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Medicina legal: a perícia médica no direito penal, civil e trabalhista

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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

JORDANA CARINE DA SILVA MENEGON

MEDICINA LEGAL: A PERÍCIA MÉDICA NO DIREITO PENAL, CIVIL E TRABALHISTA

Ijuí (RS) 2012

(2)

JORDANA CARINE DA SILVA MENEGON

MEDICINA LEGAL: A PERÍCIA MÉDICA NO DIREITO PENAL, CIVIL E TRABALHISTA

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: MSc. Lurdes Grossmann

Ijuí (RS) 2012

(3)
(4)

Dedico este trabalho a todos que de uma forma ou outra me auxiliaram e ampararam-me durante estes anos da minha caminhada acadêmica.

(5)

AGRADECIMENTOS

A Deus, acima de tudo, pela vida, força, coragem e pelo Seu amor por mim.

A meus pais Julio e Jane, e ao meu irmão Juliano, que com amor sempre estiveram ao meu lado, sustentando meus momentos de fraquezas e também alegrias, e não permitindo que eu desista de meus sonhos.

A minha orientadora Lurdes Grossmann

pela sua dedicação, paciência,

disponibilidade e acima de tudo pela compreensão e carinho.

A todos que colaboraram de uma maneira ou outra durante a trajetória de construção deste trabalho, seja com palavras ou ações, muito obrigada!

(6)

“A justiça, somente a justiça seguirás, para que vivas, e possuas em herança a terra que o Senhor teu Deus te dá.”

(7)

RESUMO

O presente trabalho de pesquisa monográfica faz uma análise da importância da

medicina legal e da história dessa área no Brasil e no mundo. Aborda o conceito de

perícias médicas, a forma como se dá a realização das mesmas na área civil, trabalhista

e penal e também sobre quem as realiza. A Medicina Legal é uma área que se acredita

despertar curiosidade por parte de acadêmicos, profissionais do Direito e da Medicina,

bem como da sociedade. O conhecimento básico dentro desta área possibilita melhor

compreensão de documentos médico-legais, de causa da morte, de uma visão mais

técnica da origem, consequência e resultado de determinados fatos.

Palavras-Chave: Medicina Legal. História. Perito. Perícia. Direito Civil. Direito

Trabalhista. Direito Penal.

(8)

ABSTRACT

The present work of monographic research makes an analysis the importance

of forensic medicine and the history of this area in Brazil and world. Discusses the

concept of medical expertise the way it gives the performance of the same in civil,

labor and criminal matters, and also on those who make. The Forensic Medicine is an

area that is believed to arouse curiosity on the part of academics, practitioners of law

and medicine, as well as society. Basic knowledge within this area enables better

understanding of medico-legal documents, the cause of death, of a more technical

source, result and outcome of certain facts.

Keywords: Forensic Medicine. History. Expert.

Expertise.

Civil Law. Labor Law.

(9)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 9

1 ASPECTOS GERAIS DA MEDICINA LEGAL... 11

1.1 Conceito, objetivo e importância da medicina legal... 12

1.2 Aspectos históricos da Medicina Legal no Brasil e no mundo... 14

1.3 A Medicina Legal e suas áreas de conhecimento... 24

1.3.1 A medicina legal no direito civil, trabalhista e penal... 25

2 PERÍCIAS, PERITO E DOCUMENTOS PERICIAIS: CONCEITUAÇÃO, ESPÉCIES E

REQUISITOS... 27

2.1 Perícias médico-legais... 27

2.2 Peritos... 33

2.3 Documentos médico-legais... 38

3 AS PERÍCIAS MÉDICAS NAS ÁREAS PENAL, TRABALHISTA E CIVIL: ANÁLISE DA

PERÍCIA NA LESÃO CORPORAL GRAVE, ACIDENTE DE TRABALHO E EXAME DE

DNA... 49

3.1 A perícia no crime de lesão corporal grave... 49

3.2 Perícia de acidente de trabalho... 53

3.3 Perícia de Investigação de paternidade... 59

CONCLUSÃO... 65

REFERÊNCIAS... 68

(10)

ANEXO B – MODELO DE LAUDO DE LESÕES CORPORAIS... 70

ANEXO C – MODELO DE LAUDO DE ACIDENTE DE TRABALHO... 77

ANEXO D – MODELO DE LAUDO DE EXAME DE DNA... 78

(11)

INTRODUÇÃO

O presente trabalho de pesquisa monográfica tem como objetivo fazer um

estudo sobre a origem e evolução histórica da medicina legal, além de verificar o que é

perícia, quem a faz, quais os documentos médico-legais utilizados e requisitados pelas

autoridades judiciárias, bem como a interpretação desses e a demonstração de alguns

laudos médico-legais.

Com isso, a finalidade dessa pesquisa é demonstrar a importância do

conhecimento de perícia, e todo o universo que envolve o desenvolvimento desta nas

áreas de estudo civil, penal e trabalhista.

Para tanto, inicia-se o primeiro capítulo com uma análise do conceito, objetivo

e importância da medicina legal, além de aspectos históricos da área no Brasil e no

mundo e também as suas áreas de conhecimento.

No segundo capítulo, primeiramente faz-se um esboço de perícias

médico-legais, que são utilizadas como provas nos processos judiciais e realizadas pelos

chamados peritos, que são profissionais requisitados a esclarecer quaisquer dúvidas

que possam vir a existir em fato médico. Ainda, faz-se um estudo sobre os

documentos médico-legais, estes que são caracterizados por serem documentos à

serviço da justiça.

(12)

Ao final no terceiro e último capítulo serão abordadas a realização das perícias

nas áreas em destaque, penal, trabalhista e civil, sendo possível ter um melhor

entendimento sobre os conceitos e procedimentos das perícias médicas.

(13)

1 ASPECTOS GERAIS DA MEDICINA LEGAL

O estudo da medicina legal se dá em dois momentos, no primeiro tem-se a

medicina legal e sua parte geral, onde é estudado seu conceito, sua origem,

importância, relação com outras ciências, e ainda, perícias e peritos. Em segundo

momento tem-se a medicina legal e sua parte especifica, na qual se incluem suas

especialidades e objetos de estudo.

A medicina legal é uma especialidade, portanto, necessita um estudo

aprofundado, conforme as palavras de Hélio Gomes (2004, p. 26):

Em primeiro lugar, há aspectos peculiares à disciplina e que só a ela dizem respeito. A investigação de paternidade, feita através de exames de sangue, e mais modernamente pela sequência do DNA, não é pedida a qualquer outro profissional da medicina. O estabelecimento aproximado da hora da morte só tem interesse para o legista, que, por isso, pesquisa meios cada vez mais requintados para determinar o momento em que alguém morreu; ou se A faleceu antes de B, com evidentes implicações na sucessão dos bens. O diagnóstico da distancia de tiro ou o tipo de instrumento causador de uma lesão são problemas só apresentados aos legistas. A avaliação da periculosidade de um doente mental é um diagnóstico que se solicita apenas ao psiquiatra forense.

Sua abrangência se dá amplamente, nos mais variados casos e fatos, sendo

diagnosticado, analisado, pesquisado e estudado cada fator importante de tal

acontecimento, através da prática da Medicina Legal que se dá por perícias médicas.

Para a devida leitura, entendimento e formulação de quesitos de um laudo, faz-se

necessário o conhecimento básico na área, dando-se, assim, a possível compreensão

correta da perícia realizada.

(14)

1.1 Conceito, objetivo e importância da medicina legal

A Medicina Legal sendo o conjunto de conhecimentos básicos de medicina,

aliados ao Direito, auxilia na elaboração, interpretação e execução das leis, e ainda,

contribuem no aperfeiçoamento das mesmas.

