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pequena valorização social do Ensino Superior Técnico

6 A) Condições dos Factores

HIPÓTESE 6 pequena valorização social do Ensino Superior Técnico

As questões essenciais que ao longo dos anos têm deparado o ensino superior em Portugal englobam os seguintes domínios críticos:

1) a questão da autonomia universitária.

2) a problemática relacionada com o financiamento e a gestão do sistema universitário.

3) a questão do relacionamento do sistema universitário com a sociedade e o mundo empresarial.

A evolução do sistema universitário em Portugal foi descrito duma maneira concisa mas rigorosa por Vítor Crespo (Sc9), traçando a evolução das principais variáveis do sistema universitário português.

No que diz respeito à autonomia universitária, durante a primeira república afirmou-se a autonomia pedagógica e financeira com a Constituição Universitária de 1911, a qual provocou uma larga expansão do sistema universitário. Pretendia-se uma universidade mais aberta e inovadora, menos teórica e mais orientada para a realidade. Visava-se dar acesso à criação de vias profissionais indispensáveis à satisfação das carências do país e colmatar o atraso educativo português relativamente aos países mais industrializados.

No entanto, a vida universitária portuguesa toma um novo rumo após a revolução de Outubro de 1926. Com ela é retirada a autonomia universitária, pretendendo-se deste modo reduzir disparidades entre estruturas universitárias, uniformizando-a e impondo planos de estudos comuns. Afirma-se o centralismo e o dirigismo exterior sobre o sistema universitário português, quer ao nível pedagógico como ao nível da gestão económica (propinas arrecadadas pelo Estado).

Esta concepção da política educativa manteve-se até os finais dos anos 60, com a elaboração de um trabalho em cooperação com a OCDE determinado pelo ministro

Pinto Leite, dando origem ao Projecto Regional do Mediterrâneo, Evolução da

Estrutura Escolar Portuguesa. Simultaneamente, a crise instala-se nos meios

estudantis, resultado do imobilismo do sistema universitário e da sua incapacidade de dar resposta às exigências sociais. Segue-se então uma época de profunda mudança, iniciada com o Ministro da Educação Veiga Simão em 1970, que decorreu até 1974. Apesar de não se ter conseguido uma maior autonomia pedagógica, fez-se a restruturação da carreira docente e sobretudo deu-se a expansão e diversificação do ensino superior. Esta expansão e diversificação deu-se na sequência do relatório da OCDE, encontrando-se validada no IV Plano do Fomento. Criaram-se novas condições para a criação de quadros que o país estava carenciado. Estas reformas seriam consolidadas pela Lei nº 5/73, que estabelecia as Bases do Sistema Educativo. Nela se estabelecia a natureza dual do ensino superior, separando ensino universitário e não universitário, iniciava-se a concessão do grau de bacharel pelas universidades e definia-se o acesso dos bacharéis ao ensino superior.

O 25 de Abril impediu a consolidação daquela lei, baseado na questão da diversificação do ensino superior. Tal opção determinou, segundo Vítor Crespo o atraso de anos no desenvolvimento do sistema educativo. Vejamos as suas palavras para definir esta época:

«A Revolução do 25 de Abril foi, nos seus primeiros anos, extremamente pobre na conceptualização educativa. Imperou o não.

Não se construíram escolas para os ensino básico e secundário. Não se alargou a escolaridade obrigatória.

Não se melhoraram os equipamentos e condições de trabalho nas escolas do ensino superior.

Não se avançou na definição das funções da Universidade e do ensino em geral .

Não se deu andamento à instalação dos Institutos Politécnicos e Escolas Normais Superiores, mesmos as que já tinham nomeado as respectivas Comissões Instaladoras. Destrui-se a diversificação do ensino superior.»

Deu-se assim a degradação do ensino superior através da pulverização do sistema, decorrente do florescimento de experiências autonomistas e da dissolução das estruturas de coordenação intra e interuniversitária. Tal sustentou uma qualidade de ensino deficiente e a existência de muitos docentes sem a devida qualificação. Apesar desta situação, deu-se o alargamento da taxa de escolaridade nos vários níveis do ensino secundário, impulsionada pela expansão da escolaridade obrigatória para 6 anos. Este facto provocou o aumento da pressão do acesso sobre o sistema de ensino superior. A descompressão deste sistema fez-se através do aumento relativo das vagas do ensino politécnico e do aumento do ensino particular e cooperativo. Paralelamente deu-se a anulação pura e simples da diversificação do ensino superior. Assim, o ensino médio desapareceu por incorporação no ensino superior, e os institutos industriais passaram a ser designados por Institutos Superiores de Engenharia, sendo integrados no ensino universitário.

