deriva do nome da “Exposition Internationale des Arts Décoratifs et Industriels Modernes” (Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industrais Modernas), realizada em Paris no ano de 1925, onde o estilo foi exibido pela primeira vez, e aplica-se a uma linguagem artística que, iniciada por volta de 1920, no imediato pós-guerra, só atingiria seu pleno desenvolvimento cerca de dez anos mais tarde.
Pode ser considerado como uma tendência que surgiu logo após a voga do Art Nouveau, e se espelhou, sobretudo nas artes decorativas, o art déco se generalizou como estilo, durante a década seguinte, pela Europa ocidental e os Estados Unidos (CZAJKOWSKI, 2000-1).
Figura 01- Cartaz da Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas de 1925 – Paris. Fonte: Luiz Roberto Lopreto
O Art Déco se define como estilo Moderno lato sensu, ou seja, associa sua imagem a tudo que poderia se definir como tal: arranha-céus, automóveis, aviões, cinema, rádio, música popular, moda/vestuário e emancipação da mulher.
Apresentando- se como um estilo cosmopolita.
Figura 02- Desenhos de Mulheres Art Déco. Fonte: Mikeliveira.
Figura 03- Chrysler Building. Construído entre 1930/1931 em Nova York, o arranha-céu tem 319 metros de altura. Fonte: Colégio de Arquitetos.
Figura 04- Avião Art Déco. Fonte: Floppydisc.
Figura 05- Rádio Art Déco. Fonte: Floppydisc.
Figura 06- Relógio Art Déco Simétrico. Fonte: Feiber e Feiber 2009.
Figura 07- Relógio Art Déco. Fonte: Floppydisc.
Figura 08- Máquina de Costura Art Déco. Fonte: Floppydisc.
Na arquitetura, as mais significativas expressões do art déco foram dadas pelos arranha-céus americanos da época, como o Empire State Building, de Shreve, Lamb e Harmon, concluído em Nova York em 1931.
Figura 09- Empire State Building, de Shreve, Lamb e Harmon. Fonte: Flickr
O Mercedes-Benz 540K Special Roadster (1937) foi por muito tempo o carro símbolo da montadora alemã, representando com perfeição o estilo Art Déco de sua época.
Figura 10- Mercedes-Benz 540 K Especial Roadster. Fonte: Divulgaçao/ High Museum of Art
Os principais aspectos característicos do Art Decó são os desenhos simples, definidos por linhas sempre muito precisas, e os ornatos geométricos, ou em representação estilizada de padrões naturais.
Nos diversos produtos de sua expressão, tornou-se norma o emprego de materiais inventados pelo homem (das resinas sintéticas ao cimento armado) em acréscimo a materiais naturais como o jade, o marfim, a prata e os cristais de rocha.
Segundo Castelnou (2002) o estilo servia como opção estética para quem considerava o modernismo purista demais. Normalmente a elite burguesa se apega à tradição e não aceita as mudanças radicais, por isso conserva alguns traços dos estilos anteriores. Era também como um estilo de transição: mantinha o ornamento porém se aproximava dos elementos trazidos pela Era da Máquina.
Havia uma variedade de influências que resultou em 3 linhas de obras:
1) Mais seca e geometrizada (próxima ao racionalismo modernista) ESCALONADA OU ZIGUEZAGUE
2) Afrancesada, ênfase decorativa (lembra Art Nouveau)
3) Sinuosa e aerodinâmica (inspirada no expressionismo e no design náutico) STREAMLINE MODERNE (Castelnou, 2002)
As linhas Escalona ou Ziguezague e Streamline são as que mais se manifestaram na produção brasileira e latino-americada.
Há também uma linha conhecida como Tropical Déco, sendo esta uma versão regional para o Streamline em alguns lugares do EUA (especialmente Flórida e Califórnia).
Figura 11- Hotel Taft, Miami, Florida (1936). Fonte: Art Deco Architecture.
Miami (balneário no Sul da Flórida) é considerada a Riviera Americana. O furacão em 1926 e a queda da bolsa de Nova York em 1929 acabaram ocasionando o fim do crescimento rápido, mas em 1930 voltou a florescer e houve a construção de centenas de edifícios Art Déco.
Figura 12- Tropical Déco em Miami Beach. Fonte: Art Deco Architecture.
Figura 13- Edifícios Art Déco em Miami, Florida. Fonte: Hotel
Figura 14- Cardozo Hotel, Tropical Déco (1939), Miami-Florida. Fonte: Art Deco Architecture.
O Art Déco não pode receber a definição de movimento artístico devido à ausência de uma doutrina teórica, composta de manifestos ou publicações que ordenassem a produção segundo conceitos.
