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CAPÍTULO 2. Apontamentos em torno do estudo dos movimentos sociais e do engajamento político

2.2. Das particularidades de cada itinerário: socialização e investimentos militantes

2.2.3. Da pequena propriedade à liderança sindical: identidade local, reconhecimento e profissionalização

Caso número 7.

Hoje, aos quarenta e nove anos de idade, R. diz ter se dedicado mais de vinte anos ao movimento sindical. Nascido e crescido numa pequena propriedade rural no interior do município de Erebango/RS junto de seus pais e seus dois irmãos, ainda hoje reside e trabalha nas terras herdadas da família, junto de sua esposa produzindo grãos e leite. “De profissão sou agricultor, até porque foi uma decisão pessoal minha, sou agricultor mas a militância política no movimento sindical ela não é profissão, é temporária, apesar de você ficar um tempo mas...”.

Desde a década de 1990, vinha participando do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Getúlio Vargas/RS (município situado na divisa de Erebango/RS), o qual foi sua porta de entrada no sindicalismo. Sua adesão a este espaço se deu por motivos pessoais, “acreditava na importância do sindicato como instrumento de luta pelos direitos dos trabalhadores rurais da agricultura familiar”, até porque, vivia esta realidade e sabia das dificuldades de permanecer no campo naquela época.

No ano de 2000, participou de forma mais ativa e, juntamente com um grupo de militantes da região, ajudou a criar o Sindicato Unificado dos Trabalhadores da Agricultura Familiar do Alto Uruguai – SUTRAF, entidade que congrega diversos sindicatos menores visando maximizar o apoio político e a eficiência dos trabalhos propostos. A partir desse ano, R. passa a ser coordenador e presidente do sindicato recém criado, cargo que assumiu diversas vezes em períodos alternados.

Filho de um casal de agricultores não alfabetizados é a única pessoa de sua família que teve acesso ao ensino superior, seus irmãos estudaram apenas até o ensino médio. No entanto, a busca por um diploma de nível superior se deu com ―atraso‖, quando R. já possuía

certa idade. Dentro do movimento sindical, percebeu a necessidade de se aperfeiçoar. “Importante não omitir, eu sou formado em Gestão Agro- Industrial e tenho também duas especializações. Tenho uma e estou fazendo uma segunda, pois eu acho que é importante isso... a “luta social”, a organização social também, é preciso que a gente vá se qualificando como pessoa também pra poder ter condição de fazer uma disputa, uma participação com mais qualidade”. Essa necessidade é fruto também de sua participação na criação de várias cooperativas na região, vistas como um dos meios de alavancar o desenvolvimento regional pelos sindicalistas.

“Eu fui fundador de cooperativas aqui da região [...] Uma que inclusive teve problemas e foi à falência em Floriano Peixoto/RS; a COOPERMATE - Cooperativa dos Produtores de Erva-mate de Getúlio Vargas, o Sistema CRESOL (cooperativa de crédito) eu também participo, sou vice-presidente lá em Getúlio Vargas/RS, também participei da direção da COTRIGO aqui de Erechim/RS... então, eu tenho transitado e colaborado, ou atrapalhado não sei (risos), nesse meio das cooperativas”.

No meio sindical, é comum perceber que, na grande maioria dos casos, a participação ou proximidade com partidos políticos apresenta-se como uma característica quase que generalizada nos itinerários individuais de seus quadros, no entanto, este é um ponto que distingue R. dos demais casos citados até o momento.

Dentre os sete entrevistados, apenas R. apresentou não possuir nenhum tipo de interesse ou ligação com questões partidárias. Diz que, em sua família, também não existe ninguém que possua envolvimento com algum partido político. Ao perguntar se possuía algum tipo de envolvimento com política partidária, apenas riu, dizendo não haver nenhuma. “Já fui filiado a partido, hoje não sou mais (risos)”. Sua reação demonstrou certa aversão a esta questão, traço que também pode ser identificado na fala de outros entrevistados, pois estes depositam sua fé nos movimentos e nas ―lutas sociais‖ ao mesmo tempo em que diminuem a importância da política institucional, como se uma coisa não dependesse da outra, o que, a meu ver, cria uma contradição.

Sendo assim, R. atribui sua ascensão no sindicalismo ao fato de ter desempenhado um alto grau de envolvimento e dedicação pessoal com causas que afetavam não apenas a si mesmo, mas a toda

comunidade. Faz questão de frisar sua qualificação (seus recursos escolares), entendida também como um dos motivos que explicariam seu envolvimento tanto no sindicato como nas cooperativas, por exemplo.

Atualmente, ocupa o cargo de Presidente do Conselho Estratégico Social da UFFS, cargo que lhe foi dado devido sua ligação com a FETRAF. Como R. era o presidente do SUTRAF, e existe um movimento de unificação muito forte entre essas entidades, acabou se tornando coordenador e também Presidente da FETRAF-SUL. Devido ao grande poder político que esta entidade possui dentro do conselho, acabou sendo indicado, mesmo sem ter participado de forma mais ativa de todo o processo de mobilizações do Movimento Pró-Universidade Federal. “A minha participação ela foi periférica nesse momento, porque na época eu coordenava alguns projetos dentro da FETRAF- SUL, e ai tinha essa participação como instituição [...] eu participei de atividades, reuniões, mas não como alguém puxando. Na FETRAF quem puxava era o Tortelli16, que era coordenador da FETRAF-SUL”.

Isso nós dá algumas pistas de como se organiza este espaço (o CES), que num primeiro momento, era entendido como fundamental para que os movimentos pudessem participar e ter voz dentro universidade. De certa forma, o fato de ter um presidente que não se envolveu com o Movimento, é apenas um reflexo do ―esvaziamento social‖ do conselho, que passa a ser dominado (como já havia sendo desde o início) por uma ou outra entidade, enquanto os militantes que depositavam suas esperanças nesse espaço se afastam.

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Coordenador da FETRAF-SUL e Deputado Estadual pelo Partido dos Trabalhadores. Foram feitas diversas tentativas de contato com seu assessor no intuito de agendar uma entrevista, no entanto, não houve interesse por parte do Deputado e sua equipe.

CAPÍTULO 3. Da mobilização à desmobilização: apontamentos em