Naquele período, que mediou entre 1974 e 1980, mantiveram-se constantes os objectivos de controlo das universidades e a transformação de todas as instituições do ensino superior em ensino universitário, a fim de evitar o elitismo. Na parte final daquele período procura-se travar a desagregação inicial e a baixa da qualidade geral. Impunha-se de modo urgente uma Lei do Sistema Educativo para responder à situação que se vivia. Esta lei foi aprovada sob a sua forma final em 1986, após um longo trajecto legislativo desde a sua proposta em Abril de 1980. Afirmaram-se as seguintes linhas essenciais:

1) um sistema dual de ensino superior, constituído por universidades e ensino politécnico, sendo estes articulados entre si através de um reconhecimento mútuo.

2) definição dos graus a conceder por cada um dos subsistemas: licenciatura, mestre e doutor para o sistema universitário; bacharelato e DESE para o ensino politécnico.

3) introdução do sistema de créditos, permitindo uma maior autonomia e flexibilidade pedagógicas, assim como a criação de cursos interdisciplinares.

4) organização das faculdades e escolas em departamentos, permitindo uma melhor gestão e uma maior descentralização do sistema universitário.

5) conceder um relevo adequado à investigação científica.

6) criação do Conselho Nacional para a Educação, organismo supervisor de um desenvolvimento adequado e harmonioso do sistema educativo.

7) remeter para a Lei da Autonomia dos estabelecimentos do ensino superior as normas relativas à sua estrutura e funcionamento, para permitir o ajustamento determinado pela experiência.

Com aquela lei introduziu-se igualmente a escolaridade obrigatória de 9 anos, com a oposição de alguns docentes.

Afirmou-se ao longo desse período o sistema de pós-licenciatura, o que forneceu as condições adequadas de apoio à investigação científica. Resultou daí um acentuado crescimento da produção científica universitária, no valor de 67% entre 1982 e 1987, o que permitiu o desenvolvimento de equipas de investigação.

E qual era o contexto da problemática associada à autonomia universitária? Diz-nos ainda Vítor Crespo relativamente a este assunto que:

«Os estabelecimentos de ensino superior só podem ser centros de excelência se dispuserem de uma autonomia adequada e com características próprias.»

Com a Lei de Bases de 1986 as universidades e institutos universitários passaram a ter autonomia administrativa e financeira, passando a dispor de receitas próprias provenientes do exercício da sua actividade. De igual modo, passa a ser da competência do reitor o estabelecimento do contrato com assistentes e leitores.

É reconhecida a Universidade Livre como estabelecimento de ensino superior particular, sob o estatuto de pessoa colectiva de utilidade pública, devendo observar as mesmas normas jurídicas das restantes universidades. O Estatuto do Ensino Superior Particular e Cooperativo define que naquelas instituições as responsabilidades pedagógicas fossem separadas dos interesses materiais. No entanto, perturbações assentes em conflitos pedagógicos e administrativos conduziram à cisão da Universidade Livre. Não seria entretanto autorizada neste período o funcionamento de qualquer outra instituição do ensino particular ou cooperativo, nem sequer o das duas universidades resultantes da cisão da Universidade Livre.

O longo período de debate da Lei de Bases do Sistema Educativo permitiu uma maturação do projecto e o reconhecimento de que a Educação é a variável chave no progresso económico e na melhoria da qualidade de vida da sociedade portuguesa. Nela assenta uma condição estratégica do saber fazer, mas também do saber viver.

A Lei nº 91/88 sobre a Investigação Científica e Desenvolvimento Tecnológico definiu os objectivos gerais das prioridades nacionais da política científica:

1) desenvolvimento dos conhecimentos.

2) valorização da investigação e transferência dos seus resultados para o sistema produtivo, tendo em vista o progresso da sociedade.

3) melhoria da formação científica.

4) reforço da capacidade do sistema científico português. 5) aumento da cooperação internacional.

6) desenvolvimento das relações entre todas as instituições científicas nacionais.

7) determinação do quadro do planeamento do esforço de I&D a médio e longo prazo, tendo como meta atingir no prazo de dez anos os valores das despesas global de I&D dos países mais desenvolvidos da CEE.

