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PEDAGOGIA DA ESCUTA E OS PROJETOS DE TRABALHO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

A Pedagogia da Escuta, perpassa as paredes das salas de referência11, tratasse

de um ir além das expectativas das crianças, encorajando-as a pesquisar e perguntar cada vez mais, tornando-as protagonistas do mundo. Segundo a autora Corsino devemos

entender que as crianças são o ponto de partida do trabalho e que a educação é uma possibilidade de ampliação das suas experiências. Toda a criança é sujeito ativa e nas suas interações está o tempo todo significando e recriando o mundo ao seu redor (2009, p. 114).

Por isso, as práticas pedagógicas devem proporcionar para as crianças conhecimentos através da perspectiva da Pedagogia da Escuta, pois está alicerçada num currículo sensível, condizente com o que propõem as

11 Expressão utilizada para definir a sala que a

criança terá como referência na escola. Lugar onde fica seus pertences.

DCNEI ao afirmar que “as práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular da Educação Infantil devem ter como eixos norteadores as interações e a brincadeira” (BRASIL, 2009, p. 4). Trata-se de pensar e colocar a infância como pauta de discussão no meio social e cultural, compartilhando e transformando o contexto educativo em uma experiência de troca entre adultos e crianças.

Desta relação surge um enorme repertório de linguagens que possibilitam a criança simbolizar e compreender o mundo de uma maneira somente dela. Segundo Junqueira Filho (2014), na perspectiva das linguagens geradoras, tanto os professores quanto as crianças, são objetos de conhecimento- linguagem para si, de si, para os outros, dos outros, a serem explorados e articulados diariamente.

Seguindo a discussão Junqueira Filho quando fala sobre os conteúdos- linguagens, se refere a:

- Linguagem oral (fala, oralidade); - Linguagem espaço-temporal (agora, depois, daqui a pouco, ali, aqui, ontem, hoje, amanha, de manhã, de tarde, relativos á organização da rotina e ao conhecimento pelas crianças, do acervo disponível na sala de aula- e da escola-, bem como da elaboração conjunta dos combinados para utiliza-los, etc);

- Linguagem plástico- visual (desenho, pintura, modelagem, escultura, recorte e colagem, etc); - Linguagem sonoro-musical (sons da natureza, sons da cultura, sons do corpo, música ouvida e cantada); - Linguagem gestual-corporal (da qual fazem parte a dança, o movimento, a motricidade);

- Linguagem do jogo simbólico (das brincadeiras de faz de conta), dos jogos regrados (como dominó, trilha, memória, por exemplo), dos jogos e das brincadeiras em geral (estatua, ovo podre, bola queimada, pega-pega, esconde-esconde, por exemplo);

- Linguagem visual e verbal (oral e/ou escrita) das histórias infantis e da literatura infantil registradas em ilustrações (imagens fixas) e textos – nos livros-, ou em sons incidentais,

trilha sonora, narração e vozes dos personagens- em fitas de vídeo e DVD;

- Teatros de sombra, de fantoches, de marionetes, etc. (elaborados por meio do cruzamento de diferentes linguagens: oral, visual, gestual);

- Linguagem lógico-matemática (classificar, ordenar, seriar, produzir o conceito de número); - Linguagem da natureza (começando por aquela que está presente, organizando o cotidiano das crianças, como: dia, noite, nuvem, chuva, sol, arco-íris, frio, calor, animais e plantas no pátio da escola e dos arredores de escola, etc.);

- Linguagem culinário;

- Linguagem da alimentação (organização dos momentos de alimentação, de modo a serem prazerosos e apreciados pelas crianças, conseguindo, inclusive, que comam);

- Linguagem da higiene (pessoal e com a limpeza da sala de aula, banheiro e demais espaços da escola);

- Linguagem do sono (organização do momento do sono, quando há, de modo a ser acolhedor, silencioso e tranquilo para as crianças, com alternativas para quem não quer dormir, e não como algo impositivo, estendido a todas as crianças); - Linguagem dos cuidados, sentimentos e afetos em geral (consigo mesmo, com o outro, com a

natureza, com o mundo; a estruturação de vínculos interpessoais, o encaminhamento para a resolução de conflitos entre as crianças, a produção de autoestima, as regras de convívio do grupo, a autonomia, a cooperação);

- Linguagem escrita;

- Linguagem da acolhida e da despedida das crianças e seus familiares (porque encontrar-se e separar-se requer cuidado especiais, ainda que acontecam todos os dias, além das situações especiais de adaptação- entrada de uma criança nova na escola- por mudança de endereço, desagrado com a instituição, etc. -; ou encerramento de um ciclo- no caso, por exemplo, da ida das crianças para os anos iniciais do Ensino Fundamental(2014, p. 19-21).