Segundo o Guia da Arquitetura Art Déco no Rio de Janeiro (Conde, Luiz Paulo e Almada, Mauro. Prefeitura do Rio de Janeiro, 2000), o estilo pode ser definido como: Arte, enquanto o Movimento Moderno pretendia ser mais que isso:
um movimento cultural global que envolvia aspectos sociais, tecnológicos, econômicos e "também" artísticos; Decorativo, enquanto o Movimento Moderno se coloca indiferente, contrário ou até mesmo hostil à idéia de decoração; estilo Internacional, ao lado do Movimento Moderno e contra as correntes, numerosas à época, que propugnavam por expressões artísticas "autenticamente nacionais";
estilo Industrial, isto é, associado à sociedade industrial nascente, implícitas aí todas as suas conseqüências, sobretudo tecnológicas; Moderno como estilo intrinsecamente cosmopolita.
Se divide, basicamente, em quatro períodos:
1- Formação e manifestações embrionárias- até 1925;
2- Lançamento ao Público, divulgação mundial e expansão, de1925 a 1930;
3- Consolidação e apogeu, de 1930 a 1940;
4- Manifestações tardias, de 1940 a 1950. (Castelnou, 2002).
Apesar de ter sua formação embasada ao Art Nouveau, o Déco tende a abandonar as curvas livres e a espontaneidade do estilo, priorizando a geometria e um design mais ordenado. Os motivos decorativos eram estilizados seguindo o novo gosto pela pureza e simplicidade das linhas, trazidas pela arte moderna.
Segundo Castelnou (2002), a abrangência do estilo foi limitada, não chegando a totalizar a produção de uma época ou região e, ao contrario do Movimento Moderno, o Art Déco não deve ser definido como um movimento, especialmente por não possuir uma doutrina teórica unificadora, composta por manifestos, associações ou publicações, que caracterizasse a produção através de conceitos bem definidos.
Também define-se o Art Déco como uma corrente estilística de design que conjugou a arte e a Era da Máquina, produzindo principalmente cerâmicas, tecidos e mobiliários geométricos, aerodinâmicos e modernistas, que podiam ser produzidos em série (Castelnou, 2002). O Art Nouveau não tinha tentado essa compatibilização com a indústria, portanto o Déco era uma tendência de design para a nova era, usando os novos materiais.
Logo em 1918, após o término da guerra, Paris tornou-se o centro da atividade criativa. A Exposição Internacional de Artes Decorativas em 1925 foi a demonstração em todos os domínios do novo estilo em voga, imediatamente batizado de Art Déco. Este aliava aos pormenores afetados do Art Nouveau, tal como se apresentavam na sua tendência geométrica, outros de um gosto naturalmente passadista vizinho do pastiche, por isto mesmo tranquilizadores para um público a quem a vanguarda e a simplicidade moderna assustavam. A fórmula obteve um sucesso imediato. (CASTELNOU, 2002, Pág. 37)
Weber,1994 citado por Castelnou,2002 afirmou que, basicamente, as características do Art Déco eram: a simplificação e pureza das linhas e dos planos da mobília, que mantinham, em muitos casos, os ecleticismos dominantes no passado; a supressão da decoração considerada inútil, limitando-a geralmente a um ornato floral de escasso relevo e de estilização geométrica; a elaboração complexa com técnicas refinadas e ricos materiais, visando evitar a sensação de pobreza trazida pela simplificação das formas; e a decoração de interiores através de uma solução completa, confortável e suntuosa, com a aplicação de temas de fauna ou de flora misturados com motivos de raiz arquitetônica e inclusive com cenas anedóticas que se combinavam com formas e esquemas geométricos.
O Art Déco não conseguiu se afirmar como solução definitiva para a arquitetura da época, configurando-se como uma moda passageira consumida pela burguesia e demais segmentos sociais em face de sua divulgação nos veículos de massa (Fonte: Arquitraço).
2.1.1. Características na Arquitetura
Toda linguagem artística possui características que as definem e permitem ser distinguidas.
Na arquitetura o Art Déco se manifestou com as seguintes características:
-Ainda aparecem alguns frontões, mas bem geometrizados (ver figura 15);
-A composição da fachada incorpora muitas formas geométricas;
Figura 15- Agência dos Correios e Telégrafos em Belém. Fonte: Vitruvius
-O aprimoramento das tecnologias construtivas permite grandes vãos e uma verticalização mais acentuada;
Figura 16- Banco de São Paulo em São Paulo. Fonte: Piratininga.
-No padrão decorativo Art Déco predominam linhas retas e circulares estilizadas, além das formas geométricas e abstratas;
Figura 17- Escada Art Déco no Cinema Roxy, Rio de Janeiro. Fonte: Nossa Arquitetura- Rio Art Déco.
Figura 18- Escada do Cinema Roxy-RJ. Fonte: Copacabana
Figura 19- Teatro Armando Manzanero, Merida, Mexico. Fonte: Art Deco Architecture.