Delton Croce e Delton Croce Jr (2009, p. 1) afirmam:

Medicina Legal é ciência e arte extrajurídica auxiliar alicerçada em um conjunto de conhecimentos médicos, paramédicos e biológicos destinados a defender os direitos e os interesses dos homens e da sociedade.

Para Odon Ramos Maranhão (2002, p. 25) “a ciência de aplicação dos

conhecimentos médico-biológicos aos interesses do Direito constituído, do Direito

constituendo e à fiscalização do exercício médico-profissional.”

Nas palavras de Hélio Gomes (1958, p. 21):

Medicina Legal é o conjunto de conhecimentos médicos e paramédicos destinados a servir ao Direito, cooperando na elaboração, auxiliando a interpretação e colaborando na execução dos dispositivos legais atinentes ao seu campo de ação de medicina aplicada.

A medicina legal para o judiciário, sem sombra de dúvidas tem uma grande

importância, pois é necessário que o profissional, seja advogado, ou não, tenha o

mínimo de conhecimento no que tange o ser humano, devido ao estudo servir de

auxílio para as questões de direito, sendo na investigação e esclarecimentos de

determinados fatos, contribuindo com a apuração de soluções de diversos problemas,

e no interesse das vítimas de violência, bem como a prevenção da violência e

promoção de estratégias de segurança. Mas, para se dar a efetiva importância da

(15)

medicina legal, é necessário o conhecimento real para a realização da perícia, bem

como, para elaboração, interpretação e entendimento de laudos periciais e

documentos médico-legais, e ainda na formulação de quesitos para tirar todo o

proveito do estudo dos peritos.

O estudo da medicina legal para a área médica, também tem sua real

importância, pois segundo Hélio Gomes (2004, p. 27):

A Medicina Legal é a única disciplina do curso médico que vale mais para o médico do que para o paciente. Ao estudar clínica, ao se preparar para ser um cirurgião, o profissional visa basicamente promover o bem-estar do paciente. Como subproduto desta intenção, se atingido o objetivo, resulta o bom nome do médico. No caso da Medicina Legal, o seu conhecimento previne aborrecimentos com o cliente e questionamentos na Justiça.

Em se tratando da medicina legal como ciência de aplicação, Maranhão (2004,

p. 23) afirma:

O Direito não pode prescindir dos conhecimentos médico-biológicos, pois é evidente que os Institutos Legais existem para servir ao homem e frequentemente se aplicam às áreas da Saúde. Para saber se se trata de morte natural ou violenta, para avaliar uma ofensa à integridade física de alguém, para concluir pela imputabilidade ou não de um agente criminal, para verificar se a doença do reclamado é transmissível por contágio ou herança, tornam-se indispensáveis os conhecimentos de natureza médico-biológica. E essas são, apenas, algumas instâncias em que a colaboração da Medicina ao Direito se faz necessária. Se considerarmos, de outra parte, que o jurista lida com a norma legal em princípio e o médico com o caso objetivo em concreto, concluiremos, desde logo, pela indispensabilidade de se estabelecer um liame entre dois raciocínios dispares e até certo ponto distanciados. Daí a procura de uma verdadeira “ponte” entre diversificadas áreas do conhecimento humano, para amoldá-las, relacioná-las e obter eficaz colaboração bilateral, a serviço do Homem, para quem existem e para quem buscam o bem comum. Essa a pesada tarefa da Medicina Legal.

(16)

E ainda, para haver uma melhor noção da importância da medicina legal, expõe

Croce (2009, p. 2):

Com efeito, informações periciais equivocadas, ainda que involuntariamente, podem constituir-se na chave da porta das prisões para a saída de marginais ou para nelas trancafiar inocentes, pois, conforme Ambroise Paré, in Oeuvres complètes, os juízes julgam segundo o que se lhes informa.

Entende-se, assim, que qualquer erro ou falha no exame pericial, pode ser

grave no momento de verificar atos praticados de forma violenta e dolosa ou não, por

isso a importância da compreensão e análise correta em todos os itens e constatações

específicas.

1.2 Aspectos históricos da Medicina Legal no Brasil e no mundo

A medicina legal evoluiu ao longo dos anos, sendo mais estudada, pesquisada e

despertando mais interesse por parte da sociedade em geral. Segundo Croce (2009, p.

9), a evolução que aconteceu no Brasil diante dessa área, se dá primeiramente,

durante a época colonial, onde a medicina legal nacional foi influenciada pelos

franceses, italianos e alemães, tendo como sua base a toxicologia. Posteriormente,

tem-se Agostinho de Souza Lima, que no ano de 1818 começa o ensino prático da

medicina legal, que, mesmo não sendo advogado tentou interpretar a medicina legal

conforma as leis brasileiras. E por último, tem-se a nacionalização da medicina legal,

onde Raymundo Nina Rodrigues criou uma escola da especialização na Bahia, e

posteriormente em São Paulo, Rio de Janeiro, etc., daí surgindo grandes nomes da

medicina legal, como Afrânio Peixoto, Flamínio Fávero, Hilário Veiga de Carvalho, Hélio

Gomes e Sampaio Dória.

A medicina legal nacional merece admiração e respeito do mundo, conforme

diz Croce (2009, p. 8):

(17)

A Medicina Legal nacional desfruta de admiração e respeito do mundo, conforme ficou patenteado (1985) na perícia de determinação da identidade, por especialistas do IML de São Paulo e da Unicamp, do carrasco nazista Joseph Mengele, conhecido pelos prisioneiros de Auschwitz como o “anjo da morte”, cuja ossada foi encontrada sepulta em Embu, São Paulo.

A

medicina legal brasileira foi consideravelmente influenciada por franceses,

italianos e alemães durante a época colonial. E segundo Gomes (2004, p. 20), “os

primeiros registros de documentos médico-legais só aparecem ao findar o período

colonial.”

Conforme a análise feita por Gomes (2004, p. 20), a medicina legal nacional

pode ser dividida em três fases, sendo a primeira chamada de estrangeira, a segunda

chamada de transição e a terceira chamada de nacionalização. Na fase estrangeira,

que vai do final do período colonial até 1877, assumindo por volta de 1818, como

iniciador do ensino prático medicina legal da faculdade de medicina no Rio de Janeiro,

tem-se Souza Lima, fazendo tentativas de interpretações e comentários médico-legais

no que tange a leis nacionais.

Por volta do ano de 1814, houve a primeira publicação desta fase, sendo um

documento em que Gonçalves Gomide, médico e senador do Império, contestou um

parecer dado por Antônio Pedro de Souza e Manuel Quintão da Silva, também

médicos, onde afirmavam que uma moça da cidade de Sabará, era santa, conforme

informações de Gomes (2004, p. 20), que ainda expõe:

Naquele tempo, não eram os juízes brasileiros obrigados a ouvir peritos antes de proferirem a sentença. Tal dever só lhes seria imposto com o advento do primeiro código penal brasileiro, em 1830. No artigo referente ao homicídio, este código estipulava que “o mal se julgará mortal a juízo dos facultativos.” No ano de 1832, ocorrem dois fatos importantes para a Medicina Legal brasileira. É regulamentado o processo penal, estabelecendo-se regras para os

(18)

exames de corpo de delito, criando-se, assim, a perícia profissional. Além disso, as antigas escolas criadas por decreto de D. João VI, em 1808, na Bahia e no Rio de Janeiro, são transformadas em faculdades de medicina oficiais, sendo criada uma cadeira de Medicina Legal em ambas. A exigência de defesa de tese para a obtenção do grau de doutor em medicina levou a que se produzissem alguns estudos de Medicina Legal. Embora se constituíssem em meras cópias de tratados europeus, abriram o caminho para a ampliação das pesquisas nesta área.

