• Nenhum resultado encontrado

PCN e sua organização curricular

No documento Dissertação_Fábio.pdf (1.808Mb) (páginas 30-34)

2 ENSINO DE CIÊNCIAS E HISTÓRIAS INFANTIS NOS ANOS INICIAIS DA

2.1 O ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS NO BRASIL – UMA BREVE

2.1.1 PCN e sua organização curricular

A proposta de conteúdos curriculares mínimos que atendessem à diversidade de realidades existentes no Brasil é sonhada desde muito tempo e corporificada na forma de Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), que teve seu nascimento no ano de 1988, quando o Ministério da Educação e Cultura (MEC), ao analisar as propostas curriculares existentes, definiu que o ensino precisava avançar além dos conteúdos apresentados, além do que se apresentava do que deveria ser ensinado, mas também adentrando no campo do como ensinar. Nascem então os PCN, que podem ser definidos como sendo um conjunto de documentos formado para ser visto como uma referência tanto para reflexão como para ser utilizado como norteador na busca de uma mudança educacional no Brasil.

Estes documentos tentam atingir todas as áreas de ensino da Educação Básica, apresentando a seguinte divisão: Língua Portuguesa, Matemática, Ciências Naturais, História, Geografia, Arte e Educação Física. Os PCN apresentam ainda cinco documentos referentes aos temas transversais. Deve-se ainda destacar que as diretrizes curriculares, que deram origem aos PCN, preconizam ainda, na estrutura curricular, uma Base Nacional Comum (BNC) e um espaço denominado de parte diversificada do currículo, sendo que este último tem como objetivo a incorporação de conteúdos diversos, como temáticas locais, assuntos atuais, etc.

A escola, como ambiente de desenvolvimento prático por excelência dos PCN, para que possa viabilizar de forma adequada a implementação do projeto, tem sua estrutura

curricular mudada no que se diz respeito ao sistema de aulas. O sistema adotado pela LDB anterior era o de séries. Estas tinham duração de um ano. Dentro de seus parâmetros de avaliação, a ascensão à série seguinte se daria através de notas quantitativas.

Com a nova proposta, é aconselhado que o sistema mudasse de séries para ciclos. O ciclo tem duração de dois anos, o que pode propiciar aos professores uma maior liberdade no que tange tanto ao desenvolvimento dos conteúdos curriculares de todas as disciplinas, quanto ao processo avaliativo, uma vez que teriam mais tempo para conhecer o seu aluno de forma mais profunda e completa e, dessa forma, teriam uma maior segurança para intervir nos processos educativos, visando o alcance de sua aprendizagem. O Ensino Fundamental ficaria composto por 4 ciclos, com duração de dois anos cada, perfazendo um período mínimo de 8 anos, atendendo crianças e adolescentes, em geral, na faixa etária dos 7 aos 14 anos.

Com o passar do tempo e revisões avaliativas do processo educacional, outra mudança ocorreu, tornando o sistema de Ensino Fundamental composto não mais por ciclos ou séries, mas por anos. Passou-se a exigir 9 anos de educação fundamental formal, sendo 5 destes dedicado ao Ensino Fundamental menor (dos 06 a 11 anos) e o restante para o Fundamental Maior (dos 11 a 14 anos).

A apresentação dos conteúdos também foi alterada. Na LDB anterior, estes eram expostos como Bloco de Conteúdos, sendo cada um fechado em si mesmo. Com as novas diretrizes, passaram a utilizar o que se conhece por Blocos Temáticos, ou seja, blocos de temas que têm o intuito de não serem tratados isoladamente, mas que possam ampliar a visão dos alunos no que concerne a terem uma formação crítica e social mais sólida.

Cada área possui seus blocos temáticos específicos, que apesar de possuírem particularidades intrínsecas (conceitos, metodologias, instrumentais, por exemplo), não são fechados, podendo estabelecer pontes de discussões com outras áreas de conhecimento.

Um ponto de convergência de todas as referidas áreas de conhecimento encontra-se na formatação de seus conteúdos. A fim de atenderem todos os objetivos da proposta e para ampliar a compreensão da temática em foco, os conteúdos passam a se dividir em três: conceituais, procedimentais e atitudinais. (COLL et al., 2000).

a) Conteúdos Conceituais – dizem respeito às definições, conceitos, definições, dados e fatos trabalhados por determinada área, visando organizar a realidade, levando o aluno à construção ativa das capacidades intelectuais para operar com símbolos, ideias, imagens e representações.

b) Conteúdos Procedimentais – têm a ver com procedimentos práticos, expressando um saber fazer. Devem levar o aluno à tomada de decisões e desenvolvimento de

ações de maneira consciente a fim de se atingir metas estabelecidas. Neste tipo de conteúdo encontramos como fazer uma pesquisa, um resumo, como agir em uma excursão no que se diz respeito à coleta de dados, por exemplo.

c) Conteúdos Atitudinais – preocupam-se com a formação de atitudes, valores, crenças junto aos alunos no que se diz respeito ao conhecimento, ao professor, aos colegas, a disciplina, as tarefas e a sociedade. É a difusão de valores que perpassam por todo o contexto escolar e social.