-Em termos de acabamento e afrescos eles não são totalmente retos, mas nota- se claramente uma distância dos detalhes do período anterior (Art Nouveau);
Figura 20- Comparativo entre Art Nouveau e Art Déco: mulheres. Fonte: Fauxology
Figura 21- Comparativo entre Art Nouveau e Art Déco: acabamentos. Fonte: Fauxology
Figura 22- Comparativo entre Art Nouveau e ArtDéco: mobiliário. Fonte: Fauxology
-Possui reentrâncias e volumes destacados (geralmente o do acesso);
-Utilização de cores mais fortes do que as utilizadas nos períodos anteriores;
Figura 23- Apartment Entrance, Tropical Déco, Miami-Florida. Fonte: Art Deco Architecture.
Figura 24- Porta Art Déco. Fonte: Art Deco Architecture.
-Articulação e escalonamento de planos;
-Divisão do edifício em 3 partes (base, corpo e coroamento);
2.1.2. Influências Art Nouveau
O surgimento do Art Nouveau se deu, seguindo a ordem cronológica, após o movimento Arts and Crafts. Suas principais características eram as formas orgânicas, femininas, valorização do artesanato e riqueza de detalhes. (Blog Orange Design [s/d])
Os artistas William Morris (1834 - 1896) e Arthur Heygate Mackmurdo (1852 - 1942) foram os responsáveis por impulsionar o movimento na Inglaterra em 1880. Naquela época os artistas e arquitetos já não se importavam mais com a estética e davam exclusiva atenção à funcionalidade. Assim, o Art Nouveau surgiu para reverter esse quadro, como forma de aproximar a arte da vida cotidiana da sociedade. A denominação do movimento surgiu de uma loja de Paris chamada Art Nouveau (Arte Nova em francês) que vendia mobilários e objetos que seguiam esse estilo.
Caracterizado por exuberância decorativa, formas ondulares, contornos sinuosos e composição assimétrica, o art nouveau procurou sempre um ritmo de elegância, feito de linhas entrelaçadas que sugerem muitas vezes o movimento instável das chamas. (Arquitraço [s/d])
Figura 25- Escada Art Nouveau-Casa Tessel, Arquiteto Victor Horta. Fonte: Orange Design
Estilo de arte e arquitetura que se desenvolveu na Europa e nos Estados Unidos entre os anos de 1883 e 1910, e perdurou até a década de 1920 em objetos decorativos e teve significativas projeções no Brasil. O art nouveau chamou-se ainda style 1900 e style lumière, devido à Exposição Universal de 1900, realizada em Paris em comemoração à passagem do século e na qual o estilo obteve a consagração internacional. (Pitoresco [s/d])
Figura 26- Casa Tassel - Arquiteto Victor Horta. Fonte: Orange Design
As principais características do estilo são:
- Temática naturalista (flores e animais);
Figura 27- Sereia e porta Art Nouveau. Fonte: Arquitraço
- Arabescos lineares e cromáticos; preferência pelos ritmos baseados na curva e variantes; a cor, tons frios, pálidos, transparentes, formados por zonas planas, ou esfumadas;
- Recusa da proporção e equilíbrio simétrico, a busca de ritmos musicais, em elementos ondulados e sinuosos;
- Propósito de comunicar por empatia um sentido de agilidade, elasticidade, leveza, juventude, otimismo. (Pitoresco [s/d])
2.1.3. O Art Déco no Brasil
Na América e inclusive no Brasil, o Art Déco surge no início da década de 1920, ao mesmo tempo em que se expandiu para as Américas do Norte.
É fato que existem manifestações do estilo Art Déco espalhadas pelo país e que, em muitos casos ainda não foram identificadas, porém, este capítulo pretende tratar das principais cidades que apresentam forte influência da expressão do Art Déco no Brasil, são elas: Goiânia e Rio de Janeiro.
Aqui trabalharam arquitetos imigrados, especialmente após a Primeira Guerra, além do intercâmbio cultural, apesar de precário, através de revistas que divulgavam as novidades artísticas, houveram também visitas famosas e conferências no Brasil (Alfred Agache,1928, Le Corbusier, 1929 e 36, e Frank Lloyd Wright, 1931), importantes na influência do Art Déco produzido aqui nessa época. Embora sejam insuficientes os dados em quantidade e qualidade, percebe-se que o auge da produção Art Déco aconteceu entre 1930 e 1940.
Apesar de se auto definir como estilo internacional, ao ser introduzido no Brasil, o Art Déco encontrou uma forte corrente intelectual nacionalista que já buscava, desde fins do Século XIX, uma expressão própria para a cultura brasileira. Esses grupos, conhecidos por Nativistas, geraram inúmeras manifestações em diversos gêneros. Na arquitetura desenvolveu duas linhas: o movimento neocolonial e o estilo Marajoara (inspiração indígena que logo identificou-se com a temática decorativa Art Déco).
Figura 28- Teatro Municipal Marajoara em Lages-SC. Fonte: SCTUR.
Figura 29 – Edifício Acaiaca em Belo Horizonte, estilo Art Déco, inaugurado em 1943. Fonte: Flickr
Figura 30- Escultura de índio na fachada do edifício Acaiaca em Belo Horizonte. Fonte: Flickr
Figura 31- Efígie de índio, no edifício Acaiaca. Fonte: Arquitetônico UFSC.