Conforme Gomes (2004, p. 22), alguns anos depois, em 1835, o cirurgião da

família imperial brasileira, Hércules Muzzi, realizou a primeira publicação nacional

sobre necropsia médico-legal. E em 1856, foi criada junto à Secretaria de Polícia da

Corte, uma assessoria médica, onde dois médicos eram responsáveis por fazer exames

de corpo de delito e outros dois médicos eram considerados consultantes,

encarregados por exames toxicológicos.

A segunda fase, chamada transição, se dá início quando é assumido o caráter

prático da medicina legal, no ano de 1877, e Souza Lima é nomeado consultante da

polícia. Explana Gomes (2004, p. 21) sobre tal fase:

Como os exames toxicológicos representavam um ônus não retribuído para a faculdade de medicina, prejudicando as atividades didáticas, Agostinho José de Souza Lima, que acabara de assumir a cadeira de Medicina Legal, consegue ser nomeado, juntamente com o seu assistente Borges da Costa, consultante da polícia. Em 1879, recebe, inclusive, autorização para dar um curso prático de tanatologia forense no necrotério oficial, fato memorável, já que a mesma facilidade só tinha sido conseguida por Brouardel, na França, no ano anterior.

No ano de 1891, quando havia a vigência do primeiro governo da República,

ocorreu uma modificação no ensino superior, onde a disciplina de medicina legal passa

a ser obrigatória nas faculdades de direito. E em 1895, a disciplina de medicina legal

passa a ser medicina pública, sendo estudado o aspecto social da medicina legal.

(19)

A terceira fase, chamada também de nacionalização, ocorreu no ano de 1895,

quando na Bahia, foi criada por Raimundo Nina Rodrigues uma escola especializada em

medicina legal, onde o estudo era voltado especificadamente para a doutrina,

métodos, a análise do ambiente psicológico, físico e biológico, além de orientações

quanto ao meio judiciário.

No que tange a perícia, esta continuava sendo realizada de forma

desqualificada, pois, segundo Gomes (2004, p. 24), as perícias eram realizadas por

médicos não especializados, pois não possuíam vasto conhecimento nesse campo de

estudo, e, eram nomeados apenas por serem parentes ou amigos dos magistrados.

Após a pressão feita por conta dessa situação, foi o gabinete transformado em Serviço

Médico-Legal, decorrente do Decreto nº6440/1907, assim, se expandindo o protocolo

de perícias.

Enquanto isso, Oscar Freire, sucessor de Nina Rodrigues, na Bahia, buscava uma

evolução na medicina-legal e na estrutura de estudo. Em 1911 foi designado diretor do

Serviço de Medicina Legal da Bahia e, em 1917, Oscar Freire organiza um instituto de

medicina legal na Universidade de São Paulo. Hoje, o instituto criado por ele, leva seu

nome: Instituto Oscar Freire.

Após alguns anos, segundo Hélio Gomes (2004, p. 24), em 1924, no Rio de

Janeiro, o Serviço Médico-Legal passa a integrar o Instituto Médico-Legal, sendo

subordinado pelo Ministério da Justiça, com essa mudança passa a ser criado um

necrotério novo. Mas, no final do governo Washigton Luís, o Instituto Médico-Legal do

Rio de Janeiro volta a ser subordinado ao chefe de polícia do Distrito Federal, tudo

isso, devido a um grande golpe na época. Já, no ano de 1932, na vigência do Estado

Novo, é construído um anfiteatro do IML, onde os professores de medicina legal da

faculdade apresentavam os casos aos alunos e realizavam os laudos médicos. Algum

tempo depois, com o novo Código de Processo Penal (Decreto-Lei nº 3.689, de 1941),

(20)

houve um prejuízo ao estudo da medicina legal, pois a lei apenas autorizava aos

peritos oficiais a realização de perícias.

No ano de 1949, o IML do Rio de Janeiro foi transferido para a Lapa, onde

atualmente se encontra, sendo construído um prédio totalmente equipado, com

ótimas instalações laboratoriais, radiológicas, também, excelente aparelhagem no

setor clínico e para a realização de necropsia. Conforme a população foi crescendo,

aumentava o número da demanda, sendo criada uma revista do IML do Rio de Janeiro,

conforme expõe Hélio Gomes (2004, p. 24):

Já nos anos 50, surgem especialistas dentro da Medicina Legal, nas áreas de anatomia patológica, hematologia, radiologia e neuropsiquiatria. Nos anos 60, a média de necropsias do IML, do Rio de Janeiro atingiu 15 a 20 por dia, fazendo com que a instituição ampliasse seus quadros. Como fruto do maior volume de trabalho, feito em boas condições técnicas e supervisionado por peritos que, com frequência, também eram professores das faculdades de medicina, ocorreu grande aprimoramento, culminando com o surgimento, em 1969 de um periódico, a Revista do IML, do Rio de Janeiro, cujos números foram indexados em resenhas internacionais e distribuídos por toda a comunidade cientifica do seu campo de atuação. Contudo, a falta de verba inviabilizou a continuação da publicação da Revista do IML, que foi interrompida após poucos anos de atividade fulgurante. Fatos de natureza política e econômica haveriam de interferir no crescimento e na qualidade da produção do IML do Rio de Janeiro, nas décadas seguintes. Note-se que a mudança da capital federal para Brasília já havia tirado parte da posição de prestígio da instituição por desvinculá-la do Governo Federal.

Logo após, a partir do ano de 1975, como houve uma decadência da instituição,

tornando-se escasso de recursos humanos e técnicos, os casos de investigação

médico-legal foram destinados para a sede e, foi criado concursos para a atividade, devido à

crise nos serviços de saúde e a remuneração baixa dos profissionais, assim, eram

admitidos como médico-legistas. Ainda, Hélio Gomes (2004, p. 25) o seguinte:

(21)

Tais problemas agravaram-se nos anos seguintes, tendo como tônica o aumento de demanda por serviços e a redução das verbas destinadas à instituição por sucessivos governos estaduais. Hoje em dia, com o grande aumento da violência urbana, a situação tornou-se caótica. Dão ingresso, diariamente, 30 a 40 corpos no necrotério da instituição, ora denominada Instituto Médico-Legal Afrânio Peixoto, sendo a maioria vítimas de homicídios dolosos. Além disso, o quadro de peritos acha-se desfalcado e sem a orientação dos mais antigos, que se aposentaram como resposta a uma política de desprestígio da categoria e de perseguições pessoais.

Os médicos-legistas brasileiros reuniram-se, em 1967, e criaram a Sociedade

Brasileira de Medicina Legal, e a partir de então há a promoção de congressos

nacionais, debates de temas destinados a classe, e assim, há uma maior visibilidade

dos profissionais e seus trabalhos.

E, seguindo as palavras de Croce (2009, p. 8):

E desde então sucederam-se sadiamente nas capitais brasileiras as escolas de Medicina Legal, interessando aos juristas, advogados, delegados de polícia, médicos, psicólogos e psiquiatras o conhecimento dessa disciplina, tal o grau de entrosamento que ela guarda com todos os ramos do saber.

Devido a tantas transformações, é notável a evolução da área, bem como o

desenvolvimento grandioso nos últimos tempos. Sendo uma área que desperta

curiosidade, interesse e se faz necessária em nosso meio, é importante o

conhecimento, entendimento e o devido valor ao estudo de medicina legal.

