Quando alguém, segundo Maranhão (2004, p. 219), dizendo-se filho de
determinada pessoa, inicia um processo de reconhecimento de filiação, pedido de
pensão ou pedido de herança, é determinado pelo judiciário uma perícia de
investigação de paternidade. Pode ser pedido isolado ou cumulativo e, na maioria das
vezes é realizado por menor assistido por sua genitora.
O pai indigitado, como diz Maranhão (2004, p. 219), pode ser vivo ou falecido.
Sendo vivo, é dever do perito examinar os três implicados: requerente, tutora e
indigitado genitor. Quando o pai indigitado é pessoa falecida, podem ser analisados
registros de caracteres sanguíneos em anotações hospitalares e similares. Ainda,
quando não existem esses registros, pode ser procedido o estudo genético da árvore
genealógica do reclamante. Atualmente, existindo material biológico do falecido, pode
ser realizada a pesquisa do DNA. E bem lembra Maranhão (2004, p. 219):
A atual Constituição Federal de 1988 (arts. 226, § 4º, e 227, § 6º) e a Lei 8.560/92 (art. 10) revogaram as diferenças de direitos entre os filhos legítimos e ilegítimos (naturais, adulterinos e incestuosos) para todos os efeitos legais. Uma pessoa (na menoridade ou mesmo tardiamente) pode requerer uma investigação de paternidade, quando: (a) houve concubinato ao tempo de sua concepção; (b) rapto de sua mãe pelo suposto pai ou relação sexual entre eles na data da concepção; (c) existe documento descrito pela pessoa a quem se atribui a paternidade do requerente e que expressamente a reconhece... A contrario sensu, pode haver prova (de variada natureza) que torne essa paternidade possível.
À medida que os conhecimentos científicos foram evoluindo, a perícia foi
sofrendo modificações. Segundo Maranhão (2004, p. 220), no período anterior aos
conhecimentos da genética não havia prova científica de paternidade, existia apenas o
princípio pater semper incertus, ou seja, a semelhança fisionômica, que embora pouco,
ainda é utilizada.
Os estudos iniciais da genética, segundo Maranhão (2004, p. 220) mostraram
que através da análise da cor da pele, cor dos olhos, vórtice capilar, etc., e de algumas
condições patológicas ou não usuais, como daltonismo, pode-se chegar a uma possível
paternidade.
Ainda, quanto ao estudo da genética, Croce (2009, p. 691), coloca que é feito
um exame de pavilhão auricular, e explica dessa forma:
O lóbulo da concha auditiva tem caráter indiscutivelmente hereditário, apresentando-se livre ou preso nos diferentes indivíduos. O lóbulo livre tem o caráter dominante e o lóbulo preso, recessivo. Deflui disto que genitores de lóbulo livre têm a maioria dos filhos com a extremidade inferior da orelha livre, podendo, eventualmente, um ou outro, tê-la presa. Se o genitor tem o lóbulo livre e a genetriz o tem preso, podem ocorrer duas eventualidades: primeira, às vezes todos os filhos tem o lóbulo livre; segunda, 50% têm lóbulo livre e 50% o têm preso. Finalmente, se ambos os genitores os têm colados, todos os filhos nascerão iguais aos pais, ou seja, com os lóbulos presos. Nesta situação será adulterino o filho nascido com o lóbulo livre.
O exame da cor dos olhos é pensado por Croce (2009, p. 692), da seguinte
forma, “sendo a cor castanha dominante e a azul recessiva, compreende-se que
genitores de olhos castanhos podem gerar filhos de olhos castanhos ou azuis. Um casal
de olhos azuis não poderá ter filhos de olhos castanhos; gerará sempre filhos de olhos
azuis.”