8) incentivo ao reforço da participação do sistema empresarial no esforço de inovação, muito pequeno.

A investigação científica e o desenvolvimento tecnológico passam a ser prioridades nacionais.

Com a Lei nº 108/88 de 24 de Setembro as Universidades passam a gozar de autonomia estatutária, científica, pedagógica, administrativa, financeira e disciplinar. Podem arrecadar e gerir livremente as suas receitas próprias, sendo estas provenientes de propinas e da prestação de serviços. A receita restante provirá da dotação que competir a cada instituição de acordo com o planeamento global aprovado pelo ensino superior e pela avaliação da mesma instituição. Torna-se assim central a problemática da criação de um sistema de avaliação pedagógica das universidades, o que só por si é uma questão complexa.

O Estatuto do Ensino Superior Particular e Cooperativo foi regulamentado com o decreto-lei nº252/82 e reforçado pelo decreto-lei nº 14/91. Nele foram definidas:

1) as regras e condições de criação, de entrada em funcionamento e de reconhecimento dos cursos.

2) o modo de avaliação do mérito ensino ministrado, as habilitações exigíveis para os docentes e os critérios de acumulação de funções.

3) apoios pedagógicos e financeiros a conceder pelo Estado.

4) a independência entre órgãos de carácter científico ou pedagógico e órgãos de natureza financeira e administrativa das instituições.

O Ensino Superior Particular teve várias dificuldades quanto à sua implantação e afirmação da sua qualidade, salientando-se:

1) a explosão do número de escolas, visando dar resposta à pressão sobre o acesso ao ensino superior e aos interesses locais.

2) reduzida experiência portuguesa neste tipo de ensino superior.

3) aprovação de um diploma permissivo em relação à criação de novas instituições, aonde se definia um "prazo pelo qual é concedido o reconhecimento", não garantindo estabilidade e qualidade do ensino.

Outras dificuldades e distorções se juntam a estas:

1) Os ramos de saber dos cursos do ensino superior particular criados não exigem laboratórios ou equipamentos dispendiosos. Dominam a Matemática/Informática, o Direito, a Gestão e as Ciências Sociais. Tal provocou uma distorção na distribuição dos alunos do ensino pós secundário. Nas universidades privadas prevalecem o Direito, a Gestão e a Contabilidade. 2) dificuldades no recrutamento de docentes com as qualificações exigidas, já que para a maioria dos curso não é possível satisfazer os requisitos quanto ao número de docentes doutorados. O ensino é feito por assistentes apoiados por doutores que os apoiam à distância.

Estas dificuldades reflectem-se no mercado de trabalho com um acréscimo acentuado de diplomados nas Ciências Humanas e Sociais, sendo necessários graduados nos ramos científicos e tecnológicos. Outra das consequências a curto prazo é a desvalorização dos graus, apesar do mercado fazer a diferenciação das escolas a longo prazo.

Pedro Lynce (J25) refere que o nosso sistema politécnico sofreu por sua vez um desenvolvimento desequilibrado, com predomínio de escolas superiores de educação, em detrimento da tecnologia, da agricultura e de outros sectores de formação, designadamente os de maior impacte regional. Importará assim desenvolver a sua vocação original, assente na formação profissional e na ligação à comunidade, às empresas e às regiões. Refere ainda Pedro Lynce que a percentagem dos que frequentam o ensino politécnico é ainda muito baixa e claramente inferior à dos nossos parceiros comunitários. Para combater este contexto, desenvolveu-se um programa de acção até ao fim do século, destacando-se os seguintes itens:

1) aumento da frequência do ensino superior politécnico para 40% do ensino superior público, com um investimento da ordem dos 50 milhões de contos.

2) promover a expansão das áreas tecnológicas, de gestão, administração e artes, prevendo-se a criação de novas escolas em zonas carecidas (Braga, Aveiro e Setúbal), com forte potencial de crescimento.

E qual o panorama dos apoios comunitários ao sistema universitário e científico nacional? O Acto Único Europeu introduziu a dimensão científica e educacional no esforço comum da comunidade, sendo concebidos programas de apoio no âmbito do sistema científico e no de I&D. Entre eles destacam-se:

1) Erasmus: acordos internacionais de cooperação e bolsas de mobilidade de estudantes.

2) Prodep: melhoria da qualidade do ensino através da criação de infra- estruturas e da expansão e reforço da formação. Tem uma componente orientada para o ensino superior, essencialmente destinado ao ensino politécnico.