Diante disso, cabe esclarecer que segundo Junqueira Filho (2014) as linguagens estão no mundo, da mesma forma que nós estamos na linguagem. Então conteúdo- linguagem é toda e qualquer produção, tanto do ser humano, quanto da natureza.

Tendo dito isso, a escuta produz dúvidas, provoca incertezas, incrementa a curiosidade, fomenta as hipóteses, constrói

mais perguntas e impulsiona as relações. Afinal, “escutar envolve a compreensão da comunicação feita pelo outro, a compreendendo como algo que não é linear e nem completo” (TROIS, 2012, p. 40).

A escuta das crianças em pesquisa e em projetos de trabalhos é fundamental uma vez que, introduz significativas mudanças no modo de conceber a Educação Infantil. “Temos muito a aprender e conhecer sobre as crianças tratadas no plural- suas múltiplas infâncias vividas em contextos heterogêneos- e temos muito a debater sobre [...] pesquisa com crianças” (CAMPOS, apud, CRUZ, 2008, p.44). Seguindo essa linha de pensamento, Rinaldi contribui colocando que:

Se nós acreditarmos que as crianças têm teorias, interpretações e questões próprias e que são coprotagonistas dos processos de construção do conhecimento, então os verbos mais importantes na prática educativa não são mais “falar”, “explicar” ou “transmitir”, é apenas “escutar”. Escutar significa estar aberto aos

outros e ao que eles têm a dizer, ouvindo as cem (e mais) linguagens com todos os nossos sentidos. Escutar é um verbo, pois significa não só gravar uma mensagem, mas também interpretá-la, e essa mensagem adquire sentido no momento em que o ouvinte a recebe e avalia (2012, p. 228).

Valorizar o que as crianças pensam é primordial para tornar significativas as aprendizagens delas e convidá-las a exercer o protagonismo desde cedo, acolhendo duas particularidades e peculiaridades. Sobre acolher uma criança, Stacciolli nos diz que é “acolher o mundo inteiro da criança, as suas expectativas, os seus planos, as suas hipóteses e as suas ilusões” (2013, p. 29). Esse acolhimento só é possível se o professor se dispõe a ouvir e problematizar junto das crianças.

A pedagogia de projetos é “uma possibilidade interessante em termos de organização pedagógica, porque, entre outros fatores, contempla uma visão multifacetada

dos conhecimentos e das informações” (BARBOSA e HORN, 2008, p. 53), estabelecendo assim, relações de aprendizagem entre todos os envolvidos, possibilitando a escola arquitetar um currículo que respeite os princípios da Pedagogia da Infância.

Portanto, o projeto de trabalhos vem conquistando as escolas e são capazes de transformar a escuta em realidade possível. Para Hernández, “os Projetos de Trabalho contribuem para uma ressignificação dos espaços de aprendizagem de tal forma que eles se voltem para a formação de sujeitos ativos, reflexivos, atuantes e participantes (1998, p. 80)".

Hernández (2000) já questionava e criticava a atual prática docente. Segundo o autor, é preciso que o Educador abandone o papel de "transmissor de conteúdos" para se transformar em um observador atento e sensível entre o ensino e as aprendizagens das crianças, proporcionando assim,

aprendizagens significativas e tornando as crianças pesquisadoras. Esse fazer com as crianças se manifesta na Resolução nº 5, de 17 de dezembro de 2009 que fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil no art.3º definindo o currículo como um:

conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico, de modo a promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade (BRASIL, 2009, p. 1).

Correlacionando com as DCNEI, e concordando com Hernández (1998) “todas as coisas podem ser ensinadas por meio de projetos, basta que se tenha uma dúvida inicial e que se comece a pesquisar e buscar evidências sobre o assunto” (HERNÁNDEZ, 2000, p.198). Dessa forma, a criança estará articulando suas experiências com o

conhecimento construído na sociedade, efetivando assim um currículo sensível.