Para a análise da cor da pele, é também tomada a teoria da associação dos
genes cumulativos, onde a pigmentação da pele é determinada por ação cumulativa,
pela associação de um número de fatores, que segundo Croce (2009, p. 692):
Supondo que existam cinco pares de fatores para o preto puro (AABBCCDDEE), e aabbccddee para o branco puro [...] teremos como resultado do cruzamento entre si filhos híbridos AaBbCcDdEe, ou seja, mulatos. Da procriação entre mulatos portadores da constituição genética AaBbCcDdEe nascerão descendentes de pele mais escura, mais clara ou idêntica à dos pais. [...] Ainda, segundo a teoria da associação dos genes cumulativos, no cruzamento de mulato com branco puro, os descendentes não podem ser mais
escuros que o genitor mulato, e sim iguais a ele ou mais claros. Dessa forma, se uma mulata acusar um branco puro de ser pai de filhos mais escuros do que ela, o mendelismo autoriza ao imputado negar a paternidade, ainda que ao tempo da fecundação tenha ele coabitado com a mesma. Da procriação de mulato com preto puro nascerão filhos iguais ou mais escuros e nunca de pigmentação mais clara que a do genitor mulato.
Os cabelos também são estudados, e segundo Croce (2009, p. 692):
Os cabelos na região occipital correspondente à coroinha remoinham mais frequentemente no sentido dextrogiro e, o que é mais raro, levogiro. A distribuição dextrogira, da esquerda para a direita, tem caráter dominante (D), e a levogira, no sentido anti-horário, recessivo (d). genitores de coroinha dextrogira podem ter filhos dextrogiros ou levogiros; quando os pais são levogiros todos os filhos serão levogiros. Evidentemente, se na prole de genitores levogiros acontecer filho dextrogiro, será adulterino.
Quanto à análise da anomalia dos dedos, conforme Croce (2009, p. 693), é
pensado da seguinte forma, “um filho de mãe normal portador de, como exemplo,
sindactilia somente pode ter pai sindáctilo. Entretanto, nenhum filho nascerá com
qualquer dessas anomalias se ambos os genitores não as possuem.”
No estudo da hemofilia, que é uma síndrome hemorrágica hereditária ligada ao
sexo, Croce (2009, p. 693), diz:
O filho de genitor hemofílico será sempre normal, quando herdar apenas o cromossomo Y paterno; será, no entanto, hemofílico se herdar o cromossomo X anômalo materno; a filha não será hemofílica, porém será transmissora da doença aos seus descendentes masculinos por ser portadora do estigma através do cromossomo X paterno, que herdou. A hemofilia é doença de transmissão comprovadamente hereditária. Há hemofílicos, no entanto, sem história familiar da doença, o que pressupõe que a alteração cromossômica pode ser determinada por mutações recentes. Nenhum filho de casal sadio nascerá hemofílico, sob pena de ser adulterino.
E, por último, analisa-se o daltonismo, que é a incapacidade de distinguir as
cores vermelho e verde. E segundo Croce (2009, p. 693), “são também estados
mórbidos determinados pelo padrão de herança recessivo ligado ao cromossomo X.”
Depois, os fatores sanguíneos se tornaram conhecidos e pode assim ser feito
melhor estudo quando a investigação de paternidade, onde não afirmavam, mas sim
conseguiam excluir absolutamente a paternidade, através das regras de transmissão
hereditária.
Segundo Maranhão (2004, p. 221), “chega-se, assim, ao estado atual, em que
se obtém alto grau de probabilidade (que as circunstâncias complementam) ou,
mesmo, certeza absoluta, quando o laboratório tem condições de usar técnica
adequada (DNA).
O DNA (ácido desoxirribonucleico), no pensamento de Maranhão (2004, p.