A maior parte da produção conhecida e catalogada do Brasil está no Rio de Janeiro, porém sabe-se que Goiânia é a capital do Art Déco no Brasil, e há registros da produção em vários pontos do território: São Paulo, Minas Gerais, Belém, Ceará, Bahia, Paraná e Rio Grande do Sul (CZAJKOWSKI,2000-2).
Figura 32- Teatro em Belo Horizonte (1932). Fonte: Art Déco Architecture.
Em São Paulo podemos encontrar alguns exemplares. Na Avenida São João, esquina com Rua Ana Cintra, há um elegante prédio de apartamentos (figura 33). O revestimento não é mais o original (pintura de tinta misturada a pó de mica).
Figura 33- Prédio Art Déco em São Paulo, Av. São João. Fonte: Piratininga
Na Praça Marechal Deodoro, encontra-se um dos poucos prédios com o revestimento original (figura 14), bem escurecido com o tempo, com interessantes ornamentos de inspiração provavelmente indígena.
Figura 34- Prédio em São Paulo, Praça Marechal Deodoro. Fonte: Piratininga.
2.1.3.1. Art Déco em Goiânia
Goiânia é conhecida como a capital da arquitetura Art Déco no Brasil.
Possui o acervo arquitetônico e urbanístico Art Déco mais significativo do País, e o segundo maior acervo de Arquitetura Art Déco do mundo, construído entre as décadas de 1940 e 1950, e tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em novembro de 2003. Estão incluídos neste tombamento 22 prédios e monumentos públicos, o centro original de Goiânia e o núcleo pioneiro de Campinas. (Prefeitura Municipal de Goiânia)
O principal motivo que levou Goiânia a receber esse estilo arquitetônico deve-se ao ano em que foi projetada: 1935. Afinal, a década de 30 foi o grande apogeu do Art Déco no mundo e não foi quantitativamente rica em manifestações da modernidade racionalista. O Art Déco inspirou os primeiros prédios de Goiânia, nova capital do Estado de Goiás, projetada pelo arquiteto Atílio Correia Lima.
(Flash UCG [s.d.])
Figura 35- Torre do Relógio, Goiânia- Avenida Goiás. Fonte: Casa Abalcoada
Figura 36-Teatro Goiânia, Goiânia- Avenida Tocantins, Centro. Fonte: Casa Abalcoada
Figura 37- Museu Casa Pedro Ludovico-Goiânia. Fonte: Prefeitura de Goiânia
Figura 38- Museu Zoroastro Artiaga – Goiânia. Fonte: Prefeitura de Goiânia
Figura 39- Coreto Praça Cívica. Fonte: Feiber e Feiber 2009.
Outro motivo para essa escolha em Goiânia poderia se dever ao fato de que essa arquitetura remetia ao modelo utilizado pelo Presidente da República Getúlio Vargas para representar seu governo. Ou também as dificuldades financeiras do Estado, assim o estilo possibilitaria um efeito de monumentalidade sem a necessidade de utilização de materiais nobres ou exageros decorativos.
2.1.3.2. Art Déco no Rio de Janeiro
O Art Déco é identificado por suas formas geometrizadas de temas abstratos e figurativos, onduladas ou simétricas. No Brasil, foi muito confundida com a Arquitetura Moderna, que surgia paralelamente. A partir dos anos de 1920 até 1950, bairros como Copacabana, Flamengo, Urca e Centro ganharam edifícios com esse estilo. Entre eles, o monumento mais importante da cidade é o Cristo Redentor, que com seus grandes volumes e planos é o maior monumento do Art Déco e considerado uma das Sete Novas Maravilhas do Mundo Moderno. Em 2011 o monumento completou 80 anos. (XI Congresso Mundial de Art Déco no Rio de Janeiro – 2011. [s.d.])
Figura 40- Cristo Redentor – Rio de Janeiro. Fonte: Rio e Cultura
Atualmente a cidade do Rio de Janeiro é uma grande referência do estilo Art Déco na América Latina. Preserva um patrimônio de mais de 300 obras exemplares da produção do estilo Art Déco.
A linguagem do Art Déco também foi utilizada em questões políticas como forma mais acessível de se comunicar com o povo. Hitler, por exemplo, utilizou o Art Déco na arquitetura como forma de demonstrar poder. Até Getúlio Vargas,
para aplicar a idéia de um Brasil moderno e inovador, usou o Art Déco, presente em diversos edifícios representativos, como o antigo Ministério da Guerra ou a antiga sede da Central do Brasil, vizinhos, localizados na Avenida Presidente Vargas, no Rio de Janeiro. (Nossa Arquitetura, [s.d.])
Figura 41- Antiga Sede da Central do Brasil e Antigo Ministério da Guerra- Avenida Presidente Getúlio Vargas -RJ. Fonte: Rio de Janeiro que eu amo [s.d.]