A história da medicina legal no mundo, segundo Croce (2009, p. 5) é divida em

cinco períodos, sendo esses o antigo, o romano, o médio, o canônico e o moderno. No

período antigo não havia necropsia, pois esta era proibida, devido aos cadáveres

serem considerados sagrados e assim não poderiam ser tocados. Conforme Hélio

Gomes (2004, p. 19) a primeira permissão para a realização de necropsia foi dada em

(22)

1374 à faculdade de Montpellier, a concessão foi autorizada pelo papa, na França,

antes disso os corpos não eram abertos. A medicina, nessa época, era vista mais como

algo artístico do que científico, assim, a religião era a lei e a ela tudo deveria ser

subordinado.

Ainda, conforme as palavras de Croce (2009, p. 5):

No Egito embalsamavam-se os cadáveres, e, nos crimes de violência sexual, condenava-se o suspeito se, atado sobre o leito em uma sala do templo, apresentava ereção peniana ante a estimulação sexual desencadeada pela visão de belas virgens dançando nuas ou apenas com roupas transparentes, e as leis de Menés preceituavam o exame das mulheres condenadas, pois, se grávidas, não eram supliciadas. O Hsi yuan lu, tratado elaborado por volta de 1240 a. C., na China, instruía sobre o exame post-mortem, listava antídotos para venenos e dava orientações acerca de respiração artificial.

E, em concordância ao exposto acima, Hélio Gomes (2004, p. 19) relata:

É o Hsi Yuan Lu, um volumoso manual para aplicação dos conhecimentos médicos à solução de casos criminais e ao trabalho dos tribunais, publicado pela primeira vez em 1948. Ao lado de noções fantasiosas, comuns aos escritos contemporâneos, refere-se ao diagnóstico diferencial de lesões antes e depois da morte, bem como à técnica de exame dos corpos, ilustrada com várias figuras.

Com o Cristianismo e com a aplicação de ideologias que o Direito alcançou a

emancipação, e, assim, não mais dependia da religião como única fonte de lei e

sabedoria.

No período romano, anteriormente a reforma de Justiniano, os médicos já

examinavam externamente os cadáveres, e ainda não era realizada a necropsia, como

dito anteriormente, por respeito aos cadáveres. Nas palavras de Hélio Gomes (2004, p.

19), é registrada a seguinte curiosidade:

(23)

A primeira citação do exame médico de uma vítima de homicídio refere-se à morte de Júlio César, cujo corpo foi examinado por um médico seu amigo, de nome Antistius, no ano 44 a. C.. Ele constatou a presença de 23 golpes, dos quais apenas um era mortal. Mas o exame não foi feito como perito médico, sim na qualidade de cidadão do Império Romano.

Posteriormente, tem-se o período médio, onde há uma maior contribuição da

medicina para com o direito, e assim faz-se referência a Croce (2009, p. 6) que diz:

Esse período foi indelevelmente marcado, portanto, pelas Capitulares de Carlos Magno, que estabelecem que os julgamentos devem apoiar-se no parecer dos médicos. Infelizmente, após Carlos Magno sobreveio na Idade Média a onde da vandalismo que extinguiu a Medicina Legal, substituindo-a pela prática absurda e cruel nordo-germânica das provas inquisitoriais em que a penalidade depende do dano causado, e às provas invoca-se o Juízo de Deus.

Nessa época, os juízes não eram obrigados a ouvir os médicos como

testemunhas especiais, e só a partir de Carlos Magno, nas Capitulárias, os juízes

passam a ouvi-los em casos de lesões corporais, infanticídios, suicídios, estupros,

impotências, entre outros, conforme analisa Hélio Gomes (2004, p. 19).

Compreendendo 400 anos (1200 a 1600), tem-se o período canônico, este

influenciado de forma positivo pelo Cristianismo através da codificação das Decretais

dos Pontífices dos Concílios. Nesse período, segundo Croce (2009, p. 6), “foi

estabelecido o concurso das perícias médico-legais, como se depreende da bula do

Papa Inocêncio III, em 1219, que trata dos ferimentos em juízo como revestidos de

habitualidade.”

Ainda, para se relatar a grande importância do período canônico, Croce (2009,

p. 6) se utiliza das seguintes palavras:

(24)

O período canônico é indefectivelmente assinalado pela promulgação do Código Criminal Carolino (de Carlos V), pela Assembleia de Ratisbonna, em 1532. A Constituição do Império Germânico impõe obrigatoriedade à perícia médica antes da decisão dos juízes nos casos de ferimentos, assassinatos, prenhez, aborto, parto clandestino. É o primeiro documento organizado de Medicina Judiciária, imputando-lhe indispensabilidade à Justiça e determinando o pronunciamento dos médicos antes das decisões dos juízes. A Alemanha tem, assim, no dizer de Souza Lima, “o mais legítimo e inconcusso direito de considerar-se o berço da Medicina Legal”. Em 1521, foi necropsiado o cadáver do Papa Leão X, por suspeita de envenenamento.

Surgindo o primeiro livro de Medicina Legal na França, no ano de 1575, diz-se

que a esterilidade do casal teria ligação com feitiçaria, onde atuaria por meio de pacto

demoníaco. Utilizando-se das informações de Gomes (2004, p. 20):

Na França, em 1575, surge o que pode ser considerado o primeiro livro ocidental de Medicina Legal, escrito pelo grande cirurgião do exército francês, AMBROISE PARÉ. Nele, o autor estuda, entre outros temas médico-legais, as feridas por projéteis de arma de fogo. Mas, por influencia do ambiente cultural em que vivia, abrigou crenças sobrenaturais em parte de seus relatórios. No Traité des monstres et des prodiges, aceitava o fenômeno da superfetação; no Traité de la génération, acreditava na atuação malévola de feiticeiros que tinham pactos com o Demônio, capazes de tornar estéril um casal.

Finalmente, o último período, chamado período moderno ou científico, começa

com a publicação do livro de Fortunato Fidelis, na cidade de Palermo, situada na Itália,

com o título De Relatoribus Libri Quator in Quibus e a Omnia quae in Forensibus ac

Publicis Causis Medici Preferre Soleni Plenissone Traduntur, conforme relata Croce

(2009, p. 7).

Defende muito bem, Gomes (2004, p. 20), dizendo que não foi na França que se

deu as mais importantes obras, conforme explana:

(25)

No entanto, não seriam francesas as obras mais importantes deste período. Teriam origem na Itália. Em 1597, um médico de Ímola, de nome BAPTISTA CODRONCHIOS, publica o livro Methodua Testificandi, em que analisa e exemplifica problemas médico-legais de traumatologia, sexologia e toxicologia. No ano seguinte, na cidade de Palermo, aparece o primeiro grande tratado geral de Medicina Legal. Escrito por FORTUNATO FIDELIS, sob o título De Relationibus Medicorum, estava dividido em quatro livros. O primeiro versava sobre saúde pública; o segundo, sobre ferimentos, simulação de doenças e erro médico; o terceiro, sobre virgindade, impotência, gravidez e viabilidade fetal; o quarto sobre vida e morte, fulguração e envenenamento. O autor defendia a pratica de necropsias completas. Apesar de muito bom para a época em que foi escrito, seu trabalho não teve a mesma repercussão que a obra do romano PAULUS ZACCHIAS, Questiones Medico-Legales, um conjunto de dez livros publicados entre 1621 e 1658. Indubitavelmente, é a maior obra desta fase da Medicina Legal. Cada livro é dividido em partes que, por sua vez, são divididas em questões especificas. Em seu conjunto, abrangem aspectos médico-legais de obstetrícia, sexologia, psiquiatria, toxicologia, traumatologia, tanatologia e saúde pública. É importante salientar a tendência vigente naquela época de se associar a Medicina Legal à Saúde Pública. Os livros de PAULUS ZACCHIAS excederam os de seus contemporâneos em extensão, profundidade e qualidade e continuaram como fontes de referencia até o inicio do século XIX. Até 1989, ainda havia um volume desta obra na biblioteca do Instituto Médico-Legal Afrânio Peixoto.