232), “é uma substância orgânica encontrada nos cromossomas (no núcleo das células)
e traduz o código genético individual.” E, bem explica Croce (2009, p. 703):
O DNA é o elemento que contém todas as informações genéticas de cada indivíduo, com características únicas, como ocorre com as impressões digitais. [...] O material a ser examinado pode ser uma gota de sangue, esperma, saliva, cabelos etc. Com partículas de DNA, obtidas através do bombardeio de raios, obtêm-se as estruturas genéticas dos supostos pai e filho; pois, com exclusão dos gêmeos univitelinos, o DNA de cada indivíduo forma um padrão específico (“impressão digital”). A “impressão digital” genética também se obtém usando as chamadas enzimas de restrições que, como verdadeiras “tesourinhas químicas”, cortam o gene em sítios específicos, seccionando o DNA em segmentos que se dispõem em padrões. Os segmentos, de tamanho variável, espalhados sobre uma superfície gelatinosa e submetidos à ação de uma corrente elétrica, movimentam-se velozmente em linha reta. Alguns desses segmentos são denominados regiões hipervariáveis e contêm sequências específicas chamadas sutters, as quais, imersas em uma solução que contenha sondas químicas radioativa, recebem radioatividade que imprime a imagem da fila de fragmento numa chapa de raios X. Para
comprovar a paternidade, comparam-se as impressões genéticas dos pais e dos filhos.
Segundo Croce (2009, p. 704), a técnica de exame de DNA só terá uma remota
possibilidade de erro no caso de comparação das estruturas genéticas em irmãos
gêmeos. Caso contrário, a probabilidade de indivíduos que não são parentes terem a
mesma impressão digital de DNA é de apenas um para cinco milhões, ou seja, o teste
de impressão genética é com total precisão, e dispensa o uso dos outros métodos de
identificação que até hoje se utiliza.
Como colocado por Croce (2009, p. 715), a autoridade judicial pode requerer a
perícia para esclarecer a paternidade, e para isso existem quesitos destinados à
investigação de paternidade:
1º Quesito: Queira o doutor perito informar qual(is) prova(s) biológica foi utilizada para pesquisar a presença de antígenos nos sangues examinados?
2º Quesito: A análise dos fenótipos e dos genótipos inerentes aos grupos sanguíneos das pessoas examinadas, poderá, induvidosamente, excluir a paternidade atribuída ao senhor?
3º Quesito: Quais as causas de erro na determinação dos grupos sanguíneos capazes de dar como positivas reações de aglutininas em verdade negativas, e vice-versa?
4º Quesito: A pesquisa pelo DNA confere certeza tanto na atribuição quanto na exclusão da paternidade?
Ainda, para Maranhão (2004, p. 232), o perito para excluir uma paternidade,
precisa analisar a data da provável concepção, avaliar possível incapacidade
procriadora do indigitado, ao tempo referido e estudar caracteres sanguíneos do
reclamante, sua genitora e suposto pai. A possibilidade de exclusão, conta com altos
coeficientes de probabilidade, estes quando ocorre inclusão de paternidade, permite
concluir por paternidade quase certa (mais de 99%), ou diretamente à certeza, quando
o laboratório analisa o DNA.
Percebe-se assim, como são realizadas as perícias nas áreas penal, civil e
trabalhista e vê-se a importância da compreensão das mesmas no direito. Além de as
perícias serem realizadas em favor da justiça, faz-se necessária para obter uma prova
mais concreta sobre quaisquer casos.
CONCLUSÃO
O presente trabalho monográfico buscou demonstrar, por início, a importância
da medicina legal na área do direito, devido se fazer necessário e importante às
pessoas, principalmente ligadas à área da justiça, o conhecimento da área da medicina
legal, bem como a compreensão na leitura dos laudos e documentos médico-legais, da
realização de perícia, e ainda, como se dá o estudo nos casos de lesão corporal grave,
acidente de trabalho e exame de DNA.
Como demonstrado, por se tratar de medicina a serviço da justiça, é
imprescindível o entendimento da ligação da medicina legal com as áreas do Direito, e
especificadamente, conforme abordado no presente trabalho, no ramo civil, penal e
trabalhista, para proporcionar uma visão mais ampla e real da prática, o que também
cria para os atuantes do Direito, maior segurança na atuação em processos e
audiências.
A medicina legal, sendo o conjunto de conhecimentos básicos de medicina
aliados ao direito, auxilia nas leis e cumprimento das mesmas. Sua importância se dá,
devido aos casos de investigação, esclarecimentos e exames periciais de determinados
fatos importantes à efetivação da justiça. Como relata o presente trabalho, a medicina
legal evoluiu e foi transformada ao longo do tempo, e seu desenvolvimento foi
grandioso.