Figura 42- Prédio da Antiga Central do Brasil, construído por Roberto Magno de Carvalho
e Robert Petrince, o edifício possui mais um estilo Americano, com o uso de torre. Também possui várias formas geometrizadas e o uso de um relógio de quatro faces no topo- RJ. Fonte: Rio e Cultura.
Figura 43- Comando Militar do Leste – Rio de Janeiro. Fonte: Rio e Cultura.
Figura 44- Antigo Ministério da Guerra, Av. Getúlio Vargas-RJ. Fonte: Rio de Janeiro que eu amo [s.d.]
Outro forte exemplar do estilo no Rio de Janeiro é o Edifício Biarritz, um dos edificios art déco mais significativos da cidade, projetado em 1940 por Henri Paul Pierre Sajous e Auguste Rendu. O destaque da fachada são os balcões arredondados, com dupla curvatura, detalhes frisados na massa e esplêndidas grades. Percebe-se também os detalhes do mármore de carrara, do enorme portão de ferro trabalhado, da maçaneta dourada na entrada do prédio
sofisticado, a riqueza de detalhamento. Tem um belo jardim interno cheio de charme e totalmente silencioso, o que é raro de encontrar no Rio de hoje. (Fonte:
Sajous Henri,[s.d.])
Figura 45- Edifício Biarritz – Rio de Janeiro. Fonte: Sajous Henri [s.d.]
Figura 46- Balcões arredondados do edifício Biarritz-RJ. Fonte: Sajous Henri [s.d.]
Por ser uma das referencias nacionais do Art Déco, possui um acervo Art Déco muito significativo:
Figura 47- Teatro Carlos Gomes, RJ (1931). Fonte: Feiber e Feiber 2009.
Figura 48- Edifício Guinle, RJ (1928). Fonte: Feiber e Feiber 2009.
Figura 49- Edifício Tabor Loreto, RJ. Fonte: Feiber e Feiber 2009.
Figura 50- Conjunto a praia do Flamengo, RJ (1940). Fonte: Feiber e Feiber 2009.
2.1.3.3. Manifestações no Paraná
À exemplo de outras regiões do país, no Paraná também foram edificadas obras Art Déco, em especial na capital.
Figura 51- Antiga Fábrica de Fitas, Curitiba-PR. Fonte: Feiber e Feiber 2009.
Figura 52- Hotel em Curitiba-PR. Fonte: Feiber e Feiber 2009.
É possível ainda encontrar outras nas cidades do interior paranaense, mesmo nas mais jovens, onde ocorreram o que aqui se denomina como manifestações tardias.
Em Curitiba, a agência dos Correios e Telégrafos, construída em 1934, é uma manifestação do Art Déco concebida no período de seu apogeu. Com iluminação potente, elevadores, relógios eletrônicos e instalações telegráficas, a
construção foi considerada um marco da modernidade no Estado na década de 30.
Figura 53- Agência de Correios e Telégrafos – Curitiba. Fonte: Circulando por Curitiba [s.d.]
Figura 54- Agência do Correio em Antonina-PR. Fonte: Feiber e Feiber 2009.
Porém acredita-se que possam ser encontradas no Paraná algumas manifestações tardias do Art Déco, sendo especialmente o caso de Cascavel, que apresenta algumas obras com características do estilo.
2.2. ESTUDO DE CASO: CASCAVEL-PR
O estudo de caso se refere à cidade de Cascavel, que está localizada na região Oeste do Estado do Paraná.
Figura 55- Mapa para Localização da cidade de Cascavel-PR. Fonte: Prefeitura Municipal de Cascavel-PR
Dias et al (2005) afirmam que as cidades como conhecemos hoje no mundo ocidental são decorrentes da Revolução Industrial. A colonização do Oeste do Estado do Paraná teve início conjuntamente com a colonização do Brasil.
Porém, no caso particular de Cascavel, a colonização propriamente dita começou a partir das décadas de 30 e 40, onde milhares de colonos sulistas, na maioria descendentes de poloneses, ucranianos, alemães e italianos, assim como cablocos oriundos das regiões cafeeiras, começaram a exploração da madeira, agricultura e a criação de suínos. Cascavel torna-se distrito em 1938. O distrito emancipou-se em 14 de Dezembro de 1952.
Antes de sua colonização, a região de Cascavel servia somente como pouso entre as cidades costeiras do rio Paraná e as cidades do Leste, como Guarapuava, Lapa, Curitiba, etc. Do período de 1532, até o início da comercialização de escravos provindos da África, esta região servia de abastecimento de mão-de-obra indígena para as grandes fazendas de latifúndios, promovido pelos portugueses. (Dias et al, 2005, p. 57)
A ocupação por habitações e serrarias (neste momento- década de 30 e 40- o ciclo econômico da erva mate já fora substituído pelo extrativismo da madeira)
ocorreu ao longo do eixo físico da antiga estrada de ligação do litoral com o extremo oeste paranaense. (Dias et al, 2005, p. 61)
2.2.1. Histórico de Cascavel-PR
Teve a ocupação iniciada pelos espanhóis em 1557, quando fundaram a Ciudad del Guairá, atual Guaíra. Uma nova ocupação teve início a partir de 1730, com o tropeirismo, mas o povoamento da área do atual município iniciou-se efetivamente no final da década de 1910, por colonos caboclos e descendentes de imigrantes eslavos, no auge do ciclo da erva mate.(Prefeitura Municipal de Cascavel [s/d])
O ano de 1920 marcou a largada para uma nova e promissora etapa colonizadora na região Oeste do Paraná. A propaganda das terras oestinas foi a atração para famílias de origem predominantemente italiana e alemã. O Paraná contava em 1920 com uma populaçao de 600 mil habitantes.
