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As décadas de 1950 e 1960 representaram um período de efervescência cultural e política do país e de intensos debates em torno de idéias para a educação brasileira (SHIROMA, 2004). Fatores como um intenso processo de industrialização, crescimento das cidades, mudavam o panorama do país que deixava de ser eminentemente agrícola.

Embora o progresso econômico estivesse acontecendo e um novo sistema capitalista estivesse sendo implantado na sociedade brasileira, a educação não alcançou este desenvolvimento. Segundo Romanelli (1982), o estado brasileiro não conseguiu atender à demanda de crescimento em função da pressão social, embora tenha promovido inúmeras reformas educacionais a partir de 1930 e promulgada a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação em 1961

O desenvolvimento social estava associado a uma política populista que incentivava a participação do povo, cujo apoio reivindicava e dependia para êxito nas eleições. “O direito do voto, contudo, estava condicionado à alfabetização, o que levou os governantes a organizar programas, campanhas e movimentos de alfabetização de jovens e adultos” (SAVIANI, 2007, p. 314). Há, portanto, uma intensa mobilização para a erradicação do analfabetismo no país que tinha um alto contingente de analfabetos. Segundo dados do censo de 1950, a população brasileira era de 51,9 milhões de habitantes, sendo 53% dos homens e 60,6% das mulheres, analfabetos. (FAUSTO, 2003, p. 531)

Nessa mobilização, a educação passa a ser vista como instrumento de conscientização, de tomada de consciência da realidade brasileira. “A expressão ‘educação popular’, assume então o sentido de uma educação do povo, pelo povo e para o povo”. (SAVIANI, 2007, p.315)

Surgem os Movimentos de Cultura Popular (MCPs), os Centros Populares de Cultura (CPCs), e o Movimento de Educação de Base (MEB), centros que atraíam intelectuais e militantes preocupados em resolver os problemas educacionais e culturais do país. (SHIROMA, 2004, OLIVEIRA, 1999).

Junto aos centros que demonstram interesse na educação popular, encontra- se a obra e o pensamento de Paulo Freire. Este educador e filósofo, nasceu em

Recife, Pernambuco em 19 de setembro de 1921, e faleceu em São Paulo no dia 2 de maio de 1997.

Realizou suas primeiras experiências educacionais em 1962 quando alfabetizou 300 trabalhadores do campo em 45 dias em Angicos, Rio Grande do Norte. A repercussão foi tão grande que Miguel Arraes, governador de Pernambuco, propôs o mesmo processo para as favelas do Recife e depois para todo o estado. (ARANHA, 2005). O governo federal também se interessa pelo projeto que pretendia atingir cerca de 2 milhões de pessoas até 1965, com o método de Paulo Freire.

Sua pedagogia, a Pedagogia da Libertação está diretamente ligada ao seu método de alfabetização e aos seus primeiros escritos.

Tal concepção, afirmava ter o homem vocação para ‘sujeito da história’, e não para objeto, mas que no caso brasileiro esta vocação não se explicitava, pois o povo teria sido vítima do autoritarismo e do paternalismo correspondente à sociedade herdeira de uma tradição colonial e escravista. Fazia-se necessário – segundo tal concepção- romper com isso, ‘libertar o homem do povo’ de seu tradicional mutismo. A pedagogia deveria, então, forjar uma nova mentalidade , trabalhar para a ‘conscientização do homem’ brasileiro frente aos problemas nacionais e engajá-los na luta política. (GHIRALDELLI Jr, 1992, p. 122)

Para Freire, em uma sociedade dividida em classes, alguns têm muitos privilégios e a maioria não consegue usufruir os bens produzidos pela sociedade. Entre estes bens culturais está a educação que deveria estar ao alcance de todos, embora uma grande parte da população esteja excluída. Assim haveria uma pedagogia do dominante e a do oprimido.

A pedagogia do dominante se constitui de uma educação bancária quando os conhecimentos são “depositados” pelo professor, detentor do conhecimento, em forma de informações que os alunos memorizam e “devolvem“ no momento das provas. A pedagogia do oprimido troca esta relação autoritária pela dialógica. Freire parte do princípio de que o ensino se constitui num diálogo, numa conversa onde professores e alunos levantam e resolvem problemas resultando num crescimento de ambos, pois ocorre uma conscientização do mundo que os cerca.

A pedagogia é libertadora ou transformadora, na medida em que o aluno, quando aprende, muda a sua percepção e ocorre a conscientização. “A conscientização subentende um saber baseado em compreensão e na habilidade de agir na aprendizagem de tal maneira que se possam afetar as mudanças.”

(ABRAHAMS, 2005, p.66). Estas mudanças ocorridas serão avaliadas pelo professor. Na relação professor-aluno, tão importante quanto a mudança e a conscientização dos alunos é a conscientização do professor. Na educação, que é dialógica, os alunos aprendem com o professor e vice-versa, pois este deve ter respeito aos saberes dos educandos, e aprender com eles. Só assim, com a transformação de ambos, a aprendizagem se torna profunda e significativa, levando os indivíduos à autonomia.

Analisando sua obra, Saviani (2007, p. 332-333)afirma:

Para Paulo Freire a educação surgia como um instrumento de crucial importância para promover a passagem da consciência popular do nível transitivo-ingênuo para o nível transitivo-crítico, evitando-se a sua queda na consciência fanática. É em vista desse objetivo que foi criado um método de alfabetização ativo, dialogal, crítico e ‘criticizador’. [...] É irrecusável o reconhecimento de sua coerência na luta pela educação dos deserdados e oprimidos que no inicio do século XXI, no contexto da ‘globalização neoliberal’, compõem a massa crescente dos excluídos. Por isso seu nome permanecerá como referência de uma pedagogia progressista e de esquerda. Com o golpe militar de 1964, o educador foi exilado e o Brasil vive 20 anos de ditadura, com enormes prejuízos e atrasos para a educação e a cultura do país. Conforme Oliveira (1999, p.22), “Uma paz social foi implementada através do controle da mídia, das organizações civis, das escolas, dos partidos políticos e trabalhistas.”

No ensino da música na escola regular, pode-se relacionar esse período com a aprovação da Lei e Diretrizes e Bases de 1961, (LDB Nº 4.024/61) que substitui o canto orfeônico pela educação musical, desestabilizando um modelo que estava organizado

1.5 A PEDAGOGIA TECNICISTA NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA E A EDUCAÇÃO