No que tange ao conhecimento de perícias, constatou-se que estas são exames
de elementos materiais e vestígios, que se tornam uma prova, demonstrando a
veracidade ou não de fatos alegados. Percebe-se, também, que as perícias podem ser
classificadas de acordo com a natureza da matéria a ser examinada, podendo assim ser
realizadas por profissionais da área colocada em questão.
As perícias como colocado na presente pesquisa, podem ser realizadas em
pessoas vivas, cadáveres, animais, substâncias e objetos. São solicitadas por
autoridade competente, policial, militar ou judiciária, visando esclarecer à justiça os
fatos relacionados a determinado evento. Quanto ao tipo de perícias, essas podem ser
diretas ou indiretas, na primeira, o perito pessoalmente pericia o objeto de perícia, no
segundo, o perito se utiliza de outros meios para realizar a perícia, como exames
laboratoriais, relatórios médicos, prontuários, etc.
Essa realização de perícia é feita pelo chamado perito, ou seja, um técnico
dentro de sua área. Os peritos se classificam em oficiais ou nomeados, os oficiais são
funcionários de repartição pública, cuja atribuição é a realização pericial, não precisam
ser nomeados, pois estão sempre aptos a realizar a perícia. Já os peritos nomeados ou
louvados, a nomeação é feita em não havendo na comarca peritos oficiais, assim, a
autoridade judiciária designa duas pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso
superior, escolhidas, de preferência entre as que tiverem habilitação técnica
relacionada à natureza do exame.
No foro penal, a perícia é realizada por dois peritos e no foro civil apenas por
um. No âmbito penal, como há dois peritos realizando a perícia, pode ocorrer a
divergência entre os peritos, chamada de perícia contraditória, assim cada perito
deverá elaborar seu laudo e ambos serão submetidos à autoridade que solicitou a
perícia, e esta autoridade poderá designar um terceiro perito, oficial ou não, para
realizar novamente a perícia.
Da perícia, resultam documentos médico-legais, esses são caracterizados por
serem documentos à serviço da justiça. Os documentos médico-legais dividem-se em
notificações, atestados, relatórios e pareceres, além de esclarecimentos não escritos,
fazendo-se por depoimentos orais.
Ainda, foi analisado quanto a perícia de lesão corporal grave, que devem ser
observadas as características que da lesão resultem a incapacidade para as ocupações
habituais por mais de trinta dias, perigo de vida, debilidade permanente de membro,
sentido ou função ou aceleração de parto.
Na pericia de acidente de trabalho, que objetiva assegurar o benefício
previdenciário ao acidentado, aposentado ou dependente, deve ser entendido como a
que cuida do acidente de trabalho, doença profissional e doença do trabalho.
Quanto a pericia de exame de DNA, é analisado a substância orgânica
encontrada nos cromossomos, que traduz o código individual, assim o teste de
impressão genética é preciso.
Desta forma conclui-se que a importância do tema ficou claro, sendo cada vez
mais estudado, sendo necessário o conhecimento dessa área, principalmente quanto
as perícias na área civil, penal e trabalhista, para que se dê o bom desenvolvimentos
dos trabalhos judiciários, bem como seja efetiva a justiça que tanto todos almejam.
REFERÊNCIAS
AULA DE MEDICINA LEGAL, 2011, Ijuí.
CARDOSO, Leonardo Mendes. Medicina legal para o acadêmico de direito. 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2009.
CROCE, Delton; JUNIOR, Delton Croce. Manual de medicina legal. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
FÁVERO, Flamínio. Medicina legal: introdução ao estudo da medicina legal, identidade, traumatologia. 12. ed. Belo Horizonte: Villa Rica, 1991.
FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina legal. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001.
GOMES, Hélio. Medicina legal. 33. ed. Rio de Janeiro: Frei Bastos, 2004.
MARANHÃO, Odon Ramos. Curso básico de medicina legal. 8. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2004.