A imigração eslava ao Paraná e Santa Catarina também se desenvolveu com maior fluência a partir desse ano. Os poloneses vinham por decisão própria e se dispunham a plantação de cereais, principalmente o milho, e à criação de suínos. Sem qualquer auxilio ou conhecimento do governo, acabaram impondo seu trabalho e seus costumes pelo interior da região Oeste. Além dos poloneses vieram muitas famílias ucranianas e até russas, dentre outras.
Nesse ano estratégico para a região, diversos colonos e ervateiros que passavam pela Encruzilhada dos Gomes já habitavam o interior do Município de Cascavel, em pontos mais ou menos distantes do entroncamento, próximos em geral de acampamentos de coleta de erva-mate. (Sperança,2011)
Data de 1921 a aquisição, por parte do colono catarinense Antônio José Elias, das terras situadas às margens do rio Cascavel. A compra foi feita junto à empresa Braviaco (Companhia Brasileira de Viação e Comércio). Outras famílias acompanhariam mais tarde o primeiro morador “oficial” da atual Cascavel. Os pioneiros de 1922 já chamavam o local de Cascavel, porque este era o nome do rio e do pouso ervateiro que havia ali desde o século passado.
A primeira leva de colonos sulistas que se distribuiu pelo interior do atual minicipio de Cascavel apareceu no final da segunda década do século XX, quando a vila começou a tomar formas, ampliando-se nos anos seguintes. A
madeira começava a escalar uma trajetória ascendente na economia paranaense.
Os colonos poloneses, provenientes de Santa Catarina, trouxeram importantes contribuições ao desenvolvimento da futura Cascavel, introduzindo, desde a década de 20, a carpintaria, a marcenaria, a selaria, a sapataria e os primeiros instrumentos agrícolas mais elaborados, inaugurando assim a tecnologia agropecuária. (Sperança, 2011)
Na década de 1930, com o ciclo da erva-mate já extinto, iniciou-se o ciclo da madeira, que atraiu grande número de famílias de Santa Catarina e Rio Grande do Sul e, em especial, colonos poloneses, alemães e italianos, que juntos formaram a base populacional da cidade. Em 1934, foi criado o distrito policial de Cascavel. A vila foi oficializada pela prefeitura de Foz do Iguaçu em 1936.(Fonte:
Prefeitura Municipal de Cascavel)
No transcorrer do ano de 1951, o prefeito Guaraná de Meneses desenvolveu intensos esforços junto às autoridades legislativas e executivas do Estado almejando a criação do novo Município. Finalmente, com a Lei Estadual 790/51, de 14 de Novembro, sancionada pelo governador Bento Munhoz da Rocha Neto, surgiu oficialmente o Município de Cascavel. (pg 137). Porém, em 14 de Dezembro de 1952 inicia efetivamente vida autônoma, com a emancipação.
Cascavel possui uma topografia privilegiada, fato que facilitou seu desenvolvimento e permitiu a construção de ruas e avenidas largas e bairros bem distribuídos. Atualmente é denominada como a Capital do Oeste Paranaense, por ser o pólo econômico da região e um dos maiores municípios do Paraná. É uma cidade jovem e promissora. Com seus 300 mil habitantes, consolidou a posição de pólo econômico regional e epicentro do Mercosul. (Fonte: Prefeitura Municipal de Cascavel)
2.3. PATRIMÔNIO / PRESERVAÇÃO
Segundo a construção do conceito de patrimônio histórico e cultural pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), preservar é um ato embasado na possibilidade de contar a história através do construído, do edificado, do monumental. (IPHAN [s/d])
Define-se como patrimônio cultural o conjunto de manifestações, realizações e representações de um povo, de uma comunidade. Ele está presente em todos os lugares, atividades, nos modos de fazer, criar e trabalhar. Nos livros, na poesia, nas brincadeiras, nos cultos, etc. Estabelece as identidades que determinam os valores a serem defendidos. Quanto mais o país cresce e se educa, mais cresce e se diversifica o patrimônio cultural. O patrimônio cultural de cada comunidade é importante na formação da identidade de todos os brasileiros.
(IPHAN, Educação Patrimonial [s/d])
O tombamento é um ato administrativo realizado pelo Poder Público, nos níveis federal, estadual ou municipal. Seu objetivo é preservar bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e também de valor afetivo para a população, impedindo a destruição e/ou descaracterização de tais bens.