3) Comett: programa de cooperação entre universidades e empresas. 4) Ciência: visou desenvolver um quadro institucional que concentre os esforços de I&D em determinadas áreas. Foi sucedido pelo Praxis XXI.

5) Stride: desenvolvimento científico e tecnológico com base na participação em programas internacionais, na criação de agências de inovação e parques de ciência e tecnologia.

6) Esprit e Race: tecnologias de informação e telecomunicações. 7) Brite: matérias-primas e materiais avançados.

8) Eureka: audiovisual.

9) Língua: aprendizagem das línguas.

Uma das formas de financiamento do ensino superior assenta no recurso às propinas, constituindo no entanto apenas uma pequena parte do seu custo, de qualquer maneira. O aumento das propinas ascendeu para valores considerados por alguns (entre quais Vítor Crespo) excessivos. Outro dos pontos referidos é a fórmula de reportar as deduções ao rendimento familiar ilíquido, deixando espaço aos que têm mais posses se tornarem beneficiários das reduções e isenções de propinas. Essencial será encontrar esquemas adequados de pagamentos de propinas, coordenados com sistemas eficientes de apoio social ao estudante.

O panorama aqui traçado permite a seguinte síntese de conclusões, estruturadas no âmbito das hipóteses propostas:

1) AUTONOMIA: o ensino superior está dotado de autonomia financeira e pedagógica em termos estatutários, de acordo com Lei nº 108/88 de 24 de Setembro. Necessário seria determinar se está autonomia na realidade se tem concretizado, e se a lei-quadro de avaliação dos estabelecimentos do ensino superior aprovada se constituirá num sistema eficiente.

2) FINANÇAS E GESTÃO: uma avaliação sistémica da viabilidade dos novos modelos de financiamento universitário, assente nas propinas, nos fundos gerados internamente através da prestação de serviços e nos programas de suporte financeiro oriundos do Estado ou da CE permitirá colmatar qualquer inviabilidade ou desequilíbrio. Será possível determinar se as dificuldades financeiras tradicionalmente verificadas no ensino superior serão conjunturais ou estruturais, viabilizando a estruturação de eventuais reformas de base.

3) INTEGRAÇÃO SOCIAL DA UNIVERSIDADE: o dirigismo exterior imposto à universidade durante o Estado Novo gerou um isolamento relativamente à sociedade e as suas necessidades, que foi complementado pelo processo de centralização, controlo e uniformização do ensino superior no período que se seguiu à revolução. Este contexto construiu uma pesada herança de alheamento da universidade do seu ambiente sócio-económico, atrasando uma dinâmica de criação endógena de sistemas tecnológicos competitivos.

4) VALORIZAÇÃO SOCIAL DOCENTE UNIVERSITÁRIO: a desagregação do ensino superior verificada durante o período pós-revolução e a baixa da qualidade dos docentes permitiu uma diminuição da imagem do docente universitário. Essencial será a recuperação da imagem de elevado prestígio do

docente universitário, o que requer uma expansão do sistema universitário assente em parâmetros de qualidade adequados.

5) ENSINO DE PAPEL E LÁPIS : a expansão recente do sistema universitário, liderado pelo crescimento do ensino superior privado, conduziu ao aumento relativo dos cursos com baixos custos de infra-estrutura e operacionais. Destacam-se entre estes os cursos de Direito, Gestão e Contabilidade. Tal facto permitirá criar uma nova geração com maior potencial em termos de conhecimentos de gestão. No entanto, alguns estrangulamentos poderão surgir devido a uma oferta excessiva de licenciados neste campo, por um lado, e à deficiência relativa de licenciados nas áreas de engenharia e científico-tecnológicas. Medidas estratégicas deverão ser adoptadas no sentido de uma evolução harmoniosa da estrutura do ensino superior, assente nas necessidades sócio-técnico-económicas do país e das regiões.

6) ENSINO SUPERIOR TÉCNICO: o ensino superior politécnico revela ainda índices de frequência ainda comparativamente baixos, possivelmente reflectindo uma inadequada valorização e imagem social desta forma de ensino. Não se orienta ainda devidamente para os ramos de natureza tecnológica, requerendo-se um maior nível de interligação com o tecido industrial regional. Revela no entanto uma dinâmica positiva em todos estes aspectos.

6. A.1.2.2. Ensino Técnico e Ensino Profissional

HIPÓTESE 1 : pouca integração no sistema empresarial envolvente