Fumagalli (1998) ao defender o ensino de Ciências nas séries iniciais do Ensino Fundamental argumenta que este ensino apresenta-se, mesmo em diferentes acepções por parte dos professores, como um corpo de conhecimento que contém conceitos, procedimentos e atitudes:

A ciência escolar, portanto, está construída por um corpo de conteúdos que contêm conceitos, procedimentos e atitudes selecionados a partir de um corpo científico erudito. Tomamos como referente esse conhecimento erudito e temos o propósito de que as crianças, através do ensino escolar, cheguem a obter uma visão conceitual, de procedimentos e atitudes coerentes com a científica. (FUMAGALLI, 1998, p. 20).

Estes conteúdos ainda são alvo de muitas dúvidas. Sua implementação de forma expressiva no processo ensino-aprendizagem impõe uma formação profissional direcionada por parte dos professores que serão os verdadeiros empreendedores do projeto.

Essas dúvidas, que perpassam a leitura do documento PCN quanto à execução em sala de aula de um fazer docente que dê conta da utilização de tais conteúdos acima expostos, são aumentadas com o acréscimo de um montante de saberes que devem ser trabalhados também pelos professores e que se encontram sob o título de Temas Transversais.

Os Temas Transversais nascem de um conjunto de preocupações de cunho social que, por sua urgência em níveis regionais, nacionais e mundiais, devem ser tratados de forma sistematizada pela escola. Essas discussões não podem ficar restritas dentro do ensino das áreas clássicas, mas também devem perpassar todas as ações e relações que formam o convívio escolar.

Nos primeiros ciclos do Ensino Fundamental foram eleitos por seu caráter de urgência cinco assuntos para serem trabalhados como temas transversais: Ética, Saúde, Meio Ambiente, Orientação Sexual e Pluralidade Cultural. Cada um tem um importante papel a desempenhar na vida não apenas dos alunos, mas da sociedade como um todo, como vemos ao conhecer um pouco mais sobre eles:

a) Ética – Diz respeito às condutas humanas, comportamento das pessoas em relação aos outros. Como agir diante de determinadas situações. Trabalha muito na área de respeito mútuo.

b) Pluralidade Cultural – Como interagir com a diversidade cultural brasileira, rompendo conceitos, preconceitos e discriminações na busca, através do conhecimento e da aprendizagem do outro, pela compreensão entre grupos de culturas diferentes.

c) Saúde – Direciona-se na discussão de autocuidado que os alunos devem possuir, bem como da compreensão da saúde como direito e responsabilidade pessoal e social.

d) Meio Ambiente – Trata das relações existentes entre os seres vivos e elementos físicos em uma perspectiva sócio-econômica-ambiental, a fim de atingir crescimento cultural, qualidade de vida e equilíbrio mental.

e) Orientação Sexual – Visa informar e questionar com os jovens o exercício da sexualidade de forma responsável e prazerosa, sem que isso venha lhes prejudicar na sua vida futura, através de discussões e problematizações de questões acerca da sexualidade, reavaliando posturas, crenças e tabus.

Sancho (1998), ao tecer comentários sobre a origem dos Temas Transversais e seu lugar no currículo, alerta que a educação escolar não apenas passou a ser um direito, mas também um dever para todos os cidadãos e cidadãs, o que faz surgir a cada dia mais exigências sobre ela, no sentido de que dê respostas a problemas sociais. Por outro lado, a escola também passa a receber cada vez mais críticas tanto pela dificuldade para resolver problemas que não nasceram a partir dela quanto para as soluções destes, e que não estão ao seu alcance.

De acordo com a autora, espera-se que a escola represente um papel educativo e moralizador, uma vez que a família e outras instituições têm perdido a sua capacidade de transmitir de forma eficaz valores e pautas culturais de coesão social. A escola, nesse cenário, deveria infundir valores e atitudes cívicas e éticas, formando cidadãos e cidadãs de tal forma que eles não sejam alfabetizados apenas em linguagem e escrita, mas também no uso e compreensão de linguagens audiovisuais e informática. Objetiva-se, assim, a construção de um sujeito que apresente um conhecimento cultural de base e que lhe possibilite situar uma determinada informação, dando-lhe sentido, o que o preparará para um mercado de trabalho cada vez mais exigente.

Inseridos nesse quadro escolar, os Temas Transversais devem perpassar todas as áreas de conhecimento propostas nos PCN, juntamente com os conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais referentes a cada uma delas.

Passa-se aqui a ter como alvo de discussão a parte do documento que se refere a Ciências Naturais.

No documento Dissertação_Fábio.pdf (1.808Mb) (páginas 30-34)