E conforme relata Croce (2009, p. 7), “foi no século XIX que a Medicina Legal se

firmou no conceito que a Justiça lhe emprestou a partir do momento em que o

suspeitado pode, enfim, ser confirmado pelo exame necroscópico.” Assim, graças a

vários nomes, a Medicina Legal está progredindo e aprimorando-se cada vez mais,

sendo útil, essencial e importante à Justiça.

(26)

Pode-se tranquilamente dizer que a Medicina Legal está ligada com as demais

ciências médicas e jurídicas, como também seus conhecimentos, de que se subsidia

para agir.

Conforme as palavras de Gomes (2004, p. 27):

Se incursionar na elaboração e discussão das leis, terá que ter rudimentos de biologia para que não proponha normas impossíveis de serem praticadas, por exemplo, no campo da legislação sanitária. Em se tratando de normas penais, o desconhecimento das peculiaridades da personalidade, conforme o biótipo individual, pode levá-lo a querer criar um padrão geral de comportamento pouco flexível e no qual não caibam as variações individuais. Na prática forense, muitas vezes terá que se deparar com casos em que certos conhecimentos da área médica serão indispensáveis para poder elaborar quesitos, saber quando apresenta-los e como tirar proveito da resposta dos peritos. No campo do direito penal, são inúmeras as situações que ilustram esta necessidade. Nos casos de aborto, por exemplo, deverá saber que há casos em que ocorre espontaneamente, sem ação criminosa. Havendo suspeita de infanticídio, terá que saber o que é nascer com vida; do contrário aceitará a possibilidade do crime praticado contra um natimorto. Precisará estar atento para os desvios de conduta dos psicopatas, sabendo que não são, na realidade, doentes mentais conforme requer o artigo 26 do Código Penal. Ao ler um laudo cadavérico, ou de lesão corporal, poderá estabeleces associações entre as lesões e as alegações do indiciado. E assim por diante. No direito civil, ressaltam as causas de interdição, de anulação de casamento por impotência, de determinação de paternidade, em que far-se-á necessário saber que tipos de exame poderá solicitar aos peritos de modo a esclarecer os fatos. Com um mínimo de conhecimento de biologia, evitará formular quesitos impossíveis de serem respondidos. Por exemplo, a partir de que dia estaria uma pessoa incapacitada de gerir seus bens. Nas causas de acidentes do trabalho, terá que saber que há doenças que são típicas de certas profissões, como a silicose, que ocorre nos trabalhadores de pedreiras.

(27)

Segundo Croce (2009, p. 3), a medicina legal está ligada ao direito civil na

paternidade, impedimentos matrimoniais, erro essencial, limitadores e modificadores

da capacidade civil, prenhez, personalidade civil e direitos do nascituro, comoriência, e

também pode-se dizer ao direito processual civil, na psicologia da testemunha, da

confissão, da acareação do acusado e da vítima e das perícias. Ao direito comercial

também se relaciona, ao periciar os bens de consumo e ao atribuir as condições de

maternidade para plena capacidade civil dos economicamente independentes e o

direito canônico no que se refere entre outras coisas e à anulação de casamento. E ao

direito internacional privado ao decidir as questões civis relacionadas ao estrangeiro

no Brasil.

A medicina legal se relaciona com o direito do trabalho na forma infortunística,

insalubridade, higiene, as doenças e a prevenção de acidentes profissionais, que tem

por objetivo assegurar ao acidentado, ao aposentado e ao dependente a obtenção do

benefício penitenciário ao qual tenha direito.

No direito penal, a medicina legal liga-se devido a sua importância nas lesões

corporais, sexualidade criminosa, aborto legal e ilícito, infanticídio, homicídio, emoção

e paixão, embriaguez, etc. Assim como no direito civil, no direito processual penal

também é vista sua atuação no que tange a psicologia da testemunha, da confissão, da

acareação do acusado e da vítima, das perícias e, ainda, ao direito penitenciário, na

psicologia do detento no que tange a concessão de livramento condicional e a

psicossexualidade das prisões, e a Lei das Contravenções Penais nos anúncios de

técnicas anticoncepcionais, da embriaguez e das toxicomanias. A Medicina Legal ainda

relaciona-se com o direito dos desportos na análise as formas de lesões culposas ou

dolosas nas disputas desportivas e no aspecto do "doping".

Dentre estas três áreas em que a Medicina Legal atua, no terceiro capitulo

serão examinadas de forma mais detalhadas as perícias em Lesão Corporal, na área do

(28)

Direito Penal, a perícia de acidente do trabalho, na esfera trabalhista e a investigação

de paternidade, no Direito Civil,mais especificamente, no Direito de Família.

Antes deste detalhamento, no próximo capítulo serão abordadas as perícias,

peritos e os documentos médico-legais.

(29)

2 PERÍCIAS, PERITO E DOCUMENTOS PERICIAIS: CONCEITUAÇÃO, ESPÉCIES E

REQUISITOS

Neste capítulo, em um primeiro momento, serão conceituadas as perícias

médico-legais, suas diferentes espécies, as autoridades que poderão requisitá-las, bem

como, o momento em que poderão fazer esta requisição. Posteriormente será

analisada a figura do perito, suas espécies, a fiscalização de sua atuação,

responsabilização e diferenciação de sua atuação em relação às testemunhas. Ao final,

serão abordados os diferentes documentos periciais, explanando-se sobre as

particularidades de cada um.

2.1. Perícias Médico Legais

Nos processos judiciais, os fatos devem ficar totalmente esclarecidos, sem

restar quaisquer dúvidas, assim havendo um julgamento correto do caso e se fazendo

justiça. Para isso, utilizam-se provas, que demonstram a veracidade dos fatos

alegados. Hélio Gomes (2006, p. 28) coloca que:

Quando tais fatos não deixam vestígios materiais e se desvanecem no mesmo instante em que ocorrem, ou logo após, a sua comprovação em juízo só pode ser feita pela prova testemunhal. E o relato de testemunhas pode, por diversas razoes que não cabe comentar no momento, não corresponder fielmente à realidade. Mas, se resultam alguns vestígios duradouros dos fatos ocorridos, com a possibilidade de serem detectados pelos nossos sentidos, o seu exame e registro podem e devem ser feitos. E por pessoas tecnicamente capacitadas para fazê-lo. O exame destes elementos materiais, quando feitos por técnico qualificado para atender solicitação de autoridade competente, é chamado de perícia. Consequentemente, o individuo que o realiza deve ser chamado de perito. (grifo do autor)

Nas palavras de Genival França (2001, p. 10):

Define-se perícia médico-legal como um conjunto de procedimentos médicos e técnicos que tem como finalidade o esclarecimento de um

(30)

fato de interesse da Justiça. Ou como um ato pelo qual a autoridade procura conhecer, por meios técnicos e científicos, a existência ou não de certos acontecimentos, capazes de interferir na decisão de uma questão judiciária ligada à vida ou à saúde do homem ou que com ele tenha relação. A finalidade da perícia é produzir a prova, e a prova não é outra coisa senão o elemento demonstrativo do fato. Assim, tem ele a faculdade de contribuir com a revelação da existência ou da não existência de um fato contrário ao direito, dando ao magistrado a oportunidade de se aperceber da verdade e de formar sua convicção. E o objeto da ação de provar são todos os fatos, principais ou secundários, que exigem uma avaliação judicial e que impõem uma comprovação.