Pode ser aplicado aos bens móveis e imóveis, de interesse cultural ou ambiental. Sendo o caso de fotografias, livros, mobiliários, utensílios, obras de arte, edifícios, ruas, praças, cidades, regiões, florestas, cascatas, dentre outros.
Somente é aplicado aos bens materiais de interesse para a preservação da memória coletiva.
Os tombamentos federais são de responsabilidade do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e se inicia pelo pedido de abertura do processo, por iniciativa de qualquer cidadão ou instituição pública. O processo de tombamento, após avaliação técnica preliminar, é submetido à deliberação das unidades técnicas responsáveis pela proteção dos bens culturais brasileiros. Se houver aprovação da intenção de se proteger um determinado bem, seja ele cultural ou natural, será expedida uma notificação ao seu proprietário. Essa notificação determina que o bem já está sob proteção legal, até que seja tomada a decisão final, depois de o processo ser devidamente instruído, ter a aprovação do tombamento pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural e a homologação ministerial publicada no Diário Oficial. O processo termina, finalmente, com a inscrição no Livro do Tombo e a comunicação formal do tombamento aos proprietários.(IPHAN [s/d]
Nas suas manifestações o homem realiza algumas coisas que marcam sua historia, sua trajetória. Esses bens representam de maneira notável sua produção. A arquitetura é uma das formas pelas quais o homem pode registrar sua cultura e sua história e, para que não se perca, algumas medidas podem ser tomadas. A seguir,
alguns dos conceitos no âmbito da temática do Patrimônio Cultural que contribuem para o bom entendimento:
-Preservação
Segundo Tinoco (2007), nas relações com a vida, no cenário dos seus desejos em obter o êxito, o homem identifica-se com valores atribuídos as coisas.
Essa identificao gera então a necessidade de permanência para satisfação dos seus sentidos e percepções. Surge assim o ativismo no comportamento das ações de preservar.
-Manutenção
É o conjunto de medidas, de caráter preventivo, com o objetivo de manter as coisas livres da deterioração. Basicamente consiste em atividade de revisão, limpeza, lubrificação, pintura, imunização, impermeabilização, capinação.
-Conservação
Conservar é resguardar do dano e da decadência. As ações da conservação constituem-se num conjunto de medidas, com o objetivo de corrigir e consertar partes da edificação com sinais explícitos e potenciais de deterioração. Tem caráter preventivo.
-Restauração
É o conjunto de atividades operativas e materiais que visam restabelecer a edificação do dano. Consiste em ações de medidas de substituição, modificação e eliminação de elementos destruídos, danificados ou descaracterizados. Tem caráter corretivo.
-Reconstituição
É o conjunto de atividades operativas e materiais que visam construir novamente a edificação ou partes da mesma.
Entre a restauração e a reconstituição há um tênue fio de entendimento que separa essas atividades. Na primeira é fundamental que o objeto da intervenção seja sobre as partes danificadas ou fragmentadas que constituem a unidade. Na segunda apenas sobrevém a informação de como seria ou poderia ter sido constituída a unidade. Na restauração sobrevém o objeto da intervenção. Na reconstituição resta a suposição da constituição do objeto. (Tinoco-Teoria da Restauração I, 2007)
Estes conceitos destacam a importância de manter vivos os valores dos bens culturais que são a base de nossa identidade.
2.3.1. Intervenção em Patrimônio Cultural
Brandi define restauração qualquer intervenção realizada no âmbito de atribuir novamente a eficiência a um produto da atividade humana e, como produto a obra de arte coloca uma dúplice instancia: a instancia estética que corresponde a artisticidade pela qual a obra de arte pode ser assim considerada, e a instancia histórica que lhe apresenta como um produto humano realizado em um certo tempo e lugar e que em certo tempo e lugar se encontra. Percebe-se que a utilidade não foi acrescentada como instância, visto que, mesmo que esteja presente, não poderá ser levada em consideração de forma isolada para a obra de arte.
Assim, o que pode-se analisar com relação ao caso de Cascavel-PR, a respeito de algumas obras características do Art Déco que servem como estudo de caso para este trabalho, é que já não podemos considerar muitas dessas obras como um produto de obra de arte, principalmente quando começamos a perceber que a dúplice instância a qual Brandi se refere, já não é mais encontrada em muitas dessas obras, e que a perda de uma acarreta na perda da outra automaticamente, se considerarmos que ao perder a artisticidade a obra estará inevitavelmente perdendo sua capacidade de contar a história através de suas características. É como se a história deixasse de ser contada pelo produto, para ser apenas uma lembrança na memória de quem a reconhecia antes de perder sua dúplice instância.
É o caso do prédio do antigo Hotel Apolo, localizado na cidade de Cascavel-PR na Avenida Brasil, esquina com a Rua Carlos Gomes, o qual apresentava uma fachada que remetia aos preceitos do Art Déco e que, após uma reforma (e não um restauro) acabou perdendo todas as suas características iniciais, inclusive sua identidade, tornando-se uma obra sem significância artística nem histórica.