Por consequência, a Pedagogia de Projetos surge da necessidade de desenvolver uma metodologia de trabalho pedagógico que valorize a participação da criança e do educador, ambos são protagonistas das aprendizagens em diferentes situações.

De acordo com as autoras Barbosa e Horn (2008, p. 87) a:

Pedagogia de projetos vê a criança como um ser capaz, competente, com um imenso potencial e desejo de crescer. Alguém que se interessa, pensa, duvida, procura soluções, tenta outra vez, quer compreender o mundo a sua volta e dele participar, alguém aberto ao novo e ao diferente. Para as crianças, a metodologia de projetos oferece o papel de protagonistas das suas aprendizagens, de aprender em sala de aula, para além dos conteúdos, os diversos procedimentos de pesquisa, organização e expressão dos conhecimentos.

Nesse sentido, a proposta de trabalhar com projetos torna as crianças autores de sua história, reconhecendo-as como sujeitos de

direitos, respeitando suas individualidades. Respeito esse que segundo os autores Fochi, Redin, Gomes

Não pode ser restringir ou limitar suas oportunidades de descoberta, mas proporcionar-lhe experiências de vida ricas e desafiadoras, auxiliando-a a encontrar meios de realizar o que deseja, é ouvi-la atentamente, acompanhar seu olhar e seus gestos, alimentar suas fantasias, brincar e criar com ela, ser mediador dessas descobertas (2013, p. 15).

Portanto, precisamos pensar na Educação Infantil para além do senso comum e das concepções históricas na qual foi concebida, pois, segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, a criança passou a ser vista como:

Sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade,

produzindo cultura (BRASIL, 2009, p. 1)

Diante dessas considerações, devemos reconhecer seu tempo, suas especificidades e seus potenciais transformadores na sociedade, dando vez e voz, colocando-as como protagonistas de sua aprendizagem.

O pedagogo italiano Tonucci (2008) é muito feliz quando coloca que a escola não é um cabideiro, indo muito, além disso, é algo que perpassa as paredes das salas de aulas, mostrando para os docentes que as crianças podem ser protagonistas de suas experiências de aprendizagens.

Portanto as curiosidades das crianças segundo Wallon (1979) são molas propulsoras para suas aprendizagens, por isso precisamos de docentes pesquisadores, que saibam escutar as crianças, debater e defender a Educação Infantil, como um direito das crianças. Tornando esse trabalho de pesquisa de extrema importância para pesquisadores, docentes, acadêmicos que lutam por uma Educação

Infantil de qualidade, condizente com as atuais políticas públicas.

Nessa perspectiva, a criança deve ser respeitada em todos seus aspectos e não somente no intelectual no qual a maioria das escolas prioriza, é complementar a educação familiar e não suplementar. Assim as crianças devem ter a oportunidade de se sentirem acolhidas, amparadas e respeitadas com base nos princípios de igualdade, individualidade, liberdade, diversidade e pluralidade.

Diante disso, o campo dos conhecimentos relacionados à Infância, vem alargando-se ao longo dos anos, por meio do avanço das pesquisas na área. São inúmeras teorias, propostas metodológicas, avaliações que vem sendo discutidas por diferentes teóricos e tem enriquecido o pensamento educativo.

O processo de escuta das crianças, a partir da perspectiva de criança enquanto sujeito histórico, de direitos, produtoras de conhecimento, ativas e capazes de pensar,

FONTE: Tonucci, 2008, p. 59.

discutir e propor soluções nas suas diferentes formas de expressão, vem sendo estudada e aprofundada ano após anos. A Pedagogia de Projetos segundo Barbosa e Horn é:

Uma possibilidade interessante em termos de organização pedagógica porque, entre outros fatores, contempla uma visão multifacetada dos conhecimentos e das informações. Todo o projeto é um processo criativo para as [crianças] e professores, possibilitando o estabelecimento de ricas relações entre ensino e aprendizagem (2008, p. 53).

Por isso, desejo que as propostas de trabalho sejam algo que intranquilizem as mentes, entre o que é verdadeiro e o que é ficção. Dessa forma, ressalto novamente que, “a ligação entre o acolhimento e a experiência é, porém, possível apenas quando se age com coerência, convicção e método” (STACCIOLI, 2013, p. 27), assim, o importante não é fazer para as crianças ou trazer

produções prontas, mas sim, fazer com elas, exerçam o protagonismo compartilhado.

4. PROTAGONISMO COMPARTILHADO: ALÉM DO