Mais resumidamente, Delton Croce (2009, p. 11) diz:

Todo procedimento médico (exames clínicos, laboratoriais, necropsia, exumação) promovido por autoridade policial ou judiciária, praticado por profissional de Medicina visando prestar esclarecimento à Justiça, denomina-se perícia ou diligencia médico-legal.

As perícias podem ser realizadas por médicos, engenheiros, químicos,

contadores, artistas plásticos, etc. podendo ser todos convocados à função de perito,

tanto na esfera civil quanto penal (Gomes, 2004). Assim, percebe-se que as perícias

podem ser classificadas de acordo com a natureza da matéria a ser examinada.

Em se tratando de matéria médica, a autoridade policial ou judicial irá recorrer

ao profissional da medicina, perito médico-legal ou legista para esclarecer as dúvidas

em fato médico. Segundo Odon Maranhão (2004, p. 32):

O observador terá de ser médico e, por isso, a perícia no caso será uma perícia médica. Aliás, não pode ser de outra forma, pois o exame de matéria médica não só requer formação profissional adequada, como só pode ser feito dentro de normas éticas específicas.

Segundo Leonardo Mendes Cardoso (2009, p. 10), todo delito produz vestígios

de sua existência, em não havendo vestígios é o mesmo que afirmar que não houve

delito. As perícias são realizadas sobre os vestígios, e esses compõem o corpo material

(31)

do delito e, por isso, são chamados, em conjunto, de corpo de delito. E, ainda coloca

que:

Nunca devemos confundir o corpo de delito com o corpo da vítima, o qual é uma das partes integrantes daquele. Antigamente o perito médico-legal era o responsável pela análise de todos os vestígios componentes do corpo de delito. Atualmente há uma distinção nesta atuação, havendo os peritos criminais, que lidam com vestígios tais como projéteis de arma de fogo, análise de impressões digitais, materiais diversos, etc., e os peritos médico-legais (legistas) propriamente ditos, os quais se ocupam com o corpo da vítima e os vestígios nele deixados.

Ainda, o exame de corpo de delito divide-se em direto e indireto, o direto é

realizado quando há vestígios, como homicídio, lesão corporal, etc., já o indireto é

quando os vestígios materiais da infração inexistem, como na injúria verbal, desacato,

rubefação (Croce, 2009).

Para Gomes (2004, p. 29), “é direto o corpo de delito objeto da atividade

pericial. Chama-se, indevidamente, de corpo de delito indireto a substituição do

exame objetivo pela prova testemunhal, subjetiva.”

Utilizando o pensamento de Croce (2009, p. 12), as perícias podem ser

realizadas em pessoas vivas, cadáveres, animais, substâncias e objetos. Sobre as

pessoas, as perícias visam determinar a identidade, a idade, a raça, o sexo, a altura;

diagnosticar prenhez, parto e puerpério, lesão corporal, sociopatias, sedução e

estupro, doenças venéreas; determinar exclusão da paternidade, doença e

retardamento mental, simulação de loucura; investigar, ainda, envenenamentos e

intoxicações, doenças profissionais e acidentes do trabalho.

As perícias realizadas em cadáveres têm por objetivo, além do diagnóstico da

causa da morte, também da causa jurídica de morte e do tempo aproximado de morte,

a identificação do morto, e diagnóstico da presença de veneno em suas vísceras, a

(32)

retirada de um projétil, ou qualquer outro procedimento que seja necessário (França,

2001).

Em animais, as perícias tornam-se mais raras, mas existem. Para Croce (2009, p.

12) “pode-se identificar a espécie, diagnosticar lesões e caracterizar elementos

encontrados em seu corpo ou em seus pêlos passíveis de serem úteis para a

identificação do criminoso.”

Nas palavras de França (2001, p. 10), a perícia em animais também pode ser

realizada:

Em face da convivência do homem com os animais domésticos, podem estes, no decurso de um inquérito, apresentar algo de esclarecimento, impondo, assim, uma diligencia médico-legal. Desta forma, por exemplo, um animal que participe de uma luta pode apresentar-se ferido ou morto, trazendo em seu corpo um projétil de arma de fogo, tornando-se útil sua retirada para identificação da arma do agressor. Com o advento da disciplina de Medicina Veterinária Legal nos cursos de médicos veterinários, acreditamos que muitas dessas perícias serão realizadas por esses profissionais, principalmente as ligadas à antropologia, aos vícios redibitórios e fraudes, à traumatologia e à toxicologia médico-veterinárias legais.

Por fim, há também a possibilidade de a perícia ser realizada em objetos e

instrumentos, que segundo Croce (2009, p. 12):

Nos objetos e instrumentos tem por finalidade a pesquisa de pelos, levantamento de impressões digitais, exames de armas e projéteis e caracterização de agentes vulnerantes e de manchas de saliva, colostro, esperma, sangue, liquido amniótico e urina nos panos, móveis e utensílios. A falta de exame pericial nos instrumentos do crime não contamina de nulidade o feito, podendo ser suprida por outras provas.

As perícias devem ser solicitadas por autoridade competente, policial, militar

ou judiciária, visando esclarecer à justiça os fatos relacionados a determinado evento.

E partindo das palavras de França (2001, p. 10):

(33)

As perícias são sempre requisitadas por autoridades que legalmente estiverem a frente do inquérito ou da ação instaurada de direito público. Todavia, se a prova não for obrigatória, pode ser requerida pelas partes, inclusive oferecendo quesitos até a realização da diligência (artigo 176 do Código de Processo Penal).

Essa solicitação pode se dar diretamente, através de delegado, juiz, promotor,

ou qualquer autoridade que estiver trabalhando no caso, ou pode ser indiretamente,

através de advogado.

Também há uma classificação quanto aos tipos de perícias, que são diretas ou

indiretas. Nas perícias diretas, o perito pessoalmente pericia o objeto de perícia, e

segundo Maranhão (2004, p. 32) “se o médico (ele mesmo) examina a pessoa

implicada, trata-se de perícia direta. “

Nas perícias indiretas, o perito se serve de outros meios, de exames

laboratoriais, relatórios médicos, prontuários, para realizar a perícia, conforme

Maranhão (2004, p. 32):

Há casos, porém, em que a observação se baseia em registros, provas, peças processuais. Assim, os pareceres quase sempre se constituem em perícia indireta (sem o exame diretamente feito pelo autor do parecer). Há casos em que o exame indireto é obrigatório. Sirva de exemplo a constatação do “perigo de vida” (art. 129, § 1º, CP). Quando o perito vai examinar a vítima de lesão corporal essa situação já está superada (caso contrário teria ocorrido lesão corporal seguida de morte, § 3º). Para firmar a sua conclusão ele se baseia no registro hospitalar, condições de entrada no Pronto-Socorro, descrição da operação, tratamentos etc. Logo, a perícia é indireta.

Ainda, seguindo o pensamento de Maranhão (2004, p. 32), há uma forma

especial de perícia indireta, chamada retrospectiva, que é realizada em matéria

pretérita:

(34)

É o caso da verificação da validade do ato civil anteriormente praticado por pessoa agora já morta. Tratamentos psiquiátricos, internações, medicamentos usados são úteis fontes de informação, além de atestados médicos da época (mesmo quando contenham diagnóstico em código). Também a análise da vida econômica fornecerá dados de interesse: vendas, compras, onerações (com valores corrigidos para permitir comparações). Vale lembrar que a pessoa incapaz não o é apenas para dado ato. Esses dados, e outros considerados úteis ou necessários, conforme o caso, permitirão – no conjunto- reconstituir as condições da época em que o ato impugnado foi praticado. Assim a pericia tem claro conteúdo retrospectivo.