Figura 56- Antigo Hotel Apolo, em Cascavel-PR, antes da reforma. Fonte: Museu da Imagem e do Som de Cascavel-PR.
A unidade potencial da obra de arte, nos casos do estilo Art Déco, será sempre encontrada na fachada, afinal o que mais distingue o estilo das demais obras do Século XX é essa preocupação com a ornamentação da fachada.
Portanto, apesar de ser um estilo que já foi nomeado como moderno, e ter surgido paralelamente à Revolução Industrial, ele aceitou as novas técnicas e mudanças, porém não abriu mão da preocupação estética aliada à funcional. (Teoria da Restauração- Cesare Brandi)
3 CORRELATOS OU ABORDAGENS
Para a elaboração desse trabalho foi usado como correlato o livro de Antonio Castelnou “Arquitetura Art Déco em Londrina”.
Figura 57- Capa do Livro usado como correlato. Fonte: Acervo pessoal da autora.
Castelnou é arquiteto e engenheiro civil, e faz pesquisas sobre a História da Arquitetura Londrinense desde 1996. A obra tida como referência para esta pesquisa, surgiu de uma parceria com a Diretoria de Patrimônio Histórico Cultural da Prefeitura de Londrina, é resultado da Lei de Incentivo à Cultura do Município e pretende contribuir na construção da memória de Londrina.
No caso de Cascavel, a intenção não difere, pois o trabalho de pesquisa também procura incentivar a memória da cidade.
4 ENCAMINHAMENTO METODOLÓGICO
Segundo Lakatos/Marconi, este capítulo irá demonstrar a intenção de como se pretende elaborar o projeto de pesquisa, as maneiras pelas quais será possível a identificação das obras na cidade de Cascavel, para que se possa realizar a interpretação e análise destas, objetivando a busca pela confirmação do tema da pesquisa: Tardias Manifestações do Art Déco em Cascavel-PR.
Para demonstrar as manifestações da Arquitetura Art Decó em Cascavel, serão utilizadas algumas obras para estudo de caso, as quais certamente estão localizadas na cidade, provavelmente na região central devido ao fato de que as primeiras construções foram edificadas nesta área, além da demonstração de outras obras da produção Art Decó construídas em outros lugares do mundo, para que seja feita a comparação e constatação se, de fato essas construções encontradas em Cascavel pertencem a essa mesma linguagem. Para que isso seja possível, também será apresentada a definição de Arquitetura Art Decó e a produção arquitetônica no Brasil e no mundo, e, para finalizar, o trabalho embasará a criação de uma catalogação sobre o tema.
O levantamento de dados será realizado através de fotografias registradas pela autora, in loco, além de fotos antigas que registrem a imagem dessas obras com características do Art Déco, já que algumas destas foram reformadas e tiveram suas expressões iniciais alteradas ao longo do percurso, perdendo o aspecto Art Déco.
4.1. MÉTODO DE ABORDAGEM
Para que seja possível realizar a identificação das possíveis tardias manifestações do Art Déco em Cascavel-PR, será preciso primeiramente encontrá-las. Assim, levando em consideração que o começo da povoação na cidade aconteceu nas áreas centrais, e ali foram construídos os primeiros prédios, será nessa região que se fará a procura por essas manifestações que, possivelmente poderão ser encontradas com alterações do caráter inicial da obra, porém, através de antigas fotografias ou da análise de suas características será permitida a seleção dos objetos de estudo e interpretação destes como sendo ou não Tardias Manifestações do Art Déco.
4.2. MÉTODOS DE PROCEDIMENTO
O trabalho contempla pesquisa bibliográfica a respeito da linguagem Art Déco, definições a respeito do estilo, manifestações no Brasil e no mundo e apresentação das possíveis tardias manifestações encontradas na cidade de Cascavel-PR. Também realizará a amostra de fotografias das obras identificadas na cidade de Cascavel que serão anexadas ao trabalho para que se possa analisar e discutir sobre suas características e identificá-las como sendo ou não tardias manifestações do Estilo.
Este estudo de análise e registro de fotografias pressupõe o Levantamento de Campo, onde será realizada a visita às obras e, se possível, após o levantamento será feita uma catalogação destas obras.
4.3. TÉCNICAS
Segundo Lakatos/Marconi, corresponde à parte prática da coleta de dados e levantamento de campo. Para que fosse possível a realização deste trabalho, algumas técnicas tiveram que ser utilizadas. Uma delas se refere à visita da autora no local das obras, para que possa ser feita a observação dos objetos de estudo. A fotografia dessas obras também corresponde a esta parte prática da coleta de dados, além de entrevista com pessoas que saibam informações a respeito das obras, como por exemplo, o ano em que foram construídas, se já foram efetuadas reformas que as descaracterizassem ou se ainda possuem as mesmas formas, revestimentos e acabamentos.