A realização de perícias médico-legais também possui uma divisão, podendo ser

elas eletivas ou de urgência. Na realização de perícias eletivas, essas são agendadas,

tem horário marcado e geralmente durante o dia, como por exemplo, as realizadas em

lesões por brigas, por acidente de trânsito, etc. Nas perícias de urgência, faz-se antes

por ter maior subsídio para a realização da perícia, independente do horário, tendo

como exemplo, o estupro.

Uma observação que se faz aqui é quanto à necropsia, que tem um tempo de

pelo menos seis horas após a morte para a realização da perícia, esse tempo

determinado é justificado pela certeza que se deve ter da morte e havendo o

resfriamento do corpo, fica mais fácil de ser feita a investigação. Ela deve ser realizada

preferencialmente durante o dia, devido a luz artificial que pode alterar a coloração de

órgãos, e assim, só faz-se necropsia a noite, se houver solicitação judicial. (AULA DE ...,

2011).

As perícias são realizadas preferencialmente nas salas das instituições oficiais,

salvo o caso de exumação, onde a perícia é feita no cemitério, desenterrando o corpo.

Para Gomes (2004, p. 30):

O local mais adequado para a realização das perícias são as instituições oficiais, para onde devem ser encaminhadas as pessoas e as coisas relacionadas com o fato a esclarecer. Contudo, no caso de exames de local, seja no foro penal, seja no cível, o perito tem que se deslocar para lá a fim de fazer o levantamento de elementos

(35)

materiais que não podem ser removidos, bem como para ter noção do conjunto da cena em que se deu o fato.

Após a análise das diferentes espécies de perícia, autoridades que poderão

requisitá-las e os locais de sua realização, no próximo item abordar-se-á a figura do

perito.

2.2. Peritos

A perícia, como se sabe é feita pelo chamado perito, este é um técnico que tem

por finalidade a realização de perícia, dentro de sua área que visa esclarecer à justiça

de como ocorreram os fatos que se questionam. Utilizando as palavras de Croce (2009,

p. 13):

É todo o técnico que, por sua especial aptidão, solicitado por autoridades competentes, esclarece à Justiça ou à polícia acerca de fatos, pessoas ou coisas, a seu juízo, como início de prova. Dessa forma, aduz-se que todo profissional pode ser perito.

Seguindo o mesmo pensamento, França (2001, p. 13), coloca:

A atuação do perito far-se-á em qualquer fase do processo ou mesmo após a sentença, em situações especiais. Sua função não termina com a reprodução da sua análise mas se continua além dessa apreciação por meio de um juízo de valor sobre os fatos, o que a faz diferente da função da testemunha.

Em concordância, Flamínio Favero (1991, p. 48) diz que “daí se deduz logo que

há evidente diferença entre peritos e testemunhas. A testemunha, em geral, não é um

técnico e não vê com função oficial. O perito deve ser sempre técnico no assunto a

esclarecer e a sua atuação se forra de função oficial.”

(36)

O perito não é advogado da defesa nem funcionário do Ministério Público: não defende nem acusa. Sua função limita-se a verificar o fato, indicando a causa que o motivou. No exercício de sua alta missão pode proceder a todas as indagações que julgar necessárias, devendo consignar, com imparcialidade exemplar, todas as circunstâncias, sejam ou não favoráveis ao acusado. Expondo sua opinião científica, o perito age livremente, é senhor da sua vontade, das suas convicções, não podendo ser coagido por ninguém, nem pelo juiz, nem pela polícia, no sentido de chegar a conclusões preestabelecidas. Caso sinta-se pressionado e sem liberdade para realizar de modo adequado o exame, o perito deve recusar-se a fazê-lo, mesmo que sua recusa o exponha a possíveis e injustas sanções administrativas. Por exemplo, não é apropriado querer que o exame de preso que alega ter sido torturado seja feito nas dependências da própria delegacia policial. Haveria constrangimento tanto do perito como do examinado. Às vezes peritos oficiais são injustamente acusados de elaborar laudos adredes preparados para encobrir tortura ou outros fatos delituosos atribuídos às autoridades policiais.

O perito que mente em juízo é passível de ser enquadrado no art. 342 do

Código Penal, que expõe:

Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral: (Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001)

§ 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta.(Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001)

§ 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade. (Redação dada pela Lei nº10.268, de 28.8.2001) (Vade Mecum, 2008, p. 556)

Ainda, para Croce (2009, p. 21), não se confunde a falibilidade dos exames

periciais com a distorção consciente da verdade:

Não se confundirá a falibilidade dos exames periciais, que, a despeito do aperfeiçoamento de certas técnicas, são passíveis de involuntários equívocos, quer em suas pesquisas, quer nas conclusões dos seus laudos, com distorção consciente da verdade, objetivando ludibriar a

(37)

autoridade judiciária com o fito de favorecer terceiro ou qualquer pessoa a quem se imputa o crime. Daí a razão de ser da credibilidade da perícia.

Os peritos se classificam em oficiais e nomeados ou louvados. Os peritos oficiais

são funcionários de repartição pública cuja atribuição específica é a prática da

realização pericial, como por exemplo, os peritos criminalísticos, médico-legais, etc.

Não necessitam ser nomeados, estão sempre prontos e aptos a realizar a perícia. Os

peritos oficiais realizam prova de concurso público e são empossados do cargo.

Conforme é explicado por Maranhão (2004, p. 33):

Existem profissionais que realizam as perícias “em função de ofício”. Trata-se de funcionário de repartição oficial, cuja atribuição precípua é exatamente a prática pericial. Tal é a situação dos médicos do Instituto Médico-Legal, do Manicômio Judiciário etc. são, por isso, chamados “peritos oficiais.” *...+ CPP, art. 159. Os exames de corpo de delito e as outras perícias serão, em regra feitos por peritos oficiais.

Em não havendo perito oficial, poderá ser nomeado o perito, e a nomeação

deve ser feita através de autoridade. O perito é nomeado para realizar uma perícia

específica e acaba o poder de perícia dele, mas poderá ser nomeado mais de uma vez.

Utilizando as palavras de Croce (2009, p. 13):

O juiz deve preferentemente nomear peritos oficiais (art. 159 do CPP), porém, em comarcas onde não os haja, é permitido à autoridade judiciária designar duas pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior, escolhidas, de preferência, entre as que tiverem habilitação técnica relacionada à natureza do exame (art. 159, § 1º, do CPP). Qualquer outro pretexto que não seja a inexistência de peritos oficiais na localidade onde deva ser realizada a perícia, argumentado para a nomeação de peritos inoficiais, contamina de nulidade o relatório médico-legal. É de supor-se, então, imprestável o laudo redigido por pessoas idôneas que não sejam portadoras de diploma de curso superior, ainda que com algum conhecimento técnico necessário à sua elaboração.

Quanto ao número de peritos, o Código Penal de 2008, aceita apenas um perito

na área criminal, assim como ocorre na área civil. Anteriormente a nova lei, como bem

lembra Gomes (2004, p.29), se dava de outra forma, “enquanto no foro penal são dois

(38)

peritos, no foro civil é apenas um, conforme estabelece o art. 145, do CPC.” E em

concordância, Croce (2009, p. 14) diz:

O juiz nomeará dois peritos para o penal (um relator e outro subscritor) e um para o cível. No cível, dentro de cinco dias, contados da intimação do despacho de nomeação do perito, faculta-se às partes indicar assistentes técnicos, cujos nomes serão submetidos à apreciação do magistrado, para aquiescência, os quais não são expertos do juiz, mas, sim, meros assessores das partes litigantes ou interessados (art. 421, § 1º, do CPC); e tanto no cível quanto no criminal, formular quesitos. [...] perito particular e assistente técnico inexistem no processo penal.

Na área penal, eram nomeados dois peritos, deverá haver duas assinaturas,

uma do perito relator e outra do perito revisor, onde o perito relator faz a perícia e o

laudo, e o perito revisor, revisa o relatório e preferencialmente participa da perícia.

Utilizando as palavras de Maranhão (2004, p. 35):

Contudo, há quem – contrariamente – sustente a desnecessidade da segunda assinatura, posto que se trata de perito oficial, único a atuar em matéria penal. Obviamente, ele atua com a responsabilidade de cargo público e deveria merecer fé, como ocorre com os oficiais de justiça. Como há falta de peritos, o segundo, por vezes, chega a assinar em confiança. É claro que pode ser acusado de falta de ética e até falsidade; pode também, quando se recuse a fazê-lo, tornar-se insubmisso aos seus superiores. Esses inconvenientes seriam superados com o uso da assinatura única. Por outro lado, quando alguém solicita contraperícia (pessoas mortas no curso de detenção ou prisão), mesmo sem previsão explícita do CPP, o Judiciário tem autorizado a indicação de peritos assistentes (como ocorre em matéria cível).

Pode ocorrer a divergência entre os peritos, que França (2001, p. 13) bem

coloca que “quando os dois peritos não chegam, na perícia criminal, a um ponto de

vista comum, cada qual fará à parte seu próprio relacionamento, chamando-se a isso

perícia contraditória.” E nas palavras de Gomes (2004, p. 30):

Na hipótese de haver divergência entre o dois peritos, cada qual fará o seu laudo e ambos serão submetidos à autoridade que solicitara a perícia. Esta, após leitura de ambos, poderá designar um terceiro

(39)

perito, oficial ou não, ao qual encaminhará os laudos discrepantes. Na eventualidade de ser estabelecida terceira posição diferente das precedentes, a autoridade poderá determinar a realização de novo exame, desconsiderando o que já tiver sido feito.

Também vale observar a colocação de Fávero (1991, p. 51) quanto às perícias

contraditórias:

A perícia contraditória no sentido de rever ou corrigir trabalho anterior, só vantagens traria à justiça. Não deixa de ser uma modalidade disso, nas lesões corporais, o exame de sanidade física ou complementar determinado no trigésimo dia, para confirmar ou infirmar prognósticos anteriores, feitos na ocasião do exame de corpo de delito. Considere-se, em abono dessa vantagem, o fato de que, muitas vezes os exames logo depois de uma agressão criminosa não podem ser conduzidos com aquela minúcia que a técnica exige, porquanto, frequentes vezes, acima dos interesses da justiça estão os de humanidade, devendo lembrar-se os peritos de que toda protelação em prestar socorros a uma vitima pode redundar em sérios inconvenientes para a saúde e para a vida. Não é para se estranhar, pois, que um exame de corpo de delito tenha as suas falhas, que podem daí ser evitadas em novo exame posterior, quando os peritos encontrem mais facilidades nas suas indagações, livres, por exemplo, de uma hemorragia a embaraçar-lhes os atos, ou da gravidade de outros sintomas.

E, ainda, Croce (2009, p. 23) bem resume:

É a perícia da Justiça em que os dois peritos não chegam, no crime, a um ponto de vista comum. É a que, realizada por peritos da Justiça e das partes, não coincide com exatidão. É a concludência procedida por um terceiro perito para corrigir ou confirmar perícia anterior.

Para controlar o trabalho realizado do perito, bem como evitar parcialidade do

mesmo, tem-se a necessidade de ser exercida a fiscalização pericial, que segundo

Maranhão (2004, p. 37), houve várias tentativas de ser efetivada essa fiscalização, mas

com resultados inexitosos.

A fiscalização das perícias se dá atualmente por metodização, pela

regulamentação e pelos conselhos fiscais, que conforme Croce (2009, p. 23):

(40)

A “metodização” é a existência de rigor absoluto de registro de minúcias técnicas e detalhes científicos nos exames periciais e nos laudos, obedecendo rigidamente às fases sucessivas de redação (preâmbulo, quesitos, comemorativo, descrição, discussão, conclusões e respostas aos quesitos). A “regulamentação” é a observação rigorosa de normas escritas fixas nos trabalhos periciais com o objetivo de evitar que omita o perito tempos importantes para o esclarecimento da Justiça. Outra forma importante de fiscalização é a revisão das perícias por Conselhos Médico-Legais que agem eventualmente por solicitação de revisão de perícia ou, então, taxativamente em todos os casos ocorridos em suas circunscrições.

A atuação do perito médico-legal produzirá na esfera jurídica diferentes

documentos médico-legais que serão examinados no próximo item.

2.3. Documentos médico-legais

Os documentos médico-legais ou documentos-judiciários, são caracterizados

por serem documentos a serviço da justiça, é a exposição verbal ou escrita, através de

médicos, para esclarecer a justiça dos fatos. Para França (2001, p. 13):

Documento é toda anotação escrita que tem a finalidade de reproduzir e representar uma manifestação do pensamento. No campo médico-legal da prova, são expressões gráficas, públicas ou privadas, que têm o caráter representativo de um fato a ser avaliado em juízo. Os documentos, de interesse da Justiça, são: as notificações, os atestados, os relatórios e os pareceres; além desses, os esclarecimentos não escritos no âmbito dos tribunais, constituídos pelos depoimentos orais.

Em outra visão, Maranhão (2004, p.44), coloca que “o documento médico-legal

pode ser resultado de pedido da pessoa interessada (atestado ou parecer) ou fruto do

cumprimento de encargo deferido pela autoridade competente (laudos).”

(41)

O princípio básico para que um documento se constitua em documento médico-legal é o de estar a interesse da Justiça. Assim raciocinando, poderíamos afirmar, por exemplo, que nem todo atestado médico seria um documento médico-legal, embora possam alguns se constituir em papel com esta envergadura.

Partindo da denominação de Croce (2009, p. 27), têm-se como documentos

médico-legais, primeiramente, as notificações, estas são comunicações compulsórias

feitas por médicos às autoridades competentes sobre a ocorrência de doenças

infectocontagiosas ou doenças de acidentes de trabalho e a importância da notificação

é vista como para evitar epidemias. E, seguindo o mesmo pensamento sobre

notificações, França (2001, p. 14), expõe:

São comunicações compulsórias feitas pelos médicos às autoridades competentes de um fato profissional, por necessidade social ou sanitária, como acidentes de trabalho, doenças infecto-contagiosas, uso habitual de substâncias entorpecentes ou crime de ação pública de que tiverem conhecimento e que não exponham o cliente a procedimento criminal.

Outro documento médico-legal é o atestado, sendo este uma declaração ou

afirmação feita por médico sobre determinado fato e suas consequências. O atestado

possui efeito legal, tem fé-pública e vários são os usos do atestado médico, por isso

este divide-se em oficioso, administrativo e judiciário. Os atestados oficiosos são os

certificados médicos que justificam falta à compromissos que não sejam com a justiça

ou de interesse administrativo complexo e, segundo Hélio Gomes (2004, p. 36),

“oficiosos são os atestados solicitados por quaisquer pessoas, a cujo interesse

atendem. Visam unicamente ao interesse privado. Como exemplo desses, temos os

atestados médicos para justificar falta ao trabalho, a provas escolares, a bancos.”

Já os atestados administrativos, são aqueles ligados ao serviço público. Para

Gomes (2004, p. 36):

São os exigidos pelas autoridades administrativas. São desta categoria os que os empregados públicos são obrigados a apresentar,

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